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Música

Guia Essencial para o Brega Romântico Pernambucano

Quem nunca se identificou com essas letras, nunca amou de verdade.

Foto por Rodrigo de Carvalho

Há tempos o brega deixou de ser exclusivamente aquela música de corno que o vizinho escutava alto nos churrascos de família, tomando uma cerveja. Ele retornou com uma nova roupagem, novos representantes e a mesma intenção: embalar nossos romances e dores de cotovelo. Quem nunca se identificou com essas letras, nunca amou (leia-se: é mentiroso). E embora muita gente não assuma, depois de um coração partido e certas doses de álcool, um bom brega é tudo que queremos ouvir.

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A vertente do brega romântico é uma das mais populares, e as músicas libertam sentimentos que nem sabíamos existir dentro de nós. Esse hype atual que o fez quebrar preconceitos e sair dos subúrbios, ganhando até festas especializadas no ritmo, é um fenômeno lindo de se ver. Sou uma voraz defensora da diversidade musical, e me revolta a deslegitimação de um estilo musical apenas pelo motivo de ser "do povão", enquanto outros que abordam uma temática igual são considerados "socialmente aceitáveis" por serem feitos pela elite intelectual.

Para quebrar esse tabu, e aproveitando todo o conhecimento adquirido em muitas madrugadas insones na deep web musical do YouTube e palcomp3, fui convidada a fazer este singelo Guia Essencial ao Brega Romântico atual, priorizando as bandas que estão aí na atividade. Para os interessados em adentrar nesse mundo, aviso desde já que é uma caminho sem volta: brega vicia tanto quanto drogas pesadas.

Vai prosseguir? Então se apaixone por sua conta e risco por esse top 5 refinadíssimo, que mataria Nick Hornby de inveja.

5. Banda Lapada

Que Michelle Melo é a Madonna do Brega isso é indiscutível, mas ela resolveu se dedicar à sua família tradicional e não lançar nada relevante nos últimos tempos além de jingles pro marido político. Logo, Michellinha, você também tem que seguir o exemplo da Madge e lançar um Rebel Heart para tombar todo mundo, e mostrar que rainha que é rainha não perde a majestade, pois a meritocracia aqui é real. You better work!

Enquanto isso, nos bastidores, uma banda que tem um nome incisivo como Lapada e uma frontwoman como Mary Campbell já nasceu pra brilhar e abrir um top 5 disputado como este. Mulher de um homem só, segura de si, cheia de personalidade e que não liga pra opinião dos outros. Pense o que você quiser que estamos nem aí, Lapada é SIM uma das maiores bandas de brega em atuação.

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Cada um tem a Rihanna que merece, e eu faço questão de merecer Mary. Quando a gente menos espera ela aparece, nos presenteando com novos clipes e músicas que dão uma lapada de amor no nosso coração.

E se ela sozinha já é capaz de parar o trânsito aéreo do Rio de Janeiro, imagina ao lado das Rainhas queridinhas do brega, no melhor programa de auditório de Pernambuco?? É amigos, tem Mary brilhando ao lado das amigas Sedutoras sim (da melhor formação ever!!!), assumindo e seguindo nesse quinto lugar que lhe é de direito:

4. Musa do Calypso

Priscilla Senna é o rosto e a voz da Musa do Calypso. Ela é uma querida, e é daquelas figurinhas brilhantes no álbum do brega pernambucano! E já adianto um spoiler de que esse quarto lugar é um combo com a terceira posição, pois não dá pra citar Musa e não citar Kitara, não dá pra desvincular a Loirinha Marrenta da Morena. Já dividiram o palco em várias ocasiões, e protagonizaram um dos duetos mais conhecidos do brega atual, encontro este eternizado no DVD da Musa:

A lista de parcerias da Musa também conta com a princesa do forró Walkyria Santos, ex-Banda Magníficos. É uma tarefa árdua escolher uma música que mais representa a banda, mas eu vou optar por aquela clássica que todo mundo já cantou quando está superando um fim de relacionamento, e na qual aprendemos a valiosa lição de que: o mundo gira, o mundo é uma bola!

Priscilla, como toda mulher moderna e independente, também exige atitude e maturidade das pessoas com as quais ela se envolve. A canção a seguir é uma ode ao amor nos tempos da internet, solta o som:

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"Eu quero atitude, eu quero a senha do seu Facebook"

3. Banda Kitara

Não tem como falar em Banda Kitara e não sentir um leve nó na garganta. Formada originalmente (e eternamente, em nossos corações) por Rodrigo Mell e Carlinha Alves, a história da banda se mistura com a história do brega romântico, e possui um dos grandes hinos do gênero: “Dizem que Sou Louca!” Sério, se tu dizes gostar de brega e não conhece/ama/chora/grita com essa música você não é ninguém.

Tudo era muito lindo e perfeito, e todos viviam felizes no Planeta Kitara - O Planeta do amor… Mas, como era de se esperar, a boca de confusão tomou conta da banda e Carlinha, aos prantos, anunciou que a casa caiu e a farsa acabou. Era o fim de uma era na Kitara.

Para quem nasceu no final dos anos 80/começo dos 90 seria o equivalente à separação de Sandy e Jr. O chororô e a comoção foram grandes, mas a linda logo deu a volta por cima e anunciou um novo projeto chamado "Loira Marrenta". Já a Kitara foi atrás de outra voz para encantar aos nossos ouvidos, e fez seleção para uma nova vocalista num programa de TV aberta (afiliada da Rede Globo), com toda a pompa e no melhor estilo Loira do Tchan. Quem fez o requisito foi Vanessa Rios, e virou a nova galega da Kitara.

2. Banda Torpedo

Formada por Tayara Andreza e Deivison Kellrs, a Banda Torpedo talvez seja a maior, melhor e mais estável banda de brega pernambucana. Percebam que estabilidade é algo bem raro no brega, sempre existe alguma treta entre cantores, produtores ou dançarinas bancando a Yoko Ono e destruindo parcerias. Existe até um programa no YouTube chamado Polêmicas do Brega, em que o apresentador esmiuça as confusões e as bandas prestam esclarecimentos sobre o assunto (recomendo, melhor webserie!!!).

A maioria das músicas da Torpedo são autorais e têm uma qualidade infinitamente superior às das outras bandas, desde suas letras até o os arranjos, e tem um DVD tão bem produzido que faria inveja a grandes bandas consagradas pelo mundo afora (gente, tem uma ORQUESTRA acompanhando as músicas e muitas trocas de figurino!!). Se a Banda Torpedo é essa perfeição toda aí que estou falando, por qual motivo ela não está no primeiro lugar? Simples, rancor. (Tá me lendo, né, Tayara? Chegou a hora da REVANCHE, então).

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Por um comentário inocente eu fui banida da página da Banda Torpedo, depois de tanto amor, devoção, lágrimas derramadas, likes e compartilhamentos em redes sociais. Mas citando a própria banda, “errar é humano, e hoje aqui estou pagando por meu erro”. Espero que esse apelo me faça ser desbloqueada. Tay Rainha, Domênica Nadinha.

A Banda Torpedo alcançou visibilidade com o clipe de "Como a Culpa É Minha", no início de 2012, e desde então emplaca hit atrás de hit. As temáticas são mais existencialistas e profundas do que as outras bandas em ação atualmente, sempre tratando de traições e inquietações da alma humana. É como eu costumo comparar: Deivison Kellrs seria o equivalente ao Morrissey ou o Ian Curtis do brega pernambucano.

A música mais conhecida da dupla é "Diz na Minha Cara", que já começa com uma das melhores opening lines da música brasileira: "De repente não vejo mais as cores no jardim do nosso amor, está diferente…". Fala, diz na minha cara se tem como não se arrepiar e morrer de amores por essa banda?

1. Banda Sedutora

Donas de um carisma inigualável, a "Banda Mais Feminina do Brasil" é um fenômeno que ultrapassou as barreiras do estado de Pernambuco. Desde o seu lançamento na mídia com o clipe de "Bateu a Química" (versão de "Wrecking Ball", de Miley Cyrus) ela foi alvo dos mais variados tipos de comentários, e virou um hit na internet, divulgado pelos maiores portais de cultura pop do Brasil.

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Logo em seguida, a Banda Sedutora – que até então era uma dupla formada por Rhayza e Tereza Cristina – emplacou mais um sucesso em nossos corações apaixonados: "No Dia do seu Casamento". Virou a marca registrada da banda, e não há uma pessoa que escute o famoso “iê iê iê” e não complete automaticamente com “sedutoraaaa”. Icônica.

"Mas no começo tudo é flores, depois vem o ciúme e a gente brigou…" Como sempre, tudo que é bom dura pouco, e Tereza Cristina (até então Cris Santos) anunciou sua saída da banda para prosseguir num novo projeto chamado Banda Bateu a Química (como não amar??). E desde essa primeira perda a banda já teve SETE formações, em um ano de história. Ser fã da Banda Sedutora é uma tarefa árdua, pois você não pode escolher sua Sedutora preferida e dormir em paz, sabendo que pode acordar e ela anunciar a saída da banda também.

Toda banda tem aquela formação de ouro, né? Então, a minha era a penúltima. Rhayza, Eduarda, Valkíria e Brunessa. Rainhas da balada, se completavam. Tive a oportunidade de vê-las duas vezes ao vivo, e quando Brunessa e Rhayza anunciaram que não mais faziam parte – para seguirem num novo projeto chamado Banda Divas – eu realmente não vi mais sentido em continuar com esse amor.

A música de trabalho da nova formação tem um dos títulos mais sensacionais: "Tem Dó de Mim e do Bebê". Sério, essa uma expressão que dá pra ser usada em todos os momentos da vida! Tá trabalhando demais? Posta "Tem dó de mim e do bebê" no Facebook e tagueia o chefe. Tá de saco cheio do seu amigo reclamando de paqueras? Joga "Tem dó de mim e do bebê" no mural dele. Levou um fora e quer retomar o relacionamento? Funciona como indireta também.

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BONUS TRACK

Sedutora é a banda rainha da versatilidade e diversidade musical, e além de fazer versões de pop internacional, arrocha, sertanejo, também gravou Caetano Veloso! E olha, sinceramente, eu acho essa versão melhor do que a original.

Essa é dedicada a todos os leitores fãs de MPB. Não me odeiem, apenas aceitem a hegemonia da Banda Sedutora e sigam o exemplo dos bregueiros: Não sejam limitados e se rendam a todos os ritmos musicais que o mundo te proporciona, sem preconceitos.

TRÍVIA

Em passagem por Pernambuco, Anitta levou a platéia ao delírio dando uma palhinha de uma das músicas da Sedutora. Foi um belo momento para se estar vivo, e invejo quem estava nessa apresentação.

As Sedutoras foram carinhosamente apelidadas de "Filhas de Pablo", por serem as representantes femininas da famosa sofrência, e regravaram duas músicas dele.

Aí você me pergunta: "Mas Domênica, quem danado é Pablo?". E eu te respondo: "Qualquer usuário de Whatsapp ou TV aberta sabe quem é Pablo." O pai da sofrência, o Robert Smith baiano, que corrobora a teoria de que homem não chora! Com certeza você já o viu em programas de auditório ou em algum vídeo de Whatsapp que seu tio do "pavê ou pacomê" manda pros grupos da família.

Pablo está cada vez mais rico, ele está poderosíssimo, e em seu último disco tem dueto até com Veveta Sangalo. Dá o play por sua conta e risco, e tenta segurar essa emoção proporcionada pela Voz Romântica.

Domênica Pinto é graduada em pós-punk, tem mestrado em divas pop, MBA em funk carioca e doutorado em brega. É DJ e produtora de festas na Paraíba. Siga-a no Twitter - @domenicash.