“Prenderam meus Pensamentos, mas Não Calaram a Minha Voz”: Três Anos Sem MC Primo
Mc Primo/reprodução Youtube

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Música

“Prenderam meus Pensamentos, mas Não Calaram a Minha Voz”: Três Anos Sem MC Primo

O produtor paulistano Carlos Nunez fez uma mix em homenagem à obra da lenda do funk da Baixada Paulista.

Muito antes da fase ostentação/putaria do funk paulistano, a Baixada Santista foi uma espécie de marco zero do movimento em São Paulo. Jadeilson da Silva Almeida, mais conhecido como MC Primo, foi um dos principais responsáveis pelo movimento que hoje conta com dezenas de artistas, como Boy do Charmes, Neguinho do Caxeta, Bó do Catarina — MCs cujos vídeos acumulam mais de 40 milhões de views no YouTube. Antes, porém, Primo foi autor de pedradas como "Diretoria", "Espada no Dragão" e "Máquina de fazer dinheiro".

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Há três anos, em abril de 2012, MC Primo, aos 28 anos foi assassinado na porta da sua casa no bairro de Jóquei Clube, em São Vicente, na Baixada Santista. Informações dão conta que Primo chegava acompanhado da esposa e seus dois filhos, quando foi alvejado com 11 tiros. Uma investigação da corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo apontou PMs como suspeitos, que o teriam matado a mando do tráfico da região da Baixada Santista, onde Primo nasceu e viveu.

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Primo era tido como um paizão para diversos MCs da região. Era o seu próprio empresário, tinha dois filhos e acumulava um repertório de quase 20 músicas. A principal delas, "Diretoria", que saiu no Funk Brasil em 2006, do DJ Marlboro, foi fundamental para o MC ganhar destaque na cena funk paulistana.

Nas letras dos proibidões, rolam detalhes sobre crime organizado e os problemas da favela. Falei com o MC Amaral que está no funk da baixada há 10 anos e começou como Chiquinho e Amaral, ele também ajudou na letra da "Diretoria" e disse que Primo era seu padrinho do funk: "Ele levava a gente para os bailes, ele era um cara daora" e completa: "Primo me ensinou muito no funk, ele foi um professor pra mim e pra muita gente".

Em homenagem à obra de Primo, Carlos Nunez preparou uma mix que não deixa calar a voz do MC da Baixada Santista. Ouça enquanto lê o resto da matéria:

Como mostra o documentário Funk Ostentação, a Baixada Santista teve sua primeira geração de funkeiros com nomes como Jorginho e Daniel, Fredinho e Andrezinho, Dinho da VP, Renatinho e Alemão, que mandavam músicas com letras de sacanagem e duplo sentido. A seguir, vieram figuras da segunda escola do funk que começou a cantar o chamado proibidão, como MC Primo, Neguinho do Caxeta, Duda do Marapé, MC Boy do Charme, MC Bó do Catarina, entre outros.

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A baixada sofreu uma série de perdas de MCs, muitos deles que cantavam o proibidão. Além do Primo, o MC Felipe Boladão e DJ Felipe foram assassinados em abril de 2010; MC Duda do Marapé em abril de 2011 e Mc Careca em abril de 2012. As investigações sobre as mortes seguem sem resolução.

"Se não tivesse acontecido isso [o assassinato de Primo], talvez a baixada estivesse mais forte, porque a Baixada Santista é o berço do funk do estado de São Paulo" diz Kondzilla, responsável pela direção de "Espada no Dragão".

"O proibidão aqui da baixada deu uma caída por causa da morte do Primo", relata MC Amaral que acompanha o movimento desde o começo. "Os MCs se sentem reprimidos" e manda: "O funk é uma música da favela, não podemos deixar de cantar a origem da nossa música".

MC Primo faz falta no funk e uma pá de companheiros da música lembram seu legado. O produtor Cuco VDA, do estúdio Bom Bando que trabalha com diversos MCs da Baixada, contou que o estilo de Primo era único: "Ele seria uma referência de alto nível pra galera que está começando. O que foi construído no funk de São Paulo começou na Baixada com ele", completa o parceiro.

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Kondzilla diz o mesmo ao lembrar das mortes dos MCs: "Eles cantavam há 10, 15 anos, eles seriam os artistas que iriam trazer outra bagagem, passar uma visão diferente pra galera que está chegando agora".

A investigação sobre a morte de primo segue em aberto. O movimento, no entanto, segue vivo em nome daqueles que morreram por causa do funk ou pelo funk.

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