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Música

Esse Cara Vem Coletando Todos os Seus Pedidos Embaraçosos para DJs

O DJ Mick DiMaria reuniu recadinhos, avisos da administração dos clubes e as medidas preventivas dos próprios DJs no livro 'No Breasts No Requests'.
crédito da foto: Jay Dabhi

Como todos sabem, discotecar nada tem a ver com democracia. Quem já foi a uma festa de house desde o advento do Spotify entende. Por mais bem intencionada que possa ser a ideia de um esquema de discotecagem comunal, no qual tudo mundo pode escolher uma música pra tocar, na prática isso é um desastre. Tentar compartilhar os decks com outras 20 pessoas leva inevitavelmente a conflitos ao invés de harmonia. Parece que discotecar é algo que combina mais com autocracia do que com anarquia.

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Às 3 da manhã, quando todo mundo se enfiou em qualquer sala que tenha um par de alto-falantes toscos, a paciência está em seu menor nível e armar um golpe de laptop é algo tentador até para os menos sedentos de poder entre nós. E normalmente surgem tensões sobre alguma regra não dita de etiqueta DJ:  Eu deveria colocar a minha escolha na fila? E se a minha música não estiver na playlist da festa? Há momentos em que a intervenção é justificada - como tocar só três minutos de uma edição disco de 12 ou interromper uma música de happy hardcore mal colocada que esvaziou a pista? Nesse momento a discotecagem por comitê mostra todos os defeitos da democracia: ser governada por uma elite de escolhedores que não se dão conta dos gostos de seus constituintes. Talvez nós devêssemos aceitar que esse sistema funciona melhor com apenas uma pessoa no comando. Não é por acaso que os DJs têm tendência a ter complexo de messias.

Compreensivelmente, esse é um acordo com o qual nem todos estão contentes, e há aqueles que não vêm a discotecagem como um direito divino e continuam a lutar por um pouco de representatividade através de pedidos. Seja debruçando-se sobre os PAs do clube, gesticulando com telas de celular ou depositando notas manuscritas na cabine do DJ: Há sempre os clubbers que querem ter direito à palavra.

Crédito da foto: DJ P

Ao longo dos últimos quatro anos, o DJ de Los Angeles Mick DiMaria vem coletando coisas efêmeras do universo DJ: os recadinhos entregues, os avisos da administração dos clubes e as medidas preventivas (muitas vezes exageradas) definidas pelos próprios DJs. Em 2010, DiMaria fundou o tumblr, No Breasts No Requests, nomeado em homenagem a um dos primeiros pedidos com que ele se deparou, como um espaço para juntar todos os pedidos escritos que ele recebeu enquanto está discotecando. Conforme o site foi ficando conhecido, ele se viu soterrado de contribuições de DJs e clubes. Depois de um ano de um trabalho de detetive, procurando os fotógrafos originais, DiMaria está lançando um livro que compila os melhores (ou piores, dependendo da forma que você olha) envios que foram feitos para o seu tumblr.O THUMP conversou com DiMaria, após o lançamento de No Breasts No Requests, sobre as políticas de pedidos para o DJ, a mudança nas mídias dos pedidos e a ética (ou a falta dela) envolvida na negociação de favores sexuais.

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THUMP: Quando você teve a ideia de começar a documentar pedidos para DJs?
DiMaria: Eu sou DJ há catorze anos e muitos dos pedidos que recebi são falados, mas alguns são escritos, então eu comecei a juntar os que eram passados pra mim. Eu estava conhecendo o Tumblr na época, isso era 2010, e decidi publicar alguns pedidos online. Aí encontrei outras pessoas na internet, parecia haver vários DJs compartilhando isso, e uma coisa levou à outra até que eventualmente as pessoas estavam enviando 10 fotos por dia pra mim. Três anos depois eu decidi juntar algumas das melhores em um livro.

Nos seus 14 anos de DJ qual foi o pedido mais esquisito que recebeu?
Um que me lembro foi alguém perguntando: "Você pode tocar algo que dê pra dançar?". E na hora  a pista estava lotada e um monte de gente estava dançando. Eu falei: "Dá uma olhada lá". Uma outra vez eu estava tocando em um clube gótico e alguém me pediu Mariah Carey.

O que você acha dos pedidos para DJ? eles são necessariamente algo ruim?
Não são sempre ruins; no geral eu gosto de receber pedidos. Parte do nosso trabalho como DJ é tocar o que as pessoas querem ouvir e às vezes quando eles dizem isso diretamente pra você é um ótimo presente.

Você tem que usar o seu juízo, teve vezes em que alguém pediu uma coisa, eu toquei e a pista esvaziou, incluindo a pessoa que pediu e os amigos dela. Mas se você não esvazia a pista pelo menos uma vez por noite você não está correndo risco suficiente. Eu acho que é um bom meio de se forçar a sair da sua zona de conforto.

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Alguns DJs contestariam a ideia de que eles estão lá para dar às pessoas o que elas querem?
Eu acho que é uma combinação do que as pessoas querem ouvir e do que as pessoas não sabem ainda que querem ouvir. É uma mistura de liderar com seguir ordens, mas no limite você é o capitão ali e está pavimentando o caminho para uma boa curtição.

Você acha que pedidos para DJs se tornaram mais comuns numa época onde a música está disponível instantaneamente on-demand?
Eu acho que nós vivemos em uma cultura on-demand na qual as pessoas estão acostumadas a ter o que elas querem exatamente quando elas querem. Todos estão acostumados a ouvir o que quer imediatamente e eu acho que algo dessa cultura se aplica quando se vai ao clube.

Ao ler o livro, eu me peguei tendo mais simpatia pelos pedintes do que pelos DJs: a maioria dos recados escritos por DJs são elitistas e mandões. Você acha que às vezes os DJs vão longe demais?
Quando os DJs dizem 'sem pedidos' eu acho que estão indo longe demais, acho que você precisa ter um diálogo com a pista e com as pessoas que estão nela. Pra mim é um pouco estranho e sem sentido não receber nenhum pedido. Há uma pequena percentagem de DJs que causa má fama para os DJs em geral.

Sobre o título do livro, como você escolheu ele?
Ele vem de uma foto que eu encontrei online e que foi uma das minhas primeiras postagens. Quando eu estava pensando em um nome para o blog eu queria algo provocativo, algo que seria notado imediatamente. Muitas pessoas acham que é algo controverso e perguntam se essa é a minha política, mas não é - obviamente eu estou aberto a propostas - mas isso veio de um outro DJ.

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Um bom número de recados escritos por DJs no livro abertamente solicitam favores sexuais a mulheres em troca dos pedidos. Pra mim isso diz muito sobre por que a cultura DJ ainda é dominada por homens e geralmente exclui as mulheres.
Há muitas mulheres DJs por aí mas, sim, é um campo dominado por homens. Eu acho que alguns Djs pensam que têm uma posição de poder e podem conseguir algo em troca de um pouco desse poder. Trata-se de um monte de jovens, um monte de álcool e um monte de energia sexual, então eu não me surpreendo que alguns DJs se divirtam com isso. Tenho certeza de que eles não estão falando sério, mas não acho que eles negariam se por acaso der certo.

Eu nunca faria isso mas acho engraçado quando outros fazem, e eu encorajo eles a enviar uma foto para o blog quando fazem. Há algo desconfortável sobre isso e essa tensão divertida torna a coisa interessante de ver.

"PEDIDOS APENAS COM CONSULTA ORAL". Crédito da foto: DJ SRP

Ok. Com o EDM popularizando o papel do DJ-performer, será o fim dos pedidos para DJ?
Acho que não; acho que com as mídias sociais isso será provavelmente até mais comum. Eu vejo muitos DJs no Twitter dizendo aos seus seguidores: "Eu vou tocar hoje à noite, tem algo que vocês querem ouvir?". Ou mesmo pessoas na hora em que estão tocando dizerem: "O que vocês querem ouvir agora?". Então acho que provavelmente está acontecendo até mais hoje em dia.

Isso coloca um problema para o volume 2 de No Breasts No Requests, se as pessoas não estiverem escrevendo mais.
Sim, eu comecei cada vez mais pessoas segurando apenas seus celulares ao invés de escreverem as coisas.

No Breasts No Requests: Notes from DJ Booths Around the Globe está disponível, você pode comprá-lo aqui. Mick DiMaria é DJ residente na Full Frontal Disco ao lado de Henry Self, você pode seguir ele no Twitter.

Tradução: Stan Molina