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Música

Raquel Krügel Fugiu da Copa para Fazer os Sons do ‘ЯK’

Trocamos uma ideia com a produtora e ilustradora que nos contou como um período de reclusão levou à produção do seu primeiro EP.

Quando não está trabalhando como ilustradora, Raquel Krügel tira um tempinho pra se dedicar a outra curtição, a música. A mina que começou a mexer num Ableton Live em 2006 se emburacou num caminho sem volta. Quando se deu conta, estava inteiramente dedicada à produção de som o que deu origem ao EP ЯK, terceiro lançamento da label Subsubtropics Records.

Enquanto a galera chorava largado com o 7 a 1 durante a Copa do Mundo, Raquel preferiu fugir do apito das vuvuzelas para se trancar em casa e produzir as faixas "HAUSINTHAHAUS" e "L - ∑v∑n", mostrando que o isolamento criativo pode ser mais recompensador que se juntar à torcida com-muito-orgulho-com-muito amor.

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Além de batalhar pra trampar com seus desenhos e sua música, Raquel agora toca seus projetos com mais calma. Batemos um papo com ela sobre esse novo som, e a mina nos contou como começou a manjar dos equipamentos e passou a desenvolver sua técnica, ainda que muitas vezes seja treta trabalhar com o quese gosta. Saca só as músicas do ЯK enquanto lê a entrevista.

THUMP: Quando você começou a se interessar pela música eletrônica e produzir seu próprio som?
Raquel Krügel: Sempre me interessei por música em qualquer modo de criação. A música eletrônica pra mim foi uma maneira muito mais fácil de ter acesso aos instrumentos musicais em geral. Você tem uma biblioteca de samples desses instrumentos, você pode também captar sons e trabalhar cada onda, modular o que você quiser e como quiser. Essa gama de possibilidades que os softwares de áudio disponibilizam é realmente fascinante e sobretudo econômica. Em 2006, tive o meu primeiro acesso ao Ableton Live e fiquei fascinada. Era como desenhar, um prazer no mesmo nível, digo. Eu trabalhava em uma agência de publicidade na época e lembro que instalei o A. Live e ficava mexendo nele entre um job e outro. No final de 2007, tive acesso ao Logic e desde então é o meu meio principal para produção de som. Às vezes uso o Live junto, mas sou muito amadora com ele.

Você costuma definir seu estilo?
Difícil definir. Nem mesmo quando abro um projeto novo sei o que virá. É uma incógnita, mas a base das minhas criações é sempre dada pela vida e um pouco menos da metade disso pelas influências do que escuto no momento. Além disso há também as limitações dos meus recursos. Uso apenas um controlador midi e a biblioteca do Logic para compor tudo. Passei um bom tempo apenas com o laptop e usava o teclado do próprio computador, sem automatizar nada, nenhum knob, só usava o capslock como teclado. Além de ser bem difícil de se satisfazer com algum resultado do que fazia (o que até hoje ainda é), era tudo muito precário em todos os termos. Os timbres são muito manjados e modular um som de synth ou transformar minimamente algum kit de bateria é um trabalho demorado demais, sobretudo nesse caso. Enfim, acredito que se houvesse um 'estilo', esse seria definido através dessas circunstâncias todas e, por fim, o resultado sonoro acaba sendo algo viável e intencional dentro dessas possibilidades.

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Conta um pouquinho sobre o EP ЯK, qual é o conceito por trás das músicas?
As tracks do EP foram feitas em junho de 2014, na época da Copa do Mundo no Brasil. As ruas de São Paulo se tornaram um grande caos. Eu trabalhava em casa e não precisava sair muito. Assim que recebi uma grana OK, literalmente me encerrei em casa nesse período de loucura coletiva e só fiquei em cima desses sons e dos meus trabalhos de ilustração. Foi nesse meio que surgiram as faixas. Não há um conceito específico que delineia esses sons, há sim essa situação de isolamento dentro do próprio caos social.

ЯK são suas iniciais, mas teve algum outro motivo que te levou a dar esse nome ao EP?
Na verdade nunca me preocupei em ter algum nome para os meus projetos musicais. Nunca fundamentei conceitualmente o que produzo. O nome dado ao EP foi escolhido pelo Vini [da Subsubtropics] e eu acho que realmente retrata essa despreocupação que tenho com isso, rs. É direto e não há floreios pra explicar o que simplesmente pode se ouvir, sem linguagem verbal que o resuma ou o restrinja.

Vi que você também é ilustradora. No seu trabalho, a música e as ilustrações andam juntas?
São meus dois grandes prazeres na vida e ambos são ilustrações das próprias vivências. A ilustração propriamente dita é meu ganha-pão (trabalho com o qual, aliás, é muito duro de se manter). Mas eu edito vídeos, trato fotos, o que surgir em relação a área visual eu me interesso. Como eu não sei fazer bem feito nada daquilo que não me desperta o interesse, ainda insisto em trabalhar com isso. Às vezes, fico meses sem um trabalho que garanta, no mínimo, o pagamento do meu aluguel e a situação beira sempre ao limite. Muitas vezes produzo algum som claramente sob essa influência da dificuldade de se manter sem ninguém ou nenhuma segurança financeira. É pesado, muitos amigos talentosos que tenho sabem e vivenciam situações semelhantes dia após dia. É uma luta sem fim poder viver e fazer o que se gosta.

Depois de ЯK, o que mais está por vir?
ЯK representa uma passagem pelo isolamento e uma "abstinência" breve e temporária do mundo em geral. Atualmente tenho produzido com muito mais paciência e sem a fugacidade explosiva de começar e acabar uma track, sem pausa pra reouví-la, trabalhando o que poderia ter sido mais intenso ou melhor encaixado com a intenção do que componho. Eu costumava criar um projeto e varar dois, três dias e noites direto, até acabar. Hoje não vejo a mínima vantagem em fazer isso, a intenção sai precipitada e você pode perder uma boa melodia ou timbre por pura ansiedade de produzir… De "esvaziar", digamos, a alma. É tudo realmente muito circunstancial e justamente por isso é necessário pausar, desligar-se daquilo e retomar, escutar o que se fez até então, apagar tudo e, sim, desistir se for o caso.

Atualmente estou com alguns projetos coletivos onde trabalho mais bateria e não tanto outros instrumentos, como synths. Estou construindo alguns kits de bateria com sons captados de coisas, objetos e situações sonoras. Capto o áudio e recorto, trabalho em cima e crio um kit de bateria singular. Demora, mas é uma experiência interessante e não tão óbvia quanto modular a biblioteca de timbres já existentes nos softwares de áudio.

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