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Uma Trabalhadora Sexual Explica como se Conversar com Trabalhadores Sexuais

Dicas valiosas para você nunca mais agir como um babaca preconceituoso no rolê.

Foto via usuário do Flickr Glenn Harper.

Na semana passada, conheci algumas pessoas novas. "Saí do armário" como trabalhadora sexual para um amigo e estava conhecendo os amigos dele pela primeira vez. Quando ele contou a um deles o que eu fazia para viver, fiquei apreensiva. Se Uma Linda Mulher fosse a vida real, o amigo iria tentar me estuprar e depois ficar muito puto por causa de um negócio nebuloso envolvendo um velho, e eu não sabia como isso poderia se traduzir no meu caso.

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Eu não deveria ter me preocupado. Se houve algum constrangimento, provavelmente foi algo que eu trouxe comigo, como geralmente acontece. Mas, algumas vezes durante a noite, percebi que o Amigo Não Estuprador estava ouvindo atenciosamente todas as minhas respostas para perguntas básicas. Talvez ele estivesse esperando meus olhos ficarem caleidoscópicos ou os problemas com o meu pai emergirem.

Assim, percebi uma coisa: eu provavelmente era a primeira trabalhadora sexual que ele conhecia socialmente.

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Isso acontece com frequência. Sou aberta sobre o que faço e tenho muitos amigos civis. Eu podia ser mais reservada, mas muitas vezes eu estava num brunch e minha vaga lorota sobre ser uma cozinheira industrial desencadeava 20 perguntas entusiasmadas. Detesto o gosto de mentiras – ainda mais o das elaboradas. Tenho sorte de viver em Nova York, uma cidade tão grande que, se alguém desaprovar minha decisão, podemos escolher nunca mais nos vermos de novo. Então, foda-se.

A coisa inesperada é ver como isso geralmente não é um problema. Não sei dizer se é porque saio com pessoas altamente lógicas ou porque o mundo mudou; no entanto, mais e mais recebo um "Ah, OK". Acho que muitos programadores de computador têm um valor na cabeça que eles aceitariam para cada comportamento que conseguissem imaginar, e eles acham que estou simplesmente otimizando meu tempo. Mas, para o resto do pessoal, aqui vão algumas coisas que eu teria em mente caso você fosse apresentado para um trabalhador sexual num food truck bem cotado, num bar de karaokê ou pelo Richard Gere.

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VOCÊ PODE FAZER PERGUNTAS

Eu seria muito babaca se não entendesse que sexo e dinheiro são assuntos interessantes. Você seria muito babaca se não entendesse que não quero ser um entretenimento pueril. Se você está curioso, vá em frente! Tente se manter longe de assuntos cabeludos e não pergunte nada muito profundo logo de cara. Eu finjo que trabalho sacrificando animais – não porque essas profissões sejam similarmente tristes, mas porque são delicadas. Não preciso ouvir um "Você sente a alma deixando o corpo do gato?". E, pelo bem dos nossos amigos próximos, não pergunte sobre DSTs na mesa do jantar.

RELAXE

Sim, existem mulheres no mundo que são traficadas, que fazem trabalho sexual por razões horríveis e que foram coagidas e altamente traumatizadas. Se você encontrar alguém com uma história assim socialmente, faça o melhor possível para ajudar. (Além disso, onde você anda socializando? Jesus!)

Mas, se você conhecer uma pessoa que se identifica como trabalhadora sexual (ou stripper, prostituta, camgirl), especialmente na cidade grande, e não vir alguém apontando uma arma para ela, faça o favor de assumir que ela tem o controle de sua própria vida. Faça o favor de assumir que ela toma decisões de acordo com uma análise idiossincrática, porém válida, de escolhas e resultados financeiros. Faça o favor de não assumir que ela odeia seu trabalho, ou que o ama, ou que a história dela é parecida com uma que você leu, viu na TV ou ouviu de alguém. Não faça suposições sobre as emoções dela. Se ela está tranquila o suficiente para enfrentar o estigma e dizer a verdade, ela provavelmente é tão falha e confusa quanto qualquer um dos seus amigos. E, assim como você, ela prefere não falar de trabalho o tempo inteiro.

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EU FIZ OUTRAS COISAS ANTES DISSO

Para mim, a parte mais difícil de ser trabalhadora sexual é que isso informa muito da minha interação com as pessoas e tem um impacto muito mais forte no que elas percebem como minha identidade do que qualquer coisa que fiz antes. Faço programa pelo dinheiro, assim como fiz outros trabalhos por dinheiro. Quando eu era garçonete, as pessoas não presumiam um monte de coisas sobre mim, porque eu colocava comida nas mesas e depois tirava os pratos. Elas não queriam investigar meu cérebro sobre o significado da comida, ou perguntavam se ser garçonete era estável emocionalmente, ou exigiam saber o que eu seria se não fosse mais garçonete. Eu não sentia que tinha de me comportar o melhor possível para não dar uma impressão ruim sobre as garçonetes. Isso é muito cansativo.

Não estou sendo chata: entendo que quase todo mundo conhece uma garçonete. Mas, assim como eu não era A Garçonete quando trabalhava nisso, tente se conformar com o fato de que não sou A Garota de Programa acima de tudo.

SE RECLAMO DO MEU TRABALHO, É PORQUE TODO MUNDO RECLAMA DO TRABALHO

Às vezes, tenho dias ruins por várias razões. Às vezes, as pessoas se atrasam. Às vezes, pego dois clientes no mesmo dia que são um vale de lágrimas vestidos de empresários. Às vezes, pego alguém que estoca cupcakes onde sua empatia por outros seres humanos deveria estar. E odeio isso. E preciso processar isso. Ás vezes, o Gmail cai e eu perco dinheiro – e, olha, isso me deixa puta. Se eu reclamo dessas coisas, tudo bem. Ainda estou bem. Você ainda está bem. Todo mundo reclama do trabalho. Isso não quer dizer que, para ser um bom amigo, você precise se preocupar e começar uma conversa séria. Seria mais legal se você tomasse uma taça de vinho comigo e depois reclamasse do SEU trabalho.

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NÃO VOU FICAR BOLADA SE VOCÊ DISSER ALGUMA COISA SOBRE PROSTITUIÇÃO

Até certo grau, claro. Se você contar uma piada de prostituta morta no porta-malas e rir pra cacete, você é uma péssima pessoa. Mas eu ia achar isso sendo trabalhadora sexual ou não. Se você acidentalmente tropeçar num tropo cultural, calma – provavelmente, não vou levar isso para o lado pessoal. Isso é como quando toca Kanye no rádio e tem uma pessoa negra no seu carro: você não canta junto aquele verso, sabe? Mas você pode cantar o resto da música. Ele e seus muitos eezys são parte da cultura.

SE VOCÊ NÃO SABE O QUE DIZER, FAÇA PERGUNTAS ENCORAJADORAS E ESCUTE

Esse é um conselho para a vida que aprendi fazendo programa. As pessoas trazem seus problemas para os trabalhadores sexuais: sempre brincamos que somos terapeutas pelados. Como meu tempo é valioso e, bom, algo mais tem de acontecer, as pessoas geralmente começam a história no meio – ou do meio emocional delas, de qualquer forma. Sem contexto, tenho de responder sem pisar na bola. Então, apenas escuto e as faço continuarem falando. Uma hora, a pessoa acaba se sentindo melhor e vou entender melhor do que ela está falando, e isso geralmente é o que todo mundo quer (pelo menos, na parte da conversa).

Quando um trabalhador sexual traz à tona algo que você não entendeu, pode ser difícil saber como reagir. Ela ficou muito chateada? Ela está falando de estupro? Será que ela está só irritada? Se você não consegue saber, tente algo na linha "E o que aconteceu depois?". Ou só concorde com a cabeça. Você vai acabar encontrando o fio da meada e o cérebro da pessoa vai seguir adiante. E o melhor de tudo: a pessoa não vai sentir que tentou se abrir e você pirou, aí tendo de ser ela que precisou te acalmar.

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SE VOCÊ QUER MANTER SEUS FILHOS LONGE DESSE NEGÓCIO, COMECE UMA POUPANÇA PARA A FACULDADE

Estou pensando no meu final de semana com o Amigo Não Estuprador e pensando nas perguntas dele. Ele tinha filhos, e acho que ele ficou tentando imaginar de onde meus problemas vieram, em como manter minha realidade longe de seus entes queridos. Bom, posso dizer que todas as pessoas que conheço que entraram nesse negócio cedo tinham uma coisa em comum: instabilidade financeira. Nem todo mundo tem problemas com os pais, histórias de abuso sexual ou separações traumáticas na infância (eu, pelo menos, não tenho nada disso). Eu tinha uma escolha: me prostituir ou largar a faculdade.

E fico feliz de ter escolhido o que escolhi. E faria isso de novo.

Meu conselho: você quer que seu rebento nunca saiba do que estou falando? Abra uma poupança e comece a guardar as moedinhas. Simples assim.

Não quero dizer que essa é a realidade de todo mundo. Tenho consciência de que sou uma trabalhadora sexual muito privilegiada: uso o termo trabalhadora sexual, tenho uma relação de amor e ódio com a educação superior e discuto o estigma enquanto como ovos beneditinos. Minha experiência não é representativa, mas acho que a regra geral se aplica. Respeite as decisões que não são suas, suponha o mínimo possível e ofereça dignidade básica à pessoa, não importa quem.

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Tradução: Marina Schnoor