FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Artistas do Ano de 2014 | No. 9 | Theo Parrish

O produtor neo-zelandês Recloose tinha um dedo de prosa para dar sobre a lenda de Detroit e a pedrada que é esse seu disco de 2014, 'American Intelligence'.
O THUMP está celebrando o ano de 2014 com músicas, discos, artistas, eventos e momentos com nosso primeiro anuário, o #YRBK14 (Yearbook é aquele livritcho de fim de ano dos colégios americanos). Nossa lista de Artistas do Ano inclue gente bem conhecida e talentosas novidades. Ao invés de falarmos porque estes dez foram considerados os melhores do ano, pedimos aos seus fãs para fazerem isso pela gente. O produtor e DJ Matthew Chicoine é mais conhecido como Recloose e tinha um dedo de prosa para dar sobre a lenda de Detroit Theo Parrish e a pedrada que é esse seu disco de 2014.

Como a maioria dos produtores que estavam iniciando na Detroit dos anos 90, eu buscava obter um retorno de diferentes pessoas dentro da comunidade musical. Neste aspecto, Theo Parrish era muito generoso e eu várias vezes havia o visto ser (hilariamente) direto com seus contemporâneos quando seus trabalhos não davam certo ou pareciam dissimulados. (Ainda lembro dele encarando os scratches que coloquei em "Can't Take It Back" lá em 2000). Mas o que Theo falava, dava certo; fez a mim e outros criarem músicas melhores, pessoalmente me ajudando no caminho ao imaginar que qualquer coisa que lançasse resultaria em uma "cara feia" caso mostrasse o som pra ele.

Publicidade

Sabendo disso, não foi surpresa que seu novo e épico LP, American Intelligence, seja a encarnação sônica de uma linha traçada na areia. Ele ressoa tanto como uma declaração e uma jornada, desdobrando em pouco mais de duas horas uma procissão de opus chocantes, sociais e espirituais. Custando uns 50 dólares, o disco já suscitou debates sobre como os artistas devem precificar seus lançamentos, e com certeza vai confundir pra caralho muita gente dentro da dance music. É uma obra clara em sua intenção de ser controversa – o trocadilho no título, sua duração, o preço alto, o conteúdo, o olhar de admoestação de Theo na capa – e também não se furta de reviver o muito necessário comentário social na música. (O disco conta com uma esquete encenando uma abordagem policial comum da América negra).

"Fallen Funk", uma faixa afiada que dinamiza o sotaque e a síncope dentro do vernáculo da pista de dança, é a mais direta. Theo opina, "Estes tempos te fazem deixar tudo limpinho pra caber em uma máquina. Uns e zeros minúsculos, uns e zeros, uns e zeros, uns e zeros…" E pra finalizar ele conclui "SE VOCÊ VER ALGUÉM COM O FUNK CAÍDO, MANDE-O SE LEVANTAR!" Um baita manifesto certamente.

Mas enquanto Theo gosta de provocar todo mundo, American Intelligence também é, relevantemente, uma exploração pessoal de suas capacidades como produtor e artista, e admitidamente meu disco favorito dele até então. Essas músicas são enormes. Theo tem uma queda por composições longas, mas aqui isso está mais do que na cara, com boa parte das faixas ultrapassando a casa dos sete minutos, com a mais longa registrando pouco mais de 13 minutos no cronômetro. Além do peso de American Intelligence (LP triplo ou CD de 15 faixas), Theo constrói músicas conceitualmente grandes, valendo-se de forma única das tradições do jazz, música eletrônica e africana, evoluindo de forma orgânica (até mesmo para ele) ao programar e tocar algo que parece ter sido feito artesanalmente do começo ao fim.

Publicidade

Pra mim, os destaques são a hipnótica "Make No War", uma faixa que utiliza uma espécie de suingue africano que já ouvimos em outros lugares, como em "Dance of the Drums" de 1999; "Helmut Lampshade" (possível referência a Night on Earth) por sua energia e arpeggios de jazz; e "Cypher Delight", que tem um dos sons de bateria mais fodas que ouvi em um bom tempo.

Se você precisa de um proverbial tapa na cara (e vamos lá, todos merecemos), então descole esse disco agora. Se você precisa lembrar que música eletrônica maravilhosa e inovadora pode vir dos EUA e mais especificamente de Detroit, escute Theo Parrish.

Recloose é produtor, DJ e agente educacional da Serato. Ele mora em Auckland, Nova Zelândia.

Tradução: Thiago "Índio" Silva

Esses são os Melhores Artistas de 2014

10. Diplo, Skrillex & Jack Ü
9. Theo Parrish
8. Bassnectar
7. Kygo
6. Gorgon City
5. SOPHIE
4. Kiesza
3. Clean Bandits
2. FKA Twigs
1. Porter Robinson