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Música

Sobrevivi! Aqui Está O Que Eu Vi no Sónar Deste Ano

Nosso repórter ficou (quase) 120 horas no ar para narrar o que de melhor ele viu na capital catalã. Senta que lá vem história!

Em junho, você deve ter visto um vídeo imprudente de um jornal tipo Jornal Nacional, no qual as pessoas são repetidamente "desafiadas a cair na festa" por 24 horas seguidas no Sónar Festival. A diplomacia silenciosa é provavelmente a abordagem mais digna quando se leva em conta uma loucura no melhor estilo Medo e Delírio em Las Vegas. Ou, em outras palavras, ficar acordado 24 HORAS no Sónar. Então vamos ver o que eu queria ter feito com a edição deste ano da orgia de música eletrônica que rola em Barcelona. Em uma semana de dedicação ao festival, eu decidi vagar entre o melhor do que o Sónar, ou o off-Sónar, tinham a oferecer. E me decidi também a manter um diário dos altos, baixos ou nada disso das 120 horas gastas na loucura em meados de junho na capital catalã.

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QUARTA-FEIRA

Até este ano, a quarta-feira era caída no off-Sónar. Mas em 2014, o primeiro dia de festival já tinha uma série de eventos de dia e de noite. Infelizmente eu não poderia ver o showcase da galera do Maeve Records no El Monasterio que eu tinha planejado ir para dar o meu start no Sónar. Ainda assim, já tendo ido para a espetacular encosta em que o off-party foi realizado, e tendo ficado impressionada duas vezes com o Tale Of Us nos últimos dois meses me sinto qualificada para supor que certamente foi fantástico. Com vários, digamos, mantras de "Isso é uma maratona, não uma corrida" na minha cabeça, eu decidi ver o Feel My Bicep, Electric Minds and Mono_cult na quarta-feira à noite, shows que rolaram em um espaço enorme chamado Razzmatazz, em Poble Nou.

"… Mas é no Razzmatazz" é uma expressão comum quando se discute planos para o fim de semana nesta cidade. Mas o confinamento deste evento em vários cantos, geralmente em um lugar péssimo, eliminou a queixas habituais e virou um dos melhores momentos que tivemos durante toda a semana. Ficamos na maioria das vezes no palco principal, onde Bicep e Levon Vincent eram os headliners. Sentíamos um calor vindo do segundo palco e nos limitamos a ver alguns trechos do set do Mover D - durante qual o maestro Heidelberg parecia ter um balde água acoplado em sua cabeça. "Eu me sinto tão feliz agora", disse um dos meus amigos quando o Bicep tocou o som do Blaze: "Lovelee Dae". Em algum lugar, os deuses do Sónar sorriram, sabendo que eles já estavam fazendo sua mágica.

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QUINTA-FEIRA

A festa do Resident Advisor no já mencionado espetacular El Monasterio foi o nosso primeiro compromisso na quinta-feira, e apesar das delícias de um Move D atualmente meio seco e o b2b do Roman Flugel com o Midland, foi o set do John Talabot e o b2b do Axel Boman com o Talaboman que roubaram o show. Destalhes apimentaram todo o rolê, tipo rolar uma batida infecciosa sob "A Love Supreme", do Coltrane , enquanto víamos o anoitecer chegar criando um momento tão especial quanto qualquer outro que eu me lembre. Com o sangue de Glasgow correndo nas veias do nosso grupo, o showcase anual do Numbers na Sala Apolo no bairro de Poble Sec era a única opção para quinta-feira à noite. Mergulhamos no set de Hudson Mohawke, que eu descreveria como meio-trance, meio R & B e pequeno para ser agradável neste momento. Jackmaster arrastou a noite na última hora e meia. Habilmente construiu uma euforia com "Up" do Butrich e botou a casa abaixo com "Controversy" do Prince.

SEXTA-FEIRA

Melhor jeito de acordar impossível. Depois de dois dias de festa, meus atuais roomies em Barcelona me presentearam do nada com um delicioso e caseiro Bloody Mary. E ainda colocaram para tocar um mix abençoado do Paul Kalkbrenner. Adequadamente reabastecido, eu parti para o Sónar by Day, onde os sets ao vivo do Bonobo e do Jon Hopkins pareciam ter tocado em algum lugar em que estive e algumas visitas aos DJs James Murphy e 2 Many, com um set de seis horas focado no disco "Despacio", serviram como sessões revigorantes.

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Após algumas comidinhas e a visão hilariante de um bar cheio de catalães festejando em voz alta os infortúnios da Copa do Mundo para o time da Espanha, começou o showcase do Kompakt na Sala Apolo. Um show ao vivo do Kolsch superou um set bem trabalhado do DJ Michael Mayer, mas ambos foram ofuscados pelo Rebolledo, um cara que conhecemos e trocamos uma ideia do lado de fora, e cuja simpatia e amabilidade irão permanecer por muito tempo em nossas memórias.

SÁBADO

Meus companheiros de quarto por metade da semana do Sónar, por razões que permanecem meio obscuras para mim agora, optaram por deixar Barcelona no meio-dia no sábado. Então depois de duas horas de um sono incrivelmente insignificante fomos sonolentos até a estação de trem e nos despedimos entre murmurros. Um amigo que parecia um eremita e era meio mão de vaca ficou no lugar dos antigos roomies no que pareceu acontecer em segundos, trazendo uma dose extra de tragicomédia aos incidentes envolvendo a brisa e pessoas meio adormecidas. Após um banho, com pensamentos de merda como: consumi 12 euros em frutas e me escondendo de um dos meus alunos de inglês (esqueci de cancelar a aula do moleque), eu decidi voltar para o Sónar by Day.

Lá, eu peguei o novo show imersivo do Matthew Dear, Audion live/AV, uma excelente apresentação ao vivo da banda para The Inheritors. Também vi o DJ Harvey soltando um glorioso "Motion The Dance" do Untold fechando seu set mega soberbo. Depois disso, fui direto para o enorme Fira Gran Via, na periferia da cidade, para o Sónar by Night. Lá, o semi-onipresente, mas sempre bem-vindo, James Murphy nos aqueceu para o maior set de toda a semana, o Chic. Ele botou para rolar um turbilhão de favoritos intermináveis ("Everybody Dance", "I Want Your Love") e sucessos produzidos pelo Rodgers ("Like A Virgin", "Let's Dance", "Get Lucky"). Chic arrebatou uma das mais puras e irresistíveis atmosferas de festas que eu já presenciei. Quando "Le Freak" tocou, um amigo que havia declarado que o show do Purple One em Glasgow tinha sido o mehor de sua vida, me agarrou e gritou: "ISSO É MELHOR QUE PRINCE!"

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Tudo após o Chic teria sido um merda, apesar de os céus não terem se aberto em seguida, mas durante o set Boyz Noize em uma das áreas ao ar livre que foi exatamente o que aconteceu. Nesse momento vi que eu era uma das três talvez pessoas no Sónar estranha o suficiente para ter trazido um guarda-chuva, deixando as áreas ao ar livre abandonadas, a não ser por algumas aves raras esquisitas e frenéticas adoradoras de chuva. Tiga apresentou um set valioso e valente pra fechar, que eu assisti escondendo-me da chuva sob a ponta do teto do palco. Não é clássico do Sónar observar o por do sol se regozijando da vida, mas a nossa consciência dizia que cada um de nós já tinha tido uma das melhores noites de nossas vidas. Isso com certeza foi um grande consolo.

DOMINGO

Nosso desenfreado brilho pós-Chic nos levou a várias festas chatas durante o domingo, através das mais entorpecentes seleções de música de bom gosto. Como as pessoas começaram a sair fora no meio da noite, com duas horas de sono desde sexta-feira de manhã, eu coloquei meu chapéu mais uma vez e fui à proura daqueles saquinhos de fruta. Até que surgiu o desejo de levar minha carcaça até um táxi para o show do "The Night Slugs" no BeCool.

Lá encontrei a mesma atmosfera muito específica de domingo no Sónar que eu gostei no ano passado: todo mundo quebrado, mas também pessoas excepcionalmente amigáveis e tagarelas, com um toque de felicidade. Eu durei até as cinco da manhã. Nessa altura foi definitivamente a hora de colocar eu e meu Sónar 2014 na cama. Eu tinha grandes ambições para Segunda – show do Beachcoma à noite no Moog e uma festa secreta com o San Proper - mas todo mundo tem seus limites, e nós tínhamos atingido o nosso.

Kit Macdonald é um escocês vivendo Barcelona. Você pode segui-lo no Twitter:@kitmacdonald

Tradução por: Jules Sposito