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Estará o Aurora Dourada a recorrer ao terrorismo para espalhar a sua mensagem?

Matar inocentes nunca é um golpe publicitário inteligente.

Simpatizantes do Aurora Dourada numa manifestação. Nas últimas décadas, a Grécia tem tido mais do que a sua dose de nacionalistas de extrema-direita. Operando sob nomes mais fáceis de vender — como “patriotas” ou “anti-comunistas” —, já cometeram alguns crimes graves, como aquela vez em que mataram à bastonada um representante da esquerda grega, Grigoris Lambrakis, em 1963. Mas é difícil encontrar na história recente exemplos que possam competir com o nível de filha da putice que estes extremistas do Aurora Dourada praticam por estes dias. Se, por qualquer razão, ainda não ouviste falar do Aurora Dourada, fica a saber que é um partido grego neo-fascista cujo líder, Nikolaos Michaloliakos, já passou uns tempo na prisão, em 1979, por posse ilegal de armas e de explosivos. Mais recentemente, os seguidores do partido foram implicados no assassinato de imigrantes nas ruas de Atenas e associados a actos de violência gratuita contra anarquistas, além de já terem sido detidos mais do que uma vez por posse de armas e de explosivos. Têm a quem sair. A 31 de Agosto do ano passado, em Esparta, explodiu uma bomba nas mãos de um homem de 38 anos. Continua a ser desconhecido o seu destinatário. O cúmplice da vítima, um homem de 34 anos, foi detido, mas depois de ter testemunhado, foi libertado, apesar da polícia ter encontrado em sua casa 60 bombas e várias espingardas. Daí para a frente, não se soube mais nada e a comunicação social grega abafou a história. Há aparentes ligações entre os dois e a filial do Aurora Dourada de Esparta, o que sugere que a extrema-direita grega estará a recorrer ao terrorismo para marcar uma posição. Na tentativa de saber mais sobre o terrorismo político na Grécia, fui falar com o Dimitris Psarras, um jornalista cujo livro, A Biblia Negra do Aurora Dourada é a investigação mais completa que já foi feita sobre o partido. Este é o Dimitris Psarras. VICE: O caso do bombista em Esparta parece ter sido esquecido pela comunicação social. O que sabes sobre o que aconteceu?
Dimitris Psarras: Não sei muito mais do que isso. É um caso muito estranho e temos tentado fazer pressão para conseguirmos respostas, mas ainda não deu em nada. Porquê o impasse?
É o processo legal preliminar. As autoridades não têm nenhuma obrigação de fornecer detalhes aos jornalistas antes do julgamento. Mas neste caso foram particularmente discretos. Além disso, a forma como conduziram este caso, não é nada semelhante à de nenhum outro atentado terrorista, onde normalmente o nome é tornado público e há imagens que são conhecidas. Neste caso não vimos nada disso. Achas que estamos a ver surgir, na Grécia, uma estratégia de tensão? O Aurora Dourada não estará a tentar assustar?
Acho que isso já está a acontecer, sim. A estratégia do Aurora Dourada é exactamente essa. Ilias Panagiotaros, um dos seus deputados, disse que já estamos em guerra civil. Querem fazer com que o lado oposto pratique a mesma violência. É tal e qual como a estratégia de tensão que vimos em Itália, nos anos 70. Ou seja, não só pode como está a acontecer.
Sem dúvida. Talvez não tenha a mesma intensidade que os ataques à bomba em Itália, na década de 70, mas sim. Aliás, há pouco tempo, a revista do Aurora Dourada, que circula dentro da organização, publicou um artigo sobre o Pino Rauti, um dos líderes do Ordine Nuovo, um grupo de extrema-direita directamente responsável pelos ataques de que falava. Acreditas que o Aurora Dourado tentará pôr em prática outras tácticas, como, por exemplo, levar a cabo assassinatos cirúrgicos e fazer com que os anarquistas pareçam os verdadeiros responsáveis?
Só posso especular. Não descartaria essa opção, mas esse seria o pior dos cenários. Armas do Aurora Dourada encontradas em casas dos alegados terroristas. Uns dias depois da minha conversa com o Psarras, houve uma história em Volos, uma cidade grega, que saiu nas primeiras páginas de todos os jornais. Durante as negociações do resgate financeiro cipriota, um edifício do Banco de Chipre foi incendiado. A polícia foi atrás de dois suspeitos e — surpresa, surpresa — encontrou pistolas, navalhas, bastões e outro material do Aurora Dourada nas suas casas. O partido diz não ter nada que ver com estes homens, tal como nada sabe sobre o terrorista de Esparta e o seu cúmplice, mas, a este ritmo, vai ser cada vez mais difícil para eles esconderem-se sob um manto democrático.