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Música

O booker que irritou o mundo inteiro ao convocar "DJs mulheres atraentes" num grupo feminista do Facebook

Justin James entende que “se os clubes quisessem DJs talentosos, eles simplesmente contratariam homens”.

No dia 31 de janeiro, Justin James, um DJ que mora em Orlando, nos Estados Unidos, encontrou no Facebook um grupo chamado "Apoie DJs do sexo feminino", e fez uma publicação convocando novos talentos.

"Se você se encaixa no perfil, por favor me contate diretamente", rescreveu James (que não deve ser confundido com o DJ de techno canadense Justin James) na seção de comentários do grupo. "Não seu empresário ou agência, mas você mesmo. Quero lidar diretamente com você".

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E então, listou os requisitos que as DJs precisavam cumprir para poder trabalhar com ele:

A publicação de Justin James — com a implicação de que DJs mulheres precisavam ter certos dotes físicos para conseguir trabalho lucrativo em clubes — quase passou batido; não teve nenhum comentário em 14 horas, até que chamou a atenção de uma DJ de Berlim chamada Linnea Palmestål, que o chamou na chincha e comentou "WTF???? Por favor, diga que é brincadeira".

Palmestål imediatamente tirou vários print screens da publicação do James e compartilhou no Sister, grupo privado no Facebook voltado para mulheres na música eletrônica — o que gerou uma onda de revolta nos comentários. (O THUMP obteve aprovação da Palmestål e outros membros do Sister para divulgar o nome do grupo neste artigo).

Um membro do Sister, uma DJ que vive no sul da Califórnia, chamada Grace Lamdin (AKA frruitbat), compartilhou a publicação do James em outro grupo de música no Facebook bem popular chamado Classical Trax, atraindo ainda mais atenção negativa para ele. Depois, Lamdin mandou uma mensagem para o James no Facebook dizendo: "Estou ofendida e com nojo do seu critério. Você realmente acha que qualquer DJ do sexo feminino te tratará com respeito se falar com elas desse jeito?"

No telefone, Lamdin, que frequenta a Universdade Pomona e atualmente estuda em Paris, explicou ao THUMP por que ela decidiu bater de frente com o James: "Depois de discotecar no campus no ano passado, tive que lidar com várias merdas com os garotos, porque a maioria dos DJs na minha faculdade são homens. Caras que não tinham a menor ideia do que estavam fazendo tentavam me dar dicas e me assediar sexualmente".

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"Senti que ir atrás do James era um caso perdido — provavelmente não é a primeira vez que ele faz algo do gênero, e muito provavelmente se saiu bem da situação — mas eu estava puta na hora e era a única coisa que poderia fazer", disse Lamdin.

De acordo com os print screens da conversa que James e Lamdin tiveram (uma conversa partilhada na internet e compartilhada com o THUMP), James respondeu para Ladin e reiterou que estava, apenas, fazendo seu trabalho. Estes requisitos não foram estipulados por ele, James disse à Lamdin, e sim pelos clubes internacionais nos quais ele trabalha.

"Eu diria que sinto muito que você está ofendida, mas estaria mentindo", escreveu James. "Sou um DJ com 12 anos de carreira, dono de uma balada e entendo o estado atual da indústria… Se [esses espaços] quisessem DJs talentosos, eles simplesmente contratariam homens".

Justin James (Crédito: Joe Perri)

Convidadas a responder em defesa do James, tanto Lamdin como Palmestål disseram que não compravam essa história — e que sendo uma pessoa com poder na indústria de música, o fato de James não questionar estes padrões sexistas é algo ainda mais inaceitável e prejudicial às mulheres.

"Entendo que, por conta do mundo em que vivemos, a maioria das pessoas que contratam DJs e comandam baladas são homens, e o James é parte deste sistema", disse Lamdin. "Mas não acho que ele está de mãos atadas. Ele não precisa trabalhar para essas pessoas se não concorda com elas moralmente. A indústria está fodida; não devemos ficar de braços cruzados e continuar perpetuando os mesmos posicionamentos. Ele tem muito poder quanto a que tipo de DJs pode chamar para tocar, e obviamente não está fazendo nada para mudar o status quo".

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"Ele está apoiando totalmente as estruturas patriarcais capitalistas de como o mundo dos negócios funciona. Não está, de forma alguma, lutando contra ele", acrescentou Palmestål.

Palmestål também destacou que a tentativa do James em se posicionar como um insider da indústria é absolutamente amadora. "A forma como ele escreveu [a publicação] é muito superficial e condescendente", disse Palmestål. "Ele quer soar profissional, mas está pedindo para falar pessoalmente com essas DJs; não quer falar com um empresário. Ele diz 'Não seja tosco', mas enumerou seus requisitos '1,1,2,3,4,5,5,6' — nem está contando direito. É irônico de tantas formas…"

James acabou por excluir sua publicação do "Apoie DJs do sexo feminino" naquele mesmo dia, mas se mantém firme em relação a seus comentários originais. Em uma declaração publicada no dia 3 de fevereiro em sua página do Facebook, James escreveu: "Em retrospectiva, a publicação que fiz não tinha muito tato, mas a minha intenção não foi maliciosa… Não me importo com a opinião de pessoas com mente pequena". Afirmando que Miss Kittin, Maya Jane Coles, Annie Mac e "aquela garota do novo filme do Zach Efron" são algumas de suas DJs favoritas, James continuou: "O comentário que fiz sobre 'simplesmente contratar um homem' foi um sarcasmo incompreendido", referindo-se aos comentários que fez à Landim, que desde então têm sido compartilhados em todas as mídias sociais.

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but I would still kick that fedora wearing EDM cunt's pathetic ass really hard!!!
— Legowelt Official (@DWolfers) February 2, 2016

Vários DJs têm incentivado seus seguidores a se indignarem com os comentários do James, na esperança de que o caso tome proporções maiores. Derrick Carter escreveu no perfil do Justin James no Facebook "enquanto pessoa gay e negra que já foi marginalizada pelo mundo inúmeras vezes… a declaração de que 'é assim que as coisas são' não passa de um pretexto". (James deletou a publicação do Carter). Em sua página no Facebook, The Black Madonna destacou: "Muitas vezes as pessoas lidam com opressões muito mais sutis. Agora é um ótimo momento para pensar sobre isso". Ela incentivou as pessoas a seguirem grupos feministas como o Discwoman, Female Pressure, Salt & Sass and Nap Girls Int'l.

Outros membros da comunidade de dance music ridicularizaram a atitude do James. Um perfil no Twitter ( @djjustinjamess) satirizou: "Odeio garotas gordas, garotas feias, baixinhas, altas, velhas, mas AMO DJS GATAS! Serei seu #EDMpimp"

new @djjustinjames press photos look sick pic.twitter.com/AktAoRtE2P
— Hotel Garuda (@Hotel_Garuda) February 1, 2016

Ao mesmo tempo que a publicação do James pode ser um dos exemplos mais latentes de sexismo na indústria de música, certamente não é o único. De acordo com uma pesquisa de 2014 conduzida pela Female Pressure, a representatividade das DJs do sexo feminino que tocam ao redor do mundo é pouco menor de 10%.

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Nesta semana, em uma série de tuítes que já foram deletados, a Grimes criticou a grande quantidade de homens indicados ao Juno Awards, e declarou: "Eu acredito que havia mulheres qualificadas além de mim para várias categorias… Não consigo ignorar meu pensamento de que se mulheres fossem igualmente premiadas por trabalhos técnicos, se sentiriam inclinadas a participar mais". David Vincent, dono da Sankeys em Ibiza, também anunciou neste mês que está lançando uma noite para DJs residentes do sexo feminino no seu clube na esperança de diminuir a barreira entre gêneros.

Finalmente, Lamdin destacou que o sexismo destrutivo na dance music é mais complexo do que os trolls do Justin James. "O problema está no preconceito na contratação das DJs, salários desiguais e ambientes de trabalho preconceituosos", diz ela. "É mais sutil e internalizado — não gritante como isso".

"Ainda assim", ela acrescentou, "ele postar aquilo em um grupo chamado 'Apoie DJs do sexo feminino' foi chocante".

Michelle Lhooq é editora de reportagem do THUMP. Siga ela no Twitter

Tradução: Stefania Cannone

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