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A Queda da Batcaverna do Crack

botar abaixo as paredes de dois andares da estrutura abandonada de um edifício inacabado que, já faz um tempo, tem servido de chillout pra craqueiros, espancadores e estupradores que embaraçam a vizinhança com seus hábitos noturnos.

Movimento no sábado retrasado em frente ao quarteirão da QNN 18/20, Ceilândia (DF). Falaram, fizeram e aconteceu – e a marreta gritou alto. Às 16h, 30 moradores do bairro Guariroba, por apreço à quebra deles, tacaram o foda-se para o que diziam daquela cidade satélite e começaram a botar abaixo as paredes de dois andares da estrutura abandonada de um edifício inacabado que, já faz um tempo, tem servido de chillout pra craqueiros, espancadores e estupradores que embaraçam a vizinhança com seus hábitos noturnos. Morcegos, enfim, daí o carinhoso apelido Batcaverna e codinome “herança maldita”.

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O objetivo da quebradeira foi aumentar a visibilidade do interior da construção para quem estivesse do lado de fora, diminuindo as possibilidades de pontos cegos nos quais suspeitos pudessem se esconder. “Nós sabemos que o lugar sempre funcionou como desova de furtos, e em meados desse ano chegamos a catalogar 40 pessoas usando crack ali de uma só vez. Lá também foi, por muito tempo, ponto de tráfico dessa droga. Agora de longe você consegue saber quem está lá dentro”, conta o prefeito comunitário de Guariroba, Higor Sávio. “O cenário era de horror. Inclusive tem banda de rock que gravou uns clipes lá.”

Fotos de antes da demolição, "para se o proprietário se manifestar".

A ideia da mobilização partiu do almoxarife de construção civil Emerson Rodrigues da Silva, 33. Foi ele quem, diante do “descaso” das autoridades na solução “desses e de outros problemas”, como “reuniões de gangue, pixadores, assaltos e prostituição – e após conversa com “dona Socorrinha”, outra moradora da região que o alertou sobre o caso de um rapaz encontrado espancado no interior da obra –, decidiu levar a cabo a demolição parcial. “Se o Administrador [Regional] não faz, vamos fazer nós mesmos. Isso não tinha acontecido uma nem duas vezes, mas várias. A mesma me falou que uma vez ela saiu correndo atrás de um estuprador que tinha acabado de praticar, sendo que a vítima ainda se encontrava ensanguentada”, conta. “Diante disso, como sou conhecido na comunidade por ser músico em uma igreja em frente à obra, ela me pediu pra fazer algo com relação a isso”.

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A história se assemelha à do Castelo de Grayskull, outra obra inacabada localizada na QNN 13 que antes era utilizada como moradia de usuários de drogas e que hoje foi transformado num ponto cultura. Assim como já aconteceu com aquela, o esqueleto da Batcaverna – esboço de uma clínica médica – está embargado pela Justiça graças a um processo ainda em trâmite envolvendo seus proprietários, o que, diz a Administração Regional, impede que sejam tomadas atitudes como sua demolição. “Estamos fazendo o que podemos.Temos policiais em rotas ostensivas ali”, defende o administrador regional de Ceilândia, Ari de Almeida. “Eu nem sabia que o apelido era Batcaverna, mas trata-se de uma propriedade particular, e ninguém pode invadir nem destruir uma propriedade particular, então temos que aguardar uma decisão judicial.”

Mas a segurança pública se diz alheia aos casos mencionados recentemente. “Se esses delitos de fato ocorreram ultimamente, não foram registrados. O último caso naquela região do qual temos queixa é de janeiro. E não no prédio, mas na região”, afirma o major Carlone, do 8º Batalhão da Polícia Militar. “Como querem que a gente ajude se não nos informam? Eles reclamam muito de tráfico, mas isso já conseguimos controlar. O que acontece é mesmo de alguns indivíduos ainda usarem o local para consumir drogas.”

Ainda que o ato tenha sido anunciado na internet -- só que sem hashtag ou twitcam --, nem polícia nem Administração souberam de antemão. Ari: “Os moradores têm o direito de fazerem o que querem, só que a responsabilidade é deles. Mas acho que foi desnecessário. O papel de fornecer segurança é do poder público.” Higor: “Nós tentamos conversar com os que estavam lá, mas não desaprovamos. De uma certa forma não desaprovamos. A Administração se mostra sensível à causa, mas precisam pressionar o Judiciário.” Emerson: “Aquilo não era um ato de vandalismo, só uma maneira de pressionar as autoridades. Mesmo os policiais que passaram por lá nos apoiaram. Por sermos o maior colégio eleitoral do Distrito Federal, políticos nos enganam com promessas ilusórias. Mas a maior pergunta que fazemos é: ‘será que vamos ver alguém morrer para que os poderosos tomem uma atitude mais enérgica?’”

Robin: "Santa Cimentcola, Batman".

He-Man:
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FOTOS: CORTESIA DE EMERSON RODRIGUES DA SILVA