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Drogas

Capitão de iate é acusado de morte brutal sob efeitos de cocaína em Miami

O barco “Miami Vice”, de 91 pés, era pilotado por um capitão que cheirava regularmente – e o dono do barco sabia disso.

Os operadores do iate de 91 pés chamado "Miami Vice" faziam valer o nome da embarcação de luxo, uma referência a uma série dos anos 80 sobre policiais e cowboys da cocaína que falava sobre o amor da cidade norte-americana pelo pó. Em 29 de março, um dos sócios do iate, Laurent Maubert-Cayla, filmou o capitão do barco, Mauricio Alvarez, fazendo uma carreira de um papelote contendo “um pó branco que parecia ser cocaína”, segundo a queixa feita num tribunal federal em Miami.

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Maubert-Cayla é ouvido na gravação dizendo, em francês, “O capitão toma suas vitaminas”. O homem de 39 anos então mostra as mãos e o papelote de Alvarez. “É assim que a gente faz”, o dono diz. A filmagem, que investigadores da Guarda Costeira dizem ter obtido do celular de Maubert-Caylas, é parte das provas que a promotoria está usando para argumentar que ele permitiu que um capitão sem licença viciado em cocaína pilotasse seu iate italiano.

Três dias depois da filmagem, uma excursão do Miami Vice acabou com a morte do passageiro de 25 anos Raul Melendez.

A queixa diz que Alvarez deu ré no barco enquanto Melendez e outro passageiro nadavam atrás do Miami Vice. Melendez foi sugado para baixo do barco e despedaçado pelas hélices. A perícia de Miami determinou que Melendez sofreu lacerações profundas na cabeça, peito, pescoço, pélvis e torso, segundo a queixa. O braço esquerdo, perna esquerda e pé direto também foram amputados.

O capitão, Alvarez, foi acusado de má conduta e negligência de oficial de embarcação que resultaram em morte. Ele se declarou inocente, e está preso sem direito a fiança depois que agentes federais o pegaram tentando fugir para o Panamá, segundo documentos do tribunal. Mas semana passado, a promotoria envolveu Maubert-Cayla na tragédia, o acusando de má conduta ou negligência de dono de embarcação resultando em morte. Na segunda-feira passada, o juiz Andrea M. Simonton colocou a fiança de Maubert-Cayla em US$ 35 mil [em torno de R$ 110 mil, na cotação atual], o deixando sob prisão domiciliar com uma tornozeleira eletrônica. Ele ainda não deu uma declaração sobre o caso, e seu advogado, Albert Levin, se recusou a comentar.

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A investigação sobre os operadores do Miami Vice expõe os perigos da indústria clandestina de recreação, onde donos de embarcações de luxo alugam seus barcos para locais e turistas buscando algumas horas de prazer no mar.

Corey Hubbard, vice-presidente do Tampa Bay Passenger Vessel Association, disse que operadores ilegais mancham a imagem de empresas licenciadas – e comem uma porção de seu negócio – oferecendo aos clientes navios chiques a preços mais baixos. Outro problema, segundo Hubbard: esses amadores tendem a ignorar precauções de segurança impostas pelas agências marítimas locais e a Guarda Costeira.

“Muitos desses operadores sem licença com um produto mais sexy podem fazer mais negócios”, me disse Hubbard. “Eles oferecem seus iates de luxo a preços mais baixos porque contornam as leis. Aí todo mundo vai para alto-mar, pula na água e alguém morre. O que aconteceu no Miami Vice foi muito vil. Essa é a pior situação que já vimos.”

A Guarda Costeira não comentou imediatamente sobre a abordagem da agência para esses passeios ilegais e detalhes do caso Miami Vice.

Com base na queixa criminal, parece mesmo que Maubert-Cayla tomou atalhos quando se tratava de operar o Miami Vice, um iate de alta performance de 4.500 cavalos com três cabines. Maubert-Cayla alugava o barco para passeios de meio dia por $2.500 e viagens de um dia inteiro por $5 mil.

Num depoimento para a Guarda Costeira depois da morte de Melendez, Maubert-Cayla disse que contratou Alvarez com capitão depois de vê-lo pilotar “um iate grande com habilidade uma vez”, diz a queixa. Entre novembro de 2017 e 1º de abril, Alvarez foi o capitão do Miami Vice por aproximadamente 40 passeios – mesmo não tendo licença de capitão da Guarda Costeira. Por volta de 18 de março, oficiais da Guarda Costeira deram dois avisos a Alvarez por operar um barco comercial sem licença de capitão e operar uma embarcação não inspecionada pela agência. Ainda assim, Maubert-Cayla continuou empregando Alvarez como seu capitão.

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Maubert-Cayla disse que sabia que Alvarez usava “pesadamente” cocaína e álcool durante esses cinco meses, mas que a última vez que viu seu capitão cheirando tinha sido três semanas antes de 1º de abril, o dia em que Melendez foi despedaçado pelas hélices, segundo a queixa. Os investigadores tiveram a permissão de Maubert-Cayla para olhar seu celular e encontraram o vídeo, aparentemente filmado por ele, de Alvarez usando uma substância que parecia muito com cocaína apenas três dias antes do acidente. No dia 2 de abril, um dia depois do acidente, Alvarez forneceu uma amostra de urina para os oficiais que deu positivo para cocaína, segundo o processo.

Na Flórida, que teve o maior número de mortes envolvendo embarcações em 2015 e 2016, drogas e álcool muitas vezes estão envolvidas em acidentes do tipo. Dos 67 acidentes de barco resultando em morte em 2016, 16 deles – ou 24% – estavam relacionados a álcool ou drogas, segundo a Comissão de Pesca e Conservação de Vida Selvagem da Flórida. Entre as mortes de 2016 estavam as do jogador do Miami Marlins Jose Fernandez e dois amigos, que morreram quando o astro do basebol bateu seu barco Kaught Looking num píer de pedras naquele setembro. Exames toxicológicos da perícia mostraram que o nível de álcool no sangue de Fernandez era de 0,147, quase o dobro do limite legal, e apontaram a presença de cocaína. Se tivesse sobrevivido, Fernandez encararia acusações estaduais de navegação embriagado e homicídio culposo.

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Maubert-Cayla disse aos investigadores que não conhecia as regulamentações da Guarda Costeira, e que acreditava que a licença de capitão venezuelana que Alvarez mostrou a ele era o suficiente, segundo agentes federais.

Mas para Hubbard, que também é diretora da Hubbard's Marina em Madeira Beach, as acusações contra Maubert-Cayla e Alvarez foram uma boa surpresa. “A Guarda Costeira tem feito um ótimo trabalho com recursos limitados para combater esses passeios ilegais”, ela disse. “Se algo assim acontece, os envolvidos devem mesmo enfrentar acusações criminais.”

Matéria originalmente publicada na VICE US.

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