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Música

AlunaGeorge Ama R. Kelly e América

Aluna Francis e George Reid não devem ser muito bons em bolar nomes de banda. No entanto, para sorte deles (e nossa), eles são muito bons em bolar música.

Aluna Francis e George Reid não devem ser muito bons em bolar nomes de banda. No entanto, para sorte deles (e nossa), eles são muito bons em bolar música.

Os artistas, que criaram o grupo de R&B com o nome esperto AlunaGeorge, passaram o ano passado cultivando fãs lentamente depois que seu single de estreia, “You Know You Like It”, teve repercussão na blogosfera. À primeira ouvida, a faixa animada e atrevida pode parecer uma cartilha bacana sobre o som da banda, mas desde seu lançamento, a dupla passou o último ano e meio refinando o que exatamente é o AlunaGeorge. E agora, eles mostraram exatamente o que é isso para o mundo com o álbum Body Music.

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Esse disco talvez tenha o som mais 2013 lançado este ano. Está cheio de batidas evasivas e cativantes e trocadilhos que lembram a música dos anos 90 – de R. Kelly a Daft Punk — mas ainda assim, de alguma forma, parece extremamente inovador. Conversei com a banda por Skype e falamos sobre tudo, de Body Music aos estereótipos que eles têm dos EUA, enquanto eles faziam a coisa mais britânica que existe: tomar chá.

Noisey: O que vocês acham do disco?
George Reid: Bom, estou extremamente orgulhoso do álbum. É uma conquista incrível lançá-lo e é uma coisa que eu sonhava em fazer há muitos, muitos anos. Então só isso já é uma grande conquista. Além disso, fizemos o disco no nosso tempo e tem muito de nós que foi colocado nele.

Aluna Francis: É, acho que isso é o que damos como certo. Fizemos tudo por conta própria. O George fez toda a produção do álbum. Eu fiz todo o coral. Só tivemos ajuda na mixagem e compusemos uma música em parceria com Sam Frank e foi isso.

Quanto tempo levou o processo?
G: Bom, vem desde que nos conhecemos, porque no dia em que nos conhecemos começamos a compor juntos. Fazemos isso há tempos, mas em termos de realmente montar um álbum com 14 músicas, foi cerca de um ano e meio. Chegamos à constatação de que – ok, essas músicas precisam fazer sentido juntas e você precisa conseguir escutar sem se sentir esgotado ou como se tivesse deixado passar uma faixa ou tivesse que pular alguma. Então quando começamos a pensar realmente sobre o que queríamos dizer musicalmente, foi isso que fizemos. Queríamos lançar uma coisa que oferecesse tudo o que somos.

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E o que vocês são?
G: Para ser sincero, é difícil dizer com palavras, cara. No fim das contas, é só música e acho que as letras e as músicas dizem mais do que qualquer outra coisa que eu possa dizer. Sempre quis tentar fazer música com o que é interessante, pelo menos da minha parte – batidas e ritmos. Já escutei muita música instrumental, principalmente de base eletrônica, e queria ouvir essas batidas e paisagens sonoras incríveis. Essas são as músicas das quais me lembro no fim do dia. Tento equiparar isso com uma melodia ou letra que acho que teria uma identificação. É uma meta, mas também é simplesmente uma coisa que fazemos.

Qual é a percepção da sua banda no Reino Unido em comparação aos EUA?
A: Bom, no Reino Unido, estamos vendo alguns artistas que fazem coisas um pouco diferentes entrando nas paradas. E acho que isso é porque muitos dos ouvintes que queremos estão te envolvendo naquilo que querem escutar. Nossas rádios estão respondendo a isso, apoiando artistas novos e em ascensão. Você começa com as rádios segmentadas e depois consegue uma chance de entrar na transmissão mainstream, mesmo não sendo a Taylor Swift. É isso que tem acontecido aqui. Bandas como a nossa e, digamos, a Disclosure, todas tiveram um apoio no começo e isso é ótimo.

G: E também nunca fomos para os EUA como banda, então acho que isso deve ter alguma coisa a ver. Não faço ideia.

Você acha que a cultura de alguma forma faz com que seja mais fácil ser músico no Reino Unido?
G: Gosto de pensar que sim. Ela mostra que é uma coisa muito possível de se fazer, se é isso que você quer fazer com a sua vida. Se você acredita nisso, é uma possibilidade – porque no fim das contas, é um pouco difícil de acreditar. Aqui somos só nós dois compondo músicas no piano e no computador. É louco ver até onde chegamos neste país. Acho que isso mostra o que você pode fazer hoje em dia por conta própria. E obviamente você precisa de algumas pessoas, e também de muita sorte.

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As pessoas reconhecem vocês na rua?
G: Ah, é, não somos nem um pouco famosos. Umas duas ou três pessoas já me reconheceram. Mas acontece muito em aeroportos. As pessoas parecem achar a gente com mais facilidade em aeroportos, talvez porque é um espaço confinado com muita gente que fica um tempão se esbarrando.

Aeroportos são esquisitos. São o grande equalizador de todo mundo.
A: É verdade.
G: A não ser que você esteja naquela área reservada, está todo mundo no mesmo barco.

É estranho ser reconhecido?
A: É estranho, sim. Toda vez que alguém me reconheceu fora do contexto da música achei muito estranho.

G: Passei por uma situação esquisita quando uma menina chegou para mim ontem e eu estava em um shopping em Londres. Ela disse: “Você é o George da AlunaGeorge?" E deixou isso pairando um tempo. Tipo, da hora, ok. Ela não sabia o que dizer e eu não sabia o que fazer.

A: É muito engraçado, porque é como você disse: “Sim, eu sou ele”. E aí é tipo – que bom!

G: Que bom.

A: Percebi que você é você.

Fico feliz por você ser você.
A: Mas é uma boa pergunta. “Você é você?” As pessoas ficam te perguntando se você é você. Acho que sou?

Ao fazer R&B, vocês em algum momento têm que lidar com percepções problemáticas, já que podem ser vistos como estando fora da cultura?
A: A resposta totalmente sincera é que isso não é uma coisa que se coloca para refletirmos. Talvez porque não fomos para outros países onde existem questões em volta disso. E nós também não, então não sabemos como responder a essa pergunta.

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G: Sinceramente, nunca foi uma consideração ou reflexão. Para mim, de qualquer forma, é música, no fim das contas, é isso. É só isso.

Com certeza.

G: Essa é meio que a geração que escutou esse tipo de música quando era mais nova. E imagino que nossos anos de formação durante a infância e adolescência moldam nossos gostos. Foi bem a idade certa que foi rodeada dessa era.

Há pouco tempo, o R. Kelly foi manchete no Pitchfork Festival em Chicago e lançou uma discussão sobre a ironia na música.
A: Estamos com expressões de choque aqui. É tipo o nosso Beatles. A gente inclusive teve um dia de R. Kelly em uma das nossas viagens. Compramos um CD do R. Kelly e dentro tinha um pôster, então penduramos na van e colocamos para tocar.

G: Basicamente o que aconteceu foi que minha namorada comprou um disco do R. Kelly para mim, aquele que tem “Sex in the Kitchen”.

A: No fim do álbum, é só ele conversando com ele mesmo e aquelas melodias, para sempre.

*começa a cantar como o R. Kelly*

“Tinha uma porta e tinha um gato do outro lado e ele disse ‘miau’, então dei comida para ele. E aí fui na cozinha e não tinha mais comida, então tive que ir comprar.”

Esse cara consegue fazer música sobre qualquer coisa. No Pitchfork, ele cantou sobre uma toalha.
G: Sabe, se essa escolha é irônica ou não, aposto que todo mundo se divertiu.

Vocês vão fazer a primeira viagem para os Estados Unidos. Animados?
G: Estou muito animado porque nunca estive nos EUA, nem como turista. Então sei lá, cara. Tipo, é uma cultura com uma influência enorme.

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A: Quero ver como as cidades se diferenciam entre si. Porque parece que você está indo para cinco países diferentes, na verdade. Só estive em Nova York e sei que São Francisco é completamente diferente. Chicago é completamente diferente. Los Angeles é completamente diferente. Estou pensando – bom, como vão ser essas diferenças, vai ser uma viagem ver isso.

Vocês têm algum estereótipo sobre os Estados Unidos?
A: Chicago: pizza. Los Angeles: nada de açúcar, nem trigo, nem carne, nem bebida alcoólica, e gente de biquini andando de patins.

Nunca fui para a Inglaterra e tenho muitos estereótipos. Tipo, imagino vocês todos usando casaco pea coat, chutando bola de futebol e fumando cachimbo.
A: Sim, tudo isso é verdade.

G: Para confirmar qualquer estereótipo, já tomamos chá hoje.

A: E comemos pão de ló.

Tudo o que eu sempre quis foi que uma pessoa britânica me oferecesse chá.
A: A gente oferece. Quando fui para os EUA com a minha mãe, em Nova York, tentamos ir de carro de Nova York para Boston, e minha mãe precisa parar para tomar chá onde quer que ela esteja, em qualquer país. E aí ela escolheu tipo uma parada de caminhoneiro. Ela chegou, entrou e disse: “Olá! Você pode trazer uma xícara de chá para a gente, por favor?” E o silêncio que se seguiu no lugar inteiro foi simplesmente ensurdecedor. E eu pedi uma camiseta “I am an American Trucker” (“Sou um caminhoneiro americano”) só para garantir.

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Tem uma bandeira americana nela?
A: Não, tem um rosto e um caminhão.

G: A questão, Eric, você precisa entender, estamos falando com você por Skype e tem o iPad e não estamos vendo seu rosto – só tem uma águia-careca americana olhando para a gente.

Tenho orgulho do meu país. Ganhamos a guerra.
A: Touché.

Provavelmente a gente devia falar mais sobre a música de vocês. Tem alguma coisa nela que vocês acham que não é compreendida?
G: Acho que nossos singles que foram lançados não representam completamente tudo o que queremos fazer musicalmente, mas estamos resolvendo essa questão com o lançamento de um álbum inteiro. Ah, e somos muito altos. Não se surpreenda quando conhecer a gente e ficar do nosso lado e formos mais altos que você.

Qual é a altura de vocês?
G: Tenho 1,93 metro.

Uau, é alto mesmo.
A: Imagina, não dá nem para vê-lo. Eu tenho 1,80 metro mais ou menos.

Vocês são muito altos. Vocês são altos demais para tocar instrumentos? Sua altura já afetou sua capacidade de tocar?
G: Basicamente em todo festival. Tenho um problema com os tripés de teclado porque eles não chegam na altura que eu preciso sem ficarem balançando. Então uma dor geral no pescoço é o único obstáculo.

A: Geralmente quando as pessoas estão filmando, elas têm dificuldade de enquadrar as pernas e não cortar a minha cabeça.

G: É verdade. Em ensaios fotográficos, precisamos começar a falar para as pessoas trazerem um caixote ou alguma coisa para subirem. E aí quando filmam, dizem – ah, é, vocês são altos.

Eric Sundermann tem estatura mediana. Ele está no Twitter@ericsundy