Os 30 melhores discos internacionais de 2017 que você não ouviu

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Noisey

Os 30 melhores discos internacionais de 2017 que você não ouviu

Esqueça sua lista de mais tocados e se liga no que você perdeu até agora.

Música é uma coisa boa e nunca houve época melhor na história da humanidade para curti-la. Graças a essa coisinha chamada internet, dá pra ouvir de tudo de qualquer lugar quando bem entender e isso é animal! O que não é tão animal é o fato de que apesar das opções quase infinitas nas pontas de nossos dedos, a internet ajudou a criar uma espécie de ciclo vicioso no qual passamos a maior parte do tempo focados nas mesmas coisas e repetindo para nós mesmos coisas que já temos como verdadeiras do tipo "doguinhos são fofos", "Donald Trump é um bosta" e o "disco do Kendrick é fudido demais".

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E por mais que o disco do Kendrick seja realmente foda, não há necessidade de mais um artigo repetindo tal fato e é exatamente por isso que nós do Noisey nos juntamos e fizemos uma lista com alguns de nossos discos favoritos desse ano que não vimos serem tão comentados por aí. De novatos prestes a estourar a artistas reconhecidos que não necessariamente estão atrás do holofotes e o que mais houver no meio disso tudo, eis nossa lista dos 30 melhores discos de 2017 que você não ouviu.


World Eater do Blanck Mass é um desses discos que combina perfeitamente com a própria capa — algo animalesco, feral e direto. Como tantos outros discos de noise, o último lançamento do projeto solo de Benjamin John Power do Fuck Buttons cria uma atmosfera rica ao explorar o festival de nojo e absurdez que é o mundo em seu estado atual. Enquanto seus comparsas geralmente trabalham com um tanto de ironia (consultar Tobacco, HEALTH), World Eater deixa isso de lado. É uma mistura minimalista de influências dance sutis, paletas industriais e paredes ruidosas de barulho puro e simples. Não há reviravoltas em suas faixas, nem refrãos ou mudanças que aliviem a tensão. É uma obra agressiva cujo objetivo é englobar e oprimir, não no sentido meditativo do resto do trabalho de Power, mas sim fazendo você confrontar aquilo que te deixa desconfortável — um lembrete de que nem sempre há alívio, apenas a existência. — Andrea Domanick | OUÇA: Spotify , Apple Music

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Com integrantes de bandas como Dick Diver, Twerps e Primetime londrino, o Blank Statements produz o tipo de pop brisadão suave pelo qual bandas australianas ficaram conhecidas ao longo da última década. Em sua fita de estreia, lançada pelo selo Hobbies Galore de Alex MacFarlane do Tyrannamen e The Stevens, a banda de Melbourne nos apresenta oito charmosas faixas que envolvem vocais compartilhados e instrumentistas trocando de postos. Da melódica "Privacy" aos sussurros de "Scorpions" e a desconfiada "Building a Ramp", todas as faixas são simples e ridiculamente contagiantes. Fãs de sons sobre horário de verão e chapéus de caça precisam ouvir isso aqui. — Tim Scott | OUÇA: Bandcamp


Charli XCX é a melhor estrela pop do Reino Unido em décadas. Number 1 Angel, a mixtape lançada por ela este ano após diversas dificuldades relacionadas à gravadoras e seu segundo álbum, ainda inédito, pode muito bem ser a representação perfeita da frase que abre este texto. Produzida por integrantes do infame coletivo dance-pop PC Music, cuja parceria parece ter ajudado Charli a incorporar sua melhor e mais bizarra versão de si mesma, a fita soa como o Tumblr de um adolescente de 16 anos — estética trash 90s, batidas pop açucaradas e letras sobre asas angelicais e ficar completamente transtornado(a). Com impressionantes participações femininas (incluindo nomes como CupcakKe e a princesa reclusa francesa Uffie), Number 1 Angel é certamente o disco pop de 2017 mais estranho e original que você não ouviu. — Lauren O'Neill | OUÇA: Spotify , Apple Music

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A primeira coisa que você vai pensar ao ouvir Guppy é: De que filme adolescente dos anos 90 é esta trilha? A segunda será: Este é o melhor disco de power pop que ouvi desde que Gabrielle Union passou a sempre interpretar o papel de Melhor Amiga. Charly Bliss deixa suas influências bem claras com toques de Letters to Cleo, Rilo Kiley e Weezer das antigas por todo o disco, acompanhados pelo histórico da vocalista Eva Hendricks com musicais, demonstrando sempre muita confiança. Isso tudo poderia soar como uma lista de influências comuns em um perfil do Myspace em que há mais estilo do que substância, mas dê uma chance e você encontrará sinceridade (e um quê de escuridão) aqui. Melodias que você já ouviu antes, ganchos e toques emocionais que você já conhece fazem parte do apelo de Guppy, mas são letras como "I can't cum and I can't lie / I can't stop making myself cry" ou "Guardrail, taking the stairs / Passed out on the subway with blood in my hair" que aproximam o disco da gente. — Emma Garland | OUÇA: Bandcamp


Nenhuma sombra paira maior sobre a recente onda de sensações do hip-hop do que a de Chief Keef. Seja no melodioso gancho de "Hate Being Sober", nas bravatas de "Don't Like," na aspereza "3Hunna" ou no toque ambient de "Citgo" Keef previu praticamente todas as tendências da música de 2017 lá em 2012. Então quando ele abre seu esperado projeto Thot Breaker com um improviso, é melhor prestar atenção. Thot Breaker não está cheio de hits e boa parte dele você acaba nem conseguindo distinguir direito, mas é um dos discos mais progressivos de rap — se é que podemos chamar assim — que você ouvirá esse ano. Independente de Keef estar interpolando TLC com um instrumental brisadaço ("Can You Be My Friend"), incorporando Gucci Mane ("My Baby"), ou metendo uns drops dubstep em uma gigantesca balada pop punk ambient ("Whoa"), ele sempre está muito à frente de tudo. Em "Slow Dance", de longe a mais bela e romântica canção já feita por Chief Keef, sua voz vira uma paisagem sonora em vocoder, como se "Digital Love" do Daft Punk tivesse tomado um Xanax. Não é nada do que você esperava ou mesmo queria — mas é assim que experimentos funcionam, né? — Kyle Kramer | OUÇA: Spotify , Apple Music

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Em um de seus típicos lançamentos bienais, o herói cult Mark McCoy lançou pela sua gravadora, Youth Attack, três discos no qual vinha trabalhando há anos: um impressionante álbum de black metal do Grinning Death's Head, um grito primitivo hardcoreano como Civilized e um surto de energia selvagem como Culture Shock. Por mais que os três valham o seu tempo (não seu dinheiro, já que tudo vendeu mais rápido que água no deserto), o disco do Culture Shock é uma demonstração tremenda de força. Com 10 faixas em 14 minutos, o autointitulado disco soa como ser atropelado pela Tour de France inteira e depois sair pisando em ancinhos espalhados pelo chão esquema Sideshow Bob. É uma adição que faz total sentido no catálogo da Youth Attack, que tem de tudo, desde Failures até aquele LP do Charles Bronson que deu início a tudo. Se tratando de um disco de hardcore cult, não há companhia melhor. — Dan Ozzi | OUÇA: Bandcamp


Tem um monte de nerd enfiado no hip-hop hoje em dia. Por sei lá que motivos, os produtores de Toronto melhor exemplificam tal tendência, com Daxz chegando a ponto de fazer referência ao game Kingdom Hearts e uma abordagem do tipo "fodam-se gêneros". Seu disco disponível gratuitamente no Soundcloud intitulado Being Alone Isn't Bad é um lançamento inesperado que soa como um 808s & Heartbreak grunge e com um foco ainda menor no rap que o disco de Kanye. "Cross the Line", destaque do disco, tem solos de guitarra, baterias com overdrive a la Linkin Park e refrãos pop-rock tudo numa faixa que aparentemente ainda é rap. O que faz o disco funcionar é o fato de que Daxz está fazendo o que quer aqui, e por mais irregular que seja, como qualquer disco de estreia, a singularidade de sua visão nerdaça faz valer uma audição. — Phil Witmer | OUÇA: Soundcloud

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A música pode ser uma plataforma incrível de reinvestigação. Para a artista folk de Toront Fiver, as histórias esquecidas de mulheres trancafiadas em um hospital psiquiátrico criminal mereciam ser reavaliadas. Audible Songs from Rockwood é um esforço amplo, ainda que esparso em termos sônicos, deixando seus ouvintes impactados. Songs from Rockwood apresenta versões ficcionais de histórias de mulheres reais que passaram suas vidas em um asilo psiquiátrico para criminosos no Canadá, no final do Séc. XIX. A vocalista do Fiver, Simone Schmidt, passou anos pesquisando a história da instituição: feito digno de nota ao se tratar de um único projeto. O resultado é tanto iluminador quanto de partir o coração. "Waltz for One" é uma discordante canção de amor na perspectiva de uma adolescente; já a rabeca dolorosa em "Haldimand County" traz à tona uma reflexão sobre o colonialismo dos primórdios e as decepções do novo mundo; enquanto isso "Yonder White Mare" é uma faixa à capela que destaca os vocais incríveis de Schmidt. — Sarah MacDonald | OUÇA: Spotify , Apple Music


Os Higher Brothers são os líderes da cena rap de Chengdu, ao sudoeste da capital governamental e cultural chinesa, Pequim. Pode não ficar na cara para estrangeiros, mas a China tem enorme variedade de sotaques e dialetos espalhados por sua extensão — a ponto de não ser incomum duas pessoas de lugares diferentes não se entenderem. Quando a república foi fundada, o sotaque de Chengdu quase se tornou o padrão pelo país. Hoje, outro sotaque chamado putonghua (普通话) assume a dianteira, então é incrível ouvir música feita com um sotaque regional bombando sem qualquer cessão ao mainstream. O som dos Higher Brothers é animal e suas colaborações com artistas como Maaly Raw, Charlie Heat e Famous Dex estão dando aos jovens chineses uma estética nova e um novo jeito de se misturar letras e sons. Este disco é nossa resposta ao que vemos do lado de fora. Valeu, internet! — Wang Peng | OUÇA: Soundcloud

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Há alguns anos — digamos entre 2010 e 2012 — produtores jovens tentavam fazer suas versões do que o finado J Dilla fez em sua obra-prima Donuts, de 2007. Donuts é maravilhoso, mas imitação enche o saco. É aí que Pharaoh de Jansport J entra: o disco do produtor lançado no começo deste ano evoca a sonoridade clássica de Donuts sem entrar no ramo da cópia descarada, com toques melódicos coloridos e uma estrutura cuidadosamente arranjada que gera uma audição excepcionalmente agradável. Pharaoh é prova de que dá sim pra deixar suas influências bem na cara sem soar falso — e nos deixou curiosos pra ver o que mais Jansport J fará adiante. — Larry Fitzmaurice | OUÇA: Bandcamp


Jovi é um camaronês pau pra toda obra. Ele não só cuida da produção de todos os seus discos como também de cada artista de sua gravadora, New Bell Music. Esta atenção aos detalhes e precisão transpareceu em Mboko God de 2015, mistura de trap com instrumentação típica camaronesa. Ele continuou trilhando este caminho em 2017 com o lançamento de seu terceiro álbum, 16 Wives. O disco, composto por baterias pulsantes, sinos, sopros, cânticos e Jovi alternando entre inglês, francês e pidgin deixa bem claro que ele é um dos principais artistas africanos aos quais deveríamos prestar atenção. Ainda mais levando em conta que a maior parte da música africana ouvida nos EUA é o afrobeat da região oeste do continente. "Ou Meme", "50-50" e "Mongshung" são alguns dos destaques. — Lawrence Burney | OUÇA: Bandcamp

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Julia Holter trabalha em espirais. In The Same Room, disco gravado em estúdio no formato ao vivo em dois dias trancafiada no RAK Studios de Londres, é composto em grande parte por reinterpretações do belo disco de 2016 da artista de Los Angeles, Have You In My Wilderness, com a aparição ocasional de algumas faixas de seu clássico cult Loud City Song de 2013 e do disco de estreia Tragedy de 2011. Tudo bem até aí. Os discos de Holter sempre tiveram este fascínio por acústica e suas imperfeições — seu primeiro lançamento, Live Recordings, é uma cativante mistura de sintético e orgânico, canções tocadas altíssimas num quarto com transmissões de rádio interferindo. In The Same Room captura tal estranha grandeza de forma mais direta, com Holter ao piano, contando com o mínimo de apoio e microfones espalhados por todos os cantos. Em Loud City Song, "Horns Surrounding Me" vinha com chocalhos e sintetizadores, aqui aparece mais graciosa e suave, com cordas e piano, a voz de Holter apenas um sussurro. "Vasquez" surge em uma versão mais limpa, em que percebemos o baixo e as batidas de pegada jazz. Se você quiser seguir a trilha, temos "Betsy on the Roof", que abre Live Recordings com microfonia e a voz de Holter comprimida em meio ao ruído; em …Wilderness a faixa se torna um uivo lamuriento que encaixa perfeitamente em um salão de baile vazio; já aqui, trata-se de melancolia sussurrada, na voz de alguém que deixou a agonia para trás e vive as lembranças do que outrora fora melancolia. — Alex Robert Ross | OUÇA: Spotify , Apple Music

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O fato de a carreira de Laura Marling ser tão vasta é algo quase intimidador: a artista sempre cantou como se tivesse vivido umas cinco vidas diferentes, apesar de ter começado aos 16 anos e mal ter chegado aos 27. Mas sua idade não impressiona tanto quanto a profundidade das obras que busca criar. Em seu sexto disco de estúdio, intitulado Semper Femina, Marling afunda em uma espiral psicológica, questionando gênero, relacionamentos, o que é ser mulher e amar as mulheres. É menos um tributo ao feminino, apesar de faixas como "Nouel" e "The Valley" serem exemplos disso, Semper Femina acaba por ser um testamento ao amor e à abertura e tudo que acompanha isso, desde estar ao lado de alguém nas dificuldades ("The Valley", "Wild Fire") até a noção de ser alguém melhor em um relacionamento ("Next Time", "Nothing Not Nearly"). — Sarah MacDonald | OUÇA: Spotify , Apple Music


Lingua Ignota — "língua desconhecida" em latim — é um excelente nome artístico para Kristin Hayter, de Rhode Island. Suas composições vagam pelas beiradas do panteão musical extremo que conhecemos, criando e destruindo expectativas no tempo de uma respiração ou de uma harmonia coral. Toques de power electronics e death industrial colidem lindamente com notas litúrgicas, melodias neoclássicas e memórias de traumas passados; a troca entre luz e trevas conjura uma espécie de geometria sagrada e a voz muitas vezes operática de Hayter se destaca em meio à gloriosa decadência. Seu disco de estreia, o EP Let the Evil of His Own Lips Cover Him, passou batido quando saiu em fevereiro, o que francamente é uma tragédia. O disco continua como um dos mais esquisitos e adoráveis registros de 2017. — Kim Kelly | OUÇA: Bandcamp

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Lor Scoota já conseguiu se estabelecer como um dos rappers mais promissores de Baltimore com o lançamento de sua série de mixtapes Still in the Trenches de 2014. No ano passado, o rapper também conhecido como ScootaUpNex prometeu que daria um tempo na série para lançar Live from the A, projeto que englobaria o cotidiano da Pennsylvania Avenue, conhecida como The A. Por conta de sua morte prematura em junho do ano passado, em um assassinato, o lançamento foi adiado e finalmente viu a luz neste mês de abril. Como boa parte de seu trabalho anterior, Live from the A é uma combinação de língua afiada, histórias de amor proibido e bravatas para curtir no carro no verão. Como ele diz em "All Eyes On Me", "When they calling you Up Next, you know you somebody". Provavelmente é por aí mesmo. — Lawrence Burney | OUÇA: Soundcloud


A dupla de Providence, Rhode Island, se atira em ondas de sludge apocalíptico e noise absurdo sem dar a mínima para sua própria segurança; os riffs vêm certeiros, indo e vindo como um cão raivoso preso na coleira, ao passo em que a vocalista Kay Belardinelly exorciza seus demônios em tempo real, ofegante e ainda assim conjurando todo tipo de desgraça. As letras tratam da dor e força da recuperação e de traumas, dando ao disco uma cara extremamente pessoal que só agrava sua escuridão acachapante. — Kim Kelly | OUÇA: Bandcamp


Há um interlúdio ao final do single "Dent Jusay" de The Drum Chord Theory em que Matt Martians e seus colegas de banda discutem a logística de entrar com maconha escondida em uma casa de shows com uma amiga. Eles garantem que vai dar tudo certo, que vai ter pra todo mundo fumar e não vai faltar lugar pra guardar, que já tem um finório bolado ali etc e tal. Se há uma tese para este disco, certamente é esse trecho — se você preferir algo um pouquinho diferente, a faixa "Found Me Some Acid Tonight", de apenas 51 segundos, e fiel ao seu título, também pode funcionar. The Drum Chord Theory é uma jam emaconhada com amigos, algo pra ouvir em tardes preguiçosas e noites enfumaçadas. Pianos, baixos funkeados e melodias vocais vem e vão, criando grooves e sumindo com eles na mesma velocidade que surgem, pulsando com a intimidade típica dos melhores outtakes de estúdio. Na era do algoritmo, The Drum Chord Theory é desafiadoramente orgânico, um disco ao vivo (e vivido) que você tem certeza já ter ouvido antes em alguma reunião de amigos. — Kyle Kramer | OUÇA: Soundcloud

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Quando o Milk Music lançou Mystic 100's sem muito estardalhaço em abril, surpreendeu quem acompanhava a banda. Seu terceiro disco é simplesmente estonteante, com influências de Zuma de Neil Young, Dinosaur Jr., dos irmãos Kirkwood, tudo somado ao seu jeitinho de tocar punk, rock e blues meio doidão. Faixas como "Twists & Turns & Headtrips" vão mais além, rumo ao limiar entre florestas de Washington e deserto californiano, onde as pessoas moram em cabanas e sempre tem algum bagulho esquisito vindo do mar. Tire nove minutos do seu dia e escute "Crying Wand", com seu jeitão Crazy Horse, e conheça o trampo do Milk Music. – Tim Scott | OUÇA: Bandcamp


Nef the Pharaoh é um dos mais charmosos jovens rappers da cena atual e seu disco de estreia The Chang Project é como um sopro de brisa marinha. O rapper da Bay Area, considerado promissor pelo parceiro da região E-40, tem um flow ágil e inteligente, como mostram as faixas "Back Out" e "Bass Head", dois dos destaques do disco. Temos muito a falar sobre o significado do rap nos dias de hoje — gente nova versus gente velha versus sei lá que porra — mas às vezes aparece alguém que simplesmente rima pra caralho e não tem medo de se divertir: esse é o caso do Nef. — Eric Sundermann | OUÇA: Soundcloud


Quem pode dizer que esse disco foi deixado de lado? Todos temos gostos musicais diferentes e em alguns círculos, Nite Jewel ainda é a rainha do dance. Ainda assim, falemos de Real High porque este é um disco com cara de meio do ano, um daqueles momentos em que oportunidades viram realidade, em que a vida pode ser mais que a soma de suas partes e todas aquelas outras coisas que parecem com estar apaixonado — consigo mesmo, por outra pessoa, com a ideia de deixar o passado pra lá e mirar o futuro, ou simplesmente passar quatro meses saindo de casa de shorts e voltando só de manhã com aquele cheiro de vida boa. O lance é que: Real High é música de verão bonita, reflexiva, poetica e ainda assim divertida! — Ryan Bassil | OUÇA: Bandcamp

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O PartyNextDoor é inconsistente. Por mais que apresente momentos de composição suprema ("Work") e instrumentais experimentais ("Brown Skin"), ele ainda é um cara que faz faixas longa demais e letras meio sem pé nem cabeça tipo "mixed bitch, but she fuck with white" que acabam sendo apresentadas de forma tão séria que quase tudo vira piada. Em COLOURS 2, sucessor de seu EP de 2014 do mesmo nome, nada disso muda, mas há um foco nestas faixas que ele não mostrou fora dos sons roubados pelo Drake em anos. Por exemplo, "Peace of Mind" segue no ritmo comum sem nenhum gancho, cheia do narcisismo e aversão a si mesmo característicos do artista, mas é mantida breve de forma a permitir que a produção de ritmo lento siga seu curso. Não que este EP seja espetacular, não é mesmo (a maioria das músicas está ali pra encher linguiça), mas a implicação de que tudo que passou batido é uma joia rara é falsa. Tem vezes que algo apenas ser bom já é o bastante. — Jabbari Weekes | OUÇA: Spotify , Apple Music


O single de estreia do Pumarosa "Priestess" pintou em 2015 como uma espécie de dance experimental de ritmo lento, com sete minutos e um solo de saxofone todo torto. Em meio ao déficit de atenção no pop, é preciso coragem pra lançar algo assim como sua primeira faixa. Dois anos depois, é essa ousadia que torna o primeiro LP do Pumarosa, The Witch, tão charmoso. É uma estreia marcada pelo tipo de amplitude, estilo e postura que uma banda só tem lá pelo seu segundo ou terceiro álbum. Como sugerido pelo título, The Witch explorar relacionamentos e perspectivas femininas, não tanto naquele esquema Lana Del Rey de ser e mais no de exclusão e perseguição histórica. A voz da frontwoman Isabel Munoz se destaca, envolta em ritmos e melodias vindas de gêneros como pós-punk, space rock, posicodelia, trip-hop, art rock e experimentalismo em geral. O resultado soa como se Siouxsie and the Banshees fossem contemporâneos de Spiritualized e Radiohead — uma sonoridade surreal e mítica, resoluta e ansiosa, um disco paradoxal que vicia com cada audição. — Andrea Domanick | OUÇA: Spotify , Apple Music

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Se há algum tipo de justiça nesse mundo (o que, com venhamos, é questionável a essa altura) You Take Nothing do Ragana será lembrado como um dos principais discos de música pesada de 2017. No dia seguinte à eleição de um tirano por parte dos norte-americanos, a dupla de Oakland lançou a faixa-título do disco de forma a angariar fundos para os defensores da água de Standing Rock; "You Take Nothing" foi a primeira coisa nova que ouvi naquele dia e a força e fúria ali contidas ressoaram em mim. A mistura de gêneros aparentemente díspares — as duas vocalistas e multi-instrumentistas vão do black metal e doom ao shoegaze, sludge, screamo, até o riot grrrl - revela muito da força da mensagem do faça-você-mesmo anarco-feminista e do valor catártico de suas canções. Através de quaisquer meios e armas à disposição, o Ragana veio para te forçar a ouvir — e é bom você obedecer. — Kim Kelly | OUÇA: Bandcamp


O pop nos mostra sua melhor forma quando é divertido, não ingênuo, com uma abordagem holística de estilo e som. RALPH, artista de Toronto, não só criou pop genuinamente ótimo em seu primeiro EP, como também uma estética e atmosfera coerentes com papeis tão importantes quanto a sonoridade. RALPH é como a estampa de um vestido Emilio Pucci dos anos 70: caleidoscópica, brilhante e inerentemente divertida. Por mais que RALPH seja um EP sucinto de seis faixas que lida com temas comuns do gênero (amores, angústias, paixões rebeldes), ainda é impressionante. "Tease" é uma faixa meio glam-rock com inspiração em divas sobre um homem qualquer que acaba rodando num grupo de amigas; "Cold to the Touch" é um hino pop legítimo, já "Lit the Fire" é a jóia rara entre as faixas, uma balada que poderia tanto ter sido lançada nos anos 80 quanto hoje. — Sarah MacDonald | OUÇA: Soundcloud

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A faixa mais enérgica de Jaguar Palace se chama "Had a Revelation" e não fala de revelação nenhuma. É um country torto meio psicodélico que abre com duas questões existenciais: "Just to find satisfaction / Do you lose clarity? / Is the truth worth saving / If a lie's what you need?", encerrando com uma cansada afirmação: "Had a revelation, I just can't find the time". O disco de estreia de Shane Renfro como RF Shannon é um disco lento e viajandão, composto num deserto texano refletindo sobre tudo. Mas por mais que suas alucinações sejam abstratas, os questionamentos são reais — morte, decisões, desilusões, morte de novo — e Renfro os leva até onde pode. Suponho que seja melhor ouvir esse disco umas dez vezes do que sofrer insolação numa cidade fantasma enquanto se questiona a natureza da existência, só pra chegar no nível de Renfro. Faixas como "New Weimar Train" e a longuíssima "Hotelvilla", de 11 minutos, te ajudarão. Se pá rolam umas revelações também, como neste trecho aqui: "Easy thing / Easy thing / Easy thing, to pretend". — Alex Robert Ross | OUÇA: Apple Music


Esse papo de disco de "volta" é fácil de colar quando seu único obstáculo é um hiato ou uma sumida perante o público. Foda mesmo é quando seu adversário é a morte. A lenda da música Ryuichi Sakamoto se recuperou de um câncer e do terremoto no Japão de 2001 para compor async, disco que concilia muitos dos lados de sua arte. Do réquiem de abertura "andata" à solene e bela "solari", o clima é funesto e órgãos criam melodias deliberadas com uma facilidade quase jazzista. Em outros momentos, async soa discordante e inquietante, com peças que por vezes consistem em percussão manipulada eletronicamente e nada mais. É um disco obscuro, mas reconfortante: vozes sampleadas fornecem algo de conforto, guiando o ouvinte e possivelmente o próprio Sakamoto ao longo da ideia de finitude. — Phil Witmer | OUÇA: Spotify , Apple Music

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Spencer Radcliffe é um cara bizarro que não curte falar com a imprensa e faz música que soa como alguém que não gosta de falar com jornalistas — ou seja, Enjoy the Great Outdoors é um disco lento, gélido e meio shoegaze que parece ter saído em 1997. É um disco pra se ouvir fumando unzinho às 4 da madrugada refletindo porque você tomou 27 cervejas aos 27 anos de idade. É um disco feito pra gente que não gosta de falar, então cale a boca e escute. — Eric Sundermann | OUÇA: Spotify , Apple Music


Há uma espécie de pop punk que chama atenção da mídia hoje e é esse tipo de pop punk — como falar isso educadamente? — é o cocô do cavalo do bandido. O pop punk bom, porém, é feito pelo Dopamines, que incorporam o coração inebriado do gênero em seu quarto disco, Tales of Interest. Os anti-heróis do centro oeste voltaram quando ninguém esperava, após hiato de sete anos e não parecem ter amadurecido em nada (o que é ótimo pra eles!). A banda que certa vez cantou sobre tomar toneladas de analgésicos acompanhados de 30 cervejas acaba de lançar 14 novos contos de arrombice: um disquinho nada pretensioso de pop punk vagabundo. — Dan Ozzi | OUÇA: Spotify , Apple Music


Interplanetary Class Classics é o disco de estreia do Moonlandingz, supergrupo com integrantes de bandas como Fat White Family, Eccentronic Research Council e de vez em quando o Sean Lennon. Na teoria parece… OK? Na sua cabeça, porém, num volume altíssimo, é como cair num ralo em meio a toda a nojeira, cabelo e drogas do seu corpo, já que este disco é capaz de separar mente e matéria. O que é bom e tal. Fãs de Suicide ou The Cramps ou qualquer um contra rock esterilizado devem encarar este disco como um clássico a se incluir na coleção ou seguir ignorantes de seu apressadamente brilhante espírito. Aí vem a última faixa, um épico de seis minutos com participação de Phil Oakey do Human League e Yoko Ono. Você não vai ouvir nada parecido com isso em 2017. — Ryan Bassil | OUÇA: Spotify , Apple Music


Talvez você tenha deixado Genesis passar despercebido lá em março, porque como boa parte do que Terius Nash tem lançado como The-Dream em seus anos pós-Def Jam, não houve estardalhaço. O projeto de dez faixas é a trilha do curta de The-Dream de mesmo nome, por mais que o disco tenha demorado um pouco mais pra sair. Apesar do lançamento discreto, ele vale o seu tempo. É a evolução lógica da sonoridade do produtor: é mais obscuro, mais agressivo, mais deprê, e nele, Nash experimenta os tons mais graves de sua voz, brincando com batidas eletrônicas e rompendo barreiras com seu som característico, uma mescla de pop e R&B. Entre os destaques temos "Bury", em parceria com SBTRKT, que também apareceu no projeto de 2016 do artista eletrônico, Save Yourself; "Virtuous", com Wiz Khalifa e o velho dilema de ser "esposa ou namorada; e por fim, "Cardinal Sin", que discute as dores de se atrair por outra pessoa quando dentro de um relacionamento. Certamente não entrará para a história como o melhor disco de The-Dream, mas é bacana ouví-lo tentando fazer algo diferente. — Leslie Horn | OUÇA: Spotify , Apple Music


Em 2017, a linha entre mixtape e disco oficial continua meio borrada quando falamos de artistas independentes, mas com gravadoras descobrindo novas formas de arrebanhar artistas no começo da carreira, as mixtapes com jeitão de meados dos anos 2000 estão voltando. Caso de WillThaRapper, artista com alguma popularidade regional e contratado da Republic Records. Com um estilo de rap que pode ser ligado à implacável cena de Chicago, o rapper fez nome ao mostrar sua versatilidade nos mais variados tipos de produções, vide sua mixtape Beat Bully 4, seu mais novo lançamento na série. Tomemos "Shorty Shorty" como exemplo, uma história aparentemente autobiográfica e "Timmy Turner" de Desiigner sobre um jovem lutando para dar uma vida melhor à sua família. — Lawrence Burney | OUÇA: Soundcloud

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