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Música

Cinco vinis obscuros que estão custando pequenas fortunas graças a DJs famosos

Sabe "Ripa na Xulipa"? O clássico brasileiro do Rabo de Saia não sai por menos de R$ 300. Agradeça ao Jeremy Underground.

Esta matéria foi originalmente publicada no THUMP UK.

Época estranha essa em que vivemos, não é? Uma época de descomprometimento, narcisismo desenfreado e um desejo voraz de ser definido por qualquer hambúrguer super recheado que postamos no Instagram. Somos, como dizem, básicos. Mas mesmo o mais básico de nós contém multidões. Essa complexidade emocional — borbulhando sob todos esses filtros e hashtags — se reflete até mesmo na maneira como consumimos música. Você poderia, se estivesse se sentido incrivelmente millennial, dizer que atingimos o ápice da funcionalidade uma década atrás, com nossas músicas digitais invisíveis, que escutávamos num iPod nano dentro de uma bolsinha tricotada. Mas isso era fácil. Fácil demais. Então rimos na cara da funcionalidade como um desavisado optando por um cachecol em vez de um colete salva-vidas no Titanic, e sabe o que aconteceu? O vinil voltou, baby! O bom, velho, pesado e desnecessariamente caro vinil!

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O revival do vinil não anula o fato de que a maioria de nós descobre e consome música digitalmente, em uma escala quase ruidosa. O analógico e o digital estão mais próximos do que nunca, como dois bêbados procurando um Uber, um churrasco grego e um lugar para dormir depois dos clubes fecharem. Lá está você, enfiado na cama com um set do Boiler Room tocando ao fundo, e BANG! Aparece um disco que você simplesmente precisa ter.

Leia: "Acompanhe em tempo real o mercado de vinil do Discogs e fique rico"

Então você corre para o Discogs, porque todo mundo sabe que você precisa do lance de verdade, de goma-laca. Arquivos digitais não servem. Mesmo quando os preços sobem mais rápido do que a pressão sanguínea do John Prescott num bufê livre, lá está você, decidindo entre pagar o aluguel ou comprar um velho clássico obscuro que o Young Marco tocou em uma noite de sábado quente em Rotherham. Essas faixas — que incendeiam o seu cérebro e estremecem o seu córtex auditivo — ganham uma segunda vida em termos de disponibilidade, popularidade e preço depois de serem redescobertas. Aqui estão cinco discos estelares que passaram por essa transformação. Vamos ver o que descobrimos ao longo do caminho…

1. Escape From New York - Fire in my Heart

Tocado por: DJ Harvey, Boiler Room, Milão, 2015

O THUMP fala mais sobre ele do que basicamente todo mundo na cultura de clubes, então não preciso explicar de novo quem é o homem, o mito, a lenda. O que vou explicar é como um álbum esquecido de pós-disco saiu da obscuridade para ser vendido por £250 [cerca de R$ 1.080] em um espaço de seis dias.

Depois de impressionar o público chique de Milão com o tema de A Fantástica Fábrica de Chocolates, o velho Harvey foi mais além, provocando a plateia como sempre faz, e permitiu que essa melodia hipnótica ressoasse pela pista antes de introduzir aquela linha de baixo. Nascia uma febre. Essa febre valorizou o disco original, e como nem todo mundo pode gastar a maior parte do seu salário num disco, houve demanda para uma reedição. Felizmente, o selo australiano Isle of Jura escutou o público — e agora até aquele cara que discoteca nas noites de quarta-feira no Oceana, em Wrexham, está tocando esse disco. Vai te custar £8.99, enquanto o original saía por um valor entre £195.41 e £977.06. Quero dizer, é um disco fantástico, mas que disco é fantástico a ponto de valer isso?

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2. Rabo De Saia - Ripa Na Xulipa

Tocado por: Jeremy Underground, Boiler Room, Paris, 2015

O Jeremy Underground é um desses caras que, como o nome dele sugere, provavelmente passa tempo demais em lojas de disco. O que, considerando o trampo dele, até que dá para entender.

Ao final do seu set no Boiler Room de março de 2015, em Paris — que continha faixas de nomes como Dungeon Meat, SE62 and Fjaak — Jezza nos apresentou ao paraíso boogie brazuca que é "Ripa na Xulipa", do Rabo de Saia. A internet ronronou de prazer. A última pessoa que comprou o disco — segundo o Discogs, pelo menos — pagou £47.55 [cerca de R$ 200] por ele, e o comprador anterior desembolsou £70 [cerca de R$ 300] por seis minutos de música. A faixa também apareceu em uma compilação lançada pela Favourite em 2014, chamada Brazilian Disco Boogie Sounds (1978-82), que você pode conseguir por um preço bem mais razoável: £15 [R$ 65]. É uma seleção de nove faixas pelo preço de uma saída. Sensacional.

Falei com os caras da Mr Bongo, uma distribuidora de world music de todo tipo, baseada em Brighton, sobre por que a disco music brasileira é vendida por um preço tão alto. "A maior parte da disco music já tinha sido descoberta, então (originalmente) ninguém se deu ao trabalho de explorar a disco music brasileira, mas agora que o resto foi descoberto e editado, a disco brasileira é novidade, então é muito empolgante."

3. Cláudia - Com Mais de 30

Tocado por: Floating Points, Última Edição da Plastic People

O Floating Points definitivamente não tem medo de transitar entre os gêneros, e outra pérola brasileira, "Com Mais de 30", da Cláudia [composição original do Marcos Valle], apareceu em alguns dos sets dele — inclusive na sua última aparição na Plastic People. Dei uma olhada nos preços no Discogs, e a única versão desse single está sendo vendida por £21.15 [cerca de R$ 90] e é enviada do Brasil. Tá achando caro? É, mais ou menos, mas não surpreende, especialmente quando comparado ao LP Jesus Cristo, de 1971, lançado pela Odeon, que tem essa faixa e atualmente é vendido por um valor entre £75 e £400 [entre R$ 300 e R$ 1.700]. Vale lembrar que muitos desses discos a preços exorbitantes ficam encalhados, mas a inflação no Discogs é assunto para outro cara endividado explicar.

A Mr Bongo está vendendo o single por um pouco menos. Disse a eles que, se não vendessem baratinho essas pérolas em 7 polegadas, o mercado original ia sair fora de controle, mas eles não concordaram. Em vez disso, argumentaram que sempre vai ter quem procure os discos originais, como se eles fossem uma espécie de aspirador de dinheiro, o que parece certo se você pensar em como as pessoas gostam de colecionar coisas.

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Eles concordaram, no entanto, que houve uma mudança na sua clientela depois do Floating Points tocar esse disco, um aumento no número de pessoas jovens comprando os sons que eles vendem. O problema é que — para mim, pelo menos, e para a minha aplicação da teoria trickle-down ao mercado do vinil [em suma, quanto mais riqueza acumulam os ricos, mais eles investem, provocando redução de preços e maior consumo] — o disco já era bastante procurado antes do Sam Sheperd tocá-lo. Como Matt me disse, "muitos dos discos que lançamos em 45 RPM já estavam na lista de muita gente, muito antes do Floating Points chamar a atenção por tocá-los, então muitos são discos que sabemos que as pessoas estão procurando de qualquer forma".

4. Sonny Jenkins and the New York Potpourri Strings - That Friday Pay (Eagle Flying Day) Part 1

Tocado por: Motor City Drum Ensemble, Dekmantel 2014

Como DJ e produtor, ao longo dos anos, Herr Danilo Plessow nos surpreendeu com uma pérola good vibe atrás da outra. O set dele no Dekmantel, em 2014, é diversão garantida e o acompanhamento perfeito para quatro latas de uma lager com um volume alcoólico de respeito.

Qualquer DJ que se preze tem a habilidade de encher os bolsos dos colecionadores, e o MCDE não é exceção à regra. Esse disco do Sony Jenkins nunca foi muito barato, mas depois daquela fatídica tarde de verão, passou a ser vendido por mais de £202 [R$ 875].

O MCDE falou com a revista Crack sobre a questão de alguns discos se tornarem mais procurados, caros e raros depois dele tocá-los. Ele disse que o aumento do preço de "Keep The Fire Burning", do Gwen McCrae, levou até mesmo a uma discussão com uma frequentadora de um clube: "Toquei na Austrália recentemente, e essa garota veio até mim e disse: 'Você é um filho da puta, fez esse disco custar £50 [R$ 216] e agora não posso comprá-lo!'". E sim, ele ainda custa £50. Valeu, cara, vou ter que viver de esterco e chorume até cair o meu salário. Valeu.

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5. James Brown - I'm Satisfied (Underdog Edit)

Tocado por: Caribou, Essential Mix, BBC Radio 1, 2014

A capacidade de abrir um rombo na sua conta bancária desse edit estendido e deliciosamente funk não é tão fácil de entender. Foi tocada pelo MCDE, mas também pelo Todd Terje e pelo Caribou, também conhecido como Dan Snaith, ou o Cara Mais Legal da Dance Music, que a incluiu no seu sensacional Essential Mix para a BBC Radio 1, ainda em 2014. Então nos deparamos, mais uma vez, com a terrível complexidade da economia do vinil.

Como eu disse, essa aqui de fato sustenta a minha tese, diferentemente de quase todas as outras que vêm com todo tipo de ressalva — e foram tocadas pelo Todd Terje. Por prudência, devo ressaltar: o MCDE a tocou em agosto de 2014, o Caribou, em outubro, e para por aí. O resto é mera conjectura. Em 17 de outubro, uma versão dos Underdog Edits foi vendida por £28 [R$ 121], sem capa. Antes disso, em setembro, o disco foi vendido por £8 [R$ 34], também sem capa. Até aí, o valor mais alto alcançado pelo disco havia sido £14 (com a capa) [R$ 60], em 2013. Depois de outubro, ele passou a ser vendido por uma média de £40 [R$ 173], mas chegou até £60 [R$ 260] neste ano. Este é um claro exemplo de uma faixa que foi "descoberta" e da influência de que desfrutam esses DJs — neste caso, o Caribou, ou um efeito de bola de neve envolvendo ele e o MCDE.

Nick está no Twitter.

Tradução: Fernanda Botta

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