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Música

Discos: Onomono

Um álbum de ideias firmes e fervor rítmico.

Unifys
Underground Gallery
9/10 Quando são discretos os passos na escalada de um produtor, só pode ser maior o estrondo do disco que marca a sua chegada ao auge. Dito assim parece um provérbio budista, mas serve por agora para vos apresentar o japonês O.N.O., que se encontra muito provavelmente no mais lúcido e inspirado ponto da sua carreira de muitos anos. O documento que o comprova chama-se Unifys e vem assinado por Onomono, o disfarce que O.N.O. escolheu para as suas investidas dentro da techno. Sem parecer minimamente intimidado com a forte concorrência no género ou sequer acanhado pela sua modesta reputação fora do Japão, O.N.O. atreve-se a transformar este trabalho num colosso capaz de vários feitos: em primeiro lugar, não duvidamos de que, a partir de agora, este seja um ponto incontornável em qualquer revisão do percurso deste músico. Além disso e independentemente da atenção que venha a arrecadar, Unifys tem ideias firmes e um fervor rítmico capaz de deixar em sentido não só os produtores japoneses, como uns quantos fora dessas fronteiras. Quais são então as qualidades tão excepcionais do disco para que mereça um primeiro parágrafo tão cheio de caguices e promessas? Pois bem, UnIfys reúne em dois discos alguma da techno mais imponente destes últimos anos — uma techno que precisa apenas de uns seis minutos (do primeiro CD) para nos fazer perceber que a experiência que se segue vai ser uma daquelas trips mesmo à moda antiga. Ultrapassados esses primeiros minutos de adaptação, Unifys garante toda a longa duração de uma mistura ao vivo para entendermos como a techno minimalista de Onomono é tantas vezes o processo certo para nos preparar a cabeça para receber o excesso da trance (esqueçam, por favor, a má fama do termo). Se preferirmos ficar longe das facilidades dos géneros, diríamos somente que o Onomono de Unifys é tão capaz de nos agarrar e conduzir a atenção como um Jeff Mills, uns Porter Ricks ou The Orb (nomes que não consigo mesmo utilizar gratuitamente). Toda a riqueza de Unifys como objecto fica especialmente completa quando o segundo disco contém o material misturado no primeiro e que Onomono havia lançado em duas séries de vinil nestes últimos anos: os EPs de 1 a 10 e as Onomono Tools de 1 a 8 (sendo que estes últimos foram editados de modo a caber neste segundo CD). É muita a quantidade de música excelente que acaba compilada no mais convencional formato do CD duplo, depois de tantos white labels distribuídos com algum secretismo (pela Underground Gallery) e tantas vezes esgotados em pouco tempo. No fundo, O.N.O. já merecia o seu grande disco há muito: nos Tha Blue Herb, tem sido um incansável fabricante de beats com os olhos postos no futuro (a estreia Stilling, Still Dreaming remonta a 1998 e ainda hoje soa a hip-hop de amanhã); enquanto a solo, como O.N.O., eram já vários os sinais que o indicavam como um produtor destinado a ser feliz na techno (escute-se “Bright Black”, de Signalog (2008), para perceber isso mesmo). Perante isto, era óptimo que o valor deste álbum fosse suficientemente badalado para que o mundo entenda de vez que tem em O.N.O. um dos seus mais preciosos produtores e mais que isso: alguém que já provou ser tão capaz no hip-hop como na techno, o que não é nada comum.