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Música

Punk é Gótico: os Arctic Flowers Falam Sobre Lorde, Portlandia, e Gravar com Britney Spears

O Arctic Flowers ainda é gótico e tem uma base anarcopunk/peace-punk por dentro e por fora, mas vem trilhando um caminho mais pop do que em trabalhos anteriores.

Não faz muito tempo, assisti em Portland o show de lançamento do novo LP do Arctic Flowers,Weaver, que sai pela Deranged Records na América do Norte e pela Sabotage Records na Europa. A última vez em que eu tinha visto o grupo ao vivo foi numa matinê em dia de semana num loft straight edge e vegano no Brooklyn, que francamente entrou no meu top dez de shows DIY mais esquisitos que já vi. Mas dessa vez a experiência foi totalmente diferente: a banda dando o melhor de si na cidade onde mora, com abertura do Criminal Code e dos fantásticos Bellicose Minds.

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Suas músicas novas são um passo adiante em sua base anarcopunk/ peace-punk, mas às vezes trilhando um caminho mais pop do que em trabalhos anteriores. O Arctic Flowers ainda é gótico por dentro e por fora, sem dúvida, fiel ao seu lar a noroeste do Pacífico. O novo álbum pode ser ouvido inteiro em stream mais abaixo, assim como uma magnífica mixtape da vocalista do Arctic Flowers, Alex.

Nessa entrevista, realizada em uma mesa do lado de fora do The Know (um bar punk fodão onde aconteceu o show de lançamento do álbum), falamos sobre a música de Portland, sobre quebrar o palco sem largar a guitarra, Lorde, Nirvana e a composição de hits. Os membros do Arctic Flowers são o Stan, na guitarra, a Lee, no baixo, o Cliff, na bateria, e a Alex, no microfone.

Noisey: Se vocês pudessem assassinar alguém que está vivo, quem seria?
Cliff: O pai da Lee!
Lee: Sabe, com aquela merda da NSA, acho que eu diria algo diferente do que vou dizer. Não me sentiria bem em responder essa pergunta.
Alex: Ainda estou com muita raiva do Michael Vick. Que boçal. Ele, eu matava. Mais alguém quer que alguém morra? Ninguém mais?
Lee: Os criadores de Portlandia, acho que tinham que ter sido assassinados bem antes daquela série ser criada. Pelo menos ninguém vai vir à minha casa para me prender por dizer isso. Além de Portlandia, o que vocês pensam sobre Portland e os shows e a cena da cidade?
Alex: Portland é maravilhosa.
Stan: Sim, adoro Portland.
Lee: É demais. Tenho muita sorte de morar aqui. Vocês todos se mudaram para cá? Alguém nasceu aqui?
Lee: Todos nos mudamos. Por que isso, na opinião de vocês?
Alex: Em Portland a vida é mais fácil.
Stan: É bem tranquilo. Mais barato. Se você curte punk, a cena punk é gigante. Vejo punks que nem conheço andando pela rua. Tipo, gente que você nunca viu num show, vinda dos subúrbios ou coisa assim. É generalizado. E sempre tem gente nova se mudando para cá. É uma boa comunidade.
Lee: Há muitospunks da nossa idade e muitos parques. É fácil morar e trabalhar na mesma vizinhança. Há vários motivos.

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Alex: quais bandas daqui você acha boas?
Alex: Adoro Bellicose Minds.
Stan: Old City.
Alex: The Estranged e Warcry. Gosto demais do Bi-Marks. Vocês ensaiam no Blackwater [um galpão punk multiuso que Alex coadministra em Portland]? Vocês acham que há alguma vantagem em ter um monte de bandas ensaiando em um mesmo ambiente? Modifica o trabalho de vocês em alguma coisa?
Alex: Não acho que afetaria nossa música, no fim das contas.
Stan: Acho legal ter as bandas todas juntas em uma comunidade. Nos intervalos, todo mundo convive. Ensaiamos depois do Lebenden Toten.
Lee: E do Warcry, e do Hellshock, e The Estranged. É bem legal. Só tem galera punk ensaiando aqui?
Stan: Basicamente sim, não é?
Alex: Eu diria que algumas das bandas não são punk, mas que no mínimo são afiliadas a nossos amigos de uma forma geral. Há garage, algum metal e uns lances thrasheiros. Mas, afinal de contas, todo mundo se conhece, então com certeza é um lugar para, tipo, deixar a porta destrancada por um segundo, sabe?
Stan: Se tiver uma guitarra sozinha no estacionamento, alguém pega e mostra para todo mundo: “ei, essa guitarra é de alguém?”. Ali, um cuida do outro. Onde vocês gravaram o álbum novo, Weaver? Como foi o processo de composição?
Stan: Eu gravei no meu estúdio, o Buzz or Howl. Foi muito demorado. Tipo o quê, um ano? Então, gravamos as músicas e finalizamos os vocais por uns meses.

Q: Vocês compõem os sons juntos?
Stan: Sim.
Lee: Fazemos algumas coisas diferentes. Acho que a composição, da introdução de uma música até o fim de uma música, pode levar meses, com todas as pequenas nuances. Certas músicas, ficamos dando duro em cima por um longo tempo até estarmos contentes de verdade com elas. A música "Byzantine", acho que demoramos uns dois ou três meses até encontrá-la.
Stan: Outras músicas vêm prontas logo de cara.
Alex: Mesma coisa as letras. Tem músicas que saem num instante, outras levam meses. Sobre o que você canta?
Alex: Canto sobre todo tipo de coisa, na maior parte, sobre minha vida pessoal e minhas visões pessoais do mundo. A sombra dentro de mim, e de cada um de vocês. Boa frase. Melhor eu anotar. Stan, há quanto tempo você vem gravando material de outras bandas? Há quanto tempo tem esse estúdio em que você está?
Stan: Há quinze ou dezesseis anos, e nesse estúdio estou há três anos. O local é um estúdio desde os anos 80, eu cheguei lá e assumi o leme. Quais foram as sessões mais memoráveis que vocês já fizeram?
Lee: Com a Britney Spears? Isso aconteceu de verdade.
Stan: Tem essa coisa chamada Portland Mutant Party que um cara chamado Johnny organiza. O selo dele se chama Johnny Cat Records. É uma compilação em vinil de 7 polegadas, mas todas as bandas vêm gravar no mesmo dia. Eles convidam muitas pessoas. Ele arruma um barril, cerveja, o estúdio vira uma festa e fica uma loucura.
Alex: Da última vez em que fui à festa, gravamos"We Are The World" com umas 30 pessoas.
Stan: 30 pessoas bêbadas gritando"We Are The World". Algum de vocês já se machucou sério num show?
Stan: Teve uma vez que minha cabeça literalmente abriu. Também já afundei no palco. Na minha antiga banda de hardcore, fui dar um pulo e, quando pousei, meus pés furaram o palco e passaram direto. Foi na Califórnia. O local se chamava PCH ou algo assim. Minha antiga banda era a Deathreat. Fiquei preso por uns minutos, mas depois saí e aí cortei toda a minha perna. Vocês continuaram tocando?
Stan: Sim. Que máximo. E que músicas vocês andam escutando hoje em dia?
Lee: Eu descobri recentemente essa banda chamada Crystal Castles de que gosto muito. Tenho ouvido mais música eletrônica. Ouço muito The Cure e Depeche Mode.

Cliff, o que você tem ouvido em matéria de música?
Cliff: Você não quer saber.
[O resto do Arctic Flowers, em coro]: Conta, conta, conta!
Cliff: Tenho ouvido muito o Status Quo, que é tipo uma banda de rock britânica. Esse ano me apaixonei mesmo foi pelo álbum da Lorde. Um pop maravilhoso. Ela ganhou como Música do Ano.
Cliff: Não sabia. Não acompanho muito a fofoca sobre o álbum, só tenho o meu.
Stan: Ela não chegou a fazer uma sessão com o Nirvana?
Cliff: Eu também fiz uma sessão com o Nirvana!
Lee: Nós todos adoramos o Duran Duran.
Alex: Sim, somos todos fãs do Duran. Se vocês quisessem alcançar algum objetivo enquanto banda e pudessem dizê-lo com palavras, qual seria?
Lee: Ir à Europa. E lançar mais dois álbuns que fossem melhores que nossos outros álbuns. E um dia, quero ser capaz de tocar no escuro. Estou trabalhando nisso.
Cliff: Quero muito um dia que projetem atrás de nós, numa tela, coisas tipo uma bateria iluminada que solte faíscas quando você tocá-la.
Stan: Quero não ser um merda.
Alex: Entender como não ser um merda. Usar mais vestidos de festa no palco.
Stan: Queria escrever uma dessas músicas de que as pessoas se lembrem para sempre. Sabe, músicas de uma certa banda, que você fique: “ah sim, a ‘Nervous Breakdown’ do Black Flag”. Algo assim. Seria incrível ter uma música desse calibre.
Alex: Algum dia, nossa pepita de merda chegará ao topo.

Tradução: Simone Campos