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Música

"A Gente Tenta Juntar o Óbvio com o Impossível": O RD da NH Está Revigorando o Funk Carioca

O produtor, que ao lado do MC Tipocki e do Omulu criou a rasterinha, fala sobre o funk hoje no Rio, UPP, Araabmuzik e como ser criança é a melhor coisa do mundo.

"É melhor vocês ficarem esperando aqui na associação, porque se tentarem procurar ele lá dentro da comunidade, vocês vão acabar se perdendo", nos avisa a diretora da Associação dos Moradores do Parque Maré, no Complexo da Maré no Rio de Janeiro. Como já é de praxe, nossa viagem até ali não foi sem desventuras: assim que chegamos no Rio para entrevistar o produtor RD da NH (batizado Rodolfo), a Anna esqueceu uma mala com todas as suas roupas em um táxi, que fez o favor de nunca mais voltar. Só sobrou a câmera.

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E lá fomos nós em plena segunda-feira, embaixo da passarela 9 na Av. Brasil, esperar pelo RD, que iria aparecer três horas e várias mensagens do Whatsapp depois do horário combinado. "Eu estava dormindo, o Omulu que me ligou falando que vocês já estavam aqui hahaha". Foi suave, ainda aproveitamos pra comer um pastel com caldo de cana por R$ 3 e trocamos ideia com várias pessoas da comunidade que passavam e avisavam que era melhor guardar a câmera, inclusive a Andrea, diretora da associação, que tentou ligar pra todas as pessoas possíveis que poderiam saber onde o Rodolfo morava.

Os avisos sobre a região não eram à toa, ainda mais pra uma ruiva e para o meu cabelo platinado. O Complexo da Maré já foi palco de grandes conflitos entre traficantes, milícias e forças policiais, e hoje é ocupado pelas forças militares enquanto aguarda a implementação de uma UPP. Nada disso era visível enquanto andávamos pela movimentada Rua Principal com seus bares, moto-táxis e comércios. Mas, na rua ao lado, barricadas e caminhões repletos de soldados abordando moradores nos aguardavam bem em frente à casa do RD, que nos sugeriu nem tentar tirar uma foto.

Morando com mãe, avó e irmãs, ele nos levou pela sua casa até o seu estúdio, também conhecido como seu quarto. MPCs, CDJs, microfone, caixas de som e telas de computador, era impossível não esbarrar em algo que fizesse música. "É assim, a gente no funk faz música com tudo. Uma vez até bati assim na porta do guarda-roupa e fiz um beat maneiro".

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O reconhecimento dentro do funk não difere muito da música pop ou hip-hop, por exemplo, onde o foco sempre é direcionado para o cantor ou MC, e muitas vezes o produtor fica em segundo plano. Se o nome RD da NH pode soar estranho para você, com certeza essa batida aqui você deve reconher:

Pois é, o RD, ao lado do MC Tipocki e do produtor e amigo Omulu, é o principal culpado pelo ritmo rasterinha, que vem encantando produtores do mundo todo e transformando o preconceito da rapaziada contra o funk. Se tá duvidando, se liga só quem passou pelo Brasil recentemente e não deixou de dar um follow na principal conta do Soundcloud do RD (SPOILER: é o Plastician). "Eu não tinha cartão pra pagar o Soundcloud, né, então toda vez que acabava o espaço eu criava uma conta nova. Agora estou com esse 2DJRDDANH pago, mas se não estivesse acho que já estaria na nona conta", explica o RD.

Enquanto ele baixava várias discografias de artistas como Scorpions, Bee Gees e A-Ha, - "porque eu gosto de ouvir uns funk melody antigos, e uso tudo isso pra fazer beat também" - fomos conversando sobre como ele começou a ir nos bailes e produzir, e como ele adiou um festão de celebração do seu aniversário no último dia 9 para vir a São Paulo e tocar na festa Wobble, que rolou na sexta (11), no Bar Secreto. Além dele, o line-up da festa tinha os DJs da Manie Gang. Portando apenas um tablet e sua MPC ele levou patricinhas e bassheads à loucura com uma mistura de funk, trap e até uma versão cabeçuda do Martin Garrix, de quem é fã confesso.

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Bateu a curiosidade aí, né? Então dá o play no set da festa gravado ao vivo que a gente conseguiu com exclusividade. Senta, trava e lê o entrevistão com o seu mais novo produtor favorito.

THUMP: O que você usa pra produzir?
RD: Eu uso esse cara aqui, o Reaper. Aprendi a mexer com um amigo meu de Niterói, o Robson Leandro, que também foi um grande produtor. Comecei a produzir no Acid, que é o que todos os DJs usam pra produzir, depois aprendi a mexer nesse e no Ableton, que foi o Omulu que me ensinou.

Quantos anos você tinha na época?
Tinha 15. Fiz 22 agora, no dia 9. Quase sete anos de produção.

Demorou muito pra você juntar esse equipamento todo?
Ah, demorou um pouquinho. Não vou falar que foi de um dia pro outro não, mas demorou um pouquinho, cerca de uns três anos.

E quando você começou a tocar você já ia nas festas e nos bailes?
Sim, comecei a ir com 14 pra 15 anos, foi quando comecei a me interessar [por produção]. Eu ia nos bailes das comunidades, saía pra ver os DJs tocarem e comecei a pegar o gosto. Logo de cara eu tinha comprado uma trigger finger, que é tipo uma MPC, só que era uma controladora. Comprei mesmo pra poder ficar indo nas festas, nos bailes, e ficava fazendo tudo ao vivo. Depois disso comecei a tocar em baile mesmo, por um ano e meio.

Como foi a primeira vez que você tocou, você estava nervoso?
Ah, foi uma festa de rua mesmo, de aniversário. Não sei se eu tenho o vídeo, mas acho que um amigo ainda tem. Toquei no teclado do computador mesmo. Botava os beats e os pontos e ficava fazendo tudo ao vivo. Todo mundo ficava em volta de mim falando "caraca, que maneiro".

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E demorou pra aprender a tocar e produzir?
Isso leva um tempo, não é assim de uma hora pra outra. Como eu sempre tive muita curiosidade de aprender as coisas, sempre aprendi tudo muito rápido. Acho que minha primeira produção foi em 2008, e olha que eu nem tinha internet na época. Eu fui apenas mexendo no programa, nunca vi nenhum tutorial na minha vida. Eu estou até tentando mexer no After Effects, sem tutorial nenhum também. Sempre fui interessado em aprender as coisas, e aí cada dia que passava eu ia evoluindo mais. Depois um amigo meu me passou uns loops… Porque assim, o funk é basicamente construído em cima de loops. Graças a Deus também tenho vários amigos com quem troco ideia, como o DJ R7 lá do Espírito Santo, que está fazendo umas paradas bacanas também.

Como é a internet aqui?
Ah, mais ou menos. Porque pra favelado, nada é bom. A internet é só até 10 MB. Aí você liga e pede pra arrumar ou melhorar, e eles ficam "ah, agora não tem como". Eu estou tentando pedir a de fibra ótica, até falei que já tenho estrutura, armário, tudo aqui pra instalar, mas mesmo assim eles não vêm.

Mas eles não vêm porque têm medo?
Sei lá. Aqui ainda é considerada uma área de risco, não está totalmente pacificada. Ainda tem tráfico, mas não só aqui como até nas favelas de UPP também. O prazo pra chegar a UPP aqui é agora no mês que vem, mas não acredito muito não.

Mas correm notícias de que a UPP não ajuda muito, né?
Não ajuda, não. A ajuda que eles falam é encher o saco do morador, mesmo.

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[Entre pastas e pastas de diferentes samples, sons e projetos bem organizados, o RD começa a tocar algumas de suas faixas como uma versão inédita de "Vem Ferver Fervendo" do MC TH, que ele fez especialmente para o set de São Paulo. Sua irmã grita "gol" da sala logo abaixo, mas é logo abafada pelo sub potente e limpo do estúdio.]

E os instrumentos que você usa nas músicas, é tudo eletrônico, sample mesmo?
É, cara. A gente transforma tudo em funk, qualquer coisa. Duas batidas na mesa e aquilo vira um beat. No funk é assim, a gente nunca espera o que a gente vai fazer. A gente vai e faz.

E você grava voz aqui também?
Gravo sim.

Como funciona pra um MC chegar e querer fazer uma música?
Geralmente eles já vêm com a letra e eu faço a batida em cima daquilo. Eu nunca faço um projeto e deixo guardado pra alguém chegar com a letra pronta e usar.

E eles dão pitaco em como querem a música?
A maioria não. A maioria dos MCs não entende quase nada de música. É dificil falar isso, expor a realidade, mas é assim. A maioria não conhece muito de música, eles chegam e falam "ah, faz aí e vamos ver no que vai dar", e é isso.

E por que vocês acham que eles estão nessa do funk?
Ah cara… Pra mim, o funk foi a porta pro mundo musical. E na época que eu entrei no funk, tudo era muito discriminado. Hoje em dia já não é tanto. Isso tá acabando porque tem uns MCs aí que tão fazendo música pra televisão, e a discriminação por parte das pessoas está diminuindo.

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Mas isso é algo que vem das pessoas, que tem mudado o gosto e a visão do funk, ou foi o próprio funk e seus produtores que lutaram por isso?
Acho que a galera tá aceitando mais. Se fosse por parte das pessoas do meio mesmo, não ia rolar. Mas a intenção é a gente fazer um funk mais legal, né? Mais limpo. Porque o funk ainda é visto por muita gente como poluição sonora, muitas vezes por causa das letras. A maioria fala de obscenidades, falam coisas com associação ao tráfico, então é mal visto por muitas pessoas. Assim, os MCs também têm que tomar essa atitude, mas…

Mas desde antigamente já tinha umas letras mais políticas e sociais, com menos putaria né?
Ah, nos anos 90 sim, tinha muito funk bom. Hoje em dia o cara fala "senta, senta" e já virou um funk. Tá meio ridículo, até.

O beat de "Quero Bunda", do MC Tipocki, é seu né? Como surgiu essa música e toda a coisa da rasterinha?
Sim, o beat é meu. Aquilo ali foi uma coisa muito doida. Eu peguei um atabaque, que foi uma gravação de um amigo meu, o DJ Luciano. Sempre quando o pessoal pede pra eu falar do "Quero Bunda" eu falo mesmo que foi isso aqui, o atabaquezinho do "Joga Teia do Homem Aranha", do MC Nandinho. Daí eu estava lá com esse atabaque, peguei esse outro ponto aqui, e usei só os dois primeiros elementos desse beat, e o grave, o kick. E daí saiu a rasterinha, que foi o próprio Omulu quem batizou. Eu fiz o beat, ele fez o nome. Aí ele "pô, caraca cara, a gente tem que dar um nome pra essa parada aí, tá bombando demais."

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Nessa época você já conhecia o Omulu?
Não, eu conheci muito depois, porque a música demorou muito pra evoluir. A gente não esperava nada dessa música. Tava eu, o Tipocki, e outros MCs lá no estúdio e a gente fez de brincadeira mesmo. O Tipocki ouviu esse atabaque e pensou ter ouvido a palavra bunda, daí ele "olha, tá escutando?". Aí eu "caraca, mano. Vamos fazer um lance com isso aí". E saiu assim. A gente fez a letra lá na hora. Na época eu trabalhava no MC Diguinho, e a gente fez a música rapidinho. Eu já tava com um beat pronto, aberto. É, MC Diguinho é lá de [Duque de] Caxias.

Onde que era o estúdio do Diguinho, e o que você fazia lá?
Ele é lá de Caxias. A gente fazia um esquema de produção. Eu pagava um valor por semana e trampava lá com produção. Aliás, nessa época eu ainda trabalhava em uma ótica também. O lance de produção só aconteceu depois. Aí eu ficava assim, ia no estúdio dele à noite, e trabalhava na ótica de manhã. Ou seja, quase não dormia porque eu saia do trabalho as 10h, ia pro estudio e ficava até quase quatro ou cinco horas da manhã. E foi daí que saiu essa palhaçada toda, mas foi legal hahaha. Porque foi esse beat que me fez ser conhecido até internacionalmente, o que eu não esperava nunca. Não esperava nada dessa música. Mas foi e aconteceu muito naturalmente. O pessoal começou a tocar e falava "caraca, essa música é muito maneira cara, de onde tu tirou essa ideia? Tu é maluco."

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E já veio um monte de gente pedir musica parecida?
Agora veio uma leva, né?

E as músicas que você faz, solta tudo de graça no Soundcloud?
Sim, e nas minhas mídias sociais também.

E como você consegue fazer dinheiro?
Eu faço dinheiro com os MCs vindo aqui pagando o beat, ou com direitos autorais. O Tipocki mesmo, eu tiro dos direitos autorais, está no meu nome. Minha fonte de renda é essa.

E quanto você cobra mais ou menos por uma música?
Varia muito, de 500 a 4 mil reais. Porque eu faço também funk melody, electro… faço de tudo.

Sim, eu vi que até forró você já fez, com a zoeira lá do Cabritinho dos Teclados (rs).
Eu escuto de tudo na internet. Eu gosto de um cara que na Bahia ele até é conhecido, mas pro lado de cá não é muito não. Ele tem a fama dele lá pela forma engraçada de cantar, o Polentinha do Arrocha. Foi daí que eu tirei essa de fazer uma parada bem ridícula de Cabritinho dos Teclados, porque a forma do cara cantar é muito engraçada.

E a versão de "Sem Querer" da Ludmilla, você baixou a capella e fez o forró?
Nada, fiz por cima da música mesmo, escuta aí (rs).

Quando eu vim da Bahia, eu vim com esse pensamento de fazer um som assim.

Você estava lá na Bahia? Quando?
Fui passar o carnaval lá esse ano.Fui no interior, na cidade de Prado. Minha familia é de lá, meu avô é de lá… Eu falo que sou de lá, porque a base da minha criação foi lá, bem simples e bem pacata. E na época que eu ia lá a cidade não tinha quase nada, era só o centro, que na real são só duas ruas. Agora tem outros bairros lá, mas a cidade era isso.

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O que você acha do funk de São Paulo?
Há um tempo eu detestava, mas estou começando a mudar isso, estou começando a gostar porque acho eles bem organizados, da forma de divulgação, de promoção. O trabalho deles é realmente muito bom, é fantástico. Os contratantes são organizados, eles são unidos. A forma de trabalho deles é muito show. E hoje a mídia tá neles. O que entra lá, é mídia em todo o Brasil. Então por isso que passei a gostar. Não pela música, mas pela forma de trabalho deles. Que é o que não acontece aqui no Rio. Aqui os contratantes são bem desunidos, cada um tem seus próprios interesses, fica muito difícil trabalhar. O Rio perdeu o espelho do funk pra São Paulo por causa disso. Os DJs, os contratantes, as casas de show também, são muito desunidos.

Para quem ouve e divulga o funk as portas são o Rio, São Paulo, BH e Espirito Santo. O funk tá muito forte no Espírito Santo. Muitos MCs do Rio fazem sucesso lá. Eles tão revelando alguns nomes deles como o R7, o Jean e o Paladinos. Lá tem a Rádio Tropical, número um em audiência da América Latina. Muitos contratantes também a ouvem, inclusive de fora. A programação dela é praticamente inteira de funk. Chega sábado e domingo é o dia inteiro, uma maratona de funk. Ela e a Transcontinental de São Paulo, que também tem a Band FM. O Batata, o Simpson, Eduardo, vários DJs. E Aqui no Rio é a FM O Dia 98, e em BH é a Rádio Extra.

Mas acho que por causa da rasterinha, o Rio voltou a ter um foco no funk de novo, certo?
Ah, foi sim, mas a galera de São Paulo já pegou a ideia e fez também. Tanto é que hoje o pessoal que é considerado os pioneiros do ritmo é o MC Romântico e aquela menina lá, Lais. Até no Esquenta eles já foram, e eu achei um pouco de falta de consideração da parte deles. Não dos MCs, mas do programa em si. Mas todo mundo sabe quem está envolvido na música, que foi o Tipocki e eu, né?

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Lá em SP o Omulu é bem forte, e é outro que sempre esteve envolvido…
É, eu ouvia os podcasts dele. Ele tem 50% de culpa nessa criação, porque ele deu o nome e eu criei o beat. Então ele pode pegar e falar "Eu ajudei a criar a rasterinha", porque ele abraçou a causa, pegou isso e levou pros caras, "Olha isso que fantástico". Ele foi o grande propulsor desse ritmo aí. Se não fosse por ele, acho que não estaria o sucesso desse jeito que tá.

Um monte de gente de fora começou a tocar e fazer umas rasterinhas também, como o Branko e o Munchi O Conrad também. Hoje em dia eu tenho uma amizade com ele. O pessoal tá começando a gostar da parada. Só que na época que eu fiz a rasterinha não tinha nem ideia do que eu estava fazendo. Estava só misturando as coisas, vendo no que ia dar. Misturei esses três elementos aqui e deu nisso que tá indo pro mundo todo.

O pessoal tem misturado muita coisa diferente com funk né?
O pessoal tá pegando os elementos de bateria de forró, de rave, de electro e tá misturando. Acho isso bacana. É bom você ter referências no funk, porque ele é a mesma coisa sempre. E quando vem um cara e faz a diferença, o foco fica naquele cara ali, por isso eu sempre quis fazer coisas diferentes. Pro pessoal voltar a atenção pra mim e falar "olha o que aquele cara fez, olha que bacana".

Acha que um dia pode parar de fazer funk?
Acho que ele pode até mudar, mas não pretendo abandonar o funk. A oportunidade que eu tiver pra fazer funk, eu vou fazer. Não penso em abandonar minhas raízes jamais. Eu nasci disso e eu estou vivendo disso, como é que vou virar as costas pra uma coisa que me botou no mundo? Mas eu tenho outras coisas também, não fico na mesmice não. Eu sempre procuro fazer coisa diferente, é isso que me dá destaque, faz ser o que eu sou hoje. Não só eu, como o R7 também, que tá vindo aí com uns nomes muito malucos. Eu também comecei com isso.

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Vocês saem inventando os nomes?
É a gente mesmo. Eu fazia esses nomes, ele viu e começou a fazer também. Eu falei "Pô, cara, isso aí que dá destaque, é o diferente". Aí botava envolvência, empurramento, bundamento, cineastização. Ficava botando um monte de nome maluco. Eu sempre fazia muita coisa doida. Até os comerciais da TV, a gente pegava e botava no funk. Vocês lembram do comercial da Ford, do pônei maldito? Na época eu fiz um funk também desse ponei maldito hahaha.

Chega no final do ano a gente faz igual a Globo. Faz a retrospectiva dos sucessos. Cara, o funk é muito maneiro, porque a gente tem muita liberdade pra fazer muita coisa. Muitos fazem a mistura do óbvio, mas a gente tenta misturar o óbvio com o impossível.

E o seu programa na Rádio da Maré, como que vai ser?
Eu vou fazer uma programação das 16h às 18h, junto com o amigo DJ Renato, só com funk.

Já tinha feito rádio antes?
Só na rádio web, tudo muito à vontade, mesmo. Já na FM tem que seguir aquele padrãozinho. Mas na radio web a gente falava muita besteira, principalmente pras mulheres. Ficava mandando aquelas sacanagens. Porque DJ tem essa fama de ser o pegador da parada. Então a gente mandava um monte de mensagem pras meninas, marcava encontro.

E dava certo?
Oh, dava. Vou te falar, as meninas iam pra rádio pra ficar ouvindo o DJ tocar, falando aquelas besteiras mesmo. E elas gostam, essas meninas que curtem a rádio… algumas né. Na rádio web rolava muito palavrão, mas não tocava apologia ao tráfico, só ao sexo. Era o que elas gostavam de ouvir antes de ir pro baile. Agora na FM vão ser músicas mais leves, menos palavrão, e vou até tentar inserir a rasterinha pelo menos meia hora na programação, misturar algumas coisas do Omulu. Ele fez um remix do Pedrinho também, do Don Don, que ficou muito maneiro. Lá em São Paulo quem fez foi o Pereira, do canal Detona Funk, mas quem deu uma levantada na música foi o R7, que fez a versão que tá tocando.

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[Enquanto vou mexendo nos pads e dando uma bisbilhotada nas suas pastas, ele tira uma guitarra do guarda-roupa e pluga no PC pra começar a fazer uns sons e vai imediatamente transformando em samples].

Quanto tempo você demora para fazer uma música hoje?
Ah cara, hoje em dia demora um pouquinho. Antigamente eu fazia música igual Miojo, em três ou cinco minutos. Hoje demoro umas seis horas, porque prezo pela qualidade da música, não faço de qualquer jeito igual antigamente. A gente vai mexendo, mexendo e mexendo, e vai além. Mas tudo depende. Se eu ponho um arranjo eu demoro uns dois ou três dias pra fazer. Por falar em arranjo, tem aquele que o pessoal conhece muito né, que é a "Casa do Seu Zé", não sei se já ouviu falar.

É aquela "Hoje na casa do seu zé, vai rolar uma ousadia"…
Caraca, que legal que vocês conhecem as músicas (rs). Eu tava pensando em fazer ela como heavy metal. Eu vou dar uma estudada no heavy metal e tentar, pra não deixar a música cair. Esse é o espirito da música, a diversidade. Por que quando a gente fica limitado a uma coisa só a gente cai no esquecimento.

Sim, e às vezes quando venho pro Rio, eu fico na casa do Pedro Fontes, e a gente fica trocando uns funks. Ele pesquisa bastante coisa. Tanto que ele e o Gustavo (Marginal Men) foram tocar numa rave agora, e fizeram um set praticamente de funk.
Caralho, não sabia hahaha. Eu fui na Wobble lá na Fosfobox, foi bem maneiro. Estava o Marky lá tambem, tocando drum'n'bass. Uma diversidade musical bem maneira.

E o que você acha de pessoas que dizem que funk não é música eletrônica, e ainda dizem que nem música eletrônica é música de verdade?
Pra mim é. Porque o funk é feito à base de música eletrônica, com computador. Pra mim, tudo que é feito no computador ou meio eletrônico é música eletrônica. Quem fala que funk não é música eletrônica é maluco, pelo menos na minha concepção musical. A minha referência é o Martin Garrix, pra mim ele é o top! Nem David Guetta, nem Avicii, nem nada. Eu me amarro num cara tocando também, tipo o Araabmuzik. Se tiver uma turnê dele, cara, pode ter certeza que eu vou. Aquele cara na MPC, pra mim… Eu só faço o básico, cara.

Você prefere tocar ou produzir?
Produzir, por que é mais tranquilo, você ganha dinheiro sem sair de casa. E sempre foi a minha paixão. Mas eu também gosto muito de tocar, não só MPC mas também gosto de tocar com CDJ. Até porque eu também gosto de sair pra curtir o baile, pra ver o que a galera tá ouvindo. Ficar preso em casa também não é muito bom.

E você pensa em fazer um álbum ou disco completo, ou de um MC inteiro?
Ah, eu me espelho muito no Major Lazer, eu penso em fazer um trabalho semelhante ao deles, tipo uma mixtape cheio de colaborações com outros DJs e MCs. Eu ainda estou tentando elaborar esse projeto, mas como te falei, tenho que contar com a ajuda dos DJs e MCs no Rio, e aqui é complicado fazer um projeto desse, mas estou tentando. Eu estou também estudando o After Effects pra fazer clipe, e mais pra frente comprar uma câmera boa. Estou bem devagar ainda. É mais pra dar um up mesmo, pra ter alguma coisa a mais pra mostrar. Não faço só música, mas vídeo também. Estou estudando música da África. Por exemplo, eu vou pesquisando país por país, e vou vendo o que eles escutam por lá.

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