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Música

Discos: Kurt Vile

Sair de casa sem deixar um bilhete aos papás.

Wakin on a Pretty Daze
Matador
8/10 Há duas coisas que os americanos adoram em proporções semelhantes: as fórmulas vencedoras e o ir para a estrada. No segundo caso, o destino escolhido não é sequer assim tão relevante quando comparado com a satisfação de partir para outra parte que não aquela. Não é de agora a ideia, mas Wakin on a Pretty Daze confirma Kurt Vile como um figurão especialmente capaz de criar canções de estrada, na melhor tradição de um Doug Sahm ou de um Neil Young (o tio de todos os folk rockers). À semelhança do seu antecessor Smoke Ring for My Halo, Wakin on a Pretty Daze faz muito mais sentido como uma experiência fora de portas do que entre paredes — até porque é um daqueles discos que provoca uma vontade enorme de vestir a roupa que estiver mais à mão e sair de casa sem deixar bilhete para os papás. As suas canções são tão longas como as mais lendárias estradas dos Estados Unidos e o seu feeling puramente ianque é assumido, sem sequer ser bimbalhão ou patriótico. Os franceses vão adorar este disco. Colocando a duração média dos temas acima dos cinco minutos e com duas malhas acima dos nove (as fabulosas “Wakin on a Pretty Day” e “Goldtone”), Kurt Vile parece cada vez mais interessado em mostrar que uma canção não deve terminar enquanto houver um solo de guitarra para desbundar ou um ritmo para manter o motor em funcionamento (“KV Crimes” vive de uma bateria que é pura viagem pelo deserto). O melhor é que Vile nem sequer faz da duração das suas canções uma afirmação artística: muito sinceramente, o rapaz parece-nos demasiado desleixado para isso. Wakin on a Pretty Daze é magnificamente despretensioso, descontraído e merece todos os auto-rádios que o possam meter a rodar nos próximos tempos.