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Música

Mariana Cetra declarou independência

Metade da dupla experimental A Espiral de Bukowski, a produtora abandonou a publicidade pra se encontrar na música.

A Mariana Cetra se dedicou muito a fortalecer a cultura independente e alternativa em São Paulo. 1/2 do projeto de noise/drone e improvisação livre A Espiral de Bukowski, a paulistana de 40 anos se formou em Publicidade e Propaganda, mas não se encontrou nessa carreira.

"Tudo ia contra os meus valores", conta a artista, que, depois de algum tempo trabalhando em uma agência, percebeu que aquele não era o caminho que queria seguir e ingressou na área cultural, focando nos projetos independentes e alternativos.

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Foi aí que Mariana se encontrou: tendo produzido diversos eventos ligados a música, teatro e artes visuais, ela foi uma das criadoras do festival PIB (Produto Instrumental Bruto) e, juntamente com César Zanin, foi a fundadora do Espaço Cultural Walden, casa em São Paulo que abrigava diversos eventos de música e arte independente num geral. Anos depois, a casa fechou por conta, entre outras coisas, do nascimento da filha de César e Mariana, a Laura.

Hoje, a vida de Mariana é mais estável — a produtora trabalha com projetos voltados à educação — mas seu amor pela cultura independente continua vivo através d'A Espiral de Bukowski, projeto que a une até mesmo à sua filha, cujas risadas são audíveis em algumas das gravações da banda. Quando conversamos, Mariana me contou como o trabalho com a música abriu sua cabeça e coração.

NOISEY: Como você começou a trabalhar com música?
Mariana: A música sempre esteve em mim e eu nela, nunca a olhei como trabalho. Comecei tocando flauta doce, passei para o piano, para o violão e depois fui experimentando o acordeom, a escaleta e os botões. De certa forma a música é instintiva pra mim, embora tenha estudado teoria (não lembro de quase nada) eu vou combinando ou descombinando as notas e acordes no ouvido, na emoção. O campo da emoção é muito importante pra mim quando componho ou improviso. Já toquei em bandas (The Loonies, Fotograma, Magic Crayon) e agora estou n'A Espiral de Bukowski, projeto que muito abriu minha mente e as possibilidades de criação. Não ensaiamos, só tocamos nas apresentações, e isso é legal demais! É uma avalanche de sensações e possibilidades, nos divertimos muito. Agora no dia 16 lançaremos um EP chamado Março Deságua. Fizemos duas versões para uma canção bem importante da música brasileira. Uma versão folk e a outra bem experimental.

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Você já sofreu algum preconceito no meio por ser mulher?
Trabalhei muito a minha memória depois de ter lido essa pergunta, mas não experienciei nenhum preconceito no meio musical por ser mulher. Talvez por viver num meio independente, por sorte!!!

Que mulheres você tem como influência/referência?
Minha avó Clotilde, uma figurinha de ser humano, sempre soube muito sobre a vida. Clarice Lispector, Laetitia Sadier, Bertha Lutz, Elizabeth Fraser, Virginia Woolf, Nise da Silveira, Elis Regina, Nina Simone, Pina Bausch, Nísia Floresta, Eliane Brum, Maria da Penha, Billie Holiday, Luiza Erundina, Cora Coralina, Siouxsie, Olga Benário, Kim Gordon, Nico, Ná Ozzetti e todas as estudantes secundaristas das ocupações. Tenho certeza que assim que apertar o botão "enviar" [do e-mail] vou lembrar de mais algumas, mas enfim, essas são as mais marcantes agora, seja pela produção artística, seja pela maneira de enxergar a vida. Mulheres fortes!

Você acha vê melhorias na indústria musical? Acha que está surgindo mais espaço para mulheres?
O termo "indústria" me traz calafrios… como bem definiu Adorno quando trouxe a questão da indústria cultural, ela "impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente". E assim eu traço um comparativo com a indústria musical. O termo "indústria" não me faz pensar em arte, me faz pensar em padrões, em moldes, em músicas encomendadas e feitas para vender. A indústria só existe pelo capitalismo. Eu sinceramente gostaria que isso desaparecesse, hehehe. E pensando nessa indústria, sim, ela abriu mais espaço para mulheres, mas sempre uma mulher formatada, a cumprir com padrões pré-determinados. Diversidade pouco entra na indústria.

Você tem dicas para mulheres que estão começando agora na música?
Quem sou eu para dar dicas, né? Mas fico pensando na liberdade e na verdade com que se faz as coisas. Acho que esse é o espírito da coisa, do fazer música. Se emocionar, amar, fazer o que acredita. Dizer o que pensa, ser autêntica e feliz.

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