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Música

“A Música do Gueto É a Música Pop”

A afirmação é da dupla Zuzuka Poderosa & Nego Mozambique que nos adiantaram um novo som do projeto que fundaram na base da camaradagem.

A história é a seguinte: Marcelo Martins aka Nego Mozambique é produtor e showman. Já abriu os shows da turnê do DJ Malboro em 2003, quando foi pra Europa, passando pelo Sónar, e tem sucessos como "Surfista do Pavão", "Highlander do Funk" e o "Bonde Fumegante". O produtor se mudou para o Canadá em 2011, quando sua filha estava para nascer. Zuzuka Poderosa é a MC que ajudou a popularizar o neo funk junto ao coletivo NOSSA, lá nos idos de 2009, com músicas como "Aí Você Gosta". A mina que vive em Nova York, teve músicas lançadas pela Little Own Recordings e trabalhou com produtores como Kush Arora e Gregor Salto.

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Devidamente apresentados, o lance é que Marcelo solta de vez em quando um novo som ou um remix na sua página do soundcloud, enquanto Zuzuka aproveita o verão americano, em Nova York, para lançar suas músicas. Formada por acaso, a dupla tem sido elogiada - eles inclusive me contaram que viajaram o ano passado inteiro, emplacaram uma turnê na Europa, foram para o SXSW e tem se apresentado bastante em Toronto e Nova York, cidades em que vivem respectivamente.

Aproveitando a rápida passagem da dupla por São Paulo, corri pra saber mais sobre os planos deles e no player aqui em baixo você ouve uma prévia do disco, ainda sem nome que vai sair neste anos.

THUMP: Pra início de conversa, me conta como foi esse lance de dupla? Como tudo começou?
Nego Mozambique: Então, eu não sei muito bem o que dizer sobre isso. Eu sou produtor há um bom tempo. E a Zuzuka também né? Já canta há um bom tempo.

Zuzuka: É, a gente se conheceu na internet, por um remix…..

N: Não, foi uma original.

Z: Não, foi um remix pra celular.

N: Ah, é! Foi Isso! Um dia o Sr. Felipe Benoliel, me disse: "Ai, tu não quer fazer um remix não? É pra uma mina lá de Nova York." Eu não sabia nem o nome dela, só ouvi a voz, me amarrei e falei: "Vou fazer".

Acho maneiro que essa música que vem da comunidade pareça a música pop do Brasil.

E desde então já surgiu a ideia da dupla?
Z: Não. A gente se conheceu pela internet, e eu lembro que o Nego foi pra Nova York pela primeira vez - estávamos fazendo aquela festa que o Nego tocou com um amigo do Chile…

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N: É, isso, o Vicente San Fuente.

Z: Exato, ai a gente começou a ter uma relação musical, né?

N: A gente se encontrou em Nova York e ficou bróder, virou amigo. Estava na casa da Zuzuka, com um monte de gente, ligamos a MPC, tinha mais uns dois caras que também tocavam e cantavam, e … não sei bem por que, mas todo mundo se enturmou automaticamente e foi a primeira vez nos conheciamos basicamente, estávamos conversando sobre os beats e todo mundo 'pô, que legal os beats" , até que falaram: "Porque todo mundo não toca junto amanhã?. A gente volta aqui e ensaia de tarde e à noite todo mundo toca junto."

Z: É, foi isso!

No show de vocês, a maioria das músicas era com a base da rasterinha. O que vocês acharam da rasterinha?
Z: O funk sempre foi bem aceito pelo público dos Estados Unidos. Só que depois veio as influências do zouk, do moombahton, acho que a rasterinha tem muito a ver [com esses gêneros], com a batida, e tem a batida do axé da Bahia, isso também é um beat que todo mundo consegue associar, o tempo, o ritmo devagar.

N: Eu achei incrível na primeira vez que ouvi, mostrei pra todos os meus amigos de Toronto e todo mundo achou incrível, eles achavam que era um dancehall dos anos 80. Mas daquela época que surgiu o som, dentre todas, a que mais me chocou foi aquela do homem aranha.

Vocês já estão há um tempo no rolê. Como têm visto o movimento funk hoje em dia?
N: Acho maneiro que hoje em dia, mesmo com todo esse preconceito que continua existindo, essa música que vem da comunidade pareça a música pop do Brasil, a música que parece com a vida das pessoas. Por mais que isso deixe alguns setores revoltados, falando esse monte de bobagem, como 'funk não é música, funk não é cultura'.

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Z: Mas se você der uma olhada em outras culturas, como no Estados Unidos, a música do gueto é a música pop também.

N: Tiveram algumas pessoas como Claudinho e Buchecha, mas nunca teve uma Anitta da vida antigamente, [uma artista] toda produzida. A Valeska já tem uma carreirona, mas não é que uma Anitta - que é uma pop star do Brasil - usa um beat funk. E isso é uma legitimação do folclore. Do que é o ritmo real que participa da vida das pessoas. E isso acontece no mundo inteiro. A produção da música eletrônica de Angola é INCRÍVEL.

Anitta - que é uma pop star do Brasil - usa um beat funk. E isso é uma legitimação do folclore. Do que é o ritmo real que participa da vida das pessoas.

Vocês vêm pro Brasil uma vez por ano, né? Do que mais vocês sentem saudades?
N: Do clima.

Z: Eu sinto falta do clima e da felicidade das pessoas também. Aqui, as pessoas estão sempre rindo, elas são generosas, elas são doces. Às vezes… sinto que as pessoas de lá são meio frias, não gostam de conversar tanto com as pessoas. Aqui todo mundo é sociável, todo mundo gosta de falar, conversar, entendeu? E isso eu acho bonito nas pessoas brasileiras, porque elas estão sempre… de certa maneira, as pessoas estão felizes. "

N: Acho maneiro voltar e interagir com essa cultura tropical. Quando eu vejo essas pessoas desses países de origem latina, tem uma coisa meio caótica e mais orgânica na organização das coisas, e uma relatividade maior no que diz a respeito às regras da sociedade. Lá onde estou, as pessoas respeitam mais a lei, as regras de trânsito, eles respeitam tudo. Já aqui, tem sempre um lance do improviso, as ruas são zoneadas. A gente está aqui no bairro de Perdizes, se você olha pra janela, você vê uma zona. Uma zona rica, com variedade etc, mas é uma zona.

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Se eu pedisse uma indicação de som, quem vocês indicariam?
Z: Ah, eu sempre mostro o Mc Maromba pra todo mundo. Eu digo: "Você precisa ver o vídeo desse cara!!".

N: Na verdade não lembro muito o nome das pessoas, lembro mais das músicas. Eu gosto de toda aquela galera das antigas, a Deize Tigrona era demais, com umas letras grandes, o duplo sentido, que tem meio no forró. Digamos que isso voltou, mas é outra coisa. Esse lance de você fazer uma versão totalmente limpa e uma versão suja. Quando eu ouço a versão que pode tocar, eu acho mais engraçado do que a proibidona.

Esse lance de vocês cantarem em dupla ficou bem legal. Se eu pedisse para vocês criarem um nome para a dupla, como ficaria?
N: Zuzuka Terremoto.

Z: Nego Mó Sem pique (ou Mó trambique).

N: Também teve uma ideia de um nome bem de longe, como Hurrakan mas uma amiga espanhola não achou uma boa ideia. Acho que "Vampiros Mulatos" seria uma boa. Tem até um ar de banda de forró brega, com a Zuzuka Vestida de Vampira e eu nos teclados.

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