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Música

O Tchami Não Teme a Diluição do Future House

O produtor francês assinou com a Ministry of Sound e viu seu nome entrar na roda do mainstream. Aqui ele conta por que não tem medo que as pessoas se apropriem do gênero que ajudou a fundar.

Há apenas 16 meses, o produtor francês Tchami soltou "Promesses" sem muito alarde. A faixa, a primeira original dele, com uma participação do Kaleem Taylor e lançamento online pelo selo Fool's Gold Clubhouse, chamou imediatamente a atenção - graças a uma estética que é ao mesmo tempo profunda, direta, grudenta e progressiva. Desde então, Tchami se tornou a cara do "future house" por meio de uma sequência de faixas e mixes que aproximam a vida noturna dos palcos dos festivais. No final de janeiro, o relançamento de "Promesses", agora pela gravadora Ministry of Sound, levou a faixa ao top 10 da parada de singles do Reino Unido, e enfim Tchami foi apresentado para o resto do mundo.

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As conversas dos fãs sobre as implicações do "future house" beiram o pedantismo desde que essa definição saiu do controle de Tchami e chegou a lugares que ele mesmo nunca esperou. Decidimos deixar o homem em pessoa esclarecer essa história: "O future house não era para ser uma ideia tão estreita", explica ele. "Na minha cabeça, o future house era para ser 'qualquer tipo de house que ainda não tivesse sido inventado', então eu nunca o considerei um gênero. Acho que as pessoas fizeram dele o que ele é hoje porque a minha música era peculiar e levava a uma aproximação entre o house e o EDM, o que não é ruim."

No ano passado, enquanto Tchami abandonava o underground, surgia um exército de imitadores da sua estética. Os festivais de todo o mundo foram povoados por suas linhas de baixo de frequência modulada, meio pesadas, e todo mundo, do Martin Solveig ao GTA, passando pelo Liam Payne, do One Direction, se apropriou da parada. Não é preciso dizer que o processo de diluição já está bem adiantado.

Mas este ciclo perpétuo de simulacro na dance music moderna não é algo que pareça incomodar Tchami, que enxerga o processo todo com um fatalismo quase zen. "Eu não o temo", ele diz. "Só sei que vai acontecer. É a evolução natural de tudo que você pode experimentar. O começo é sempre empolgante e cheio de esperança. A única coisa capaz de evitar que um gênero morra são artistas trazendo maturidade e complexidade a ele por meio de uma simplicidade aparente. O house em geral é cheio de artistas com uma mente madura, que entendem a cultura – conto com eles ao meu lado para fazer o gênero evoluir."

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Mas isso não quer dizer que o Tchami não saiba que todo moleque com um DAW e todo produtor em começo de carreira procurando uma solução rápida estão colando no som dele. "Procuro me manter positivo", diz ele. "A única resposta para um problema é criar uma solução. Então crio músicas novas."

O talento do Tchami para criar novos sons e descobrir artistas underground é exemplificado no seu MIXED BY do ano passado – que ainda é um dos mixes mais populares de todos os tempos do THUMP. "Descubro música no SoundCloud, principalmente", ele admite. "Também estou acompanhando de perto o que acontece no Reino Unido. Eles têm um mundo próprio que me inspirou muito, tanto quanto o hip hop dos anos 90 e 2000 e o funk do início dos anos 80. É claro, ouço o Daft Punk e artistas similares daquela época. A cena francesa é uma inspiração constante para mim. Para ser sincero, o DJ Mehdi era o artista com quem eu sentia uma conexão profunda – e ainda hoje é assim. Agora, escuto muito artistas como o Point Point. A vibe deles é revigorante."

Tão inconfundível quanto o som do Tchami é o seu estilo pessoal. Há meses tentamos desvendar o mistério por trás do nome dele, adotado durante uma excursão turística pela África, e o que significa o colarinho clerical que ele usa quando se apresenta. Nunca muito aberto, ele dos deu algumas informações. "Não quero ser mal interpretado neste ponto", ele começa. "Como muita gente, sou uma pessoa espiritualizada, então a roupa que eu uso reflete a minha espiritualidade. Não tem nenhuma piada ou chacota nisto. A essência da música é compartilhar algo profundo com as pessoas. Espero que o que eu visto leve as pessoas a ouvir a música de um jeito diferente. Só quero que a minha música faça as pessoas se sentirem bem e seja capaz de dar esperança a elas em relação ao seu próprio futuro."

Uma coisa que podemos esclarecer definitivamente é a pronúncia correta do nome do cara. "Só quero que saibam que o 'T' é mudo", ele ri. Por mais engraçado que pareça, o nome que esteve na boca de todo o underground no ano passado agora chegou ao mainstream, e enquanto o resto do mundo corre para recriar a sua mágica, o Tchami já está pronto para a próxima. "Só quero ficar na minha área e conectar as pessoas com a minha música", ele diz. "Vou fazer isso enquanto tiver algo para expressar."

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Jemayel Khawaja é editor assistente do THUMP. O seu disco de #FutureHouse sai na próxima semana: @JemayelK