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Música

De Guimarães a Nova Iorque: até te espumares pela boca

As palestras do futuro.

Para quem conhece o trabalho de Daniel Lopatin e de Nate Boyce deve ter sido um tanto ao quanto estranho perceber que estes novos artistas multimédia, cujo último trabalho foi realizado para o MoMa (aquele museu em Nova Iorque, de coisas modernas, feitas no milénio passado), tenham vindo fazer a apresentação do seu trabalho colaborativo Reliquary House

 que é literalmente um cubo negro de dois andares

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 na Blackbox da Plataforma das Artes, em Guimarães.

Como não me apetece fazer de conta que sou um hipster que está a par das últimas noticias do mundo tecnológico/artístico/musical de NY, lá tive de ir à internet pesquisar coisas sobre estes senhores e deparei-me com um projecto bastante interessante, que concilia projecções criadas depois de tomar doses massivas de drogas alucinogénicas, baseadas em esculturas da colecção do MoMa, com samples de sons de uma intensidade estonteante.

Chegámos tarde, como sempre, e lá fomos às escuras para dentro do cubo negro de onde vinha um som - como se estivessem a encostar um micro directamente às colunas. Depois de todo o guito que gastaram para fazer a Plataforma, vê-se que não tinham dinheiro para mobiliário e as três únicas cadeiras que havia no espaço estavam já ocupadas pelos fãs número um do projecto, uns septuagenários que seguramente já sabiam que não havia sítio para sentar e trouxeram umas de casa, para curtir melhor a moca de cogumelos.

Durante cerca de uma hora e um quarto estivemos lá sentados no chão a receber uma lavagem cerebral que  incluía imagens de esculturas renderizadas em 3D apresentadas em cenários cybernéticos futuristas, com direito a discursos de curadores com vozes robóticas manipuladas, que explicavam as peças (composição, tamanho, material, ano, autor).  A música

 acho que lhe posso chamar isso

 que acompanhava as projecções era uma mistura de loops low-fi, com feedback e guinchos que iam subindo e descendo de intensidade.

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A certa altura pensei que estava numa sala de aulas do futuro em que, em vez de professores, havia robots que te injectavam história de arte directamente para o cérebro através de flashes de luzes estroboscópicas, mas depois lembrei-me que não estava drogado. No final, fui eu ter com os criadores para lhes perguntar se ganhavam pontos sempre que alguém do público tivesse um ataque epiléptico. O Daniel Lopatin, com o sentido de humor característico dos americanos, respondeu: “Desculpem, prefiro não falar com a imprensa.”