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Pelo menos 49 mortos em ataque a mesquitas na Nova Zelândia

Outros 20 ficaram feridos em Christchurch. Suspeito seria um australiano de 28 anos, que transmitiu o atentado terrorista ao vivo no Facebook.
TV New Zealand mostrando uma vítima chegando ao hospital depois do atentado a uma mesquita em Christchurch. Foto: TV NEW ZEALAND/AFP/Getty Images
TV New Zealand mostrando uma vítima chegando ao hospital depois do atentado a uma mesquita em Christchurch. Foto: TV NEW ZEALAND/AFP/Getty Images

Um australiano de cerca de 20 anos é o suspeito de matar pelo menos 49 pessoas na sexta-feira num ataque de “extrema-direita” a duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia. Outras 20 pessoas ficaram feridas. O homem, identificado pela imprensa australiana como Brenton Tarrant, 28, de Grafton, Nova Gales do Sul, transmitiu o ataque pelo Facebook com uma câmera GoPro.

O vídeo mostra o suspeito dirigindo para a mesquita Masjid Al Noor no centro da cidade, depois tirando fuzis de seu carro e atirando indiscriminadamente.

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“Eu estava pensando 'Ele vai ficar sem balas'”, um sobrevivente disse a rede TVNZ. “Fiquei basicamente esperando e orando: 'Deus, por favor, faças a balas dele acabarem'.”

O suspeito foi preso pela polícia logo depois de perpetrar outro ataque numa mesquita nos subúrbios de Linwood. Ele foi acusado de homicídio e deve comparecer a uma audiência no sábado.

Três outras pessoas — dois homens e uma mulher — também foram presos, mas a polícia não disse como ou se eles estão realmente ligados ao ataque.

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Um policial em frente à mesquita Masjid al Noor depois do atentado em Christchurch, 15 de março de 2019. (TESSA BURROWS/AFP/Getty Images)

“Isso só pode ser descrito como um ataque terrorista”, disse a primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern, dizendo que essas são as “horas mais sombrias” do país.

“Claramente o que aconteceu aqui é um ato de violência extraordinário e sem precedentes”, ela acrescentou. Condenando a ideologia por trás do ataque, ela disse “Vocês podem ter nos escolhido, mas te rejeitamos e condenamos.”

Apontando que as vítimas do ataque provavelmente são imigrantes, ela continuou: “Eles escolheram fazer da Nova Zelândia seu lar, e este é o lar deles. Eles são nós. A pessoa que perpetrou essa violência contra nós não é um de nós. Ele não tem lugar na Nova Zelândia. Não há espaço na Nova Zelândia para atos de violência extremos e sem precedentes.”

O primeiro-ministro australiano Scott Morrison confirmou que o suspeito é cidadão australiano. “Condenamos absolutamente o ataque cometido hoje por um terrorista de extrema-direita violento”, ele disse numa entrevista coletiva.

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“Não somos apenas aliados. Não somos apenas parceiros. Somos família”, ele disse sobre a Nova Zelândia. “Esse é um lembrete triste e devastador do mal que pode estar sempre presente entre nós.”

O comissário da polícia neozelandesa Mike Bush disse que dois explosivos improvisados foram descobertos em veículos depois que o suspeito foi preso, mas foram desativados.

As autoridades neozelandesas disseram que o suspeito não estava no radar deles antes do ataque.

Num manifesto anti-imigração postado online horas antes do ataque, ele afirmava ser um “homem branco comum” que “decidiu tomar uma posição”. Mas especialistas alertaram que muito do manifesto é escrito numa linguagem para atrair a atenção nas redes sociais e alimentar a divisão política.

O QUE ACONTECEU?

Segundo uma transmissão ao vivo de 16 minutos postada pelo perpetrador em sua página no Facebook e visto pela VICE News, o suspeito dirigiu até a mesquita, tendo como alvo os frequentadores da sexta-feira. Depois de estacionar em frente ao prédio, ele pegou vários fuzis do veículo, aí entrou pela porta da frente.

O vídeo mostra o suspeito usando inicialmente uma espingarda, depois trocando para um fuzil semiautomático e disparando indiscriminadamente. Um homem tentou parar o perpetrador, mas foi baleado. Depois o atirador saiu da mesquita, aparentemente para ver se as autoridades estavam chegando.

Aí ele entrou novamente no prédio, passando de sala em sala procurando por sobreviventes, depois disparou várias vezes sobre as massas de corpos.

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Minha simpatia vai para as pessoas da Nova Zelândia depois desse horrível massacre em mesquitas. 49 inocentes tiveram uma morte sem sentido, com muitos outros feridos. Os EUA está com a Nova Zelândia para tudo que pudermos fazer. Deus abençoe a todos!

Depois o atirador voltou para o carro e partiu para o Linwood Islamic Centre. Ele é visto colocando o endereço no GPS, dizendo “não saiu como planejado” e rindo sozinho.

Durante o vídeo, Tarrant disse “assine o PewDiePie”, uma referência ao maior youtuber do mundo, Felix Kjellberg, que causou polêmica quando fez vários gestos antissemitas num vídeo ano passado. Kjellberg tuitou que ficou “absolutamente nauseado por ter meu nome dito por essa pessoa”.

O atirador disparou contra pedestres nas ruas enquanto dirigia. Aí o vídeo é cortado — provavelmente porque o Facebook derrubou a transmissão.

Detalhes do ataque na mesquita de Linwood ainda não estão claros, mas Bush confirmou “várias mortes” nas duas mesquitas.

QUEM É O SUSPEITO?

Segundo a mídia australiana, o suspeito é um usuário ávido das plataformas online, incluindo Facebook, Twitter e Instagram, além de sites menos conhecidos como o 8chan.

Nos dias antes do ataque, ele postou imagens das armas que seriam usadas.

Primeiro-ministro da Turquia:

Em nome do meu país, ofereço minhas condolências para o mundo islâmico e as pessoas da Nova Zelândia, que foram alvos desse ato deplorável – o último exemplo do racismo e islamofobia crescentes.

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Primeiro-ministro do Paquistão:

Culpo esse aumento de ataques terroristas à islamofobia atual pós 11 de Setembro onde o Islã e 1.3 bilhão de muçulmanos são culpados coletivamente por qualquer ato de terror de um muçulmano. Isso tem sido feito deliberadamente para também demonizar as lutas políticas legítimas dos muçulmanos.

Chocado e condeno fortemente os ataques terroristas em mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia. Isso reafirma o que sempre dissemos: o terrorismo não tem religião. Minhas preces vão para as vítimas e suas famílias.

Em seu manifesto, que é cheio de retórica política antimuçulmana, de extrema-direita e extrema-esquerda, o suspeito diz que nasceu “numa família pobre de classe trabalhadora… que decidiu tomar uma posição para garantir o futuro do meu povo.”

Ele trabalhou como personal trainer na Big River Gym na cidade de Grafton. Um colega de trabalhou confirmou para a ABC News da Austrália que o homem no vídeo é Brenton Tarrant.

A gerente da academia, Tracey Gray, disse que o suspeito era “um personal trainer muito dedicado” e que ficou chocada com o incidente.

“Acho que algo mudou nele durante os anos em que ele viajou para o exterior”, ela disse.

O VÍDEO CONTINUA ONLINE?

O Facebook tirou o vídeo do ar enquanto o atirador ainda estava transmitindo o ataque.

A empresa não respondeu imediatamente ao pedido de comentário sobre quantas pessoas viram a transmissão, mas disse a BBC que está trabalhando para garantir que cópias do vídeo não sejam postadas em outras páginas.

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A polícia está consciente de que a filmagem extremamente perturbadora relacionado ao incidente em Christchurch está circulando online. Pedimos que o link não seja compartilhado. Estamos trabalhando para remover a filmagem.

Mas o vídeo ainda é acessível em outros sites, incluindo Reddit e o fórum 8chan, onde o suspeito anunciou o ataque.

O massacre na Nova Zelândia foi transmitido ao vivo no Facebook, anunciado no 8chan, repostado no YouTube, comentado no Reddit e espelhado pelo mundo antes que as empresas de tecnologia pudessem reagir.

As contas do suspeito no Facebook, Instagram e Twitter foram suspensas.

Matéria originalmente publicada na VICE News US.

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