“Where Are Ü Now”: Como New York Times nos Lembrou que É Possível Levar o EDM a Sério

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Música

“Where Are Ü Now”: Como New York Times nos Lembrou que É Possível Levar o EDM a Sério

Um vídeo, um podcast e um texto de 1600 palavras publicados no jornalão norte-americano explicam por que a marcha contra o EDM pode soar ultrapassada.

Vá agora para a seção de artes do New York Times, e você irá encontrar nada menos do que um vídeo de oito minutos, um podcast e um artigo de 1600 palavras sobre o mega hit de Skrillex, Diplo e Bieber, "Where Are Ü Now". O jornalão norte-americano entrevistou todos os envolvidos na canção que analisaram a faixa com seriedade e sinceridade. O resultado é um retrato da música, desde a sua concepção ao seu nascimento. É o tipo de tratamento que inúmeras publicações deram a cada uma das faixas de Sgt Pepper, Autobahn e Dark Side of the Moon, mas dessa vez a cobertura foi dedicada a uma composição que, no máximo, deveria ter tido a atenção de uma canção pop básica. Algo vendável, mas não memorável.

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Foi essa suposição que me fez não ouvir "Where Are Ü Now" por algumas semanas depois que ela foi lançada. Tratava-se mais de uma confiança básica, nunca acreditei que se tratasse de uma canção relevante para mim ou para a cultura pop como um todo. Skrillex e Diplo (Jack Ü) são o tipo de artistas que lançam colaborações, remixes esquisitos e singles lado B com uma boa regularidade — e não havia razão que me fizesse pensar que com "Where Are Ü Now" fosse diferente. Ainda assim, a faixa atraiu cada vez mais atenção, acabei ouvindo o som eventualmente e, olha, fiquei sinceramente surpreso.

Isso não quer dizer que imediatamente eu tenha pensado "caralho isso é muito foda", mas para uma faixa de quatro minutos feita por artistas cuja produção é presumível, "Where Are Ü Now" se provou na verdade uma inteligente faixa de música pop. Do refrão imediatamente confortável no falsete de Bieber à batida, até aquela sozinho estridente que parece uma flauta (que é na real a voz de Bieber esticada e distorcida), a faixa não tinha o DNA típico do EDM. Ao contrário, a música consegue se comportar como uma grande canção pop, enquanto permanece, em algum nível, estranha.

É estranho (e possivelmente um tanto irritante para o grande contingente anti-EDM) que o New York Times tenha decidido que esse seja o ponto alto da música em 2015, dedicando à música uma cobertura sem precedentes. O vídeo, o podcast e o texto são absolutamente dignos de nota. Não falo apenas em volume, mas sobretudo do tom do jornal que tratou a faixa como um marco cultural — sem se render à condescendência dos comentários sobre EDM, 'Molly', ou à ilustre carreira de drag racing de Justin Bieber. Antes, as peças focam na produção, como os artistas se encontraram e qual o fator que faz a faixa tão presente e penetrante nesse ano.

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Muito sobre o sucesso do som é colocado nas disparidades de identidade entre os colaboradores, o que faz da faixa uma conquista do pop para Skrillex e um momento no qual Justin Bieber virou um artista viável para um público de EDM, que de outra forma o ignoraria. Falando especificamente em EDM, "Where Are Ü Now" representa um raro momento de um gênero que é amplamente tachado como infantil e portanto menos legítimo dentro da música. Enquanto a música tem alguns momentos potencialmente risíveis (cada vez que Bieber fala "Pooh Bear [Ursinho Puff]", ou usa referência a "sons caros" por exemplo), é difícil não ver as peças em conjunto e admirar o trabalho e o engenho que foi colocado na faixa — pegar uma gravação acapella e converte-la em um hit selvagem e maluco com ajuda da tecnologia. É por isso que o New York Times está levando o EDM a sério.

Posto tudo isso, ainda parece existir, é claro, um desejo de insistir que a faixa é uma bosta. Desde o lançamento da música, Deadmau5 tem liderado uma luta contra "Where Are Ü Now" — o produtor faz uma paródia da música em seu SoundCloud e vídeo ridicularizando o som no seu Instagram em resposta ao artigo publicado no New York Times. Talvez seja engraçado ver essa reação do Deadmau5 se você gosta desse tipo de coisa, mas cada vez mais seus ataques à faixa soam como cuspir pra cima já que a música, quer queira quer não, conseguiu juntar pontos distintos da música americana mainstream ao mesmo tempo que tem tutano para chamar atenção dos críticos.

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A trollagem de Deadmau5 é parte padrão das conversas que cercam o mundo de Skrillex e Diplo. Ele, e incontáveis outros DJs e produtores, adoram atacar as produções bobas, grandes orçamentos e tudo mais que eles percebam como uma traição gratuita da rica herança da dance music. Pessoalmente, nunca entendi por que Deadmau5 se coloca na oposição da produção de um gênero que é tão difícil de distinguir do que ele próprio faz.

É claro que é trata-se de um disco pop, isso não é um chamado para elevar a faixa ao mesmo patamar de Alcachofa nem nada parecido, mas hoje em dia nós existimos em uma cultura que está mais preparada intelectualmente do que nunca para dar valor à música pop. Não se trata de comprara "Where Are Ü Now" com o duo Autechre. Mas a importância dada à música pelo New York Times, e similares como essa entrevista com Skrillex desse ano, são sinais de que o EDM pode ser tão sério quanto música pop — uma perspectiva que talvez tenha vindo tarde, e é algo com o qual os oponentes do EDM podem aprender. Talvez o contínuo ataque contra o movimento permaneça porque seus críticos tentam desesperadamente comparar o EDM com algo completamente diferente — lutando contra o que é essencialmente híbrido, altamente sintético, canções pop com finas referências ao acid house ou techno. Talvez se o EDM possa ser visto como música pop, como "Where Are Ü Now", o gênero poderia fazer muito mais sentido para os cabeçudos que o odeiam tanto.

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Isso não quer dizer que o EDM leva um passe "ah, isso é só música pop". David Guetta, da discotecagem em Ibiza no começo de sua carreira ao lançamento remixes de "If You're Happy and You Know It", é absolutamente terrível. No entanto, ao ver e ler os comentários sobre o hit de Diplo e Bieber, é difícil não concluir que produtores (Skrillex em particular) são artistas que fazem um papel notável na inovação da música pop.

Por fim, é um exercício que prova que a maior sacada é uma tarefa simples. O New York Times nos desafia sobre o quão seriamente estamos preparados para lidar com música que não é ostensivamente acadêmica. É uma coisa importante esse lance de produzir ambiências elaboradas, techno estilhaçante ou noise conceitual abrasivo — mas é outra, possivelmente mais difícil, a tarefa condençar uma ideia em sua forma mais simples, no formato "pop". É um processo que depende da habilidade inata do artista de alcançar indivíduos. Para fazer isso, e para conseguir platina em seis países ao fazer o Justin Bieber soar como um golfinho tocando flauta, é realmente algo que merece ser levado a sério.

Skrillex fecha o video do artigo dizendo: "Para mim é tão maneiro que estamos em uma era na qual as pessoas pensam que você tem talento se você faz música no computador. Eu acho que é incrível [fazer música no computador], mostra o quanto isso ainda é novo e como isso vai ser relevante por um bom tempo". Considerando essa perspectiva e o sucesso de "Where Are Ü Now", a marcha contra o EDM está soando cada vez mais ultrapassada.

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Tradução: Pedro Moreira