FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Ultramajic: O Selo de Xamanismo Digital de Jimmy Edgar

O DJ de Detroit fala como fundou a gravadora e conta detalhes do seu mais novo álbum, ‘Metaphysix: III, Correspondence’.
Foto por Vitali Gelwich

A série Imprints traz regularmente perfis dos selos mais saborosos do mundo afora com pareceres de quem faz e acontece nas cenas locais de música eletrônica.

Nome: Ultramajic
Fundação: 2012
Lançamento: Metaphysix: III, Correspondence
Próximos shows: Jimmy Edgar, na Output

Não é muita gente que pode dizer que tocava nas raves de Detroit nos anos 90 quando tinha apenas 15 anos – mas Jimmy Edgar pode. Com uma longa história de envolvimento com a música eletrônica, Edgar já lançou discos pela Warp e viu o seu nome no line-up do DEMF (Detroit Electronic Music Festival) centenas de vezes. O seu empreendimento mais recente é um selo próprio, o Ultramajic, que vem ganhando muita atenção na sua curta trajetória na cena. O THUMP conversou com o mestre da música sobre a sua última empreitada.

Publicidade

THUMP: Você pode explicar o nome do seu selo, Ultramajic?
Jimmy Edgar: O nome surgiu em 21 de dezembro de 2012. Não por nenhum motivo além de pura coincidência, enquanto estávamos viajando para Machu Picchu. Era noite, e estávamos relaxando e vagamente imaginando se alguma coisa especial ia acontecer nesta viagem. Estávamos na Argentina, e em seguida íamos para o Peru. Enfim, eu estava vendo Arquivo X e tinha uma cena com uma papelada e um carimbo que dizia "ONLY MAJIC EYES" [algo como "apenas olhos mágicos"]. Apesar de eu já ter visto isto antes e feito muita pesquisa sobre MJ12, me inspirou a escolher o nome, já que o selo tinha a ver com música futurista, xamanismo digital e altares virtuais. Além disso, eu já tinha feito um disco chamado Majenta, então parecia se encaixar na história.

Por que decidiu criar o selo? A sua arte visual tem um papel tão importante quanto a própria música?
O plano desde o começo era fundir um visual e feeling muito específicos para dar à música um espaço mais visual. O selo foi criado para ser o lar de todo o nosso trabalho de um jeito muito focado. O Ultramajic é uma espécie de lente de aumento para a nossa luz solar.

Como crescer em Detroit influenciou você pessoal e musicalmente? A cidade continua a influenciar, apesar de você morar em outro lugar agora?
Já me perguntaram isso muitas vezes e eu sempre digo algo diferente. Não sei mesmo o que seria diferente se eu tivesse crescido em outro lugar. De alguma forma fui inspirado pela luta e o desespero de Detroit. Acho que me identifico com o que o Juan Atkins disse sobre as pessoas em Detroit imaginarem um lugar melhor. Que é o motivo por que ele gostava de Kraftwerk e ficção científica, porque essas coisas representavam tecnologia e inovação. Detroit era uma cidade voltada para a tecnologia, para a revolução industrial, e infelizmente ela meio que ficou para trás quando surgiu a internet, que é mais da minha geração. Eu poderia dizer que os meus amigos e eu fomos os primeiros de Detroit a fazer sucesso na internet, quando a indústria da música já estava passando por uma transformação dramática. Ainda era preciso pesquisar e encontrar estilo; antes disso, você só tinha a cultura da sua região, que era muito diferente do que é hoje em dia porque há quantidades massivas de subgêneros e subculturas virtualmente em qualquer lugar.

Publicidade

Fale um pouco sobre Metaphysix: III, Correspondence, que foi lançado no dia 15 de setembro.
O disco se chama Metaphysix: III, Correspondence porque tem relação com os princípios herméticos. Vejo uma relação dos princípios com a teoria quântica e amo tudo sobre este assunto, especialmente a Teoria do Universo Holográfico. A lei diz: "Assim como é em cima, é embaixo. Como é embaixo, assim é em cima". Acho esta lei importante porque consigo perceber como a cultura se movimenta como uma revoada de pássaros, e embora possamos não estar em comunicação direta, nos valemos de outros meios para nos comunicar e relacionar. Isto se materializou na forma da relação entre Paris e o Ultramajic, porque descobrimos uma afinidade enorme com Paris por alguma razão. Ganhamos uma demo do Bobmo, que fez o corte, e é uma das minhas faixas preferidas. E é claro, nossos bons amigos French Fries e Bambounou também quiseram participar. Além disso, apresentamos uma nova artista que está desconstruindo a nossa ideia do que um DJ/músico deve ser, Crystal Bandito. Ela é uma porta-voz virtual do selo e vai se apresentar para o público com um vídeo no YouTube.

Como você escolhe um artista ou faixa para o seu selo? Você testa as faixas na pista antes de saber que elas se encaixam no Ultramajic?
Sim, mas depois de discotecar por tanto tempo, quando você ouve uma faixa, você sabe se vai funcionar ou não. Não confio em nada que é incerto, e se a faixa não é incrível, então não sentimos nenhuma necessidade de dedicar algum esforço a ela. Toda a vibe do selo é manifestar coisas que são incríveis. É por isto que ele tem tido sucesso, porque somos todos apaixonados por ele, adoramos a música e a arte. Quando Pilar Zeta e eu fazemos as capas, usamos uma checklist que é meio que uma piada que se revelou uma verdadeira ferramenta. É: "DIVERSÃO, MÍSTICA, MÁGICA, MODA". Primeiro, tudo tem que ser divertido, esse é o item número um. Depois gostamos de criar alguma tensão e mistério acrescentando filosofia mística. Isto cria uma necessidade de saber mais e um desejo de viver dentro da arte. Mágica é o casamento da diversão com a mística. A moda é algo que é culturalmente relevante hoje, e isto normalmente se materializou como algum tipo de padronagem ou textura que fizemos.

Você vai se apresentou na Output, no Brooklyn, no dia 18 de setembro. Já tocou lá antes, Não é? Tem alguma coisa que você goste em particular na cena de Nova York?
Sim, muitas vezes. Adoro a Output. Só fui lá uma vez quando não estava tocando e me diverti muito, reacendeu meu entusiasmo pelo techno nos EUA. Acho incrivelmente importante que os americanos estejam descobrindo a vibe das verdadeiras festas dance. Teve uma época nos Estados Unidos em que, apesar da cena rave, quando um DJ tocava, todo mundo ficava parado em volta sem saber direito o que fazer. Isso porque ou eles não entendiam a música, ou se sentiam inseguros em dançar. Vejo o Boiler Room como um espaço muito influente para esta cultura, porque agora não fechamos os olhos para o que o resto do mundo está fazendo numa festa dance. É um assunto muito profundo para mim, porque tenho algumas crenças sobre a dança e como ela se relaciona com as culturas indígenas. Os DJs meio que fazem o papel do xamã hoje em dia, e embora ainda seja diferente, estamos começando a redescobrir por que dançar é importante, o que faz com o corpo e a mente e por que exatamente os indígenas gostavam tanto disso.

Algumas das suas primeiras experiências musicais em Detroit foram em igrejas batistas, mas, em contraste, outras foram em strip clubs e raves. Como essa gama diversificada de cenários musicais te influenciou?
Eu só estava na igreja para aprender música. Quanto aos strip clubs e raves, só estava lá pela música também. Claro, me diverti, mas tinha um objetivo em mente. Acho strip clubs toscos pra caralho, mas a maioria das igrejas não é lá muito melhor… As raves são bem escrotas também, mas não estamos lá para ficar limpos, né?

Tradução: Fernanda Botta