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A Mídia de Uganda Está Exarcebando a Violência Contra os Gays

O tabloide Red Pepper publicou o nome de 200 pessoas suspeitas de serem gays. O jornal defendia que amigos, familiares e vizinhos dos “acusados” deveriam entregar essas pessoas às autoridades, que os prenderiam pelo crime de homossexualidade.

via Kasha Jacqueline no Twitter.

Expostos! Diz a manchete do Red Pepper, um tabloide de Uganda cujos editores acharam uma boa ideia publicar os nomes de 200 pessoas suspeitas de serem gays. Com as tensões anti-LGBT em países africanos como Nigéria e Uganda se intensificando, as pessoas abertamente gays desses países se sentem exatamente assim: expostas.

Infelizmente, essa não foi a primeira vez que a imprensa local tentou expor publicamente pessoas associadas, que apoiam ou fazem parte da comunidade LGBT. No dia 3 de fevereiro, o The Nigerian Observer publicou os nomes de 57 pessoas supostamente membros da Sociedade da Casa do Arco-Íris, uma organização cristã que tenta ajudar as comunidades LGBT da Nigéria.

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O jornal defendia que amigos, familiares e vizinhos dos “acusados” deveriam entregar essas pessoas às autoridades, que os prenderiam pelo crime de homossexualidade. A versão on-line do artigo foi excluída no dia 6 de fevereiro, mas o estrago já estava feito.

O começo de 2014 marcou a aprovação da Lei de Proibição do Casamento Entre o Mesmo Sexo em Uganda. A legislação, apoiada pelo presidente nigeriano Goodluck Jonathan, proíbe não só o casamento, mas também o apoio aos direitos gays e impõe uma sentença de até 10 anos de prisão para qualquer pessoa envolvida com organizações LGBT de qualquer tipo.

Desde que a lei entrou em vigor, a Nigéria tem visto um surto de ataques violentos a pessoas LGBT por parte da polícia e justiceiros. Dois dias antes do Dia dos Namorados (comemorado no dia 14 de fevereiro em Uganda), 14 rapazes foram emboscados em Abuja, capital do país. O New York Times informou que eles foram arrancados de suas camas e espancados por um grupo de pessoas armadas com tacos cobertos por pregos e chicotes.

No final de janeiro, um vídeo foi postado na internet mostrava dois homens gays sendo obrigados a fazer sexo anal em público, enquanto um grupo de pessoas zombava deles e filmava tudo com seus celulares.

O perigo para as pessoas LGBT na Nigéria é real e as coisas estão piorando — assim disse Jide Macaulay, diretor do projeto e fundador da Casa do Arco-Íris. Macaulay é um reverendo abertamente gay descendente de nigerianos, que se dedica a ajudar as pessoas LGBT da Nigéria. A Casa do Arco-Íris é uma organização cristã que visa conciliar sexualidade e espiritualidade. A Igreja Casa do Arco-Íris na Nigéria foi estabelecida em 2006, antes que as tensões sobre orientação sexual chegassem ao discurso político e social no país.

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via Kasha Jacqueline no Twitter.

Quando ficou sabendo sobre a maneira como o Observer tinha revelado publicamente membros em potencial da Casa do Arco-íris, Macaulay correu para o telefone. Depois de ter saído da Nigéria por segurança, primeiro em 2008 e depois em 2011, só restava a ele tentar controlar a crise em Londres.

Macaulay tem uma relação difícil com a mídia nigeriana. Os jornais locais com frequência publicam os locais de encontro da Casa do Arco-íris, colocando os membros em perigo e expondo a organização a ameaças.

“Infelizmente, a mídia nigeriana é ignorante”, explicou Macaulay.

Jornalistas também participam das reuniões disfarçados e gravam secretamente os encontros. O endereço e informações pessoais de Macaulay também foram publicadas, e as ameaças à sua segurança aumentaram, assim como episódios de assédio e violência.

“Eu precisava de uma tropa militar comigo onde quer que fosse”, disse Macaulay. Em setembro de 2008, ele voltou para Londres. Alguns dias depois, sua antiga casa na Nigéria foi vandalizada.

Macaulay nasceu na Inglaterra, mas passou parte da vida na Nigéria. Ele é formado em direito e teologia e, recentemente, se pós-graduou em teologia pastoral pela Anglia Ruskin Cambridge. Ele sente que Deus o chamou para ajudar as pessoas em lugares como a Nigéria, onde a homossexualidade é vista como contrária à cultura, valores e religião africanos.

Alguns dias mais tarde, Macaulay ficou cautelosamente feliz ao informar que nenhum dos nomes mencionados pelo Observer era realmente de membros da Casa do Arco-íris. Felizmente, a informação coletada pelo jornal era bastante imprecisa — mas, em primeiro lugar, o fato de a lista ter sido publicada lugar já é bastante problemático.

Agora, depois de ver seu nome publicado na lista dos 200 “top homossexuais” no Red Pepper, Macaulay disse que já aguentou o suficiente. “Não há dúvidas sobre as intenções do jornal ao publicar esses nomes”, ele disse. “Vai haver reação e violência contra essas pessoas. Esse já não é mais um problema somente dos ugandenses.”