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Música

O Grime Zone Trouxe o Inverno ao Facebook

Um grupo de produtores e entusiastas da fase hi-tech do grime têm fervilhado no Facebook, e agora começam uma série mensal de mixes repleta de material que vai gelar a sua espinha.

Você não precisa saber muito de física pra conhecer os estados da matéria, nem especialista em música pra reconhecer e saber todos os seus movimentos e períodos, mas elementos como água, vapor, fumaça, Capitão Planeta e etc. têm influenciado produtores e músicos a reproduzirem certas sensações atmosféricas através do seu som. Quem nunca falou um "Vamo fazer uma fumaça?" ao ouvir um dubzinho, ou "Vou te fazer suar" dançando um arrocha bem gostoso? Pois é, na música eletrônica não é diferente. Após o molhado seapunk e o esfumaçado vaporwave, a densidade aumentou de vez com as pessoas (re)descobrindo Wiley e seu grime gélido na internet e clubes afora.

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E foi para rastrear essa nova onda do grime que um grupo de amigos produtores criou há não muito tempo o Grime Zone Worldwide, um grupo de Facebook para produtores e entusiastas desse som robótico e visceral trocarem notícias, lançamentos e produções próprias. Há duas semanas, o grupo chegou aos mil membros e, para comemorar, os idealizadores do grupo Tom Foxy, da #TOMCREW, Leroy Labella, o produtor por trás do SINES, e a produtora Audrey Lee III decidiram começar uma série mensal de mixes feitas pelos membros e convidados. O primeiro é do misterioso projeto HOODZI, que poucos sabem quem está por trás, mas com essa mix adiciona mais uma porrada de grime bom ao lado de seus remixes para o NA NGUZU  e o Rabit.

Eu comecei a frequentar o grupo quando ainda possuía em algo torno de 600 membros e o número de produtores que vinham ganhando destaque era enorme, mas trocavam uma ideia calma e abundantemente com todos como o YNGN, Hesk, Imaabs, o pessoal do blog Insert, membros da Teklife e etc. Eu bati um papo com a Audrey, que também trabalha com robótica e inteligência artificial, para saber mais sobre o começo do grupo, os planos depois da mix e como definir ou parar de esquentar a cabeça com o que é grime, ou não é.

THUMP: Quando e como começou o grupo?
Audrey:  Bem, não tenho certeza de quando o Foxy começou o grupo originalmente, mas seu estado atual é um resultado de um trabalho entre nós dois. Depois de ouvir meu som por um tempo, ele começou a querer saber sobre grime cada vez mais. Depois que ele me apresentou ao #TOMCREW, sua turma e também seu selo, todos os membros recebem uma foto modificada do Tom do Myspace.  A minha era bem "gélida", para dar a ideia do som eski, que vêm do grime.  Eu falei que ia imanentizar o Eski-Tom, o que era só um jogo de palavras, e o Foxy mudou o nome do grupo para GRIME ZONE. "Na teoria política e na teologia, imanentizar o eschaton significa trazer o próprio eschaton (a forma final e divina da história) ao mundo imanente". – Wikipedia

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Quem são as pessoas que administram o grupo com você e no que eles colaboram?
Tem um monte de pessoas envolvidas nele. Os principais são o Foxy, o Leroy Bella (SINES) e eu. O Leroy adiciona muitos conhecimentos técnicos e ainda tem sua grande bagagem de experiências na indústria. Todos somos DJs e produtores do Texas, então conseguimos interagir fisicamente. Temos também outros cinco administradores espalhados pelo globo que ajudam a manter o grupo, amigos nossos que realmente sabem o que estão fazendo. No grupo a contribuição é aberta a todos e todo mundo pode postar também.

Como você explica o papel de um grupo no Facebook, que muitos usam só pra trocar memes e recados, ter servido para começar um projeto como esse?
O grupo tem uma galera de peso, membros da imprensa e alguns dos próprios artistas que estamos lá divulgando. A relevância de todos é excitante. Muitas dessas pessoas são bem conectadas, continuam trazendo seus amigos e revelando mais nomes e a coisa continua acontecendo. Sou muito próxima a esse grupo porque vejo que muitas dessas pessoas pesquisam bastante e sentem tudo muito incessantemente, assim como eu. A solidariedade que se forma em resultado perpetua essa sensação de família que existe no grupo.

O que o grime significa ou representa para você?
Não sei exatamente o que acho sobre gêneros. Eles são úteis para nós como DJs ou em uma analogia, mas em outras situações é muito restritivo. O grime possui uma história complexa, um amálgama de múltiplos gêneros e está conectado fortemente ao Reino Unido e ao underground. Sempre achei que por debaixo disso tudo existia o fato de ser marginalizado e, como reflexo, lutar de volta e canalizar toda essa energia oscilante para os objetivos que continuam te alimentando. Essa segunda onda do grime está se espalhando globalmente, gerando essa energia na Austrália e nos EUA. Muito do que nós poderíamos nos referir como "grime" está bastante diferente. Parece existir um foco em sons de big room e instrumentais, com o clássico MC ficando por vezes esquecido. Agora é muito mais hi-tech. Para mim, eu procuro uma resposta fisiológica. Eu vim de um background noise/industrial onde as coisas são muito cerebrais e introspectivas, para não mencionar abrasivas. Eu estou trocando de equipamento. Agora eu quero aquela experiência visceral que é natural e alien ao mesmo tempo, algo que está constantemente mudando em um estado liminar entre dois mundos. Eu estou gerando o som que reflete a amplitude das emoções que eu experimento, ou as coisas fantásticas que me inspiram e me põem em movimento. Se soam brutal, fortes, em pânico, melancólica, frio – são as coisas que sinto. É um som expressivo para mim que não se apoia em grandes acordes ou experiências banais ou desinteressantes. A Felicidade é superestimada.

E por que é tão associado a coisas frias ou gélidas?
Muitos dos temas recorrentes do grime vem do subtipo eski ou eskibeat, termo dado pelo Wiley que rapidamente se dissolveu. A vibração desse som tem uma atmosfera inebriante e fina, por vezes dançante e experimental com um ar cristalino. Dá pra ouvir samples de gelo partindo e caindo, quebrando e rachando, cliques e ruídos metálicos e por aí vai. E também por não possuir a riqueza da variação das ondas em um espaço físico que um som analógico permite, acho que o som precisamente digital torna-se frio por natureza.

E depois das mixes, vocês acham que tem lugar para transformar o Grime Zone em um selo ou algo do tipo?
Eu diria que é provável, isso já foi discutido. Eu imagino que o Leroy e o Foxy irão cuidar mais dessa parte e eu continuarei focando em pesquisar o conteúdo.

E quais artistas e selos você acha que estão mandando bem na cena atual?
Existem tantos. Eu acredito nessa fantasia otimista de que estamos caminhando rumo à uma nova era dourada do revigoramento da experiência clubber. A taxa exponencial com a qual os avanços da tecnologia têm colocado o poder nas mãos de indivíduos capazes e com vontade, permitindo que experiências cada vez maiores sejam alcançadas. Os criadores de conteúdo podem se tornar o 1%. O grime já é bastante DIY, preservando aquele inimitável som cru e nervoso que é o som das lutas e dos sonhos. Tem um espírito verdadeiro e limpo, como também o footwork e o techno. O selo Her Records é um favorito do grupo. Alguns membros que são hits entre nós são o YNGN e o Glot. Eu amei todos os lançamentos da Boxed. O Rewrote matou a pau com um set de grime no nosso show Tomcrew + MOD no SXSW. O Geng Grizzly, de Nova York, tem um ótimo programa de rádio com convidados cabulosos, e a cobertura de grime do Sacha Son Raw é impecável e certeira. Eu poderia continuar por horas.