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Música

Discos: Cut Chemist

Uma espécie de Grandmaster Throbbing Flash Gristle à grande e à francesa.

Cut Chemist Presents: Funk Off

3D Japan / AWDR / LR2

Sem ser propriamente fã do que Lucas MacFadden, mais conhecido por Cut Chemist, tem feito, uma coisa não lhe podemos negar: o seu ecletismo musical. Está na cara, neste caso, está nos ouvidos que o homem é “digger”, ouve bom som e procura atenta e intensamente pérolas e raridades. Ou seja, um bacano. E é este bacano que compilou uma delícia de disco, que abre o apetite logo pelo título:

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Cut Chemist Presents: Funk Off

. E pensamos nós “Ena, um connaisseur de Rare Groove e Funk como poucos, o que é que ele terá descoberto agora?”. Eis a génese da surpresa. O bacano traz-nos o melhor de dois projectos que congelaram movimentos de dança em zonas gaulesas, sim, o melhor de dois míticos grupos industriais franceses,

cold wave

barulhenta, coisa boa, oh químico Lucas.

A pista sado-maso da capa já revela algo, mas é ao ouvir, que se entende o

Funk Off

, é mesmo

funk off

(incluindo um tema homónimo), porque aqui o funk é mesmo outro. São dias industriais condensados outrora em cassetes perdidas nos 80, hoje disponíveis finalmente em mp3, num CD ou num duplo LP. Um trabalho de amor que Lucas conta ter nascido em 2004, quando em Itália descobriu uma faixa dos Vox Populi!, nomedamente a portentosa “Megamix”. Para um DJ que conhecia por dentro os pioneiros do “megamix”, gente da rua como Grandmaster Flash por exemplo, descobrir o “megamix” da fábrica foi algo que o fez lançar-se de corpo e alma na investigação musical. “O quê, uma espécie de “scratch” primordial,

avant la lettre

? Como, quem, porquê?” terá questionado.

Então aos poucos, qual Poirot Livinstone(d?) Capelo Yvens dos Sons, o americano foi descobrindo algum do espólio perdido dos franceses. No caminho apanhou ainda os Pacific 231, parceiros no crime lesa-ouvidos da altura. Esta compilação abrasiva, no bom sentido, é assim um dois em um. E tanto nuns como noutros, sentimos muito e bem a influência — ou não estivéssemos em França — da música concreta da escola do Groupe de Recherches Musicales. Imaginamos Pierre Henry e Parmegiani a beber um copo no Cabaret Voltaire, a falar de breakdance e Apocalipse. Neste disco absolutamente indispensável, sobretudo as ultra-raridades dos Vox Populi! dão-nos finalmente a ponte entre o experimentalismo dos primórdios do hip-hop enquanto imersos nas bizarrices do pós-punk e industrial. Atenção que há outra surpresa: o proto electro das faixas bónus por si só fazem valer a pena comprar o CD edição japa. Acreditem: nota dez e meio em dez, definitivamente mais um capítulo no Evangelho Musical, agora segundo São Lucas.