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Música

Manifesto contra o bling-bling

Os copos de plástico passaram a flutes, a bandana passou a cap de marca e o fio de ouro passou a fios de ouro.

Este gajo é do hip-hop… Por que é que a pena de morte foi abolida definitivamente em Portugal? É que gostava de ser eu a condená-los: ainda há quem ache que o The Infamous dos Mobb Deep não é um dos melhores álbuns de todos os tempos. Serão, com certeza, os mesmos que idolatram o flow do Eminem e que acham que a letra de “Burbujas de Amor” do Juan Luís Guerra não é sobre sexo oral. Porém, importa realçar que depois dos pecadores provarem o néctar que lhes paralisaria os pulmões ou sentirem a lâmina que lhes ceifaria a cabeça, também os autores desta relíquia do rap deveriam ser exemplarmente punidos. No mínimo, exilados. Mas para bem longe de todos os bons cristãos, como eu. É que este duo, constituído por Prodigy e Havoc, não faz um disco decente desde o Murda Muzik, que remonta a 1999. Como se isso não bastasse — o suficiente para saciar os meus desejos mais mórbidos —, vieram integrar a G-Unit de 50 Cent a convite do próprio. As diferenças são claras: em 1995, Prodigy usava uma t-shirt desportiva com Hennesy estampado e uma bandana preta que lhe emprestavam uma imagem de youth gangster sem espinhas. Bebia de um copo de plástico branco de festa infantil e brincava com as palavras. Com apenas 19 anos rimava: “I’m only nineteen but my mind is old/ And when the things get for real my warm heart turns cold.” Era o rei de Queensbridge. “Shook Ones”, meus amigos. Havoc também lá estava: aplicava uma indumentária com a mesma inscrição do companheiro. “Cause long as I’m alive/ I’m a live illegal”, era o que dizia. Estava tudo no sítio. Mãos a simular disparos com um revólver diziam muita coisa. Iam ser grandes — e foram. Anos depois a cena mudou. Os copos de plástico passaram a flutes do mais caro champanhe. A bandana na cabeça passou a cap de marcas do meio. Os fios de ouro quadriplicaram-se. Pena os índices qualitativos não terem seguido o mesmo caminho. Defendem-se: “Yeah, I know you can’t believe it… WHOO! We still soakin’ it all in ourselves/ Hollywood Hav’ (yeah nigga), V.I.P. (yeah)/ It’s our means… Curtis… “Billion Dollar Budget” Jackson/ Go ‘head be mad at that man, he the one made us rich/ You ain’t the only millionaires on the block no more/ Ya money is old nigga… smell that? That’s new money nigga/ We filthy rotten rich… (yeah) and we taken advantage (let’s do it)!” … mas estes não. Não sobram quaisquer tipo de dúvidas que todo o seu discurso é darwinista. Aproveito, todavia, para lhes aconselhar uma leitura mais aprofundada das teorias da “selecção natural”, posto que esta não é certamente assegurada através dos atributos que estes dois senhores vão tentando obter. Pior que estes gajos só o marido da Helen Svedin. E por esse até tenho apreço.