Calvin Harris: Como o Nerd Escocês se Tornou o DJ Mais Bem Pago do Mundo

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Calvin Harris: Como o Nerd Escocês se Tornou o DJ Mais Bem Pago do Mundo

Como um bedroom producer esquisitão com uma quedinha por esquetes caseiras do YouTube se tornou o maior (e mais sexy) DJ do mundo?

O Calvin Harris nunca saiu da minha vida. Desde que eu tinha 15 anos e o I Created Disco foi lançado, temos crescido juntos, percorrendo os caminhos do amor, perda, trabalho e diversão. Colecionando feridas enquanto aprendíamos a lidar com o mundo, ficando mais cascudos em sincronia. Recentemente, depois de uma série de notícias incluindo anúncios de sua biografia, recorde de riqueza e sua vida amorosa, fui forçado mais uma vez a lembrar deste homem escocês, o homem que eu conhecia. Basicamente, me fazendo uma só pergunta: como um bedroom producer esquisitão de indie-rave e com uma quedinha por esquetes caseiras do YouTube se tornou o maior (e mais sexy) DJ do mundo?

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Me lembro de vê-lo tocar muitos anos atrás, no Carling Academy. Eu estava usando um óculos feito com aquelas pulseirinhas neon. Ele, um casacão de poliéster. Entretanto, oito anos se passaram e eu mal o reconheço. Enquanto passei a me vestir um pouquinho melhor, porém ainda assim uma sombra esquálida da minha versão sebosa e sorridente de quando era jovem, ele progrediu. Ele é um Deus. Um Adônis vestindo Armani. Um seletor de Las Vegas. O DJ mais bem pago do mundo. Modelo de roupa íntima. Criador de hits que batem recordes. Namorado da Taylor Swift.

Se o Drake acha que começou lá de baixo, ele não tá ligado. Essa é mais do que uma história de sucesso, é um conto de fadas. Não é que o Calvin Harris simplesmente tenha dado certo, ele foi além. O que ele deu em troca dessa glória? Só posso acreditar que, em algum lugar na sua mansão em Beverly Hills, há um retrato do nerd de Dumfries esquisitinho que ele deixou para trás tão facilmente. Quando ele dá festas, provavelmente implora para a Rihanna - "Não, não entra aí, é pessoal, por favor, volta lá para baixo e bebe mais uma taça daquele conhaque Louis XII".

Foi anunciado que em outubro Harris terá uma biografia lançada, intitulada Calvin Harris: The $100 Million DJ (ou Calvin Harris: o DJ de 100 milhões de dólares). Terá 256 páginas e traçará a jornada que ele percorreu desde estoquista de prateleiras do supermercado - extremamente tímido e sem a menor certeza que a sua carreira musical daria certo - até quebrar o recorde do Michael Jackson com o maior número de hits em um único disco. Parece mais do que justo sua história ser contada. Afinal, essa é de fato uma trajetória marcante. Pode ser difícil nos lembrarmos de sua primeira encarnação agora, mas a verdade é que houve um tempo onde o Preston do Ordinary Boys era mais descolado que o Calvin Harris. Uma época onde ele era um excluído, um bedroom producer esquisito que fazia músicas pop com uma vibe vagamente retrô para a rapeize indie-raver. Naquela época, seus contemporâneos eram o Hadouken e os Klaxons, não o Hardwell e o Kaskade.

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Se apenas uma faixa pudesse ser sido usada como exemplo de sua evolução, ela seria "I'm Not Alone". Os 45 segundos iniciais da música poderiam ser o Calvin como ele era, com sua voz oscilante, que nem um adolescente nervoso em um teste para o musical da escola. Depois uma queda em linha reta até os braços do Guetta, um shot da grandeza do EDM, synths que na verdade soam como o guindaste de uma câmera panorâmica em cima da plateia de um festival muito louco. Foi possivelmente nesse momento, nessa faixa, que o jogo virou. As linhas de baixo arrastadas, simples e barulhentas foram para o saco. Nós deveríamos ter sacado os sinais, naquela época, de que ele estava subindo de nível. Indo para um lugar onde nós, nas nossas noitadas chuvosas em baladas grotescas e festinhas em apartamento lotadas, jamais chegaríamos. Não me entenda mal, não estou chamando o Calvin Harris de vendido - ele não era bem um Elliott Smith para início de conversa - porém, para um DJ que agora está na linha de frente da indústria americana do EDM, é bizarro pensar que ele fazia shows ao vivo e chacoalhava maracas no festival T4 na praia.

Agora ele é um dos músicos britânicos mais ricos do mundo. Ele é mais rico do que o Gary Barlow e o Chris Martin. Mais rico do que o Cliff Richard. Eles devem estar arrasados. O Cliff deve estar jogando bolinhas de tênis pro alto de tanta angústia. "Quem é Calvin Harris?", ele deve estar gritando. A definição de um superstar agora é diferente, ela inclui DJs e produtores, colocando seus nomes nas faixas e garantindo seus status de milhões-de-cópias-vendidas. Ao fazer parte desses rankings e se tornar o Calvin Harris de hoje em dia, ele não evoluiu a partir do seu antigo eu - ele o exterminou completamente. Rejeitando suas perfomances vocais gaguejadas em prol de características de alto nível e créditos de produção. Bem distante do que ele era anos atrás, quando cantava no meu ouvido enquanto eu ia para a escola, a chuva escorrendo nas janelas entreabertas: "Merrymaking, drug-taking, at my place baby… at my place".

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Ele conheceu os gatos da Taylor Swift outro dia, e a sua publicação no Instagram dizia que foi "um momento". Aparentemente ele teve que dar um chega pra lá no Harry Styles também. O Styles e a Taylor estavam dando uns amassos pouco antes de ela começar a namorar o Harris. As colunas de fofoca dizem que ele mandou o Harry "se manter bem longe". Ah, e um outro site sugeriu que ele traiu sua ex-namorada com a Taylor Swift. Tentei fazer meu Tinder funcionar ontem à noite mas estourei meu pacote de dados do 3G pro mês inteiro.

Como você chegou até lá, Calvin? Eu sei que você é um hitmaker de proporções gigantescas, mas isso não explica as coisas terem acontecido tão bizarramente rápido. Lembro quando saiu a notícia de que ele estava trabalhando com a Kylie. Ficamos tão felizes por ele. Ela deve ter escutado "The Girls" e curtido. "Quem poderia imaginar? O pequeno Calvin Harris trabalhando com a Kylie Minogue!". Como a gente era ingênuo. E você lembra quando ele invadiu o palco do Jedward no X-Factor? Ele estava com um abacaxi na cabeça e esfregou sua bunda na câmera. Depois se desculpou no Twitter e o Louis Walsh disse que nem sabia quem o Calvin Harris era. Era uma época mais humilde.

Nós não sabíamos o que vinha pela frente. O 18 Months foi o primeiro disco da história com nove singles presentes em Top 10. "We Found Love" tocando nos meus ouvidos e eu não consegui reconhecer no que ele estava se tornando. Era como se, em algum momento enquanto assista vídeos do Harris tentando abrir pacotes de bolachas no youtube, tivesse me virado para o lado e ele tivesse sumido. Mudado para sempre. O garoto tinha se tornado um homem, e este homem estava agora trabalhando com o Ne-Yo. Não confunda minhas intenções com relação ao Calvin. Estou feliz por você. Espero que você esteja feliz também. Aposto que está tão surpreso como qualquer um de nós. Não acredito que quando você estava incansavelmente dedicado a esses remixes do Ting Tings, conseguiu prever esses milhares e milhares de dólares, as dietas fitness e o verão interminável.

No entanto, a troco de quê, Calvin? Onde estão os óculos fundo de garrafa agora? Enterrados em uma caixa de sapato de 2007? Você é um colosso, um dos músicos mais poderosos do mundo. Poderia ser a manchete de qualquer jornal e trabalhar com qualquer artista. Mas a troco de quê? A sua conta bancária está lá em cima, mas pode-se dizer o mesmo da sua alma? Parte de mim se questiona: depois de todas as primeiras posições que você conquistou e os namoros com celebridades, ainda existe um fantasma de um nerd barbudo escondido? Zanzando pra lá e pra cá no palco do Carling Academy. Usando uma boxer da Topman. Repetindo o seu mantra perdido, "isso era aceitável nos anos 80".

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Tradução: Stefania Cannone