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análise

PSD. Cinco exemplos de como o partido se tornou um "saco de gatos"

Rui Rio, André Ventura e Santana Lopes são alguns dos protagonistas da confusão reinante na instituição "laranja".
gatos dentro de um saco
Tudo somado, o partido parece não saber o quer, com quem contar e que caminho trilhar. (Pintura por Braldt Bralds, via Art Barbarians)

É por estas e por outras que António Costa não precisa de ansiolíticos para dormir sossegado. O partido que disputa taco a taco a maior parte das eleições com o PS, anda como o Lopetegui no Real Madrid. Desorientado, com as linhas desunidas e à espera que aconteça um milagre para ganhar confiança e andamento. O PSD parece imobilizado desde 2015 quando, numa finta esperta e inesperada, Costa deu a volta ao cenário expectável nas Legislativas. A vitória da coligação de direita foi insuficiente e nasceu a "Geringonça". O resto é história.

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Como qualquer partido adulto, o PSD devia ter-se regenerado de maneira positiva para futuros embates. Ao invés, tem vivido semanas periclitantes. A liderança de Rui Rio é mal amada por dentro (a começar pela maior parte dos deputados com assento no Plenário) e, entre algumas larachas sobre a realidade do País, viu nascer a caça ao prémio "Eu é que sou o dissidente do mês". A seguir, os cinco exemplos de como esta instituição histórica se tornou um "saco de gatos".

1) RUI RIO. O presidente que podia ter o cartão do PS

Ele bem tenta demonstrar arcaboiço para ser primeiro-ministro, só que nem a sua casa controla (como os socialistas, que se julgam iluminados a gerir o País e o partido é o mais endividado). O ex-autarca da Invicta rema para um lado e os "seus" deputados para outro; chamou Rodrigo Gonçalves para trabalhar a comunicação do partido, ele que é considerado um dos maiores caciques do PSD; não se opôs à mudança na Procuradoria-Geral da República e o seu líder parlamentar, Fernando Negrão, criticou o artigo de opinião de Passos Coelho, quando este agradeceu o desempenho de Joana Marques Vidal; e está na cara que Rui Rio não terá problemas em ser bengala deste PS, caso a "agremiação rosa" necessite de maioria parlamentar em 2019. Já o vimos mais longe do Largo do Rato.

2) ANDRÉ VENTURA. Depois do ataque aos ciganos, quer acabar com o casamento gay

Quando se escuta o debate no "Pé em Riste", às Segundas na CMTV, são os picanços entre Nuno Encarnação (portista) e André Ventura (benfiquista) que têm piada. De resto, o folclore segue a lógica caricata "o teu clube é mais trafulha que o meu". Aproveitando a onda populista - e o discurso propalado a criticar a comunidade cigana -, Ventura concorre nas últimas autárquicas e consegue lugar como deputado municipal na edilidade de Loures.

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Recentemente, desiludido com os sociais-democratas, deu início à angariação de assinaturas para a destituição de Rui Rio. Num volte-face abrupto (e por estar em colisão com o PSD local), decidiu abandonar o partido e avançar com o novo Chega. Pelos dados disponíveis, entre as medidas a apresentar, destaque para o fim do casamento homossexual. Estará o comentador a contar com o apoio de machões de cor encarnada? No futuro, se tiver um papel relevante dentro do Benfica, André Ventura cedo mostrará que não está para aturar as "paneleirices" dos jogadores. Retrógrado.

3) SÉRGIO AZEVEDO. O complicado destino de um "boy"

Alegadamente, o deputado é o principal rosto da "Operação Tutti-Frutti". Um daqueles personagens que, para subir e ser notado, dá o corpo ao manifesto em qualquer situação pelo partido (ou pelo clube, se falássemos de futebol). Segundo as notícias veiculadas na imprensa, é suspeito de crimes com ajustes directos e arranjos com gente do PS para a contratação e troca de assessores fantasmas - e assim distribuir supostos "tachos" no Estado (como em Juntas de Freguesia). A ser verdade os factos que o possam implicar, talvez Azevedo pensasse que não estaria a prevaricar. Há manobras que são comuns no Bloco Central…

4) SANTANA LOPES. Com intenção de fazer parte da próxima "geringonça"?

Nas últimas décadas, zangou-se publicamente com Jorge Sampaio, Marcelo e Cavaco, ocupou diversos lugares de destaque na sociedade (falta a candidatura a Belém) e, por estes dias, está engajado com um delírio há muito ambicionado. Chateado com o actual rumo do PSD e após diversos ameaços no passado, lança o partido Aliança. Não é crível que esta formação concorra às Europeias em Março e, no íntimo de Santana Lopes, o objectivo é obter a percentagem necessária para que o vencedor nas legislativas a chame para dominar o parlamento. Ninguém está proibido de ter expectativas altas, mas a tarefa é hercúlea, para não dizer impossível.

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5) DEPUTADOS SOCIAIS-DEMOCRATAS. A arte descarada de sabotar a liderança

Há quem sonhe em ter um telemóvel robusto, um quarto com preço razoável em Lisboa, ou já imagine estar no concerto do banal Ed Sheeran. Para a maior parte dos deputados "laranja", o grande sonho seria ver Luís Montenegro, Paulo Rangel ou (até) Passos Coelho, a disputar a corrida ao poder com António Costa.

A contestação interna a Rio é tão evidente (na semana passada, numa reunião da bancada, Teresa Morais disse que ele vetou a intervenção de elementos com experiência), que a centrista Assunção Cristas já julga ter hipóteses de ser chefe do próximo governo de Portugal. Como estamos a menos de um ano das Legislativas, é natural o aumento de episódios para desgastar o líder, dirigentes a pedirem a sua cabeça e que surjam novas figuras a devolver o cartão de militante. Até quando Rui Rio aguenta?


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