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Música

Como o skateboard aprendeu a amar a house music

O som de Chicago, chapéus de pescador e camisetas do smile já são itens de necessidade básica da cultura do skate.
Palace skater Blondey McCoy (photo via Huck)

Desde 2015 os departamentos de moda skatista através do mundo têm procurado música eletrônica que combine bem com vídeos de caras fazendo coisas em cima de seus shapes. Todos os gráficos até 2016 mostraram uma relação positiva entre o uso de house music em comerciais e a venda de skates. As hordas de chapéu de pescador são uma boa prova disso. Opa, você não sabia que o humilde chapéu de pescador — aquele adorado por Hunter S. Thompson e Chris Evans — é o simbolo maior da estética skate/house? Que vergonha.

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Não é coincidêndia que a marca Palace colocou o chapéu de pescador em 2015, e certamente, o que estamos pensando nesse texto como 'estética house' tem sido uma influência penetrante em seus lançamentos. Primeiro, as roupas da marca costumam fazer referência ao gênero, como as blusas de smile numa reverência aos dias de glória do segundo verão do amor, quando seu pai tomava pílulas no campo de Wiltshere como se não houvesse amanhã. Com o mais recente lançamento da Palace, que deve ter sido vendida provavelmente em um nanosegundo, eles tornaram tudo (a relação skate/house) mais explícito, lançando uma bela sacola quadrada que "pode levar LPs ou um monte de maconha". O que é, diga-se, BEM maneiro.

Não feliz em produzir e lançar uma coleção atrás da outra e colaborar com marcas como Reebok, Adidas e a Tate, o time de Lev Tanju se juntou ao selo mais descolado do Reino Unido, o Trilogy Tapes, para edições especiais de 12', um deles lançado em 2014 com Theo Parrish, e ao final do ano passado uma nova edição surgiu apresentando Omar Souleyman e Rezzett. Nada mal para uma marca de skate.

Mas isso tudo vai além da Palace. Rory Milanes é um DJ e coleciona discos de house. Em uma entrevista para a Grey Skate Magazine ele descreve como entrou no gênero, dizendo: "Comecei a curtir dance music em uma balada famosa. Parece um pouco clichê mas foi na Berghain (em Berlim)", relembra. "Eu vi um DJ incrível lá chamado Moodymann e ele estava tocando vinis de disco e soul e house e era um som novo para mim, foi incrível".

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Mas não é só a Palace que está curtindo a house music. Depois de se inspirar na Palace, o ex-skatista da Girl, Alex Olson, criou Bianca Chandon, uma companhia que evoca a cultura da house music. Em uma entrevista para a Hero Magazine ele disse: "Eu conheci meu amigo Andy Brown, ele é um DJ, e ele estava sempre falando sobre disco e como eu devia andar de skate ouvindo um disco. Tem toda a coisa do 'disco sucks' então eu descartei, mas eu fui nessa festa onde estavam tocando house old school que me deixou realmente curioso sobre sua história. Andy disse que eu deveria ver esse documentário Pump Up The Volume que dá um ótimo resumo da coisa toda, é incrível."

Com todas essas conexões, não levou muito tempo para a influência da house music ser sentida nos vídeos de skate. Peter Sidlauskas (Bronze), Lev Tanju (Palace), e o filmmaker Johnny Wilson usaram house music em seus vídeos, criando algumas das sessões mais suaves de 2015. A edição de manobras de skate realmente se beneficiou desse tipo de trilha sonora – e enquanto muitos filmmakers ainda usam hip-hop (sempre vai funcionar muito bem com as sequências de movimento), vídeos contemporâneos são marcados por um escolha mais eclética de músicas.

Quando o entusiasta do vaporwave, Peter Sidlauskas juntou seu Jenkem mix (uma série de mixtapes feitas por skatistas para a revista online Jenkem) com faixas de Galcher Lustwerk ("Parlay" e "I Neva Seen"), Contact Lens ("Good Question") e 18 Carat Affair ("Desire"), as pessoas notaram. Porém, os skatistas tiveram alguma dificuldade em achar a lista de faixas notavelmente obscuras, como o próprio Peter disse em entrevista no Transworld, preferindo usar faixas que foram pouco escutadas.

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"Eu fico muito tempo no Soundcloud e no YouTube. Você fica perdido nos vídeos relacionados com canções realmente boas, e você se percebe cavando um enorme buraco escuro na internet com todas essas canções malucas. Eu não quero parecer pretensioso ou hipster […] encontrando essas canções estranhas, mas eu gosto de achar essas faixas, porque eu lembro de quando eu via vídeos de skate e eu amava que tinha canções no vídeo que eles não colocavam nos créditos, então você tinha que se virar pra encontrá-la. Você precisa dar um google nas letras para tentar achar as músicas."

O vídeo de skate de Sidlauskas, Trust, usa música eletrônica junto com referências do começo da internet para se afastar da forma como vídeos de skate são tradicionalmente editados, e oferece o que pode ser chamado de sketches, para dar uma pausa na ação. Os sketches dão um sentimento distinto ao vídeo, não apenas oferecendo ótima documentação do esporte, mas também usando um pouco de humor.

Quando Bronze e Palace colaboraram em uma série de shapes decorados com o logo do parafuso dourado do Bronze (a companhia originalmente se apresentava como uma companhia de ferragens), o vídeo que eles lançaram abria com 'Still' de Person of Interest (o vídeo também apresentou faixas de Unfinished Portraits e Moodymann). Quem diria que a lenda de Detroit seria o músico preferido de todo skatista? A gente achava que todos ouvissem apenas Papa Roach.

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A faixa de abertura do Endless Bummer da Palace encaixa perfeitamente com aquele 180º feito sob um chapéu de pescador. A filmagem em VHS referencia a edição de vídeos de skate dos anos 90 e também Bronze, a força do aesthetic que levou a incontáveis imitadores. Durante um momento louco, as pessoas até começaram a postar fotos em seus Instagrams com um filtro de VHS.

Johnny Wilson é outro filmmaker de skate que adotou esse novo som em seus vídeos. Em sua recente produção, Sequence, ele usa "Only Love Can Break Your Heart" de Saint Etienne. Em vez de arranjar em volta dos skatistas, o vídeo parece ser uma sessão mais reflexiva, com pontos particulares aparecendo de novo e de novo. A edição mistura filmagem de lifestyle com vários skatistas diferentes. E, de novo, a escolha da música dá um ar novo para o vídeo.

Em Rack, Wislon usa outra faixa de Moodymann ('The Day We Lost The Soul' em 3:47) e ao fazer isso chama atenção para a consistência do skatista da Polar, Hjalte Halberg. Aquele fakie tre flip final teria parecido bem mais pesado se "56 Nights" estivesse tocando.

Nós não podemos esquecer que vídeos de skate sempre estiveram abertos para todos os tipos de música. Assim que as pessoas começaram a editar clipes de skate, seu gosto único foie espalhado por meio da mídia, para alcançar pessoas pelo mundo. Apenas veja a diferença entre a influência musical de Spike Jonze em Fully Flared e a trilha sonora de um vídeo do Barrier Kult.

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No entanto, parece que parte do zeitgeist agora (que pode ser mostrado por meio dos seguintes produtos: discos de house, chapéus de pescador, peças de alta costura fora de moda, bonés cor de rosa e roupas de esporte que não são feitas pela Nike) envolve a mistura desses dois mundos, para que todos os vídeos de skate do mundo abracem o som de Chicago.

Pegue seu chapéu de pescador e seu skate e vamos sair de balada, ok?

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Tradução: Pedro Moreira

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