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Música

Discos: Thingamajicks

Falamos de um objecto estranhamente atraente.

Patrick's Last Trip

Bliq

Nem só de Copa do Mundo e de conflitos sociais vive o Brasil em 2014. Nos últimos meses tem-se destacado um conjunto luxoso de novos produtores brasileiros apostados em criar pura magia na música electrónica actual. Assunto real, portanto. Já

aqui

 há semanas tínhamos deixado pistas sobre o trabalho do colectivo e editora 40% Foda/Maneirissimo; agora acrescente-se Thingamajicks à fotografia. Por momentos, fica fora de plano a hegemonia do eixo Berlim-Londres; concentremo-nos então no que tem chegado do outro lado do Atlântico. É de lá que desde cedo o legado musical do país nos obrigou a uma constante vénia, do samba ao bossa nova, do psicadelismo ao poema musical. Contudo, onde outrora o violão era rei, agora os sintetizadores, softwares e sequenciadores transfiguram todo o cenário. Uma história de amor tórrido entre os meios analógicos e as infinitas possibilidades digitais numa imensa e brilhante constelação ainda à procura de um apelido apropriado.

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Para um tipo com um passado musical ligado ao terrorismo sónico, Vinicius Duarte deixa transparecer todo aquele teor abstracto e oblíquo presente neste disco — e de facto apenas ao dispor de quem já explorou muito e mesmo assim não se contentou. Um caso de feliz exigência pessoal que vai além do material sonoro, abrangendo o conceito da sua persona. Observe-se a capa do disco, pesquise-se as fotos disponíveis na web (onde surge frequentemente de máscara tribal a recordar de leve a imagem de SBTRK) e deixe-se envolver nos vídeos alucinantes de Duarte, para apreender uma identidade artística adornada de uma boa dose de misticismo onde as noções perpendiculares da house se encontram com as visões cosmológicos de Sun Ra ou Spacemen 3. A posição resulta, tanto mais quando aplicada à imensa floresta tropical que

Patrick's Last Trip

 representa. Uma visita que deve ser imaginada como solitária, ou seja, sem guia ou intérprete para atrapalhar as percepções de cada um.

Embora as coordenadas de Thingamajicks se façam reconhecer numa linha de composição ambiental, dada a sua densidade, esta é música que lentamente nos engole vivos e nos devolve mais tarde à crua realidade, num estado

Walking Dead

. A devastação humana captada no tema "Liminal" é não menos que soberba, capsulando, com mestria, emoções complexas como tão bem nos habituaram alguns gigantes como Actress, Andy Stott ou Pantha Du Prince. A minuciosa exploração molecular de "Sub Rosa X" reforça a crença de que temos entre mãos um objectro estranhamente atraente, capaz de evocar sol e lua num estalar de dedos.

Amplamente sólido na sua condição de mini álbum,

Patrick's Last Trip

 vagueia-se numa locomoção a meia velocidade, não tão preocupada com os passos de dança (ainda assim possíveis), mas essencialmente concentrada na indução de um estado de hipnose. Para já, uma conquista absoluta.