Canções que salvam vidas: Mira, Un Lobo!
Foto principal por Manuel Manso

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Música

Canções que salvam vidas: Mira, Un Lobo!

Em escuta, Serotonin, o single de avanço de "Heart Beats Slow", álbum que verá a luz do dia a 20 de Maio pela alemã Tapete Records.

Está a chover que se desunha. Está um calor infernal. É sexta-feira e estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula. Por outro lado, é sexta-feira, estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula, mas não tens guito. Não te apetece ir trabalhar. Não te apetece estudar. Vais é dar uma volta pela cidade. Espera, está a chover. Pronto, vais ver o mar, que está um calor diabólico. Alto, que isto está cheio de turistas e não dá para ir a lado nenhum. Nunca mais chega a Primavera! Primavera é que não, que é só alergias.

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Um gajo nunca está contente. Se não é do cu é das calças. O que vale é que, como toda a gente sabe, há canções que salvam vidas (os Smiths cravaram-no a letras de ouro no cancioneiro pop para toda a eternidade). Semanalmente, e para que a tua vida ganhe um novo sentido e encontres a salvação possível, deixamos por aqui um desses bocadinhos de lírica e melodia (ou ruído e grunhidos selvagens, conforme a disposição) que têm a capacidade de em pouco mais de três minutos te salvarem, se não a vida, pelo menos o dia.

Mira, Un Lobo! salva-nos logo à primeira audição deste "Serotonin", single de avanço de Heart Beats Slow, álbum que verá a luz do dia a 20 de Maio, pela alemã Tapete Records. O que se passa à superfície desta paisagem sonora, dolente e saturada - criada pela electrónica de Luís F. de Sousa - é reflexo absoluto do que lhe corre por baixo. Sufoco, cidades a implodir, a vida a roubar-te a juventude e a reclamar-te a energia. Um turbilhão que pode parecer banda sonora para pesadelos pós-nucleares, mas que se transforma em cascata resplandecente vá-se lá saber como e porquê. Obra e graça do Espírito Santo. Sonhos lúcidos em que queres dançar, mas o corpo não mexe. Só os pensamentos.

Este gajo, português, fodido com a crise económica e atormentado pela crise existencial dela decorrente, despejou tudo num disco que será certamente uma das grandes surpresas do ano. Sim, já o ouvimos e há, em todo ele - não apenas em "Serotonin" -, uma grandiosidade, uma exuberância tais, que a um mesmo tempo o absorvemos com leveza e esperança, como com negrume e desolação. Se, situar a coisa no mesmo terreno de outros ajuda, diremos que as nem sempre bem amadas incursões de Sufjan Stevens por caminhos sintetizados, ou os emaranhados electrónicos movidos a motor de M83, são a colina a ter em conta.

"Subjugados pela crise, desemprego e depressão, vivemos dormentes, escondidos debaixo dos nossos lençóis, à espera que o sono chegue para espantar ou adormecer as nossas preocupações. Mira, un Lobo! permite-se sonhar, ainda que acordado, enfrentando as adversidades, distraído e despreocupado com toda e qualquer consequência", diz o músico. Pois bem, acrescentamos nós (ou o poeta, vá!), se o sonho comanda a vida, Mira, un Lobo! é o nosso comandante na batalha pela salvação. De auscultadores nos ouvidos e volume bem alto!