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Música

O Underground Resistance Está de Volta ao País e Toca no Boiler Room na Amazônia

Conversamos com Jon Dixon, tecladista do coletivo formado nos anos 1980 que foi precursor do Detroit techno e mudou para sempre os rumos da eletrônica; além do Boiler Room, o UR faz shows em Manaus e no Rio.

Talvez seja lugar-comum, mas é irresistível apresentar os caras do Underground Resistance para quem não conhece dizendo que eles são o Public Enemy do Detroit techno. Assim todo mundo já se liga na importância da parada e se põe a prestar atenção. Fundado originalmente pelas autoridades máximas do estilo nos anos 1980 – Mike Banks, Jeff Mills e Robert Hood – o UR é ao mesmo tempo um coletivo, um movimento, uma banda e um selo. Quando surgiu, o combo chamou atenção por aliar militância política à eletrônica, por rejeitar fazer parte do esquema comercial e pelo fato de seus DJs não se identificarem, tocando com os rostos cobertos por bandanas e raramente aparecendo na mídia.

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É difícil pontuar exatamente como essa história toda começou, quem é o cabeça, quem escolhe quem entra, quem sai e quais projetos serão acolhidos sob a proposta. Mas o lance é pensar no UR como um organismo vivo, uma bandeira criativa que nos presenteou ao longo de sua história com artistas e grupos como Galaxy 2 Galaxy, Red Planet e Timeline, e que está sempre contribuindo para manter o espírito subversivo e dançante da música eletrônica. Pela segunda vez no Brasil, sete anos depois, eles chegam para três apresentações. Dia 24/7 o UR é atração de mais um Boiler Room Brasil, com transmissão ao vivo, direto da Amazônia, pelo site boilerroom.tv a partir das 17h. Os outros shows acontecem dia 25 no Sub Club, em Manaus, e no Cave Club, no Rio, dia 26.

O Jon Dixon, que está na formação desde 2007, é o mestre dos teclados. Jon toca no projeto Timeline, tem uma base sólida de jazz adquirida bem antes de fazer parte do coletivo e foi com quem conversamos para a entrevista que você lê aqui. Acompanhe.

THUMP: O Underground Resistance, quando apareceu, era considerado um movimento pela música de qualidade e pela inovação na música eletrônica. Essa ainda é a principal bandeira de vocês?
Jon Dixon: Acredito que há duas razões diferentes pelas quais as pessoas decidem produzir ou discotecar esse tipo de música. Tem aqueles que querem viajar pelo mundo, tocar em grandes festivais, tornar-se famosos e conhecidos, etc. E tem aqueles que conhecem as raízes do Detroit techno e como as coisas começaram. Hoje, o que importa não é mais quem é famoso, mas aqueles que continuarão a alimentar a reputação da música eletrônica característica de Detroit, mantendo a chama viva e forte. Qual a vantagem, para um artista, em ser famoso e reconhecido, enquanto produz músicas terríveis? Isso não faz sentido. Então, porque devemos nos importar com popularidade? A música de qualidade sempre será o fator mais importante, porque, quando a fama passa, é tudo o que fica.

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O que vocês podem adiantar sobre a pegada que vai ter a edição do Boiler Room Brasil com vocês?
Musicalmente, eu tô ligado que vocês aí no Brasil vão gostar daquilo que vamos apresentar. Posso te prometer que vocês vão ver um set singular, único e inesquecível, jamais possível de ser replicado por qualquer um no mundo!

Vocês vêm pra cá para uma turnê ou algo do tipo, além dessa participação no Boiler Room?
Também vamos tocar dia 25 de julho no Sub Club, em Manaus, e no Cave Club, no Rio, dia 26. Cada performance será totalmente diferente. Quando tocamos, rola sempre uma energia e uma inspiração diferente a cada ocasião, então o que acontece é que cada noite se distingue da outra. A última coisa que você vai querer é perder esse show e depois ficar escutando todo mundo te contando o quão incrível foi. Convidamos todos a aparecerem às apresentações, pois não sabemos quando novamente teremos a oportunidade de estar de volta.

A primeira e mais recente passagem do Underground Resistance pelo Brasil foi há sete anos. Você já fazia parte do grupo naquela época?
Sim, eu já estava na formação quando um de nossos projetos, o Galaxy 2 Galaxy, tocou pela primeira vez no Brasil, no Nokia Trends Festival. Desde então eu tive a oportunidade de participar em 2010 e 2013 com o D3. A coisa que eu mais amo no Brasil é a sua cultura musical. É muito parecida com Detroit. Ainda me empolgo quando vejo um pessoal usando instrumentos para fazer música. Todas as bandas que assisti no Rio e em São Paulo tinham percussão e sopro, algo muito raro em vários lugares. Para nós, poder fazer uma apresentação que explore todas as possibilidades de nossos instrumentos é o que torna nossos shows diferentes do DJ set comum. Somos todos músicos e temos essa qualidade de mixar jazz, soul, funk e muitos outros estilos ao vivo.

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Você entrou para o esquema naquele mesmo ano ou foi um pouco antes? Quem te convidou para participar da banda, algum dos caras das antigas?
Eu entrei para o Underground Resistance em 2007. Quem me apresentou ao Mike Banks foi o De'Sean Jones. Ambos entramos juntos, tocando com o Galaxy 2 Galaxy pela primeira vez no festival Montreux Jazz, apenas duas semanas após termos conhecido o Mike.

Sei que você começou na música pelo jazz. Onde está a relação do techno com o jazz, na sua visão pessoal?
Sim, meu principal background é o jazz. Se você voltar no tempo, vai ver que jazz era a dance music da época. Duke Ellington, Count Basie, Glenn Miller e todas aquelas big bands tocavam para que as pessoas pudessem dançar. O mais importante nesse tipo de música é sempre ser capaz de contagiar as pessoas para elas dançarem, mantê-las se mexendo. Esse é o ponto principal. A partir daí, acrescentamos improvisações e outros elementos ao vivo.

Ano passado você teve a chance de tocar ao lado de dois membros fundadores do UR, o Robert Hood e o Jeff Mills, não é? Como foi essa experiência?
Foi uma experiência que mudou minha vida. Eu tive muita sorte de poder aprender um monte de coisas com o Mike ao longo dos últimos sete anos. Ele me contou várias histórias do Jeff e do Rob que me inspiraram. Assistir aos três juntos no mesmo palco, como se eles estivessem visto uns aos outros tipo na semana anterior, foi incrível. Me senti honrado em dividir o palco tanto com o Jeff Mills como com o Rob Hood.

Para encerrar, conta aí pros leitores do THUMP o que tem de mais recente e as novidades do UR pelo caminho, pra galera ficar atenta.
Atualmente, meu grupo, o Timeline, está com um EP novo, UR-087 The Conscious Dream EP. Dá uma olhada no site www.submerge.com, que lá você encontra. Também temos algumas datas para tocar com o Timeline na Europa logo mais, vamos subindo todas as novidades em nossa página do Facebook. Fora isso, estou começando meu próprio selo de hi-tech jazz, o 4Evr 4Ward (forever forward), e o primeiro lançamento será ainda este ano.