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Música

Nick Catchdubs Fala Sobre Como a Fool's Gold Dominou o Mundo

Nos sete anos do icônico selo do Brooklyn nova-iorquino, seu cofundador repassa os principais lançamentos da label. Vem com a gente.
A-Trak e Nick Catchdubs.

Na primeira semana de novembro, o selo icônico do Brooklyn Fool's Gold celebrou seu sétimo aniversário em Nova York, com Master P, Just Blaze, Rowdy Rebel e muito mais. Pedimos para o cofundador e DJ Nick Catchdubs nos guiar pelos lançamentos mais influentes da história colorida do selo — e contar os babados e as histórias por trás. 

A Fool's Gold é uma gravadora que cresceu inteiramente à base de amizades. Eu e o A-Trak nos conhecemos quando fomos contratados para tocar nas mesmas festas. Na época, ele era o DJ da turnê do Kanye West e eu era editor da revista The FADER. Durante nossos expedientes diurnos, discutíamos e compartilhávamos músicas. Foi assim que percebemos que tínhamos uma visão parecida, tanto em termos de criação quanto de marketing — conversando nas redes sociais, tipo, por que esses caras lançaram essa música insana em um single se o lado B é tão quente? Ou, por que usaram essa bosta de fonte?

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Na época, nossos amigos de todo o país estavam começando a fazer músicas novas, por conta própria, e artistas sem selo estavam transbordando do MySpace. Logo percebemos que não havia um lar americano para essa estética e atitude emergente — a maneira como caras tipo Ed Banger representavam os negros do meio dos anos 2000; o que Grand Royal, Mo Wax e Rawkus faziam quando éramos crianças. Assim nasceu a Fool's Gold.

Ao longo desses sete anos, desde que começamos, o ambiente musical não mudou muito. Os fodões das grandes gravadoras, que usavam fones bluetooth em 2007, ainda estão na área, tão cafonas quanto naquela época. O mesmo se aplica ao contingente de "rap verdadeiro", de calças cargo, e sabichões da tecnologia. Embora a empresa tenha mudado e crescido de diversas maneiras, nossa abordagem fundamental permanece a mesma: amigos fazendo e apoiando o que amam. Por que pirar em algo além disso?

Sem mais delongas, eis uma linha do tempo extremamente pessoal desses sete anos da Fool's Gold — incluindo os lançamentos seminais que nos alavancaram até aqui, onde estamos hoje.

"Pro Nails", da Kid Sister, não foi o primeiro lançamento da Fool's Gold (a faixa "Control" dela é que teve a honra), mas foi o primeiro a ter vida própria, depois que o Kanye o incluiu na mixtape dele, Can't Tell Me Nothing, na primavera. Tudo era bem faça-você-mesmo. O escritório do selo era minha mesa da cozinha, em um apartamento horroroso da Rua South 3rd..

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Montamos um clipe com um orçamento muito limitado. Eu conhecia o diretor Reuben Fleischer dos artigos da revista; mais para frente, ele fez Zombieland e outros filmes. Lembro de dirigir até o supermercado e comprar um boneco do High School Musical para usar os tênis de plástico, que pintamos com um esmalte vermelho e usamos na seção de "dança de dedos" do vídeo. Tivemos que fazer fitas beta e levar até a MTV por conta própria. Mas conseguimos ter um clipe "de verdade" na televisão!

O "Day N Nite", do Kid Cudi, teve uma trajetória semelhante. Lembro de entregar a primeira cópia em vinil ao Scott [Mescudi] no clube Luke And Leroy's, no Village. Ele pulou no sofá de entusiasmo. (Recentemente, ele instagramou esse mesmo 12".) Em seguida, ao longo do ano, a música cresceu pra caramba. O duo Crookers fez um remix, a rádio Hot 97 tocava o dia todo, e até hoje ouvimos a música em jogos de basquete. Lembro do Cudi e do Plain Pat dirigindo rumo a Filadélfia para abrir um show da Fool's Gold em um bar onde cabiam até 100 pessoas. Agora, sozinho, ele pode ser a atração principal de um show em estádio.

"Baggy Bottom Boys", do Jokers Of The Scene, é um bom retrato de 2009. Linus [Booth] e Chris [Macintyre] são amigos de longa data, que conhecemos ao tocar em festas em Ottawa. Eles estavam explorando sons mais profundos e mais "ravers" com os seus originais, e "BBB" virou a faixa favorita dos fãs. Mais uma vez, o clipe foi bem faça-você-mesmo. Levamos o ônibus até Boston para ajudar o Julian [Foxworth] — que ainda se tornaria o grande diretor da Beyoncé e mestre dos memes, conhecido como Lil Internet — a filmar o vídeo numa pequena festa de Halloween, em Cambridge. A música dance americana ainda não havia sido completamente absorvida pela EDM, e quando lançávamos discos como esse, assim como Crookers, Laidback Luke, a patota toda — só deu para inferir isto alguns anos depois —, era uma época bem inocente.

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Lançamos vários sucessos em 2010: a faixa "Babylon", do Congorock, foi um estouro de festivais; o primeiro single do Kingdom, "Mind Reader"; "Gone", do Donnis. Mas "Barbra Streisand", do Duck Sauce, vai muito além do sucesso. Foi um fenômeno viral, um hit entre mauricinhos, é a música da Fool's Gold que até a sua mãe conhece. Ainda assim, com toda essa magnitude, ainda é um pequeno loop de disco house, com um clipe filmado num estacionamento do SoHo, no dia do primeiro show do DAY OFF, editado por dois caras em um estúdio caseiro, para eles mesmos darem risada.

Olhando para trás, vejo que 2011 foi meio que um período de transição. Lançamos diversos álbuns legais e peculiares, e ainda me orgulho deles. (Um dia, Cubic Zirconia e The Suzan encontrarão o público que merecem!). Mas não tivemos um sucesso pop de surpresa ou uma grande faixa de DJ que todo mundo tocou. Acho que "You Take Me Higher", do Rogerseventytwo, foi a música que chegou mais perto. Mas assim como um time da NBA tem sua temporada de "reconstrução", as sementes do futuro do campeonato Fool's Gold estavam sendo plantadas entre novatos promissores e trabalhos autorais de veteranos. No fim do ano, o sinal de alerta do Flosstradamus começou a pipocar com o EP Jubilation (eles estavam a poucas BPM — batidas por minuto — da revolução trap iminente deles), digno de jukebox, e um gênio de Detroit com dentes de sabre começou a deixar sua marca no mundo…

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Evidentemente, no ano em que a música dance dominou o mundo, a Fool's Gold não se definiu por hits EDM ou crossovers de rap com clubes de altos BPM, mas por um clássico underground, despretensioso, de hip hop. O XXX, de Danny Brown, foi o som que marcou o novo capítulo da FG. Distribuímos o álbum de graça e o apoiamos por meses a fio — o lançamento oficial foi no outono de 2011, mas só reverberou mais tarde. Em todo o processo, mantivemos a mesma abordagem prática do começo da história.

Meu mandato como dono-da-gravadora-assistente-de-produção-nos-bastidores continuou ao passo que dei carona para o Danny e sua equipe até o antigo estúdio de televisão analógica, no interior de Nova York, para filmar o clipe de "Monopoly". Uma comunidade de hip hop nova-iorquina novinha em folha que cresceu ao redor da Fool's Gold. Os garotos que víamos nas nossas festas agora estavam fazendo álbuns próprios, então colocamos eles na compilação Loosies, com Flatbush Zombies, World's Fair e Action Bronson, em eventos como o DAY OFF, onde o A$AP Rocky enlouqueceu suas maiores plateias, no páreo com Juicy J e outras lendas.

Vejo 2013 como um grande ano de álbuns: a sequência de XXX, do Danny, Old; a labuta movida a amor do Duck Sauce, Quack, a estreia do Party Supplie; o álbum livremente autoentitulado do Run The Jewels. Também lançamos os primeiros EPs completos do RL Grime e Oliver, e gravações e parcerias cada vez maiores com o A-Trak. É difícil escolher apenas uma música definitiva dessa época, quando a Fool's Gold se ergueu como um selo indie em pleno funcionamento, com uma equipe, escritório, loja de varejo (e aí, Jack White?!?), e vários shows e festas. Dito isso, acho que as faixas mais significativas do período, para mim, são minhas de fato"Bizness", de Nick Catchdubs feat IAMSU & Jay Ant, é a primeira música solo que lancei pelo meu selo (sem contar as faixas do World's Fair que produzi para o Loosies e sua mixtape, Bastards Of The Party), e um álbum completo está por vir.

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Ainda restam alguns meses, mas "Dipshits", do A-Trak & Cam'ron, para mim, será a música da Fool's Gold do ano. Foi a primeira gravação da Fool's Gold que a Funkmaster Flex tocou sem parar durante meia-hora. Será que lançar um disco do nada com um deus do rap ilusório é um plano calculado, estratégico? Nem ferrando! É da hora? Claro que sim! A-Trak e Cam estão prestes a lançar um álbum completo com colaborações do tipo, o que é muito estimulante. Estou ansioso pela nossa nova leva de produtores, como High Klassified, Giraffage e Shash'u, que destacamos no último verão em um pacote de BitTorrent gratuito, da Draft Picks, e tentamos colocar no máximo número de shows do DAY OFF possível. Sem falar dos novos contratos que ainda não podemos anunciar…

Depois de tudo isso, ainda é divertido, e a missão do começo permanece a mesma. Acho que é importante destacar como ser um selo operado e gerenciado por artistas é importante para nós e para o nosso time. Entendemos todos os altos e baixos da porra toda, o que significa que nos importamos muito com a apresentação dos artistas, e tentamos aplicar o senso de investimento pessoal em todos os aspectos da empresa e dos lançamentos. Fool's Gold está construindo possibilidades, um amigo de cada vez.

Siga Nick Catchdubs no Twitter - @catchdini

Tradução: Stephanie Fernandes