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Música

Bass Hustlers: Conheça a Jovem Guarda da Cena Eletrônica de Bogotá

Jovens colombianos unem música, artes visuais e design na criação de um crescente circuito dedicado à eletrônica no país.

A primeira festa do Bass Hustlers aconteceu em meados de 2013, em uma casa abandonada de Bogotá onde não cabia nem mais uma alma. Não estavam vendendo nada no bar, e as luzes da festa eram as mesmas que estavam no palco, mas para nós que estávamos lá esses eram detalhes que não pareciam nada importantes. Como numa espécie de acordo tácito, parece que todos concordaram em focar no mais importante: dançar.

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"Deliverance" era o nome das festas que o Bass Hustlers faziam: periódicas entregas de música que não se costumava ouvir nas baladas, com loucos que não paravam de dançar e que geralmente terminavam com bis intermináveis e muitas novas amizades. "Eu conhecia amigos que estavam estudando produção, que frequentavam várias festas e shows," conta Sebastián Montenegro, fundador do selo. "Decidimos convidá-los a participar das Deliverances, começamos a tocar juntos, a nos conhecer e compartilhar música".

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Desde essa primeira festa, o Bass Hustlers cresceu, expandindo-se para todos os lados. Porém, o processo de crescimento não foi imediato: "Não tínhamos muita certeza, mas estávamos motivados a criar algo, e nos demos conta que possuíamos uma atmosfera musical na qual todos podiam propor novas coisas e cada vez mais pessoas se uniam, ou seja estávamos tocando, dançando, colaborando com uma faixa própria, ou simplesmente aproveitando o que estávamos fazendo", conta Sebastián, também conhecido como Spike, que junto com Sätan, também conhecido como Pyramist, Soundfit, Lumber Dean e Lockheed representam a parcela musical do coletivo. A representação gráfica fica por conta de Ice Crystal, que junto com colaboradores como Prismatique e Orgasmo Visual, se encarregam da construção de toda a identidade visual do coletivo. Na parte fotográfica, que começou com André Piaf e BALACLAVA, agora é tocada por TRES TRES TRES, e o coletivo ainda conta com o apoio audiovisual de Messier VJ. E não acaba por aí. O Bass Hustlers ainda tem em seu quadro de colaboradores Dead Pony, que em conjunto com Rat Trap se encarregam do merchandising oficial do selo.

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Hoje, 25 eventos depois, tendo tocado nos lugares mais variados da capital colombiana — e também em Medellín —, todos estão muito satisfeitos em cobrir todos os flancos que um selo sério deve cobrir. Isso sem falar de uma base de sólida de fãs que parece ter ganhado vida própria. Agora os Bass Hustlers começaram sua etapa de selo propriamente dita, como Bass Hustler Records apresentando um EP de Satän, Spellbound além de outro trabalho de Lumber Dean e Sprunden, que foram lançados digitalmente e em CD. Inclusive, há pouco soltaram uma série de podcasts oficiais por meio dos quais lançaram Phases, um projeto com mixtapes de Spike e Soundfit. Falamos com o pessoal do coletivo sobre como cada um tem crescido em seu som, sobre a puberdade da cena eletrônica na Colômbia, e sobre como se sentem em carregar o bastão de uma nova geração de baladeiros no país.

THUMP: Desde que criaram Bass Hustlers até hoje, qual tem sido as principais perdas e ganhos? Como tem sido o desafio de criar um coletivo?
Sebastián Montenegro: A experiência com Bass Hustlers Records tem sido bastante emocionante e de constante aprendizado. O melhor tem sido organizar uma equipe de trabalho com pessoas tão talentosas e apaixonadas pelo que fazem: nos unirmos, começar a propor, criar música pensando em cada detalhe, crescer e trabalhar com pessoas que admiramos e que tem nos influenciado. Embora ainda faltem muitas experiências e projetos a realizar, até o momento o processo tem sido de muito esforço e recompensa. O pior para nós é quando algo não funciona como esperamos, buscamos ser perfeccionistas com nosso trabalho.

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Em meio a esse crescimento e todo esse trabalho que mencionam, vocês sentem que seu som tem evoluído? De que maneira?
Para essa pergunta, decidimos pensar em uma maneira individual entre os produtores e DJs que formam o selo, e assim criar uma resposta em conjunto.

Luis Felipe (Satän – Pyramist) acha que "desenho" não é uma palavra que não tem a ver com seu som, mas que tem crescido com ele, e na medida que sua experiência vem aumentando, sem som se afina. Satän escuta e propõe coisas muito distintas das quais referenciava antes: "Soava mais desesperado, da festa óbvia e crua, quanto mais duro melhor". Agora amadureceu musicalmente e considera que essa energia deve ser diluida. Atualmente prefere uma atmosfera de concentração de hipnotismo em seus sets.

Andrés Felipe (Lumber Dean) crê que não está em seus interesses ter um estilo próprio, o importante para ele é fazer música para que você se sinta confortável ao trabalhar ou mesmo ficar na sua.

Juan Pablo (Soundfit) sente que tem sido um processo, no qual a princípio só se interessava por ele mesmo. "Criava sets que me traziam comodidade, mas com o tempo me dei conta que isso acabava com a possibilidade de ampliar meu gosto musical, e assim alcançar uma melhor conexão com o público". Agora Soundfit soa mais como diversão, baile e união.

Sebastián Montenegro (Spike) aprendeu que o som anda de mãos dadas com as experiências e situações que se apresentam, e que um artista deve experimentar e investigar para poder criar, mas sempre com cuidado. Spike antes soava mais forte e mais diverso, a tal ponto de não encontrar um foco. Agora sente que a investigação e seu trabalho como produtor tem ajudado a criar um caminho, sem se fechar na ideia de criar música pensando em apenas um gênero.

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Qual é a intenção de unir DJs, produtores e designers? Vocês querem dar à cena algo que não seja mais do mesmo?
Como coletivo e como selo pensamos que nosso principal objetivo é e deve ser a música. Contudo, não devemos ficar presos só a essa ideia, devemos gerar propostas cada vez mais globais, mais completas. Por isso estamos construindo um projeto que envolve várias labels e artistas visuais de Bogotá e da Colômbia como um todo, com o qual estaremos falando com o futuro. Acreditamos que o nosso valor agregado é a autogestão e as propostas de, para, e com as novas gerações, nos alegra muito ser um dos selos mais jovens do país e integrar cada vez mais pessoas dentro desse projeto.

Se decidissem definir a atual cena eletrônica na Colômbia, que palavra escolheriam?
É difícil definir toda uma escola nacional em apenas uma palavra. Tentamos fazê-lo e cada um à sua maneira: confusa, pubescente, desapaixonada, desinteressada. No entanto tudo isso é ruim, existem muitas pessoas interessadas em fazer a mudança a partir de seu ponto de vista. A cena está crescendo, é indiscutível, assim como parte de nosso trabalho e de todos os selos, coletivos e marcas é educar e construir. Nos faz falta crescer como cena e deixar de lado coisas que não são necessárias, invejas, rancores, egoísmo… Começar a construir uma cena conjunta, independente, criar música e não ficar cada um por sí, nós temos muitos caminhos mas poucos os encontram.

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Que referências vocês colocaram no pedestal? Vale referência de qualquer tipo.
Há diferentes selos e artistas que temos como referência. Poderíamos mencionar alguns como Bromance, Ultramajic, Items and Things, Relife Records, 50 Weapons, Dekmantell, Boiler Room, Soma, Jeff Mills, SSRecords, Zone, Minus e muitos outros. Quanto a referências próximas de nós mesmos, muitas pessoas têm nos marcado. São muitas as referências e fontes de inspiração de cada um dos nossos integrantes, dessa forma tentamos alimentar o selo e a música que queremos brindar.

Como vocês entendem a cena colombiana? Poderíamos comparar com as ondas artísticas e musicais que acontecem na Europa, por exemplo?

É impossível comparar a cena de cá com a europeia, isso porque lá a música eletrônica e estas manifestações culturais fazem parte de sua história. Aqui temos uma espécie de "homenagem" [a cena de fora]. ou uma interpretação do que acontece por lá, por assim dizer. As pessoas em nosso país têm se conscientizado sobre essa música pouco a pouco. Se deve sentir mais, se deve aprender a escutar, devemos nos educar mais. O panorama eletrônico aqui está crescendo muito, o que falta é nos concentrarmos, deixar de um lado o que nos atrapalha e apoiar mais o local.

Os Bass Hustlers estão no Facebook // Soundcloud

Tradução: Pedro Moreira