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Música

The Glitch Mob: dos Porões aos Maiores Palcos do Mundo

Conversamos sobre a antiga conexão com o festival Burning Man, seu novo show e seu amor infinito pelos fãs.
Da esquerda para a direita: Boreta, Ooah e edIT, em frente ao David's Café, em Miami, com cara de fodões.

Quando os encontrei para um almoço, Boreta (Justin Boreta), Ooah (Josh Mayer) e edIT (Edward Ma) tinham acabado de completar 12 dos 40 shows da turnê de divulgação do álbum, Love Death Immortality, o segundo de sua banda The Glitch Mob. O aclamado LP, o primeiro em quase quatro anos, estreou em 13ºna lista dos Top 200 da Billboard e em primeiro lugar no iTunes na categoria música eletrônica, o que tornou o trio uma das principais atrações de alguns dos palcos mais importantes do mundo.

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Melódico e, por vezes, melancólico, o primeiro álbum, Drink the Sea,  pedia para ser ouvido em fones de ouvido, enquanto Love Death Immortality é uma arma adequada para festivais e gigantescos sistemas de som. Contando com a forte presença dos sintetizadores e baixos saturados que já se tornaram característicos, o álbum representa uma mudança mais agressiva voltada para os grandes palcos.

Com uma longa trajetória, a banda de Los Angeles está por trás de todos os processos de criação relacionados à Glitch Mob, desde o design de seus instrumentos musicais até a arte e iconografia do selo. Ao longo de sua ascensão, a banda foi capaz de manter uma espécie de visão de dar inveja a seus contemporâneos.

Com origens nos galpões e porões da cena underground californiana – começando em eventos como o Low End Theory, que também revelou artistas como Flying Lotus e Gaslamp Killer – o grupo agora alcança fama internacional. Nesta temporada, passarão em turnê por países como Estados Unidos, Bélgica, França, Inglaterra e República Tcheca. Em nosso encontro, conversamos sobre a antiga conexão com o festival Burning Man, seu novo show e seu amor infinito pelos fãs.

THUMP: Vocês poderiam falar um pouco sobre o começo de vocês em LA?
Boreta: O Low End Theory era um lugar para experimentarmos as coisas com um lado mais hip-hop, porque era isso que nos diferenciava do resto da cena rave. Ed conhecia Daedelus da escola e reservamos o Flying Lotus para nosso primeiro show em São Francisco. Foi uma espécie de big bang, com todos aqueles nomes novos. Pessoas como Gaslamp Killer, Daedelus e Nosaj Thing seguiram todas por direções diferentes, mas o Low End Theory ainda é o lugar para se chegar e tocar suas músicas mais loucas. Ainda temos muito respeito e amor por ele. Sinto como se fôssemos uma espécie de tiozões do Low End Theory atualmente.

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Ooah: Mas não é só de lá que viemos, e, quem quer que diga isto, está errado. Este é um dos lugares de onde viemos, mas mesmo antes do Low End Theory ganhar nome tocamos no Burning Man. Tocávamos em festas underground em galpões de São Francisco e tocávamos por todo o centro de Los Angeles.

Como o Burning Man influenciou seu estilo?
Ooah: É parecido com o Low End Theory. Era só outro lugar para irmos e experimentar nosso som ao máximo. É um evento muito cabeça-aberta. Não é como ir ao Ultra e não é baseado só em música – é baseado em arte e comunidade, e a música é apenas parte disso.

Boreta: As pessoas gostam de fazer piada do Burning Man, e por uma boa razão. É um festival hippie de São Francisco completamente louco, psicodélico. Sempre foi um lugar legal de se tocar porque não há ingresso ou lugares VIP. Não há dinheiro. Você só chega lá e toca naqueles sistemas de som enormes e as pessoas enlouquecem. Temos ido há oito ou nove anos, mas Diplo e Major Lazer estiveram lá conosco pela primeira vez este ano e ficaram "Caramba, isso é muito bom".

É o último lugar onde você pode tocar e não tem essas porras desses outdoors por toda parte. Não há empresas infiltradas, é como uma última resistência. Agora que festivais estão tão infiltrados por empresas americanas, acredito que vejamos mais e mais pessoas indo lá que não são hippies loucos de São Francisco como nós.

Vocês têm alguma história bizarra para nos contar sobre o Burning Man?
Boreta: Uma noite estava sentado perto de um daqueles carros todos pintados. Era um carro grande no formato de uma água-viva com flores do lado. Estávamos todos sentados lá, provavelmente umas dez pessoas. Eram 4 da manhã, todo mundo estava muito doido e eu estava tipo "Cara, eu queria muito beber alguma coisa agora". Todo mundo doidão, o que podíamos fazer? Então um cara vestido de Hunter S. Thompson que apareceu do nada nos deu uma garrafa de Makers Mark e foi embora. Era um mensageiro de Deus.

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Ouvi dizer que vocês têm um novo show que está foda.
edIT: Matin Phillips, com quem trabalhamos em nossa turnê passada, criou o cenário do palco. Ele criou o cubo do Deadmau5, a pirâmide do Daft Punk e a montanha do Kanye. Nós temos esse aparato gigante que chamamos de The Blade, esse instrumento feito sob medida que nós três tocamos. Foi feito de um jeito que podemos tocar nossa música do jeito que quisermos. Martin sempre tentou enfatizar o fato de que estamos lá fazendo música, então adicionamos alguns tambores. Se você ficar lá na frente, consegue ver cada nota que tocamos.

Vocês costumam fazer parte deste processo de criação?
Boreta: Até está turnê, nós criávamos tudo sozinhos. Esta é a primeira vez que temos uma equipe para nos ajudar.

Vocês são frequentemente considerados um grupo DIY. O que isto significa para vocês?
Ooah: Significa que participamos do processo de criação de tudo relacionado à banda, não somos restritos à parte puramente musical. Jamais deixaríamos as coisas na mão de outras pessoas, comandando tudo por fora. Nós trabalhamos junto a todos de nossa equipe, da produção de shows até a direção de arte. Ficamos dias e dias no estúdio ajudando no processo de sonorização e iluminação, para que tudo fique coerente com a arte do álbum. Sempre fizemos assim. Somos completamente independentes e não temos contrato com nenhuma empresa grande nem nada disso, então tudo o que fazemos é nosso.

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Boreta: Éramos literalmente DIY até muito recentemente. Dois anos atrás, construímos nosso próprio sistema de iluminação. Fomos até uma loja e compramos o metal, então compramos as luzes de um cara em Orange County. Ed construia o set enquanto Josh e eu estávamos lá fora com a mão na massa. Também éramos nossos próprios empresários e criávamos nosso próprio merchandise. Nós nos divertíamos com toda essa operação, mas agora que as coisas ficaram tão grandes, não conseguimos fazer tudo sozinhos e precisamos de pessoas para nos ajudar.

Ooah: Mas continuamos à frente de tudo relacionado à Glitch Mob.

edIT: E somos perfeccionistas. O que queremos dizer ao mundo e a história que queremos contar é muito importante. Acreditamos que, se você quer que uma coisa seja bem feita, faça você mesmo.

Seu novo álbum foi gravado no Parque Nacional de Joshua Tree, no deserto de Mojave, Califórnia. Como foi este processo?
Boreta: Foi fantástico. Queríamos nos desconectar, recomeçar e contar ao mundo uma nova mensagem, então fomos ao parque e vivemos por um mês numa casa louca construída por um arquiteto de Nova York, no meio do deserto. Havia colchões e coisas de metal enferrujado por todo lado, parecia que a casa tinha brotado do deserto. Parecia que estávamos em um filme de David Lynch.

E aí vocês passaram um tempo em Miami para o festival Ultra. Como vocês se sentem?
Boreta: São barrigas de tanquinho por todo lado. O número de barrigas de tanquinho per-capita é uma coisa fora de controle por aqui. Nos sentimos molengas e flácidos.

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Agora umas perguntas mais descontraídas: qual o melhor filme da franquia Matrix?
Boreta:Eu sou super fã de Animatrix.

Ooah: Animatrix é foda! Tem uma música do Cinematic Orchestra, 'Who Am I', que por muito tempo considerei a música.

Você prefere Indica ou Sativa?

Boreta: Acho que somos as únicas pessoas neste festival que não fumam maconha. Nada de maconha aqui.

Quem são os piores, australianos ou franceses?
Boreta: Australianos. Preferiria entrar numa briga com um francês do que com um australiano. Um australiano com certeza acabaria comigo.

O que vocês acham de pessoas que usam chapéu fedora? Elas são confiáveis?

Boreta: Depende do tipo de pelo facial que eles têm. Isso pode mudar toda sua dinâmica, mas, em geral, sim.

Ooah: Você pode ficar muito elegante com um chapéu desses, mas também pode ficar muito deselegante. Depende da hora do dia, da vibe, dos sapatos que usar.

Fast-food favorito?
Ooah: Chick-fil-A.

edIT: Del Taco.

Boreta: Nandos, mas isso não é muito fast-food.

Já aconteceu de vocês se depararem com algum fã maluco empolgado demais?
Boreta: Outro dia estávamos comendo no Café Dumont às 4 da manhã depois de um show e postamos uma foto no Twitter. Nem dizemos onde estávamos nem nada, mas aí um bando de garotos apareceram e foi aquela histeria. Foi muito engraçado. Às vezes a gente esquece que as coisas se tornaram tão públicas. Eles chegaram e atacaram nosso lanche.

Vocês costumam promover encontros com fãs para fotos e autógrafos?
edIT: Nós adoramos fazer isto. Na verdade, depois de todos os nossos shows nós nos encontramos com alguns fãs e damos autógrafos. Temos esse fã-clube secreto apenas para convidados chamado Mob, são todos mega fãs. Temos um lugar para eles se encontrarem e eles ganham entradas para os shows.

Ooah: Um músico que não gosta de seus fãs trabalha com isso pelos motivos errados.

Boreta: Amém.

Tradução: Pedro Taam