​Perguntamos a Músicos de 20 e Poucos Anos o que Eles Acham do 'Clube dos 27'

O Clube dos 27, como você provavelmente já sabe, é um grupo formado por músicos talentosos que morreram aos 27 anos. A turma original do Clube era formada por Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e Brian Jones do Rolling Stones, todos mortos num período de cinco anos. Em 1994, Kurt Cobain se juntou ao clube, que então já contava com Jean-Michel Basquiat e D. Boon do minutemen entre os membros. A teoria se tornou mais mainstream recentemente, com a morte de Amy Winehouse em 2011. Ano passado, a professora australiana de psicologia e música Dianna Theodora Kenny completou um estudo analisando mortes de 12.665 astros pop de vários gêneros. Ela descobriu que a expectativa de vida entre músicos populares é quase 25 anos menor do que da população comum dos EUA, as taxas de morte acidental são dez vezes maiores, as taxas de suicídio são de duas a sete vezes maiores e as taxas de homicídio são oito vezes maiores. Ela também descobriu que a idade média de morte para músicos é de 56 anos. Faça as contas: 56 dividido por dois é 28. Vinte e oito menos um (o número de Kurt Cobain) é 27. Percebeu onde quero chegar?

A questão do Clube dos 27 deve pesar sobre músicos de todos os gêneros. Então perguntamos a alguns dos nossos artistas favoritos de 27 anos ou quase o que eles acham disso.

BRODINSKI, Produtor/dono de gravadora

Idade: 27 anos
Data de nascimento: 13 de junho de 1987
Cidade natal: Saint-Brice-Courcelles, França
Lançamentos: Depois de oito anos lançando singles e remixes, Brodinsky lançou seu disco solo de estreia, Brava, este ano.

O que você acha do Clube dos 27?
Brodinski: No momento, especialmente porque tenho 27 anos, não quero pensar muito nisso. Pensei nisso ano passado, quando ainda tinha 26 anos, e agora isso é uma coisa que está aqui, mas não quero realmente pensar nisso.

O que você pensou sobre isso ano passado?
Que eu estava fazendo 27, e que eu não queria ser parte desse clube.

Você acredita nisso?
Não quero acreditar em maldições. Acredito mais em carma. Acho que se você faz coisas boas, talvez coisas boas voltem para você. Vamos ver.

Esperamos que você não esteja amaldiçoado.
Sim. Sabe, estou literalmente batendo na madeira agora.

Você é supersticioso?
Às vezes sim, mas não penso muito nisso. Nasci numa sexta-feira 13, sabe, então tenho que acreditar um pouco em superstições e maldições.

Alguma coisa assim já aconteceu com você?
Não. Na verdade, em termos de sexta-feira 13 e superstições, nada nunca me aconteceu. Por isso parei de ser supersticioso. Mas ainda assim – não sei o nome em inglês, sabe aquela coisa que você não pode passar por baixo [uma escada]? Nunca faço isso. Só escolho números entre 0, 2, 4, 6, 8, 10. Sou um pouco supersticioso, acho. Todo mundo é.

É difícil ignorar isso.
[Risos] Acho que é mais fácil explicar isso como momentos supersticiosos.

Mais fácil que o quê?
Mais fácil do que dar uma explicação apropriada. Para o Clube dos 27, acho que com certeza existe uma explicação. Há um grande ponto de interrogação em torno disso.

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Você acha que artistas de música eletrônica têm uma chance maior de morrer?
Acho que a música eletrônica mistura todo tipo de morte: câncer de pulmão, problemas com álcool e drogas, problemas em viagens, tudo isso. É a vida noturna e a vida na balada, isso sempre esteve ligado à cultura de festas, e as pessoas sempre são mais selvagens quando estão se divertindo. A lei dos 27 é ainda mais perigosa para um produtor de música eletrônica.

Se você fosse morrer este ano, antes de junho, do que você acha que morreria?
Espero que não de uma morte escrota como ser atropelado ou algo assim. Se pudesse escolher, eu gostaria de estar nadando e ser atingido por um raio. É assim que quero morrer.

Você já pensou nisso.
Li que alguém morreu assim ano passado e pensei "Esse é um jeito legal de morrer".

Melhor do que sentado na privada.
Ou ser comido por um urso ou um leão.

IKEY, rapper

Idade: 26 anos
Data de nascimento: 14 de junho de 1988
Cidade natal: Lagos, Nigéria
Lançamentos: O novo EP do Ikey, Green Card, saiu em março.

VICE: O que você acha do Clube dos 27?
Ikey: A uma ideia interessante, mas ainda acho que é um mito. Faço rap, a maioria dos meus heróis, ou a maioria dos rappers em quem me inspiro, morreram antes dos 27 anos ou ainda estão vivos.

Você acha que isso pode acontecer com você?
Falta um ano para os meus 27, então penso nisso de vez em quando. Mas o que faço é olhar para essas pessoas que morreram aos 27 e ver que elas deram duro e criaram um legado enorme com essa idade, então o que tiro disso é que tenho que dar duro e viver como se fosse morrer aos 27 anos. Aí, quando essa idade chegar, vou ser lembrado.

Mesmo se você morrer.
Exatamente. Se eu morrer, e tiver dado duro até os 27 e tiver feito muitas coisas, as pessoas vão falar como Ikey era a melhor pessoa do mundo. Se eu der duro e sobreviver, vou poder aproveitar os frutos do meu trabalho.

Se você fosse morrer ano que vem, do que você morreria?
[Risos] Essa é uma pergunta de verdade. Caramba. Do que eu morreria? Não sei, cara. Sou um cara grande, então provavelmente morreria de alguma coisa relacionada a isso. Ataque do coração? Do que o Rick Ross morreu. Derrame? Algo assim.

Quem poderia te matar?
Provavelmente um hater. É isso. Um hater ou um policial. Ele pode ser as duas coisas.

BOBBY BRACKINS, compositor/cantor/produtor

Idade: 26 anos
Data de nascimento: 14 de setembro de 1988
Cidade natal: Los Angeles, Califórnia
Lançamentos: Bobby escreveu dois dos maiores hits do ano passado, "2 On" de Tinashe e "Loyal" de Chris Brown. Ele também está lançando música como artista solo, "My Jam", com participação de Jeremih e Zandaya.

VICE: Você pensa sobre o Clube dos 27?
Bobby Brackens: É estranho falar sobre isso aqui, mas todo artista quer ser lendário e parece que muitos dos artistas mais lendários morreram com essa imagem. Talvez seja só uma coisa da vontade de Deus. Talvez o talento deles só possa ser compartilhado por tanto tempo. Quero viver o máximo possível, mas sinto que o Clube dos 27 é cheio de artistas que estavam chegando ao auge nessa idade, e com isso vem muita responsabilidade e pressão. Quando você tem 27 anos, isso é meio que seu auge, você ainda é jovem e ainda tem conhecimento para falar de várias coisas. Estou mais maduro que nunca agora e tenho um entendimento melhor do que quero para minha carreira, então sinto que isso tem algo a ver com essa época. Eu diria que todo músico é bem louco de um jeito ou de outro. Para fazer boa música você tem que ser louco.

Por quê?
Se você é um músico popular, as pessoas ouvem e julgam cada coisa que você faz. A maioria das pessoas que chegam a esse nível decidem ser um modelo ou um rebelde, e você não se importa com o que as pessoas dizem. Muitas das pessoas que morreram aos 27 anos parecem ter tomado o caminho rebelde. Eles não estavam necessariamente tentando ser uma influência para crianças de 5 anos, eles só queriam viver sua vida e abraçar a si mesmos de uma maneira mais rebelde.

Se você morresse ano que vem, do que você morreria?
Deus que me perdoe. Não acho que isso vá acontecer, mas aproveitei a vida que vivi até agora. Não falo sobre matar pessoas e não uso drogas pesadas. Acho que eu não morreria de overdose, mas não se pode dizer que isso nunca vai acontecer com você. Não posso dizer que nunca serei baleado ou que nunca vou me envolver num acidente. Todo mundo é mortal. Ninguém pode dizer que vai ser imortal porque fez um monte de grandes discos e tem um monte de dinheiro. Isso não importa. Curta seus artistas favoritos enquanto eles ainda estão aqui, não espere para celebrá-los quando eles morrerem. Se você gosta de alguém, mergulhe nisso, ouça o catálogo inteiro da pessoa e vá ver todos os shows possíveis. O tempo deles nessa terra pode acabar inesperadamente.

ZOLA JESUS, cantora

Idade: 26 anos
Data de nascimento: 11 de abril de 1989
Cidade natal: Merrill, Wisconsin
Lançamentos: Zola lançou seu quinto disco, Taiga, em outubro pela Mute Records.

VICE: Você já ouviu falar sobre o Clube dos 27?
Zola Jesus: Sim, historicamente. A coincidência de muitos músicos ou artistas morrerem aos 27 anos, você ouve sobre isso e faz uma ligação.

E o que você acha?
É interessante que essa seja uma idade tão popular para se morrer [risos]. Mas é estranho porque parece algo além da ciência. É uma idade específica na vida da pessoa… Não sei. É definitivamente bizarro.

Você acha que existe algo sobre ter 27 anos que torna as pessoas mais vulneráveis, especialmente músicos?
Não sei se acredito nisso, mas acho que ser um jovem músico e se aproximar dos 30, que parece uma idade realmente adulta, talvez muitos músicos aceitem isso. A razão para tantas pessoas morrerem aos 27 anos é completamente aleatória e geralmente não tem nada a ver com seu próprio autocontrole. É uma coisa onde, pelo menos acho, quando tem 27 você tem que pegar leve [risos]. Fique de olhos abertos.

Parece que a idade média real em que os músicos morrem é 56, o que ainda é bem jovem para a média da população. Por que você acha que é assim?
Da minha experiência pessoal, parece que ser músico é algo pesado para o seu corpo e mente, por causa das turnês e lutas pessoais. Definitivamente não é um jeito fácil de devotar sua vida. Isso tem suas desvantagens físicas e pode desgastar uma pessoa ainda jovem. A pessoa tem 56 anos mais se sente como se tivesse 80, por causa de tudo que passou durante sua carreira: turnês, compor. É pesado para uma pessoa.

Se você fosse morrer ano que vem, como você acha que seria?
Penso na morte em todos os minutos na verdade, então sinto que posso partir a qualquer momento da maneira mais única possível. Já concebi isso, então estou preparada. Mas o jeito como vou morrer provavelmente será pior, porque quando você está preparado, tem sempre aquela única coisa que você não pensou e vai ser isso que vai te levar.

KB, rapper

Idade: 26 anos
Data de nascimento: 21 de julho de 1988
Cidade natal: St. Petersburg, Flórida
Lançamentos: KB é um artista de hip hop cristão. Ele lançou seu novo disco, Tomorrow We Live, pela Reach Records

VICE: Acho que todo artista deve saber o que é o Clube dos 27.
KB: [Risos] Acho que sei. Vou passar por isso ano que vem, quando fizer 27. Não quero morrer aos 27 anos. Adoraria viver mais. Mas sempre achei que um artista não é realmente medido por seu tempo na terra. Eles são medidos pelo impacto que têm enquanto estão aqui. Não é tanto sobre uma vida longa, mais sobre uma vida repleta. Muitas das pessoas mais impactantes da história morreram jovens. Martin Luther King, Jesus [risos]. O legado é imortal.

Na sua opinião, por que artistas têm mais chances de morrer jovens do que uma pessoa normal?
O stress da vida na estrada, os ataques. As pessoas veem um artista e dizem "Esse cara é um merda". Você não diria isso para um amigo, mas você desumaniza essas pessoas que estão sob os holofotes. Você não as vê como pessoas com sentimentos que podem ser feridos. Você comenta alguma coisa no Facebook, esse artista pode ver isso e ficar realmente incomodados. Todo artista conhece o sofrimento de ter 100 pessoas dizendo que amam seu trabalho, mas ver um fã que odiou e lutar com isso por uma semana. Artistas são sensíveis. Isso caminha junto com o processo criativo.

Se você morresse no ano que vem, como você acha que aconteceria?
Que pergunta! [risos] Posso responder como eu gostaria que isso acontecesse?

Claro.
Se eu morresse ano que vem, gostaria de ajudar outra pessoa a viver. Me sinto jovem, selvagem e livre para servir e ajudar outras pessoas. Espero partir de um jeito que meu filho possa se orgulhar. Mas vou te dizer que prefiro sobreviver ao próximo ano.

REMY BANKS, rapper

Idade: 26 anos
Data de nascimento: 31 de julho de 1988
Cidade natal: Queens, Nova York
Lançamentos: Remy passou os últimos cinco anos trabalhando com o grupo de rap World's Fair e sua segunda mix tape solo, Higher, sai agora em maio

VICE: Você acha que tem alguma coisa em ser músico que pode levar a uma morte prematura?
Remy Banks: Claro, quando se trata de sair em turnê, às vezes você pode ficar desnutrido porque não tem tempo para comer. Isso é fundamental para a saúde. Algumas pessoas acabam viciadas ou no lugar errado com as pessoas erradas. A música pode causar um pouco isso.

E isso te assusta?
Não.

Você costuma falar sobre isso?
Não muito. Só vivo.

Se você morresse ano que vem, do que você acha que seria?
Provavelmente de um ataque de asma.

Você já chegou perto disso?
Não há algum tempo, bate na madeira, mas já tive crises bem ruins, quando não conseguia respirar.

Quando você estava se apresentando?
Não. Me certifico de que todos os meus raps tenham um controle de respiração. É assim que escrevo. É uma habilidade. Não faço rimas muito loucas onde eu fique sem fôlego.

Inteligente.
Você tem que a prender a rimar do jeito certo para você.

KNXWLEDGE, produtor

Idade: 27 anos
Data de nascimento: 8 de março de 1988
Cidade natal: Filadélfia, Pensilvânia
Lançamentos: KNXWLEDGE produziu "Momma" de To Pimp a Butterfly de Kendrick Lamar, e seu disco solo, Hud Dreems, sai pela Stone Throw em junho.

VICE: Isso vai ser sobre morte. Tudo bem pra você?
KNXWLEDGE: Sim, tudo bem.

Você já ouviu falar do Clube dos 27?
Não. Nunca na minha vida.

Sério?
Sim.

Você é o primeiro músico com quem falo que nunca ouviu falar disso.
Uau.

Você quer saber o que é?
Tudo bem. Vou bolar um beck aqui, então isso provavelmente não vai me afetar muito.

O Clube dos 27 é um grupo de artistas famoso, como Kurt Cobain, Amy Winehouse e Jimi Hendrix, que morreram quando tinham 27 anos. Isso criou um mito de que artistas têm mais chance de morrer quando têm 27.
Entendi. Legal.

O que você acha?
Assim de cara me parece uma coisa de azar. Tipo uma superstição da minha mãe, que é não deixar o boné em cima da cama. Me parece algo assim [risos].

Você é supersticioso?
Às vezes bato na madeira. Acho que isso. Não sei! Sou estranho.

Você acha que morrer mais cedo que uma pessoa comum é algo que vem de ser artista?
Definitivamente. Cem por cento.

Por quê?
Já ouvi falar, li ou vi com meus próprios olhos artistas que se consumiram com algo que os tornava mais criativos.

Se você fosse morrer este ano, como você acha que seria?
Ah, merda. Essa é a coisa mais sombria que já fiz na vida. Tenho muito medo de água. Me afogar é provavelmente a coisa de que tenho mais medo, então vou ficar longe da água. Quer dizer, consigo nadar para salvar minha vida, mas se me jogassem de um avião no meio do oceano, seria o fim. Eu diria que algo caindo do céu na minha cabeça. Tipo um piano [risos].

Você preferia morrer de algum outro jeito?
Não curto dor, então, sei lá, chupando um pirulito e alguma coisa – não sei, cara. É muito estranho! Não tenho um jeito. Sem dor seria melhor. Não quero passar por dor desnecessária.

Tradução: Marina Schnoor