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Música

Dam-Funk É o Cara que Mantém a Chama Viva do Funk

O embaixador do funk discute sua colaboração com o Snoop Dogg, ter tocado um pianinho para o Milli Vanilli e a vez em que ele falou para o Tyler, The Creator que gente branca não devia usar a palavra "nigger".

Fotos por Myles Pettengill.

Qualquer um que já acompanha a carreira do Dam-Funk sabe que ele é um homem de princípios. Nascido em Pasadena (Califórnia) com o nome Damon G. Riddick, ele passou mais de uma década oscilando entre fazer música em seu quarto, sessões de trabalho e fazer bicos. Seu tipo único de funk da Costa Leste chamou a atenção do Peanut Butter Wolf, o que resultou em um contrato com a Stones Throw e o álbum Toeachizown, que fez Dam ser reconhecido não apenas como um artista, mas também como uma autoridade do funk moderno.

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O Dam também conhecido como um DJ, mas no sentido de ser um seletor. Muito porque se importa com a música que está mixando, falando o nome delas enquanto está tocando, como um locutor de rádio. E ele faz isso até mesmo quando está tocando em baladas bombadas em Los Angeles.

Foi nesse rolê que seu caminho se cruzou com o do Snoop Dogg/Snoop Lion/Snoopzilla, que ficou tão impressionado com suas escolhas musicais em uma vernissage de arte que cancelou seus planos e ficou por lá para mandar um freestyle. Assim, depois de 20 anos fazendo música, separados por alguns quilômetros, os dois entraram em um estúdio e lançaram o primeiro álbum da parceria, 7 Days of Funk.

Eu chamei o Dam para conversar sobre o seu trabalho com o Snoop, sobre sua vida, suas preocupações e expectativas para a próxima geração de novos talentos da Califórnia. As respostas pensativas e profundas dele conseguem explicar muito bem o tipo de cara que sozinho consegue manter um gênero vivo e arrebentando.

Noisey: Onde você está agora?
Dam-Funk: Estou no leste de LA, em Derrie Heights.

Legal, vamos direto ao ponto. Você e o Snoop vão entrar em turnê para promover o 7 Days of Funk?
Talvez, nós estamos conversando sobre umas ideias para a turnê, mas ainda não há nada decidido.

Você se vê promovendo esse álbum pelos próximos meses?
Nós vamos nos envolver com o projeto por uns tempos, deve ser legal e nós estamos ansiosos para isso.

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Eu ouvi dizer que você só trabalha com colaborações quando elas acontecem naturalmente, você pode dizer como conheceu o Snoop? Aparentemente você estava discotecando em uma festa numa galeria de arte e ele apareceu. Foi isso?
Na verdade, ele estava lá para dar um apoio para seu primo Joe Cool, que fez a arte da capa do Doogystyle. Estava rolando uma exposição da arte dele na galeria HVW8 e eu estava marcado para discotecar na exibição. Aparentemente o Snoop estava quase indo embora, mas me disseram que enquanto eu estava tocando ele estava escutando e não ia embora, porque queria conferir que tipo de boogie e funk que eu estava tocando. Eu estava com o meu keytar engatilhado e ele ficou em volta. Eu o vi em um canto, ofereci o microfone e ele simplesmente começou a falar. Aí, ele ficou por mais um tempo, curtindo muito e pareceu natural. Nós partimos disso. Isso foi em 2010.

Quando essa colaboração começou a tomar forma?
Um pouco depois do verão de 2013. Ele veio até meu pico. Eu estava trabalhando em um remix do Toro y Moi naquele mesmo dia. Desliguei meus aparelhos para descansar um pouco e ele me ligou por volta das dez da noite para dizer, “Cara, eu quero te ver.” E pensei “Ok, tenho que ligar os equipamentos de novo.” Comecei a preparar a casa, me perguntando se ele viria com uma galera gigante, mas ele só apareceu com o Joe Cool. Foram apenas vibes naturais. A primeira música que nós fizemos foi a “Hit the Pavement”. Depois disso ele sentou e disse, “Cara, isso é muito mágico, nós temos que fazer um projeto, nós temos que fazer um EP.” Eu disse que ficaria honrado e partimos disso aí.

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Os dois estavam fazendo música na mesma época em LA, mas acredito que tomaram rumos diferentes…
Enquanto ele estava fazendo o negócio dele na Death Row, eu estava ocupado fazendo as minhas coisas. Fazendo bicos e fazendo música no meu quarto. Depois eu conheci o Peanut Butter Wolf no Myspace e ele me ofereceu um remix. Isso levou ao Toeachizown. Acho que Snoop estava dando uma espiadinha. Notei ao andar com o Snoop que ele é muito adepto à música. Ele é um cara muito inteligente, sabe muito sobre estilos de música diferentes e tem acompanhado minha música desde sempre. É por isso que digo as pessoas, quando elas estão no Twitter ou no Facebook, falando merda, ou putas da vida com o mundo, para não acabar com artistas ou falar alguma porcaria para eles, porque nunca se sabe se esse artista tem silenciosamente apoiado você.

Você sente que batalhou muito para chegar onde está agora?
Eu batalhei. Passei por uma boa cota de batalhas. Muita gente, principalmente artistas, até mesmo pessoas que não são músicos –qualquer tipo de pessoas que possui um tipo de estilo que acham que é único- são induzidos a mudar o que fazem. E eu gosto desse tipo de música, então, nah. Eu não vou fazer um barato meio EDM para conseguir um hit ou ganhar elogios. Para ser honesto, não estou lambendo meu próprio saco, poderia fazer isso facilmente. Mas eu não faço, porque eu confio no que eu tenho.

Você acha que tem alguém além de você que trabalhou consistentemente esse "ângulo do funk" seu?
Acho que ninguém trabalhou consistentemente do jeito que eu faço.

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Arrebenta!
Sei que tem muita gente por aí que acredita na música, mas quando não era legal ter linhas de baixo e sintetizadores bombando e lindas linhas de cordas, eu era o único que estava levantando essa bandeira. Sempre existiu uma atitude meio condescendente com o synth funk dos anos 80, a qual sempre ofendeu um pouco. As pessoas colecionam vinis de funks dos anos 70 e anos 60 e os preços eram altíssimos e eu pensava, “Caras, e 1982 –os Hope Brothers 45- vocês não estão sentindo esse funk? Por que vocês não escutam isso? Vocês estão criando uma imagem do funk que não é a dele mesmo.” Essas coisas retrô são legais, mas a molecada nos guetos não está ouvindo essas coisas. Isso não é geral. O que eu tenho tentando fazer durante todos esses anos é mostrar para as pessoas o que nós realmente curtimos –Slave, Chance, One Way, Skyy, Prelude Records, Barry White. Coisas suaves misturadas com sofisticação. Não precisa ser algo tipo [tom de piada] “Get up on iiiit…”

Você se lembra quando começou a curtir esse tipo de funk?
Comecei a curtir quando isso rolava na minha vizinhança. Vivi isso. Eu e a minha mãe costumávamos esperar para uma música tocar na rádio. As pessoas podiam ligar na rádio e pedir por uma música. O DJ dizia “Isso foi pedido pelo Damon da cidade de Pasadena…” que é o contrário de hoje, com um computador toca a mesma música por dez horas, e você é enganado a pensar que é a música do momento. Na verdade nem é, porque alguém pagou um jabá para tocar na rádio.

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Você acompanhou várias mudanças na maneira que uma música é lançada, como você está aproveitando a maneira digital de fazer as coisas?
Eu sou da Geração X. Então eu sou da velha guarda e da nova guarda ao mesmo tempo. Eu me adaptei, estou usando o computador. O único perigo disso tudo é que se criou uma desculpa para as pessoas não comprarem [as músicas].

Você tem um senso muito forte sobre quem você é como artista, qual é a única regra que rege sua vida?
Eu vivo pela integridade. Eu vivo para tratar as pessoas do jeito que eu acho que elas devem ser tratadas. Eu faço as coisas como um cavalheiro.

Você é um veterano da California, o que está achando dos artistas que estão saindo agora, como o Kendrick Lamar, o Tyler e etc?
Eu conheci o Tyler, nós somos amigos. Tive uma conversa com ele sobre permitir que outras raças usem a palavra “N”. Eu ouvi o lado dele e ele ouviu o meu. Sou de uma geração onde nós não tolerávamos isso. Existe uma regra não escrita para outras culturas para não usarem essa palavra. Nós tomamos essa palavra para nos fortalecer e tornamos isso diferente. Agora, em uma nova geração, onde alguém na Índia pode dizer “E aí, criolo?”, um sentimento estranho sobe pela minha espinha.

O Tyler estava dizendo que “é uma nova geração, nós não ligamos para esse tipo de coisa.” Meu lado diz que, afinal, as pessoas que lutaram para isso, que foram mordidas por cachorros e receberam esguichos de água e que tiveram que sentar no fundo do ônibus não ficariam muito felizes com a maneira que nós deixamos as pessoas usarem uma palavra como essa. O ponto é que isso denigre nossa existência como negros. Acho que a mensagem é que ele está tentando tirar o sentido dessa palavra, então entendo, e quero escutar dele, porque também gostaria de ser escutado. Depois dessa conversa, Tyler e eu ficamos mais próximos, nós conversamos sobre música, nós trocamos mensagens. Eu acho que ele é um cara bem talentoso, está progredindo e acho que coloquei um bichinho no ouvido dele e ele irá lembrar do que nós conversamos. Talvez ele esteja em uma reunião algum dia e algum caucasiano de 57 anos virará pra ele, “E aí, criolo?” e aí ele pensará no que fazer. As pessoas crescem. Eu tenho plena fé que o Tyler fará a coisa certa.

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Uau, vocês dois vão fazer uma colaboração algum dia?
Nós conversamos sobre isso, mas eu gostaria de manter isso em segredo por agora.

Não posso ir sem te perguntar se você já tocou teclado para o Milli Vanilli…
Depois que rolou toda aquela polêmica, eles ficaram bem determinados a reviver a carreira deles e quiseram fazer um álbum legitimo com produtores de verdade. Um deles era o Leon Silver e eu estava trabalhando para ele como tecladista. Nós gravamos um monte de coisas, mas esses caras estavam a fim de outras coisas em Reno, algumas distrações. Depois de um certo tempo eu acabei indo para casa. Tem algumas fitas interessantes por aí que talvez um dia eu deixe a galera ouvir.

E finalmente, você é um grande fã de metal, quem são seus artistas favoritos?
Iron Maiden, Black Sabbath, Rush, Motley Crue. O primeiro show que eu fui na vida foi o Motley Crue abrindo para o KISS na turnê "Creatures of the Night". Eu era moleque e na plateia tinham motoqueiros, sabe? O Motley Crue era a novidade e o que rolou é que o KISS veio depois e destruiu o Motley Crue. Isso é uma lição… a velha guarda irá esmagar você quando você colocá-los em teste. O funk sempre teve uma conexão com o rock e o metal. Considero o funk e o metal como os primos sujos e perdidos do rock e do soul.

Emma-Lee Moss ainda acredita no Milli Vanilli, siga-a no Twitter: @Emmy_The_Great

Myles Pettengill usa o Tinder em Los Angeles and Instagram no resto do mundo: @myles_standish