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Bebuns, médio bebuns e ex-bebuns explicam sua relação com a bebida

Nossos colegas de trabalho do Reino Unido compartilham seus pensamentos sobre o álcool e o papel que a birita tem desempenhado em suas vidas.

Foto por Hannah Lawrence.

Muita gente passa o dia 1º de janeiro pensando em álcool. Geralmente porque é um dia em que passamos sentindo as suas macabras reações, que ficam ainda piores quando seu estômago vira um barril de ácido, restos de pernil, peru, maionese, farofa e o que mais rolou na ceia de Ano-Novo. E aí vem o resto do mês: o que chamados de "Janeiro Seco" aqui na Inglaterra, e toda a ladainha da sobriedade temporária dos colegas por 31 dias.

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Este ano, o governo do Reino Unido ajudou a prolongar a conversa, dizendo que as pessoas devem beber apenas sete pints por semana (1 pint = 665mL, mais ou menos uma garrafa de breja) e que devemos pensar em câncer sempre que tomamos uma taça de vinho. As duas notícias foram um chute no saco, mas são verdade.

Quando o álcool domina a consciência cultural do jeito dominou nos últimos meses, é difícil não considerar a sua importância em sua vida. Para ajudar alguns dos nossos amigos e colegas de trabalho aqui do Reino Unido, pedimos para que eles escrevessem seus pensamentos sobre a questão para a internet.

Foto por Robert Foster.

JOE GOLBY, REDAÇÃO, VICE UK

Comecei a beber aos 19 anos porque meu pai era alcoólatra e morreu disso quando eu tinha 15, o que, no geral, não me dava muita sede. Isso significa que perdi aqueles ritos de passagem da adolescência envolvendo bebida — beber e dormir no banco da praça, entrar em baladas com identidade falsa, ou pedir muito educadamente para estranhos maiores de idade comprarem uma garrafa de Bacardi na loja de conveniência — porque eu tinha muitas memórias tensas de chegar em casa e ver meu pai desmaiado na frente da TV; ter que fazer café bem forte para ele antes da minha mãe chegar e deles tendo outra briga por causa disso; dele tendo que se mudar para um apartamento minúsculo, assistindo golfe pela TV sozinho, se arrastando lentamente para a morte.

Aqui vai uma história engraçada: uma vez, depois que ele já tinha morrido, abri a porta do sótão para pegar alguma coisa, e uma cascata de garrafas plásticas de cidra caiu na minha cabeça. Foi um presente final do meu pai. Depois que consegui contar todas — rindo histericamente, porque é isso que você faz quando encara o absurdo da morte — eram umas 40 garrafas de Frosty Jack, escondidas toscamente no sótão para disfarçar um vício que todo mundo sabia que ele tinha. Foi um momento ruim, para ser honesto. Não foi legal.

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Mas agora eu adoro beber! É demais!

No segundo ano de faculdade, decidi que eu era meu próprio homem — que álcool não era uma maldição, que era um vício, que eu era melhor que isso, que eu podia controlar essa coisa, e também que é difícil pacas fazer amizade quando você fica sentado no seu quarto sóbrio, jogando Xbox sozinho. Isso foi antes de saber das estatísticas sobre filhos de alcoólatras: que eles têm de duas a nove (o número mais citado é "três") vezes mais chances de desenvolver dependência de álcool e drogas, e três vezes mais chance de considerar suicídio.

Isso é muito diferente de como eu penso na bebida: o lubrificante das melhores noites da minha vida, algo pra beber e descontrair, os pints que bebo quando estou criando um vínculo com meus amigos. Mas aí me vejo bebendo algumas latas sozinho em casa e pensando: "Tudo bem, né?" Me vejo dois ou três drinques mais bêbado que todo mundo na festa e penso: "Isso… é legal. É OK". Acordo no outro dia de ressaca e esvazio uma garrafa de Gatorade dizendo para mim mesmo: "Não sou meu pai. Eu consigo. Estou no controle".

Sei lá: acho que todo filho de alcoólatra pensa se não está afundando na mesma areia movediça. Minha relação com o álcool é complexa, e para ser honesto, uns dois anos atrás eu estava bebendo demais, de um jeito muito familiar. Minha mãe morreu e eu não sabia o que fazer. Não há uma causa direta aqui — parece que estou atirando no escuro, tentando desesperadamente encontrar um culpado — mas o fato é que a quantidade começou a diminuir lentamente. O álcool era um cobertor onde eu enrolava partes do meu cérebro que começavam a falar alto demais em certos momentos. E isso é ruim, né?

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Acho que muita gente também está presa nesse purgatório: sempre em cima do muro entre "encher a cara e se divertir" e só "encher a cara". Talvez o meu muro seja um pouco mais estreito porque vi o que o alcoolismo pode fazer.

Pessoalmente, estou tentando me afastar do hábito de tomar seis latinhas de cerveja na frente da TV num dia de semana. Estou tentando ser mais responsável comigo e com a minha saúde. Estou tentando emagrecer, porra, porque cerveja te deixa parecendo o Sr. Stay-Puft de peruca. Estou tentando escapar de uma maldição que não é uma maldição, um destino muito óbvio deixado por um homem que veio antes de mim. Mas não quero parar de beber completamente porque… bom, eu gosto de beber, e é difícil separar minha vida social disso sem matar as duas coisas. Não quero admitir que não estou no controle. Mas talvez agora, no ano do nosso senhor de 2016, seja a hora de ser um pouco mais adulto sobre isso. Ou começar a usar crack. Uma dessas duas coisas.

O autor nos seus dias de bebedeira.

JOHN DORAN, COLUNISTA, VICE UK

Então, outro [tosse catarro, segura na boca, cospe no chão] Janeiro Seco acabou. Há alguma indicação maior da nação babaca que nos tornamos do que essa "tradição" nascente? Que tempo escroto para estar vivo. Enquanto falamos, milhões e milhões de tontos dessas terras verdejantes estão exagerando ao contar para os amigos sobre sua "luta" para ficar sóbrio nas últimas quatro semanas; como eles "quase não conseguiram", como se estivessem falando da Carga da Brigada Ligeira.

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Olha, não quero ser estraga prazer, mas só um idiota acha que essa coisa de Janeiro Seco funciona. Só um idiota acha que só comer fruta, praticar ioga e fazer enemas nas segundas-feiras significa que você pode dar um tiro na própria cara em algum outro dia da semana — porque não é assim que funciona. E é a mesma coisa com o álcool.

Qualquer idiota consegue parar de beber por quatro semanas quando pode contar do dia 31 ao zero. A dificuldade real (e os benefícios também) está em não beber alguns dias por semana — ou, deus que me perdoe, beber mais responsavelmente. Em vez disso, temos quase a mesma coisa que um concurso de quem bebe mais — um período quase inútil de sobriedade que coloca pressão nos órgãos internos, com benefícios que são pisoteados pela manada que invade os bares em 1º de fevereiro. É a mesma coisa que o banqueiro cheirador que para com o pó toda manhã de sábado, independente de quanta merda colocou no nariz durante a semana, e tem pouco a ver com saúde.

Mas tudo na cultura do álcool no Reino Unido é hipócrita e mal pensado. Quanto mais vontade temos de beber, mais risíveis ficam os conselhos que recebemos de cima. Na Grã-Bretanha, mais de nove milhões de pessoas bebem "mais do que deveriam", e esse número vai subir dramaticamente depois que o governo divulgou novas diretrizes severas de consumo de álcool algumas semanas atrás.

Falando como um alcoólatra crônico (em recuperação há sete anos), que esteve bêbado quase todo dia por uns 20 anos — que quase morreu várias vezes por causa disso; que, na média, excedia as diretrizes do governo em 20 ou 30 vezes por semana — acho que posso dizer que tenho um cavalo nessa corrida apesar de ter parado de beber agora.

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Todo mundo que bebe sabe que essas diretrizes são um desperdício de dinheiro público, e ninguém presta atenção nisso a não ser as pessoas que já bebem moderadamente.

Ligações mais claras já foram encontradas entre álcool e câncer do que era evidente da última vez que eles atualizaram isso 20 anos atrás, mas a diferença que isso fará para aqueles que já bebem moderadamente são desprezíveis. Os novos números refletem um desejo do establishment médico de derrubar o risco de morte por álcool para abaixo de 1% — o que eles consideram um número razoável. Mas segundo o professor Sir David Spiegelhalter, especialista em análise de riscos, é importante colocar esse número no contexto. Acontece que se seguirmos as diretrizes agora, é mais perigoso assistir uma hora de TV ou comer bacon duas vezes por semana.

Em breve! Novos relatórios do governo afirmam que você pode reduzir o risco de ser atropelado só saindo de casa uma vez por semana, entre 11 da manhã e 4 da tarde. Tudo baseado em estatísticas 100% corretas!

Novas estatísticas do governo! Reduza o risco de ser escolhido Papa não se convertendo ao catolicismo e reduza a risco de cair de cara em merda de urso não rolando no chão da floresta!

A imagem real do álcool no Reino Unido — aquela que é ignorada no Janeiro Seco — é desastrosa. Aproximadamente 1,5 milhão de pessoas são cronicamente viciadas em álcool ou sentem que não conseguem controlar o quanto bebem, e dessas, 33 mil morrem por ano por incidentes relacionados ao álcool ou por beber cronicamente.

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Para todo mundo que está lendo isto e é feliz, saudável e vai beber hoje — espero que você se divirta. Isso não é problema meu, sério. Poder beber é ótimo; chegar num ponto onde você tem que parar não é. Para meus irmãos e irmãs que largaram a bebida: continuem fortes, levantando todo dia tranquilo por não ter que ligar para o trabalho fingindo que está doente e se desculpar com seu parceiro/pais/amigos. Para quem bebe e sente que não está no controle da experiência (quem realmente sofreu para se manter sóbrio em janeiro) ou não tira mais nenhum prazer disso, por favor, procure ajuda profissional. Parar (ou moderar, se isso for o certo para você; alcoolismo crônico e exagerar às vezes não é a mesma coisa) é difícil, mas se um babaca como eu consegue, você também pode. Boa sorte.

O livro de John Doran sobre sua luta contra o alcoolismo e as drogas, Jolly Lad, está disponível na Strange Attractor.

HANNAH EWENS, EDITORA JÚNIOR, VICE UK

A festa na casa de alguém foi o começo. Todo mundo combinou de passar a noite na casa de uma amiga que tinha os pais mais blasês, que não ligariam de pegar seis adolescentes barulhentas às 3 da madrugada.

Na manhã seguinte, me vi usando uma fantasia sexy de Alice no País das Maravilhas, abraçada com a privada e babando no tapete do banheiro. Liguei para o meu pai me buscar — o cavaleiro estoico que sempre levava todo mundo para casa — e ele me colocou fisicamente no banco da frente de seu Ford Galaxy. No caminho, vomitei toda vez que ele pisou no freio, virou uma esquina muito rápido ou parou no semáforo. O vômito foi se acumulando no espaço para as pernas na frente do banco. Depois de meia hora, ele já estava cheio. Quando paramos, uma onda de vômito sujou minhas meias, o que me fez vomitar ainda mais forte pelo nariz. Meu pai ficou sentado lá em silêncio, não puto, não desapontado. Apenas aceitando, como em toda vez em que fiz merda nos dez anos seguintes.

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Aí veio a universidade: um experimento social distópico onde amizades são baseadas em beber através de funis, tubos e outros itens de cozinha não relacionados. Beber é igual a ser divertido, portanto não beber é igual a ser chato. Quando a segunda onda de transtornos alimentares caiu sobre nossas amigas, pular o jantar para tomar uma garrafa de vinho e transar com alguém do escritório se tornou a norma. E a curtição antes do jogo era incomodar os outros passageiros, enquanto sua amiga mais exibida enfiava os peitos na cara de alguém. Todo final de semana. Apesar de tudo, isso parecia liberdade.

Até você ser parte de uma geração que chega ao meio dos 20 anos e se sente apática. Para mim, isso era aceitar que a manhã seguinte sempre significaria ansiedade passando pelos meus ossos. Sem o conforto de um cobertor de amigos empilhados na cama com você, ou de passar o dia seguinte inteiro gemendo de ressaca, isso era diferente. Aquele senso de "todos estão nessa juntos" sumiu.

Fora alguma grande farra ocasional, geralmente só bebo uns dois drinques hoje em dia. Digo isso como se fosse um tipo de epifania de saúde, mas aconteceu parcialmente porque, nos últimos anos, estou falida — falida pacas — então não posso ir a um bar de Londres. Quando eu for rica e famosa, talvez eu volte a vomitar nos sapatos dos pedestres. Até lá.

SAM WOLFSON, EDITOR EXECUTIVO, VICE UK

As pessoas adoram me contar as merdas que fizeram quando estavam bêbadas. Não sei muito bem por que — não sou tão confiável assim e não sou muito bom de contato visual — mas, do meu grupo de amigos, acabei sendo o confessor de relatos de boquetes desastrados e sinais de trânsito furados, crimes cometidos sob a influência de nove Stellas e um saco de Doritos.

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Quando as pessoas contam essas histórias, a bebida é a primeira coisa que elas tiram do caminho, quase como um aviso no começo de um filme. "Eu nunca tinha bebido tanto" e "esse vídeo contém imagens fortes" têm a mesma importância para a narrativa que se segue — algo para você manter em mente.

É assim que deve ser. O álcool é a parte menos importante de qualquer balada. Só os piores otários baseiam sua noite inteira no que vão beber. Para a maioria das pessoas, beber é só um meio para um fim. Mas este ano, eu realmente participei do Janeiro Seco, e senti minha vida inteira mudar de cor. Não sou uma pessoa sombria, mas parar de beber realmente me fez perceber que havia mais confusão na minha vida do que eu pensava. Embaraços mentais se desfizeram. Consegui seguir uma linha de pensamento sem ser nocauteado por suas implicações.

Não que tudo na minha vida mudou, ou que eu me senti mais saudável, ou que minha pele melhorou. Foi mais como se você estivesse usando meias molhadas o dia inteiro, aí chegasse em casa e colocasse meias secas e limpas. Te falei que não sou um cara sombrio.

Deus sabe que eu mal podia esperar para começar a beber de novo. Abstinência, vegetarianismo, celibato, segurar peidos — imagino que todas essas coisas tenham suas vantagens, mas considerando que você só tem uma vida, parece desperdício gastá-la não fazendo essas coisas.

JOE BISH, REDAÇÃO, VICE UK

Eu pretensiosamente me esquivava de beber na adolescência. Enquanto meus colegas iam para o parque ou para a casa de alguém virar garrafas de vodca azul para vomitar tudo depois, eu estava lá rindo, enrolando becks, confuso e irritado com essa palhaçada inútil. O que mais me incomodava é que eles não gostavam realmente uns dos outros, então enchiam a cara para tornar a companhia entre si mais suportável. Na época eu achava isso o auge do despropósito, sem saber que usar narcóticos para tornar a humanidade mais suportável acabaria sendo uma constante na minha vida.

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Foi só quando consegui meu primeiro emprego, na tenra idade de 16 anos, que mergulhei de cabeça no mundo do álcool. Eu estava trabalhando numa gravadora para evitar a faculdade. Eu queria sair com os caras mais velhos — pessoas que "me entendiam" — não aquela molecada bêbada patética. Depois de alguns meses, os inevitáveis sinos de Natal começaram a badalar. Aquela seria minha primeira festa da firma, então decidi aproveitar isso bem e tomar algumas doses. Como em qualquer negócio da indústria da música, a festa era open bar a noite inteira, com a conta chegando aos milhares. Comecei a noite com um coquetel chamado "Wibble", um líquido vermelho num copo de formato estranho. Tive algumas conversas, dei umas voltas, tomei algumas cervejas. Aí veio o ponto sem volta. Passei para o vinho tinto, sendo isso um dos pilares da minha infância e muito menos gasoso que as garrafas de breja. Tomei uma taça, tomei outra, dancei, aí tomei mais duas. Comecei a gritar piadas para as pessoas e cambalear pelo local, quase derrubando um cavalo gigante de papel machê, aí tomei mais vinho.

Só lembro de acordar sentado com as calças arriadas no banheiro, fazendo cocô. Fui acordado por um segurança nervoso esmurrando a porta, dizendo que o lugar estava fechando. Atordoado, levantei a calça e subi o zíper. Abri a porta do reservado e imediatamente vomitei na pia. Meu vômito era vermelho-escuro.

Sai e encontrei todos os meus amigos me esperando. Estava nevando e eu estava só de camiseta porque meu casaco ficou na chapelaria. Dei meu recibo para alguém que foi buscar o casaco para mim, me apoiei no ombro de um amigo, depois vomitei nele.

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Entramos num táxi e fomos para a casa de alguém. Enquanto eles ficaram acordados usando drogas na mesa, dormi no sofá. A casa não tinha aquecimento e estava insuportavelmente fria, mas eu estava tão passado que dormi direto. No dia seguinte todo mundo, incluindo eu, pegou um táxi para o escritório. Eles comeram McDonalds no café da manhã, mas eu não conseguia engolir nada. Passei as quatro horas seguintes vomitando periodicamente, deitado num sofá no meio do escritório. Em algum momento, vomitei numa lixeira de arame sem saco de lixo. Um pouco de vômito espirrou no tapete do diretor de A&R. Peguei um táxi para casa não muito depois disso.

Desde então, tenho enchido a cara quase constantemente. Adoro. Essa nem foi minha pior ressaca. Se você quer ouvi as histórias das minhas piores ressacas, é bom me arranjar um contrato para um livro, porque tenho casos absolutamente catastróficos que sempre acabam comigo pagando 80 libras numa viagem de táxi. A questão é, minha primeira experiência com álcool foi exatamente como deveria ser: extremamente excessiva, extremamente vergonhosa e extremamente dolorosa.

EMMA GARLAND, REDAÇÃO, NOISEY UK

Todo ano, uma a uma, as pessoas ao meu redor vão parando de beber. As razões citadas não são morais, sociais ou mesmo de saúde, mas geralmente por falta de interesse mesmo. Alguns nunca começaram e outros pegaram tão pesado na faculdade que agora o corpo deles está pedindo para sair. De qualquer maneira, é fácil desistir de algo que não te faz falta. "Straight meh-dge", diz o editor do Noisey Dan Ozzi. Mas para algumas pessoas, isso se torna mais do que uma escolha ou um estilo de vida — isso é um traço da personalidade, algo que te define, seja "straight edge" ou "alcoólatra".

Meu avô morreu nesta época ano passado, e a maioria das minhas memórias dele envolvem bebida — algumas engraçadas, como quando ele ficou muito bêbado para dirigir e roubou um cavalo para voltar para casa. Algumas não tão engraçadas, como quando ele morreu por vários problemas relacionados ao álcool. Não importa quantas vezes eu o visitasse e tentasse explicar minha dieta vegana ou que só bebia socialmente, ele sempre me oferecia uma vodca com tônica e um ovo cozido no minuto em que eu chegava.

Tenho várias razões para não achar isso triste ou um desperdício, mas para ser honesta, ele viveu do jeito que queria e parecia feliz com isso até o último momento — que ele passou sóbrio, deitado num colchão na sala da casa dele. Em algum lugar na casa dos meus pais, tem uma fotografia desbotada dele vestido de George Michael, o que diz muito mais sobre a personalidade dele do que seu alcoolismo.

Sempre achei que passar por isso com alguém próximo me daria tipo uma cruz para carregar, mas não. O que — não vou beber uma cerveja gelada numa tarde de sábado porque meu vô tinha problemas com a bebida? Muito improvável. Vou rodar várias baladas numa noite, tomando uma dose de Jaegermeister atrás da outra até vomitar em cima da mesa? Talvez não.

Conheço pessoas que baseiam a decisão de onde vão não por quem vai estar lá ou qual é a atividade, mas por quantas cervejas conseguem comprar com 10 paus. Pessoalmente, isso não significa tanto para mim. Eu escolheria uma pessoa ou um salgadinho em particular em vez de um drinque na maioria dos dias da semana, mas se eu tentasse me convencer de que não passo os últimos minutos do expediente de sexta lendo e-mails de trabalho, até alguém finalmente anunciar que a cerveja do happy hour está liberada, eu seria uma grande farsa de ser humano.

Tradução: Marina Schnoor

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