Bad$ista transformou o Brasil dela num EP
Lucas Sá; Arte: Erro Overdrive

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Música

Bad$ista transformou o Brasil dela num EP

A produtora paulistana de 21 anos lança seu primeiro trabalho oficial (pelo selo Funk na Caixa) e ressignifica suas influências através das lentes da mulher periférica.

O nome Bad$ista foi escolhido por Rafaela Andrade, paulistana de 21 anos, com cuidado. A produtora, pensando na imagem durona que queria passar com seu trabalho, chegou à sua alcunha artística depois de uma briga com o irmão. "Eu queria parecer mais brava pra Bad$ista. Mas você vem aqui conversar comigo e vê que isso é mó 'meteção de mala'", fala.

A Rafaela é bem diferente do que a Bad$ista parece ser. Quando começamos a conversar, ela parecia tímida, falava baixo, olhando pra mesa. Segundo ela, essa vocação pra timidez é herança do tempo em que morou em Natal, na adolescência. "Aqui em São Paulo tudo é muito acelerado então, quando eu voltei pra cá, eu era mó bicho-do-mato. Eu não sabia de várias coisas, era muito ingênua, inocente", conta a paulistana, que, depois de curto período no Nordeste, voltou pra Itaquera quando tinha 14 anos.

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Os três anos que Rafaela passou em Natal foram o bastante pra que alguns primos músicos, que faziam turnês pelo Nordeste com sua banda de forró, um primo produtor e uma prima cantora a influenciassem a abraçar a música. Depois de anos aprendendo violão por si só, fez alguns cursos do instrumento e, quando voltou pra São Paulo, formou uma banda de rock com os amigos.

"Foi bem na época que tava acabando o emo e rolando aquele som mais pesadão, com gutural. A gente tinha muita influência do Paramore, do Underoath e tal. A gente não queria chegar em nenhum lugar com aquela banda, a gente só queria se divertir," conta. Alguns anos após o fim da banda, a diversão acabou virando um ofício. Rafaela conseguiu uma bolsa do ProUni pra um curso de Produção Musical e, pra se sustentar enquanto estudava, começou a tocar em bares.

Depois de terminar o curso e de tocar em algumas bandas, em um duo e até sozinha, só voz e violão, Rafaela acabou cansando do rolê e desanimando da música. "No meio do ano passado, eu tava muito 'bad', planejando fazer um mochilão na cara dura, queria sair de São Paulo. Aí uma amiga me chamou pra um rolê lá no Centro Cultural da Cidade Tiradentes, e quando eu cheguei, quem tava cantando era a Lei Di Dai." Foi aí que as coisas engataram para Bad$ista.

Na época, Lei Di Dai participava do Pulso, projeto de residência artística da RedBull. Ao conversar com Rafaela, a rapper disse a Bad$ista pra encontrá-la na RedBull Station, às 10 da manhã de uma segunda-feira. "Passei o final de semana ansiosa, na segunda-feira 6 horas da manhã eu já tava acordada", ela conta. Já na Red Bull Station, Rafaela começou a fazer parte do processo de composição do disco em comemoração aos 10 anos de carreira de Lei Di Dai. "No CD, saíram 8 produções minhas. E são faixas muito legais, tem música com o Kamau, sabe? Eu, Rafaela, nunca imaginaria que eu faria uma música com o Kamau."

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O nome Bad$ista foi escolhido por Rafaela Andrade, paulistana de 21 anos, com cuidado. A produtora, pensando na imagem durona que queria passar com seu trabalho, chegou à sua alcunha artística depois de uma briga com o irmão. "Eu queria parecer mais brava pra Bad$ista. Mas você vem aqui conversar comigo e vê que isso é mó 'meteção de mala'", fala.

A Rafaela é bem diferente do que a Bad$ista parece ser. Quando começamos a conversar, ela parecia tímida, falava baixo, olhando pra mesa. Segundo ela, essa vocação pra timidez é herança do tempo em que morou em Natal, na adolescência. "Aqui em São Paulo tudo é muito acelerado então, quando eu voltei pra cá, eu era mó bicho-do-mato. Eu não sabia de várias coisas, era muito ingênua, inocente", conta a paulistana, que, depois de curto período no Nordeste, voltou pra Itaquera quando tinha 14 anos.

Os três anos que Rafaela passou em Natal foram o bastante pra que alguns primos músicos, que faziam turnês pelo Nordeste com sua banda de forró, um primo produtor e uma prima cantora a influenciassem a abraçar a música. Depois de anos aprendendo violão por si só, fez alguns cursos do instrumento e, quando voltou pra São Paulo, formou uma banda de rock com os amigos.

"Foi bem na época que tava acabando o emo e rolando aquele som mais pesadão, com gutural. A gente tinha muita influência do Paramore, do Underoath e tal. A gente não queria chegar em nenhum lugar com aquela banda, a gente só queria se divertir," conta. Alguns anos após o fim da banda, a diversão acabou virando um ofício. Rafaela conseguiu uma bolsa do ProUni pra um curso de Produção Musical e, pra se sustentar enquanto estudava, começou a tocar em bares.

Depois de terminar o curso e de tocar em algumas bandas, em um duo e até sozinha, só voz e violão, Rafaela acabou cansando do rolê e desanimando da música. "No meio do ano passado, eu tava muito 'bad', planejando fazer um mochilão na cara dura, queria sair de São Paulo. Aí uma amiga me chamou pra um rolê lá no Centro Cultural da Cidade Tiradentes, e quando eu cheguei, quem tava cantando era a Lei Di Dai." Foi aí que as coisas engataram para Bad$ista.

Na época, Lei Di Dai participava do Pulso, projeto de residência artística da RedBull. Ao conversar com Rafaela, a rapper disse a Bad$ista pra encontrá-la na RedBull Station, às 10 da manhã de uma segunda-feira. "Passei o final de semana ansiosa, na segunda-feira 6 horas da manhã eu já tava acordada", ela conta. Já na Red Bull Station, Rafaela começou a fazer parte do processo de composição do disco em comemoração aos 10 anos de carreira de Lei Di Dai. "No CD, saíram 8 produções minhas. E são faixas muito legais, tem música com o Kamau, sabe? Eu, Rafaela, nunca imaginaria que eu faria uma música com o Kamau."

Em meio a tudo isso, Bad$ista começou a trocar ideia com a galera do bass de São Paulo. Lançou "Na Madruga", seu single de maior sucesso até hoje (que, inclusive, ganhou um remix do Branko) pela Beatwise e, depois de remixar um som com o Arthur Gomes, ou Maffalda, que foi lançado pelo Funk na Caixa, Rafaela viu seu potencial descoberto por Renato Martins, dono do selo.

Esse foi o comecinho da concepção de Bad$ista EP, trabalho de estreia da produtora. O projeto, que começou a ser produzido em setembro, iria ser lançado, inicialmente, logo depois do carnaval — o que não aconteceu graças ao perfeccionismo de Rafaela. "A galera tá enchendo meu saco, tipo, 'e aí Rafaela, tá dando uma de Frank Ocean? Tá achando que você é a Rihanna, gata? Vai logo!' (risos) Mas eu não fico estressada com isso porque prefiro demorar e entregar uma coisa boa do que entregar uma porrada de coisa feita nas coxas. Fui dando uma enrolada no Renato enquanto deixava o material massa", conta.

O resultado é um EP animado e tropical, o que pode ter sido resultado da sua interação com Lei Di Dai. "A Dai tem uma influência da música jamaicana muito forte. Comecei a ouvir muita coisa com ela, de dancehall, de ragga, de música eletrônica tipo jungle e drum and bass. Eu ia meio que absorvendo tudo isso e fui encontrando uma identidade pra colocar nesse EP."

Mas não se engane pela influência jamaicana: o suingue do EP conta, sem dúvidas, com muito das diferentes sonoridades brasileiras. "Arrasta Pé", como o nome já adianta, conta com influências musicais do Norte e Nordeste que, segundo Rafaela, fã de Calypso (principalmente "o volume 8, aquele da capa dourada, bom demais"), sempre foram muito presentes por conta de sua mãe. Já "Preta", quase um sambinha, foi inspirada pela vibe mais "de boa" que ela presenciou quando foi tocar no Rio de Janeiro, no carnaval.

"Fervo", o carro-chefe do EP e "Me Dei Bem Na Lapa", por sua vez, exprimem uma atmosfera muito mais urbana e acelerada, como a de São Paulo. Me parece que a Rafaela se esforçou em representar no álbum o Brasil que ela conhece da melhor forma que consegue — e não por acaso. Ela é uma fervorosa defensora da música nacional, principalmente a que tem origem na periferia.

Não tem uma mina produtora e eu não vou esperar aparecer. Eu vou ser essa mina.

"Não sei por que ficam pagando pau pra esses gringos, Skrillex, Diplo. Lá eles têm muita estrutura, eles são incentivados à musica desde cedo. A gente não tem metade do que eles têm e faz o que faz", diz. "Eu fico meio assim, também, com essa história de o funk estar em alta e vários desses boys tão levantando a bandeira, sendo que nunca colaram num baile da periferia."

Apesar do dinheiro sempre ter sido um fator importante, Rafaela diz que sempre foi incentivada pela família a continuar na música. "Eu tô ganhando uma grana que eu não ganharia em outro trampo. Minha mãe curte de eu estar tirando essa grana mas mesmo quando eu não estava ela me apoiava igualmente", conta Rafaela, que cita a mãe e a avó como duas de suas maiores inspirações, desde pequena. Talvez por isso, ela sinta falta de ter mais mulheres por perto na cena.

"Tem muita mina que toca, muita mina que canta, mas mina que produz não tem. Eu não sei qual o papel que as minas exercem nessa cena ainda. Eu acho ela um pouco machista e um pouco preconceituosa com uma classe LGBT." Segundo a produtora, não ser tão levada a sério quanto os caras foi uma das razões pra ela ter se empenhado ainda mais no processo de produção de Bad$ista EP. "Não quero dar motivo pra ninguém falar mal do meu trabalho. Eu tô no front. Não sou uma mina que tem um cara mexendo a marionete por trás. Eu que mando no meu trampo. Não tem uma mina produtora e eu não vou esperar aparecer. Eu vou ser essa mina."

Ouça o EP de estreia da Bad$ista pelo Funk na Caixa no player abaixo ou baixe/faça streaming no seu serviço online preferido.

A Bad$ista está no Facebook // Soundcloud.

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Em meio a tudo isso, Bad$ista começou a trocar ideia com a galera do bass de São Paulo. Lançou "Na Madruga", seu single de maior sucesso até hoje (que, inclusive, ganhou um remix do Branko) pela Beatwise e, depois de remixar um som com o Arthur Gomes, ou Maffalda, que foi lançado pelo Funk na Caixa, Rafaela viu seu potencial descoberto por Renato Martins, dono do selo.

Esse foi o comecinho da concepção de Bad$ista EP, trabalho de estreia da produtora. O projeto, que começou a ser produzido em setembro, iria ser lançado, inicialmente, logo depois do carnaval — o que não aconteceu graças ao perfeccionismo de Rafaela. "A galera tá enchendo meu saco, tipo, 'e aí Rafaela, tá dando uma de Frank Ocean? Tá achando que você é a Rihanna, gata? Vai logo!' (risos) Mas eu não fico estressada com isso porque prefiro demorar e entregar uma coisa boa do que entregar uma porrada de coisa feita nas coxas. Fui dando uma enrolada no Renato enquanto deixava o material massa", conta.

O resultado é um EP animado e tropical, o que pode ter sido resultado da sua interação com Lei Di Dai. "A Dai tem uma influência da música jamaicana muito forte. Comecei a ouvir muita coisa com ela, de dancehall, de ragga, de música eletrônica tipo jungle e drum and bass. Eu ia meio que absorvendo tudo isso e fui encontrando uma identidade pra colocar nesse EP."

Mas não se engane pela influência jamaicana: o suingue do EP conta, sem dúvidas, com muito das diferentes sonoridades brasileiras. "Arrasta Pé", como o nome já adianta, conta com influências musicais do Norte e Nordeste que, segundo Rafaela, fã de Calypso (principalmente "o volume 8, aquele da capa dourada, bom demais"), sempre foram muito presentes por conta de sua mãe. Já "Preta", quase um sambinha, foi inspirada pela vibe mais "de boa" que ela presenciou quando foi tocar no Rio de Janeiro, no carnaval.

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"Fervo", o carro-chefe do EP e "Me Dei Bem Na Lapa", por sua vez, exprimem uma atmosfera muito mais urbana e acelerada, como a de São Paulo. Me parece que a Rafaela se esforçou em representar no álbum o Brasil que ela conhece da melhor forma que consegue — e não por acaso. Ela é uma fervorosa defensora da música nacional, principalmente a que tem origem na periferia.

Não tem uma mina produtora e eu não vou esperar aparecer. Eu vou ser essa mina.

"Não sei por que ficam pagando pau pra esses gringos, Skrillex, Diplo. Lá eles têm muita estrutura, eles são incentivados à musica desde cedo. A gente não tem metade do que eles têm e faz o que faz", diz. "Eu fico meio assim, também, com essa história de o funk estar em alta e vários desses boys tão levantando a bandeira, sendo que nunca colaram num baile da periferia."

Apesar do dinheiro sempre ter sido um fator importante, Rafaela diz que sempre foi incentivada pela família a continuar na música. "Eu tô ganhando uma grana que eu não ganharia em outro trampo. Minha mãe curte de eu estar tirando essa grana mas mesmo quando eu não estava ela me apoiava igualmente", conta Rafaela, que cita a mãe e a avó como duas de suas maiores inspirações, desde pequena. Talvez por isso, ela sinta falta de ter mais mulheres por perto na cena.

"Tem muita mina que toca, muita mina que canta, mas mina que produz não tem. Eu não sei qual o papel que as minas exercem nessa cena ainda. Eu acho ela um pouco machista e um pouco preconceituosa com uma classe LGBT." Segundo a produtora, não ser tão levada a sério quanto os caras foi uma das razões pra ela ter se empenhado ainda mais no processo de produção de Bad$ista EP. "Não quero dar motivo pra ninguém falar mal do meu trabalho. Eu tô no front. Não sou uma mina que tem um cara mexendo a marionete por trás. Eu que mando no meu trampo. Não tem uma mina produtora e eu não vou esperar aparecer. Eu vou ser essa mina."

Ouça o EP de estreia da Bad$ista pelo Funk na Caixa no player abaixo ou baixe/faça streaming no seu serviço online preferido.

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