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Música

O Dan Snaith do Caribou Nunca Irá se Encaixar no Sistema

O canadense que se nega a dividir sua música entre eletrônica e orgânica, fala sobre sua carreira e seu disco novo, ‘Our Love’. Se liga.

A evolução das criações de Dan Snaith podem ter refletido tendências do maistream, mas com uma abordagem única e nada convencional. Seus lançamentos anteriores sob as alcunhas de Manitoba e Caribou eram exuberantes explorações do psych pop – The Milk of Human Kindness e Andorra são obras primas da música meio-alternativa desta virada de milênio. Porém, a partir mais ou menos da virada da década, um certo untz, antes discreto, se tornou mais aparente em seu trabalho.

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Os sinais já estavam lá desde antes do seu seminal álbum Swing, de 2010. "Niobe", a última faixa do Andorra, tem uma estética rave latente, e Snaith nunca se sentiu totalmente à vontade em nenhum dos lados da linha que divide a música eletrônica da orgânica. "Lembro que houve um tempo em que você tinha que escolher entre uma ou outra", diz ele. "Mesmo nessa época eu nunca escolhi um lado. Eu estava tão interessado em ambas as coisas - mas era assim, se você tivesse uma guitarra, você não poderia ouvir um disco de house ou algo do tipo, sabe como é? Eu vivi muito em meio a esta mentalidade e sempre achei ela ridícula."

O método dele sempre foi escrever música no computador e então trazê-la à vida com uma banda completa. "Nós começamos a tocar numa época em que a música que eu fazia soava muito como um som de banda, mesmo sendo feita em computador", explica Snaith. "Teria sido ridículo se eu aparecesse atrás de um laptop pra tocar. Eu comecei fazendo isso, mas aí pensei 'isso é frustrante… não é divertido… eu não sei quem está gostando disso, mas eu não estou'.

"Acho que não nos encaixamos bem em nenhum lugar do circuito de shows", Snaith continua. "Nós às vezes nos deparamos com grupos de dance que olham estranho para nós porque temos uma guitarra no palco, ou então, tocando depois de guitar bands, mandamos um arpejo de synth e todo mundo fica 'o que é isso?'. Nós ainda temos essa coisa de não nos encaixaros bem, mas isso é o que eu mais gosto na coisa toda. Somos esse tipo de ser híbrido que conseguiu habitar mundos diferentes."

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A perspectiva musical única de Snaith faz mais sentido quando você descobre que ele se mudou para Londres há quatorze anos. O início do garage do Reino Unido foi uma grande influência pra ele. "A primeira vez que eu ouvi esses álbuns de 2-step, eles realmente me conquistaram ", diz. "E aquela sensação nunca me abandonou. Eu sempre adorei aqueles discos, tudo do Locked on, do Dem 2, Todd Edwards. Eles sempre soaram muito novos e excitantes pra mim. Aquela coisa super suingada, é o tipo de coisa que sempre me conquistou."

Foi mais ou menos no período final de composição do Andorra, lançado em 2007, que ele sentiu uma grande atração pelos sons eletrônicos. "Comecei a sacar mais de dance music e a frequentar mais clubes" ele diz. Um momento decisivo foi assistir o Theo Parrish no pequeno darkroom do clube Platic People, de Londres. Snaith relembra: "Eu fiz amizade com mais DJs e passei a ver o clube como um bom lugar para pensar sobre música". Mas seus amigos não eram os DJs do pub local. Eram caras como Kieren Hebden (Four Tet) e Sam Sheperd (Floating Points). Companhias nada ruins se você pensar na linhagem da música eletrônica alternativa.

O que se seguiu a isso foi o Swim, um álbum gravado por uma banda completa (com dois bateristas!), que alcançou o primeiro lugar nas listas de 2010 tanto da Resident Advisor quanto da Mixmag – dois veículos distintamente centrados em música eletrônica.

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A coisa toda foi feita com o senso de admiração de um outsider. Isso é parte do caráter do álbum. "Eu estava atraído pela dance music e comecei a fazer música influenciado por ela", ele explica. "Mas não sabia se alguém do universo da dance music responderia a isso… Então quando eu vi o Carl Craig tuitar sobre o disco ou quando ouvi que estavam tocando as músicas em Ibiza ou algo assim, isso foi uma surpresa pra mim. Eu não sabia se o disco iria de fato se conectar com o universo da dance music propriamente dito."

Infelizmente ninguém nunca encheu o Snaith de kandis e mostrou a ele as maravilhas do grande mundo rave. "Eu adoraria ir a algum grande carnaval EDM da Ultra ou Daisy como espectador", ele diz. "Quero dizer, eu não tenho problema algum com esse tipo de música. Ela está cumprindo uma função para garotos hypados cheios de droga na cabeça – o que é ótimo. Precisa haver uma música que sirva a este propósito. Mas eu não tenho certeza se a minha música é muito boa pra isso!"

Embora o seu alter ego puramente dance, Daphne, esteja a todo vapor, Snaith já está se distanciando da música de clube com o Caribou em seu novo álbum, Our Love. Ele explica "Eu ouvi muito os clássicos do Stevie Wonder enquanto estava fazendo esse disco, e também muito R&B contemporâneo e aqueles synths super glossy… Esse novo disco não foi, de forma alguma, explicitamente concebido para soar dance music."

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Apesar do mistério por trás de suas motivações, há mais de Dan Snaith em Our Love do que em qualquer disco anterior do Caribou. "Eu queria fazer um disco que se comunicasse com as pessoas o mais diretamente possível e colocar, o quanto fosse possível, a minha vida nele, com a intenção de compartilhá-la com as outras pessoas", ele explica. "Quero dizer, é uma ideia bastante convencional do que um discurso deve proporcionar. Ele é mais claro e direto por conta desta ideia de querer diminuir a distância entre eu e a pessoa que está escutando".

E todo esse papo cabeça sobre dance-ou-não me inspirou a perguntar. Como são os seus movimentos na pista de dança? "Um tanto ridículos", ele ri. "É por isso que eu gosto de clubes escuros, sem iluminação".

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Tradução: Stan Molina