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Música

Desta Garagem sai muita música

Há muitos, muitos anos.

A

Garagem é uma editora, agência e produtora que agarrou o drum and bass e o rock pelos cabelos, há 17 anos. Este colectivo, fundado em Guimarães, é conhecido por dar as melhores festas underground. Aliás, amanhã, dia 15, em Lisboa (e sábado, no Porto), a Garagem tem mais duas (saibam mais aqui). Conheço o Marco, o "director" da Garagem há muito tempo e, vai daí, decidi ter uma conversinha com ele, em jeito de balanço de tantos anos de trabalho. VICE: Ei, Marco. Explica-me como é que um gajo de Guimarães se lembrou de apostar no rock e na música electrónica e como é que hoje em dia ainda estás de pé sem um monte de dividas?
Marco: Nos meandros das escolas secundárias, viviam-se momentos únicos, em que se trocavam cassetes, fanzines e tudo o mais. Rapidamente, amigos que viajassem tornavam-se dealers de música, trazendo todas as inovações. Cheguei à conclusão, enquanto aluno do secundário, que era preciso um palco para toda esta subcultura. Comecei pelas matinés, e fui sempre tentando reaver aqueles tempos de ter algo diferente, fazer algo diferente, ao longo deste tempo. Falas de subcultura, mas, actualmente (e com o apoio da internet), será que isso ainda existe ou já tudo é uma mistela de estilos?
Acho que hoje, mais do que nunca, a subcultura é algo que por ser tão raro é tão precioso. Continuo a entender a palavra subcultura como alguém que procura andar contra a corrente, independentemente dos média, e penso ter conseguido. Apesar de toda esta oferta, mantive sempre a mesma linha e trabalhei sempre no mesmos géneros musicais, rock e drum and bass, sabendo esperar nos momentos baixos, e manter-me nos altos. Como vês o panorama português? Vale a pena ser músico em Portugal?
Penso que se vive um momento forte na produção nacional, com inúmeras bandas a surgir todos os meses. As fronteiras físicas, hoje em dia, já não retêm um músico como antes. No presente, um produtor facilmente entra em contacto com editoras estrangeiras e tem a sua música a passar lá fora. Tenho o exemplo disso, com os meus DJs/produtores Bass Brothers, que actualmente têm os seus temas a passar nas playlists dos mais icónicos DJs de drum and bass. E qual é a tua relação com o público da Garagem?
Acho que, desde sempre, o interesse da Garagem foi zelar pela qualidade e habituar o público a festas de qualidade. Certo. Olha, correm aí muitas histórias tuas. Que és um Pinto da Costa dos dancefloors do Porto, um Tony Wilson do rock em Guimarães, trips com os artistas, etc… A malta abusa muito, é?
Neste campo de trabalho, é fácil perdermos a noção de que isto é um emprego tal como outro qualquer. Temos de lidar com egos de artistas, público embriagado (ou num estado alterado) e, portanto, não é uma tarefa fácil. Sou conhecido por ser frontal e duro na forma como lido com as pessoas. Não vejo outra forma de trabalhar neste meio. Sei o que faço, as razões pelas quais as faço, não ando aqui há dois dias e não estou a tentar impressionar ninguém. Sou trabalhador e exijo o mesmo às pessoas com quem trabalho. Tinha uma visão há 17 anos, e tento manter-me fiel a ela. Como já disse, a minha preocupação é manter o selo de qualidade da Garagem. E, sim, um Pinto da Costa, sem papas na língua, sem dúvida. Tony Wilson foi o melhor elogio que alguém me poderia dar. O meu papel em Guimarães era reunir os talentos e impulsionar a cena do rock, através de formações de bandas, organização de concertos… Gosto de pensar que fui o motor do rock em Guimarães e tenho muito orgulho que tenhamos recebido concertos memoráveis, como foi o dos Tédio Boys. Ate hoje, ainda se fala no concerto de uma banda que poucos conheciam, mas que nunca mais ninguém esqueceu. Planos futuros para a Garagem?
Voltei às raízes com o lançamento do álbum dos Parkinsons, o Back to Life. É uma banda que admiro e que acredito ser das melhores a nível internacional. Continuo com as festas de drum and bass, abraçando novas parcerias e pretendo voltar a quebrar barreiras com o lançamento do álbum dos Subway Riders, uma banda que tem vindo a chocar as plateias do país. E, ainda, o novo single dos Parkinsons, que sairá ainda nesta Primavera.