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Música

O Slugabed Te Acha Esquisito Também

Entrevistamos o inglês Greg Feldwick que falou sobre artes visuais, como foi crescer numa cidade chata e, claro, música. Ele toca nesta sexta (17) em São Paulo e na quinta (23) no Rio. Sente só.

"Slugabed quer dizer uma pessoa que passa o dia inteiro em cima da cama, literalmente", nos conta o inglês Greg Feldwick por e-mail. De alguma forma, sinto uma sintonia maior ainda com esse produtor que tem construído alguns dos arranjos mais esquisitos e viciantes do rolezinho bass. Talvez porque no momento em que escrevo este texto sejam 11 horas da manhã e eu ainda esteja na cama. E a real é que muito provavelmente irei passar as próximas cinco horas aqui também. Ou vai ver essa empatia só aconteça por Greg não ter se ofendido quando perguntei se ele realmente se acha esquisito. Será que sou esquisito também? Foda-se. Esquisito ou não, são clipes como esse que fizeram Greg receber a pecha por aí:

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Mas não importa. Foi sua fama de esquisito que o colocou à parte e em destaque em relação a outros colegas um tanto mais comportados, ainda que mantenha a mesma aura etérea e sombria dos seus pares nos selos Planet Mu e Ninja Tune. Mas é no seu próprio selo Activia Benz e em coletivos de arte contemporâneos como a DISmag que dá pra notar como o cara se sente em casa. "Ultimamente tenho acompanhado os trabalhos da PC Music, Manicure Records, do Jam City, do Mr. Oizo e o Sega Bodega", diz ele sobre o que tem ouvido. Então é de se esperar que pseudônimos com duplo sentido, confusão de gêneros, visuais psicodélicos e o nonsense cibernético sejam grandes atores na vida do produtor. É com essa mesma energia disruptiva e ao mesmo tempo divertida dos selos virtuais de pop-bass-futurista que há dois anos Greg comanda o selo ao lado do amigo e artista visual Jake Slee. "Nós gostamos de arte e música, então estamos tentando fazer algo com arte e música que nós gostamos", contou ele em entrevista ao Resident Advisor durante o lançamento do selo.

Seu último EP Coolest foi lançado via Activia Benz, e se você já compareceu a alguma edição da Wobble, uma das festas em que ele toca aqui no Brasil, com certeza irá reconhecer a faixa "Another Chance 2K14" de algum momento muito embriagado ou rebolativo que você passou por lá. Recentemente eles começaram a série "I Love Singles Club", onde divulgam uma nova faixa para download gratuito a cada duas semanas, e esperamos ansiosos o segundo volume do Activia Frenz, coletânea que eles fizeram com o THUMP há um tempo com algumas faixas exclusivas de alguns produtores do selo, como o DJ Booth, DZA, ELOQ, Taste Tester e Panda Shall Fly.

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Fizemos mais algumas perguntas para o Greg sobre artes visuais, crescer numa cidade chata e que fim levou aquela faixa que ele nunca terminou no desafio da FACTmag para criar um som em dez minutos. Ele vem ao Brasil para duas apresentações: sexta (17), em São Paulo pelo Só Pedrada Musical, e na quinta (23) no Rio de Janeiro, pela Wobble. Antes, você lê a entrevista:

THUMP: E aí Greg, tudo bem com você? Onde você está? Pra onde vai depois do Brasil?
Slugabed: Agora estou no meu apartamento em Peckham, Londres. Tô bem e me preparando pra ir ao Brasil, compilando umas pedradas aqui e fazendo umas edições bizarras pra festas! Vou fazer um show em São Paulo e outro no Rio, daí volto pra Londres direto pra trabalhar em cima de mais músicas!

Você morou em Bath por quanto tempo? O que você acha que é essa força existente em cidades pequenas que faz com que jovens chatos virem os criativos incansáveis da era da internet?
Morei em Bath dos 5 aos 19 anos. Acho que o lugar me inspirou de algumas formas, já que é um belo ambiente pra se crescer e eu e meus amigos ficávamos nuns parques bacanas chapando, mas também é um lugar meio chato mesmo. Acho que a mistura de belas paisagens com não muito o que fazer talvez tenham me ajudado a ficar esquisito, em termos musicais e todo o resto. Rolava muita droga e muita curtição na casa dos outros ou em parques ao invés de irmos a umas boates escrotas. Isso me levou a ter uma abordagem muito introspectiva da música e da criatividade. Eu não estava muito ligado na "cultura noturna" ou no dance mainstream. Ficávamos sentados ali ouvindo Sun Ra e Madlib e olhando pras árvores [risos]. Não sei bem como funciona isso do ambiente onde cresci ter me influenciado porque nunca conheci outra realidade, mas tenho altas boas lembranças daqueles tempos. Quanto a ser incansável na internet, isso veio bem depois. Eu só tinha um perfil no MySpace e dei sorte [risos]. Acho que ainda dou sorte.

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O que significa Slugabed? E como você descreveria seu som para alguém que acaba de chegar no planeta Terra?
Slugabed significa literalmente alguém que fica na cama até tarde. Bolei o nome quando tinha 15 anos e não conseguia levantar cedo pra ir a aula. Aí o bicho pegou. Se eu tivesse que descrever minha música pra alguém que acaba de chegar no planeta eu não saberia que língua usar. Acho que ele ou ela teria medo das pessoas. Seria tudo meio esquisito. Dava pra eu só mostrar o som? E se ele ou ela não tiver ouvido. Foda.

Em quase todas as suas entrevistas fica bem claro o quanto você ama e usa o Fruity Loops pra criar sua estética sonora. Você poderia nos falar um pouco sobre seu processo de produção?
Sempre foi um processo puramente experimental e divertido. Nunca tive nenhum plano ou fórmula pra criar uma faixa boa, só vou largando as ideias como elas se formam na minha cabeça. Usei o Fruity Loops por muitos anos e apesar das suas limitações, tem muito nele que é divertido de se mexer. Gosto da sua simplicidade, de certa forma. Também uso alguns sintetizadores externos e um SP-404 pra apertar uns botões e uns efeitos. Gosto de gravações de campo também, gosto de mexer com tudo, é divertido.

Você já veio ao Brasil? O que você espera ver ou fazer aqui?
Nunca fui pra América do Sul! Não sei o que esperar, acho que só quero curtir e ver qual que é. Vou ficar umas duas noites em São Paulo e umas cinco no Rio. Espero que o clima esteja bom.

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Como rolou de assinar com a Ninja Tune? A música que você faz é diferente do que você faz no Activia Benz, tipo Coolest?
Assinei com a Ninja Tune em 2011, acho, e fiz algumas coisas com eles… Não foi algo consciente ter feito coisas diferentes no Activia Benz, mas acho que eu meio que vou mudando regularmente porque, como disse, gosto de mexer com diferentes ideias e não quero ficar preso a uma fórmula. Só tô tentando fazer músicas divertidas. Tem umas faixas esquisitas, outras boas pra festas, outras são só "bacanas", não sei.

E como começou o Activia Benz? Pode nos falar um pouco sobre o começo do selo? Tipo, temos esses produtores que têm essa característica meio "esquisitinha" que as pessoas usam para se referir à sua música, mas acho que as similaridades, estética e visual, vão além disso.
Eu e meu amigo Jake começamos o Activia Benz um dia no pub. A gente falou "ah, vamos montar um selo", e montamos. É difícil descrever o que há de comum entre todos os artistas. É tudo coisa que eu e Jake gostamos. A arte geralmente é feita por membros da nossa equipe. Gostamos de tomar umas e fazer a parada funcionar. Não é como se fosse algo muito pensado, mas ao mesmo tempo é bem pensado. É complicado explicar. Um elo místico entre músico, artista e selo através da cerveja.

O visual importa pra você? Como?
Sim, especialmente se falando do Activia Benz. Desde o começo quisemos ter uma estética forte por trás da marca. Jake está envolvido na criação de muitas das artes para o selo, e também temos nosso outro brother, o Steve Smith (GloboDigital Home Video), que fez o clipe de "Bombok" e arte de Coolest, dentre outras coisas. Logo vamos lançar música na forma de códigos para download em impressos de arte que as pessoas poderão comprar, assim outros produtos físicos mais puxados pra arte, meio que tentando borrar os limites do que pode ser o formato de um lançamento, acho.

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E quais os planos para o futuro, seu ou do Activia Benz? Podemos ter alguma prévia ou teaser do que vai rolar?
Temos mais um monte de EPs pra lançar, bem como o projeto "Singles Club", que começamos faz pouco tempo, em que lançamos uma faixa nova a cada duas semanas para download grátis. Também temos uns projetos secretos bem massa que esperamos começar logo, em conjunto com a VICE do Reino Unido! Mas por enquanto é tudo muito secreto e não temos nada de interessante pra falar, mas vai ser massa pra cacete [risos]. Logo também vamos organizar mais festas em Londres (e quem sabe no resto do mundo?).

E como as festas da Donky Pitch influenciaram suas ideias sobre música e festas?
Os caras da Donky Pitch são bons amigos e uma puta influência. Há tempos eles fazem as melhores festas em Brighton, ultrapassando os limites sempre que podem. Cada um dos lançamentos deles é foda e eles fazem tudo por amor e diversão. Quero ser como eles quando crescer.

Que artistas, selos ou festas bacanas você acompanha atualmente?
Agora mesmo eu piro em Donky Pitch, Pc Music, Late Ride, Secret Songs, Lapalux, Manicure Records, Silkersoft, Jack Dansu, Sega Bodega, Jam City, Astro Nautico, Spinee, Mr. Oizo, DJ Mastercard, Arca, Young Thug, Photay, Wanda Group e provavelmente muitas coisas mais. Misturei aí festas, selos e artistas, espero não ter falado demais!

E o que você ouve quando não está ouvindo música eletrônica?
Muita coisa. Folk, clássica, jazz, psicodelia, tudo que há de bom. Gosto de uma banda francesa de jazz/funk chamada Cortex. Gosto de mais um monte de coisa também.

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Há quem diga que você é um cara estranho, ou ao menos dizem que você é estranho por conta da sua música. Eu diria que você parece mais o tipo de cara que viaja acordado ou do tipo divertido que não dá a mínima para o que vai acontecer. O que você acha disso? O que é "esquisito" pra você? E quem são as pessoas mais esquisitas que você já conheceu na vida real ou na internet?
Eu não sou esquisito, sou até meio normal, acho, talvez seja esquisito, sei lá. O que é "esquisito"? Isso faz parte da pergunta que você fez agora, acabei de reparar isso. Não sei. Sou bem normal. Tenho uma sala bacana e uma namorada. Não uso nenhuma droga louca ou fico pelado em público. Eu penso muito e vejo muitas coisas. Não sei o que é esquisito. Nunca conheci ninguém que ache "esquisito" também. Todo mundo é diferente. Algumas pessoas são interessantes.

Sei que isso é meio de última hora, mas você teria um mix pra mandar pra gente ou algo pra sair junto com a entrevista? Seria massa.
Posso tentar mandar amanhã, mas também preciso pegar um avião e tenho um monte de coisa pra fazer. Posso te mandar um link de algo que fiz recentemente?

No Against Clock Challegen da FACT TV, ficamos com a impressão de que você não terminou a faixa, mas ela estava incrível. Você chegou a finalizar ela? Teria como nós ouvirmos?
Nunca a finalizei. Geralmente demoro bem mais que dez minutos pra fazer uma faixa, especialmente sob pressão. Eu não tinha nada planejado, porém, usei o mesmo arquivo do projeto, deletei uma pá de coisas e criei essa música aqui.

Tem alguns dos mesmos elementos, mas não é a mesma faixa. É melhor! [risos]

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