"Não Queria Ficar no Underground pra Sempre", diz Olivier Weiter

FYI.

This story is over 5 years old.

Música

"Não Queria Ficar no Underground pra Sempre", diz Olivier Weiter

Conheça a trajetória do produtor holandês que toca no sábado, dia 2 de maio, no palco Warung.

Nesse verão o Olivier Weiter fará o show de abertura no palco principal da edição americana do Mysteryland. Ele também será uma das apresentações principais na primeiríssima edição do Tomorrowland no Brasil, tocando ao lado de seus heróis Gui Boratto e Sasha. Recentemente, a gravadora Armada Deep pediu para Weiter produzir um remix da música de balada "Greece 2000", e o produtor holandês ainda está planejando fundar sua própria label: a Weiterlabel. Quer dizer, se você imaginar que esse cara começou comprando discos em um after em Amsterdam há uns sete anos, temos aqui eventos dignos de nota. Eu o visitei no seu apartamento na região oeste de Amsterdam para beber uma cerveja e bater um papo sobre os porões onde rolavam os afters, os grandes palcos e a sua conexão com o público.

Publicidade

Os mais lendários clubes de Amsterdam

Seu nome verdadeiro é Roel Varkevisser, mas desde que era criança queria que seu nome fosse Olivier. "Tudo começou quando me deparei com os quadrinhos do Olivier B. Bommel. Aquele cara era um aventureiro, e eu amava o nome dele." O sobrenome "Weiter" é um tributo a cena dos afters (a expressão alemã para 'deixar rolar' é 'weiter machen'). "Quando tinha 17 anos, vim para Amsterdam estudar. Fui no Club 11 algumas vezes e descobri a música eletrônica. Fiquei especialmente impressionado com o Sven Väth: a diversidade de suas faixas e todo o rolê. A partir dali, fiquei completamente viciado. Eu e uns amigos morávamos juntos em uma casa e fazíamos after party no porão quase todo fim de semana. Vários artistas locais e internacionais foram lá. O Sven Väth foi algumas vezes, mas também caras como o Ricardo Villalobos e o Nathan Fake. Uma noite eu pensei: alguém de nós deveria tocar aqui. Foi aí que comecei a comprar vinis e escolhi Olivier Weiter como meu nome artístico".

O porão foi nomeado Bar 27, em homenagem à infame balada berlinense Bar 25. "Já tinha visitado Berlim algumas vezes e naquela balada eu conheci o Red Robin, o DJ residente. Ele estava tocando vinil em três decks, era muito louco. E então, às dez da noite, a balada começou a fechar do nada. Eu ainda estava na vibe, então disse: 'Vamos continuar. Vou passar o chapéu, descolar uma grana.' Dei 20 euros para o Red Robin e disse: 'Por favor aceite esse dinheiro e toca mais três faixas pra gente', e ele topou. Depois ele foi no meu MySpace e escreveu: 'Me sinto um merda por ter aceitado seu dinheiro, gostaria de devolvê-lo. Você mora em Berlim?, e eu respondi: 'Não, moro em Amsterdam, mas queria te chamar para fazer um show'. Obviamente, ninguém em Berlim achava uma boa ideia ele ir até Amsterdam encontrar um punk de 17 anos, mas ele foi mesmo assim. Aluguei um barco e aquela festa acabou sendo muito épica. Ele se hospedou na minha casa por duas semanas inteiras depois daquele dia."

Publicidade

Outro encontro importante aconteceu alguns anos depois, em uma manhã de domingo em Amsterdam. "Uma amiga minha me ligou quando eu estava indo me deitar: 'E aí Roel, precisamos de um DJ nesse after, cola aí'. Eu disse: 'De jeito nenhum, acabei de deitar'. Ela respondeu: 'O taxi já está te esperando. Pega seus discos, chega mais, vou te passar o endereço.' Beleza, eu pensei; então me levantei, escovei os dentes, entrei no táxi e fui. O after acabou sendo incrível. Depois de ter passado por vários posters do Mad Max, esse cara vem até mim e fala: 'E aí, eu sou o Duncan'". Parece que o Roel foi parar na casa dos fundadores da emissora holandesa ID&T, Duncan e Lisca Stutterheim, onde ele tocou a tarde toda. "Depois de terminar meu set o Duncan veio até mim e disse: 'Vamos nos reunir daqui a pouco, pega um lanche. Curto o que você está fazendo, quero te chamar para tocar em alguns dos nossos próximos eventos'. Naquela época eu já tinha tocado algumas vezes no Sensation e no Mysteryland, mas a partir daquele momento eu realmente me tornei parte da família".

O MOMENTO DA VIRADA

Foi aí o início da sua ascensão até o palco principal. Durante os primeiros anos, Roel ainda estava considerando se manter no underground, mas não demorou muito para ele desencanar dessa ideia. "Sempre achei que fosse me manter no universo underground, porque a música é underground. Tocar nos grandes palcos dos festivais não é massa, pensei que iria perder credibilidade se fizesse isso. Mas percebi que discotecar é algo que pretendo fazer durante toda minha vida e se eu continuar tocando apenas em porões, provavelmente nunca conseguirei morar em um lugar melhor. É um mundo muito grande, há mais para se descobrir além de porões e after parties", explica o produtor. "Me toquei que não queria ficar no underground para sempre. No entanto, o que ainda quero ser capaz de transmitir ao público é a sensação de quando tinha 17 anos e estava em uma pista de dança. É aquela vibe rebelde: meus pais não fazem a menor ideia de que estou nessa festa, e agora que estou aqui posso fazer o que quiser. E é o hedonismo daquilo tudo: estar lá com todos os seus amigos, curtindo ao máximo. Não é simplesmente uma noitada, mas sim uma experiência completa".

Nas suas noites, Weiter está muito atento em criar essa experiência completa. "Como DJ, você praticamente só toca em festivais, mas essas gigs consistem em sets pequenos que não duram mais que uma hora e meia. É sufocante; depois de tocar duas ou três faixas você precisa escolher uma direção diferente para seguir. Você sente falta daquela conexão com o público. Decidi fazer do meu jeito: ser criativo e colocar corajosamente meu nome no flyer e tocar na Paradiso, a famosa igreja-que-virou-balada em Amsterdam. Foda-se, eu pensei, vou simplesmente tocar lá a noite toda. Decido qual música irá tocar, decido o que reflete a minha vibe. Vou tomar conta disso sozinho". A primeira vez que ele fez isso - há dois anos - foi bem emocionante. "Era tudo ou nada. Na Paradiso, você sempre encontra promoters e outros organizadores de festas que vão rir da sua cara se você vender só uns 400 ingressos. Mas a festa lotou e o show foi incrível. Fiquei tão feliz quando vi que acabou se tornando um sucesso. Pensei: essa é exatamente a direção que quero seguir com o Weiter. Você sempre está a serviço do público, mas é bom quando você pode transformar uma gig no que você tinha em mente. Funciona melhor quando você pode tocar a noite toda".

Entretanto, de acordo com o Roel, uma gig lotada na Paradiso não garante o seu sucesso automaticamente. A terceira edição da Weiter já está a caminho. Para ele, parece que é apenas o começo. "Se eu começasse a achar que conquistei tudo que pode ser conquistado, seria melhor me aposentar agora e começar a trabalhar como gari. A fim de manter as coisas interessantes, você tem que se reinventar sem parar. Tem muita coisa rolando agora. Os Estados Unidos explodiu, a Ásia vai explodir e a América do Sul também. Todas essas pessoas vão começar a ouvir minha música". E é por isso que no ano passado o Roel passou a maior parte do tempo no estúdio. "Tenho investido muito tempo nas minhas gravações. Quero começar minha própria plataforma musical, mas para conseguir fazer isso, você precisa ter muita música. Sempre que ouço as minhas primeiras gravações, percebo que não estava pronto na época. Só foi um pontapé inicial para lançar algo. Agora, quando ouço o meu remix de "Greece 2000", sinto que estou pronto".

O Olivier Weiter está no Facebook // Soundcloud // Twitter