FYI.

This story is over 5 years old.

Música

"Reachy Prints" É o 10º Álbum do Plaid em 25 Anos e é Muito Foda

Nós conversamos com os veteranos sobre seu novo show ao vivo, o jogo interativo que eles fizeram e sobre aquele Kickstarter do Aphex Twin.

Numa conversa sobre música eletrônica em 2014, muito provavelmente a maioria dos olhos vão revirar para o cara que usar a sigla "IDM". O que Intelligent Dance Music significa hoje? Para os bebês dos anos 90 é difícil intender que a frase vai um pouco além do simples esnobismo, mas a IDM realmente provocou uma virada na maré. Aphex Twin, Autechre, Squarepusher: nomes monolíticos que estão mais arquivados que ativos hoje. Mas não o Plaid.

Publicidade

O Plaid vem lançando música desafiadora pela Warp Records há aproximadamente 25 anos, e este mês eles lançaram seu 10º disco, Reachy Prints. E esse não é um álbum onde dá para ouvir os ossos rangendo e nem é o despertar de ideias adormecidas. Reachy Prints é bem legal de verdade, então nos encontramos com a dupla (Andy Turner e Ed Handley) antes do lançamento e do próximo show ao vivo, para falar sobre como o duo continuou inspirado todos esses anos.

THUMP: Oi, gente. Parabéns pelo Reachy Prints, que também é o 10º álbum de vocês, que loucura. Como o relacionamento de trabalho de vocês se desenvolveu com o passar dos anos? É muito tempo fazendo música em dupla.
Andy: Acho que trabalhamos tão bem juntos justamente porque nos conhecemos há todo esse tempo. Sabemos quando não é uma boa hora para trabalhar juntos e quando é, então as coisas fluem bem. Trabalhamos em espaços diferentes, começamos a fazer isso no ano passado, o que torna as coisas mais difíceis, mas conseguimos nos reunir pelos menos algumas vezes por mês no galpão, e em tempos mais movimentados, como agora, a gente se vê toda semana. É um relacionamento bastante saudável, eu diria.

Ed: Podemos ser muito honestos um com o outro, mas, como em qualquer outro relacionamento de trabalho, você também precisa ser sensível com o tanto de tempo que a outra pessoa colocou no material. Obviamente você não pode estragar tudo por um capricho. Somos como irmãos. O benefício de se trabalhar em dupla é que se deve ter algum nível de compromisso. Nessas situações, você geralmente consegue fazer música mais interessante e menos indulgente.

Publicidade

Andy: E sim, o outro lado disso é poder incentivar um ao outro. Se um de nós está ficando um pouco folgado, palavras positivas vazias passam longe com alguém que você conhece a tanto tempo. Você sabe que é mais provável que a pessoa dê sua opinião sincera e honesta.

Estou curiosa, vocês devem ter uma quantidade insana de material inédito, que acaba sendo gravado como ensaios, ideias, qualquer coisa assim. Quando você se sentam para trabalhar juntos, vocês sempre estão compondo um álbum?
Andy: Acho que isso tem mais a ver com a obra coletiva; que tudo flui junto, o que espero que o disco faça em algum grau. Há algumas ideias que basicamente não se encaixam num álbum em particular e que podem ser rejeitadas em favor da criação de uma obra que é algo em si mesma, em vez de apenas uma compilação de faixas.

Ed: Geralmente alguém vai liderar a faixa, e se ela for rejeitada por qualquer razão que seja, então isso é um compromisso, porque trabalhamos nisso por muito tempo. Mas é tudo pelo bem maior no final das contas. O Andy pode compor uma linha de baixo que acho horrível, e eu tenho que seguir isso e vice-versa.

Andy: Acho que isso está certo. Para Reachy Prints tivemos algumas faixas que não se encaixavam muito bem, porque tinham um som distinto. Elas não usavam a mesma tecnologia ou técnicas de produção, então acabaram fora da obra final, e isso pode ser muito chato se a faixa é sua, mas é essencial para fazer um disco que faça sentido.

Publicidade

Ed: É, nós compomos constantemente. O que tende a acontecer é que compomos faixas e então as tocamos ao vivo, mas a maioria dessas não acaba no disco. Quando a data de entrega do disco vai se aproximando, começamos a entrar em pânico; a maioria das faixas ao vivo são colocadas no YouTube, ou as tocamos até a morte e ficamos enjoados delas, então acabamos fazendo uma sessão maníaca de composição depois que o disco é lançado.

Andy: Muitas das ideias que acabam no disco podem ter germinado anos antes, mas estão terminadas. Nos dois últimos anos esse foi o processo. Acho que tempo comprimido para compor é muito divertido. Acho que a pressão ajuda a conseguir um material bom. Quando você tem um ano de folga para escrever, isso não resulta necessariamente numa maior qualidade. Funcionamos melhor sob pressão para entregar o disco.

E quanto à composição para os shows ao vivo?
Andy: Bom, definitivamente escrevemos músicas mais dançantes para as faixas ao vivo do que para o álbum. Queremos entreter, então essa é uma grande diferença. Isso é mais uma perspectiva. Muitos dos ambientes onde tocamos são clubes, então você não pode colocar uma coisa muito complexa porque isso não cair bem com a maioria. Você tem mais liberdade para experimentar num disco.

Vocês desenvolvem uma nova linha para os shows regularmente? Vocês já estão trabalhando numa nova linha para oReachy Prints?
Andy: É engraçado, estamos discutindo isso agora. Estamos trabalhando com alguns controladores novos. Estamos buscando um pouco mais de liberdade dentro da performance, particularmente em tentar arranjar o aspecto visual do show de uma maneira que isso possa ser desencadeado ao vivo o máximo possível. Isso permite adaptar a música para aquela noite específica. Estamos usando toda uma variedade de outros controladores midi para nos dar mais flexibilidade.

Publicidade

Ed: Estamos tentando tornar isso algo mais físico. Descobrimos nos últimos anos que não nos envolvemos completamente nos shows ao vivo. E isso é meio alienante – e também vale para quem está assistindo. Ter um pouco mais de fisicalidade torna isso um pouco mais desafiador – aumenta o risco de mais um computador travar. Isso acrescenta um elemento excitante toda noite.

Pessoalmente, acho que shows de techno são mais interessantes quando há um elemento forte de improvisação. Quando a apresentação ao vivo não é apenas a repetição das faixas do disco sem nenhuma originalidade.
Ed: Acho que o elemento da improvisação será bem aparente dessa vez. Temos ficado meio entediados e desconectados quando tocamos material antigo que soa como material de álbum. Atingir o equilíbrio é importante para nos manter interessados, então a improvisação vai ser uma parte mais importante do que fazemos dessa vez.

Vocês são uma das bandas atuando há mais tempo na Warp Records; um selo que pode ser chamado de seminal para a música eletrônica inglesa. Na opinião de vocês, qual é o apelo da Warp – como artistas e para os fãs?
Andy: Acho que há uma longevidade, o fato deles terem se mantido independentes e terem um "bom" gosto musical. Um gosto que atraiu um certo grupo de pessoas através dos anos. Os artistas e o repertório deles ainda são muito bons. Não gosto de todas as bandas que assinam com o selo, mas acho que eles geralmente têm um padrão bastante alto.

Publicidade

Eles tinham um ar muito misterioso e esotérico, e isso era muito atraente. Não havia muitas coisas assim nos anos 90. Eles estavam numa posição única naquele momento, porque havia muita "música eletrônica", mas nada como os lançamentos da Warp. Isso não é mais tão relevante hoje, já que existem vários selos que produzem no estilo Warp; mas como foram um dos primeiros, eles têm uma certa mágica especial que outros selos não têm.

Ed: Lembro de alguém na Warp ter dito que o selo agia como um tipo de filtro. Ainda há espaço para um selo que preenche essa função. O consumidor comum não pode esperar ouvir tudo que há por aí e fazer seu próprio julgamento, então você procura selos ou um serviço de distribuição de música e (através de algoritmos) é apontado em determinada direção. Mas isso abre todas essas questões diferentes onde as pessoas são persuadidas a gostar de música diferente… é basicamente o mesmo jogo, mas jogado num espaço diferente.

O que você quer dizer com esses algoritmos? Você acha que o gosto das pessoas é tão previsível?
Ed: Bom, isso depende muito de como os algoritmos são escritos. Se eles são realmente democráticos, então tudo bem, mas as pessoas (bom, negócios) podem se vender em determinadas situações… como eu disse, esse sempre foi o caso, isso só está acontecendo online agora. Pode ser algo benéfico, mas isso depende muito de como isso foi construído, e se isso é sobre capitalização ou sobre gosto. Uma grande parte disso é encontrar alguém em cujo gosto você confia. Esse é o valor de um selo ou de uma loja de discos; um lugar onde uma pessoa em particular vai te dar uma pilha de discos que ela acha que você pode gostar. Precisamos de um equivalente disso na internet.

Publicidade

Há um jogo interativo para uma das faixas do Reachy Prints, "Tether". Por que vocês decidiram fazer isso?
Andy: Queremos sempre explorar as possibilidades disponíveis. Apresentar música de um jeito novo. Posso ver isso se tornando mais contínuo no futuro: acrescentando a possibilidade do ouvinte ter alguma contribuição nas maneiras como a música é tocada. É divertido em si criar, além de ter um conjunto de peças musicais definidas pelo artista. É uma situação em que todos ganham.

Ed: Eu concordo com isso. É legal receber música e não ter que fazer nada, mas às vezes é legal interagir e brincar com isso.

E por último, vocês ouviram falar sobre o Kickstarter que está rolando para o Caustic Window do Aphex Twin?
Andy: Não, o que está acontecendo?

[Nota do editor: O Kickstarter já rendeu mais de $65 mil e tem mais um dia pela frente.]

Bom, um cara que tem uma prensagem teste do disco inédito Caustic Window começou uma campanha no Kickstarter (depois de colocar o disco no Discogs por mais de $13 mil). As pessoas podem pagar pelo vinil para que depois ele seja passado para o digital. Eles ainda têm uma semana de campanha pela frente e já arrecadaram mais de $57 mil. O que vocês acham disso?
Andy: Bom, no final das contas isso vai depender do Aphex Twin. Eles fizeram a cópia teste e decidiram que não queriam lançar, então $50 mil pode não influenciá-los nessa decisão. Mas essa é uma história muito interessante. Vou acompanhar.

Ed: Posso te dizer que nada disso tem a ver com música. É uma questão de colecionar. É sobre elitismo. É sobre qualquer coisa menos a música, e é especialmente sobre lucro. Não acho necessariamente que seja uma má ideia – acho divertido até – mas essa cópia teste obviamente não pertence a quem está vendendo. Ela pertence ao Aphex Twin, eu diria.

Reachy Prints do Plaid será lançado no dia 19 de maio pela Warp Records.

Siga a Lauren Martin no Twitter: @codeinedrums