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Música

“O Fã da Tribe É Tipo um Torcedor de Futebol”: Entrevistão com Du Serena, Organizador da Tribe

Uma das maiores festas de música eletrônica do Brasil rola neste fim de semana, com quatro palcos, 50 DJs e muita história para contar.

Cerca de 50 pessoas, à época amantes do psy trance, dançando na sala de um sítio em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. A festa deveria acontecer ao ar livre, mas a chuva atrapalhou os planos dos organizadores. A vontade deles era ter um evento no qual pudessem mostrar o som que faziam, uma vez que também eram DJs, aos amigos mais próximos.

Assim foi a primeira Tribe, que no próximo dia 17, após o hiato de um ano em São Paulo, vai escrever mais um capítulo de sua história. Desta vez, porém, os 50 ravers que estiveram na primeira edição, no longínquo 2000, fritando no ritmo do psy trance, terão a companhia de aproximadamente outras 30 mil pessoas, que irão até a Arena Maeda, em Itu, interior de São Paulo, curtir os mais de 50 DJs que se apresentarão na festa, dividida em quatro diferentes palcos.

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Mas o psy, tão característico nos primeiros cinco anos da Tribe, hoje terá de dividir espaço com o house, deep house, techno e outras vertentes da música eletrônica, hoje caracterizada pela segmentação de estilos. Assim, os mais acelerados, embalados pelas 145 batidas por minuto do ritmo que colocou a Tribe no cenário da música eletrônica mundial, atraindo importantes DJs como o israelense Astrix, vão eventualmente trombar, na grandiosa Arena Maeda, com fãs menos afoitos a fritar até o sol nascer. Isso, porém, não significa menos curtição.

Longe disso. Estarão por lá hente de todos os gêneros, em sua maioria portando óculos escuros, blusa para se proteger do frio durante a madrugada, tênis velhos ou botas nos pés – a lama é serventia da casa nessas festas open air – e muita disposição para aguentar as 12 horas de sonzera. Figurino e características que não mudaram nos fãs de raves, que saem de suas respectivas cidades e migram, nem que sejam por algumas horas, para um local rodeado de verde, a fim de esquecer a realidade se afogando em música e outros inúmeros outros produtos que variam de pessoa para pessoa.

Mas a Tribe não estará restrita apenas à música. As artes visuais são parte importante das cenografias das tendas e dos quatro palcos onde os DJs vão se apresentar. "A tenda do palco Solaris vai ter uma estrela de 12 pontas, de 55 metros de diâmetro, toda pintada a mão por uma equipe que vem da Bélgica e da África do Sul", adianta Du Serena, um dos organizadores e fundadores da Tribe, em entrevista exclusiva ao THUMP. "Cada palco tem a sua identidade visual e sonora, o que é algo muito importante para a experiência que o cara tem em um festival de música eletrônica. Seria muito fácil colocar a tendinha e o DJ, estaria ótimo, mas é o algo a mais que faz a Tribe ser o que ela é."

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A uma semana da Tribe, no meio da correria da definição dos últimos detalhes da cenografia e já no início da montagem dos palcos em Itu, Du Serena recebeu a reportagem da THUMP para uma conversa franca e longa (bem longa, inclusive) sobre o festival e o sobre o atual cenário da música eletrônica no Brasil. Leia o papo na íntegra logo abaixo, com algumas fotos de arquivo especialmente selecionadas que mostram a evolução do cenário que envolve o festival.

Tribe na Pedreira, em SP.

Desde o anúncio de que a Tribe voltaria a acontecer em São Paulo, em janeiro deste ano, a movimentação nas redes sociais, principalmente no Facebook, foi grande. Tinha gente sugerindo DJs, já reclamando de possíveis atrações etc.
A gente brinca que o cara tatua a marca Tribe no braço. É muito diferente de outros grandes festivais, sem citar nome nem nada. O público da Tribe se sente realmente parte da marca. Eles querem saber os mínimos detalhes, querem dar palpite. E isso é muito bacana. O público fica muito engajado nas redes sociais. A gente posta qualquer coisa e já surgem vários comentários, várias curtidas, eles também ficam bravos…

E vocês ouvem essas reivindicações?
Sem hipocrisia, a gente ouve na medida do possível. Claro que a gente quer escutar o que os caras têm a dizer em relação ao line-up, é importante esse feedback para direcionar o festival para lá ou para cá. A Tribe é um misto de coisas. Ela é a nossa visão, como produtores, do que é legal, do que é bom, do que a gente acha adequado e também, claro, tem participação do público, a gente tem que escutar o que os caras querem. Mas a gente procura impor a nossa visão do que é bom na música, na cenografia, em todas as áreas necessárias para fazer o festival. É um mix. A gente não pode dar tudo o que eles querem, se não a gente perde o DNA, a identidade… Não podemos ser arrogantes, achando que somos os donos da verdade, que é do nosso jeito e acabou, porque a marca está em constante mudança, desde o começo, quando a gente era uma festa de 50 pessoas, no sítio, que choveu… A coisa vai crescendo, andando, mudando. O importante – e isso é um dos segredos do sucesso – é que o DNA da Tribe, que é trazer a coisa e surpreender, se mantém o mesmo desde que a gente fez a primeira festa. Acho que surpreender é a palavra que pode caracterizar a Tribe, porque a gente sempre teve essa preocupação de quando o cara chegar lá [no local onde está rolando o festival]. "É isso?" [faz cara de surpresa, de encantamento]. Isso não tem preço. A melhor promoção que existe para um festival é o festival que a gente entrega hoje. Claro que precisa pensar no line-up, precisa tudo ser o melhor, porque o fã da Tribe é tipo o torcedor do Corinthians e do São Paulo, não aceita jogador meia-boca ou bom. Tem de ser o melhor que existe. Então, a gente encara dessa maneira, surpreender o cara, na hora que ele chegar lá no festival, ver o que ele nunca viu antes. Ele pode curtir o artista headliner, top, que todos querem ver, mas também pode ver quem vai ser o top daqui a pouco.

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Quando vocês começaram a pensar na Tribe #ORetorno?
Não teve a Tribe em São Paulo em 2013 por vários motivos. Primeiro, fazer um evento deste porte é muito complexo. A gente percorre um certo caminho criativo. Então não é simplesmente: "Vamos fazer mais uma, montar um line-up e acabou". Isso envolve toda a parte da criação de cenografia, toda a parte de criação de um arte nova, o line-up precisa ser superior ao da edição passada, porque se não for tão bom ou melhor do que o outro, o cara vai dizer que não quer ver esse jogador. Criamos essa expectativa de que damos o melhor, então não é fácil dar o melhor sempre. Sendo assim, por questões de mercado, a gente achou que não estávamos encaixando uma data boa. Hoje vamos entregar um festival que, se fosse feito no ano passado, não conseguiríamos entregar. Estou trazendo uma equipe de cenografia que vem da África do Sul e da Bélgica, que vai fazer o palco Solaris. Temos três equipes de cenografia trabalhando, e este processo demora um certo tempo, pois eu vou viajar, eu vou olhar. E, no meio de tudo isso, eu também faço outros eventos ao longo do ano. Não sou um robô, que aperta um botão e vem um monte de coisa. São diversos fatores, sendo os mais importantes esses que eu citei.

Pode dizer qual vai ser a periodicidade da Tribe daqui pra frente?
A gente vai sempre avaliar o que é melhor para o evento. Se tiver de acontecer todo o ano, a gente faz todo o ano. Se eu sentir que, um dia, tal ano a gente não vai fazer e eu avaliar as variáveis do mercado que indiquem que não vai rolar… É mais "feeling", sabe!? Não posso falar que será todo o ano ou que será a cada dois anos. Não tenho compromisso de fazer todo o ano e não tenho compromisso de fazer de dois em dois anos. Vamos esperar passar a Tribe #ORetorno e aí a gente amadurece a ideia.

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Você falou bastante sobre essa questão do mercado e de melhor data para fazer um festival. Neste ano, a data da Tribe iria coincidir com a Kaballah, outro festival de música eletrônica. Como é a relação com os produtores das outras raves para evitar que as festas ocorram no mesmo dia ou que tragam as mesmas atrações?
A relação é amigável. Ao mesmo tempo em que somos competidores, nós também somos aliados, porque todo o mundo cresceu junto: a Tribe, a XXXperience, a Kaballah, a Tribal Tech, a Playground… Uns têm mais afinidades com uns e outros com outros. A Tribe procura ter um bom relacionamento com todo o mundo e a gente conversa para não bater a data. No caso, esta data de 17 de maio foi realmente uma grande surpresa, porque a Kaballah fez duas edições no ano passado, em maio e em dezembro. Nós realizamos oito edições em maio. Ah, já que eles estão fazendo duas edições seguidas, eu pensei: "Ah, em vez de fazer em julho, vamos fazer em maio". E quando nós lançamos, eles nos ligaram e falaram que estavam pensando em fazer mais uma Kaballah na mesma data. Foi aí que sentamos para conversar e acabamos nos entendendo. Eles, gentilmente, nos cederam a data e deu tudo certo.

Vocês têm batido na tecla que não são mais apenas uma rave, mas, sim, um festival de música eletrônica. O que a mudança do termo, de nomenclatura, representa?
Somos uma marca que já tem 14 anos, e você não muda a percepção do público de uma hora para outra. A coisa vai mudando. Mas basta você olhar as duas últimas edições em São Paulo para perceber que a Tribe não é apenas uma rave. Se você for olhar e constatar o nível de produção, o tamanho, a variedade musical. É que a palavra rave ficou muito mal vista no mercado, mas rave é o processo de você ir e se jogar, curtir adoidado. Ficou um pouco estigmatizado o termo, mas, na verdade, os grandes festivais são raves. É que não se usa a palavra porque não é "politicamente correto". Toda a maratona de música eletrônica é uma rave, o Sensation, o Coachella, o Ultra Music Festival, o Tomorrowland. Qual a diferença entre uma rave e o Tomorrowland? É que rave tem uma conotação meio ilegal. A palavra traz várias coisas. Mas você olha hoje e vê que a Tribe é um grande festival de música, são quatro palcos musicais, com várias coisas acontecendo ao mesmo tempo

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Mesmo depois de 20 anos da primeira rave no Brasil, que dizem ter acontecido em 1992, e do sucesso de todos esses festivais que você citou, incluindo a Tribe, um festival de música eletrônica ou uma rave, enfim, é ainda estigmatizado pela grande imprensa ou por quem não acompanha o cenário da música eletrônica?
Eu acho que sim, porque, como eu te falei, você tem uma marca que é um Titanic ou marcas que são muito grandes nesse segmento. Então, se você vê um iceberg que está na sua rota, você tem que virar para trás. Então, muda o rumo. A percepção do público e da mídia vai mudando ano a ano. Às vezes, o jornalista que foi à Tribe ou soube o que era a Tribe há cinco anos, não foi de novo e fica com aquela percepção de anos atrás. Então, pouco a pouco essa imagem vai mudando. Eu acho que a gente está no processo de mudança, quiçá em alguns anos a Tribe seja um grande festival não só de música, mas também de arte. Quando a gente começou, em 2000, eu nunca ia falar que seríamos um festival para 30 mil pessoas, com 50 DJs. Aquilo era um sonho. Ano a ano estamos trabalhando para trazer mais conteúdo, mais arte.

A Tribe não é apenas música. A interação que vocês fazem com a arte é impactante.
É isso. Eu lembro que, quando a gente fazia a festa na Pedreira, eu descia, percorria o caminho, chegava me imaginando como o público, olhava e pensava: 'Nossa, tá foda, é isso aí, estamos no caminho certo'. Este impacto é muito estratégico e importante mesmo.

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Falando um pouco sobre o line-up, é muito difícil trazer esses 50 DJs para a Tribe? Chega muito material para você?
Cara, é um longo e constante processo de pesquisa. Eu sou DJ e ouço música todos os dias. Dentro do meu universo musical, que é o deep house e o techno, eu sei muito bem o que está acontecendo, quais são as novidades, quais são os caras que eu acho que vão estourar. Tenho também um conhecimento muito grande de psy trance, eu sei escutar o que é bom e sei escutar o que não é. Sei o som que tem a cara da Tribe. A partir do momento que estou escutando música eu estou antenado, pensando se isso pode ou não entrar na Tribe, é um processo que acontece naturalmente na minha cabeça. Conseguir reunir todos esses artistas é muito difícil, porque, por incrível que possa parecer, para os "big names" o Brasil não é uma prioridade. Pelo menos é o que eu sinto na hora de contratar. Ah, todo o mundo gosta de vir para cá, tocar, a experiência é boa, mas não está na prioridade deles vir para o Brasil. Tem que encaixar quando o cara pode/quer vir. Você tem que formar turnês, pois ele não vem com uma data só. Aí, a gente conta com a minha agência, a Kontrol Agency, e agências parceiras com as quais eu trabalho o ano inteiro em outros eventos. O segredo do line-up da Tribe é a variedade. Tem o cara que eu quero colocar e que eu acho bom. Tem o cara que o público quer ver/tem a ver com a Tribe e tem as novidades. O line-up da Tribe sempre vai ter esses três fatores. Na Tribe #ORetorno, trouxemos coisas antigas nesse line-up, um artista que não vem há muito tempo na pista Solaris. É sempre uma mescla artística, mas todos eles, juntos, fazem um sentido.

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Você disse que procura DJs que têm o som da Tribe. Qual é esse som?
O som da Tribe é qualidade. A gente não conta com o artista pelo nome, mas, sim, pela música. Isso é muito relevante. Teria nomes que eu poderia trazer, que vendem ingressos, e que, meu, não caberiam em uma Tribe. Os meus torcedores ficariam putos se eu colocasse um atacante X, e eu também não ficaria bem se o colocasse. Então, a gente vai mesmo pelo som. Sempre, desde o começo, eu por ser DJ tenho um senso crítico bastante apurado. A gente vai pela música do cara.

E chega muito material para você?
Chega, sim. Vira um inferno toda vez que a gente anuncia que vai ter Tribe. Não para. Não dá tempo de escutar. Eu vou muito mais pelo que… E, falando de novo, aquele papo de arrogância. Não sabemos tudo, mas eu tenho os meus conselheiros, gente em quem eu confio. Eu os escuto para chegar a um resultado. Então é importante esse processo também. Você não faz um evento como a Tribe sozinho. Hoje eu não escuto mais psy trance, mas eu tenho caras que chegam e falam: "Du, esse cara é bom, escuta!". Eu vou lá e escuto e decido se vai ou não. Escuto também o público e, se eu achar que é interessante, a gente coloca.

E dentro da lista de DJs da Tribe #ORetorno percebe-se que somente o Martin Garrix está na lista dos cem DJs mais populares da "DJ Mag", lista bastante aguardada e divulgada anualmente. É uma opção não ter artistas que figuram nesta lista, como Avicii e Calvin Harris?
Não é uma opção. Apesar de ser muito comercial e não ter muito a ver com a Tribe, o Avicii é um puta de um artista. Só que a gente trabalha dentro de realidades e valores. A Tribe é conjunto, não é um super headliner, um nome. O Avicii custa o line-up inteiro da Tribe #ORetorno. Eu tenho de colocar qualidade em quatro palcos hoje. Não dá para apostar todas as minhas fichas em apenas um artista e nem quero isso. De novo: a Tribe é o conjunto musical. Tem cara que vai à Tribe e não sai da pista Solaris ou da pista Domo ou ele sai um pouquinho para ver um outro artista mas volta para uma pista. A gente não aposta e a gente nunca apostou em um grande nome, até porque eles chegam a valores absurdos. Não tem nenhum super nome, tem muitos nomes muito bons. Não tem David Guetta, Aviici, Calvin Harris, esses caras que são muito caros e, para nós, não valem a pena.

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Ter vários palcos e selecionar artistas para cada um deles facilita ou não a vida de vocês?
Complicou, porque você tem de dar a mesma atenção para todos os palcos. Guardadas certas proporções, são mais nomes, mais produção, mais DJs que você tem de ver.

A Tribe em 2010.

Essa necessidade de mais palcos foi uma exigência do mercado e do público?
Foi acontecendo. A gente nasceu de um evento que era só de psy trance. A gente, aí, foi colocando psy trance, progressive trance e no final techno e tech house. Aí, a gente sentiu a necessidade de um palco só de techno e techno house. Foi mais pelo "feeling". Além disso, era o tipo de som que eu estava tocando há algum tempo, eu queria explorar isso dentro do evento. Foi estratégico. Até mesmo para agregar público: tem cara que não quer mais ouvir psy trance, mas ele pode continuar indo à Tribe para ouvir outro tipo de som.

Saiu recentemente uma reportagem na New Yorker falando que Las Vegas está começando a investir na indústria da música eletrônica, na contratação de DJs para tocar nos clubes de lá, e que isso já estaria dando um retorno financeiro maior do que os cassinos. Qual a sua opinião sobre essa ascensão da música eletrônica nos EUA? Isso vai ajudar o mercado ou pode torná-lo mais burocrático?
Não creio que haverá uma burocratização no mercado, pois, embora o americano possa, sim, ser burocrático, ele é muito criativo. Eu já fui a festivais nos EUA, acabei de chegar do Coachella, que é uma referência para mim. Terceiro ano que vou e sou surpreendido. Eu saio de lá com a sensação de uma experiência completa, desde o local, da estrutura, da organização, do line-up, da cenografia. Eu acho positivo perceber o desenvolvimento da música eletrônica, não importa o lugar, porque a tendência é que mais produtores apareçam. E a gente vive de música, se não tiver festa ou mercado ou heróis, um moleque de 15, 16, 17 anos, não vai querer aprender a fazer som. Eu acho que é um processo interessante: os EUA são o maior mercado do mundo de entretenimento. A presença da música eletrônica por lá já é uma realidade há alguns anos, basta se lembrar do Ultra Music Festival e do próprio Coachella, que não é só focado em música eletrônica, mas tem três pistas para a música eletrônica de diferentes estilos. Há até DJs que tocam em palcos onde também se apresentam grandes bandas. Neste último Coachella, por exemplo, o Calvin Harris tocou no palco principal. No primeiro ano em que estive lá, foi o Tiësto.

Segundo reportagens, o Calvin Harris é o responsável pelo segundo maior público da história do Coachella.
Estava muito cheio, absurdo. Eu só ouvi duas músicas e fui embora, pois não é o estilo de som que eu gosto, mas eu queria ver o que estava acontecendo. Eu vejo de maneira positiva isso tudo. O Ultra, dentro do conceito deles, é muito bom, criativo. Não é o meu estilo de festival, eu fui uma vez e não volto mais, mas o que acontece em Miami naquela semana é indescritível. Cara, tem 500 festas acontecendo. Você olha a programação e não imagina o que está acontecendo. Tem 30, 40 opções de festa por dia. Eles também estão fazendo o TomorrowWorld… Quando os caras colocam a mão na massa dentro da área do entretenimento, não tem para ninguém.

Ver a evolução da Tribe é observar também a evolução do público das raves e dos festivais de música eletrônica no Brasil.
Eu não gosto de falar em evolução. Pode soar que o passado é ruim. Eu falo de mudança. Quando você é mais novo, você gosta de um tipo de som. Ao ficar mais velho, o seu gosto musical muda. Talvez você ouça rock do começo até o fim da sua vida. Mas, na música eletrônica, você passa por essa mudança. Quando você é mais novo, eventualmente, você gosta de algo mais energético. Quando você tem 30, 35, 40 anos, você não vai querer, eventualmente, dançar a 145 batidas por minuto. Quando eu comecei a fazer a Tribe, eu tinha 19 anos e gostava de um estilo de som e, naturalmente, acabei mudando o meu gosto. A maioria das pessoas muda. Eu ainda gosto de psy trance, mas não escuto diariamente. O mercado muda também, ele cresce ou diminui. No caso do Brasil, cresceu bastante. Música eletrônica é uma realidade há muitos anos. Quando a gente começou a fazer a Tribe, tinha 20 DJs desse segmento muito bons. Hoje você tem muitos caras, produtores, DJs. E isso vai também alimentando o mercado, que está em constante mudança também. Foram-se criando estilos dos estilos, foi segmentando mais o mercado, e com isso você consegue mais público. Antigamente, você tinha três, quatro estilos, hoje você tem 20. Fica algo mais abrangente.

A Tribe teve um crescimento gradual. Cinquenta pessoas na primeira Tribe, 400, mil, 3 mil pessoas e de repente 25 mil pessoas. Foi benéfico esse crescimento natural? Foi importante para, aos poucos, se prepararem para uma grande quantidade de público?
Sem dúvida. Mesmo com 14 anos de experiência, é muito difícil fazer um festival grandioso. Em 2005 já tivemos um público de 25 mil pessoas.

E aí?
Foi uma festa que choveu muito, caótica, super difícil. Mas você vai aprendendo. Nos próximos eventos, vai se preparando melhor. Até 2005, nunca tinha chovido na Tribe. A gente não sabia o que era. "Ah, na Tribe não chove, na Tribe não chove". De fato, na Tribe não chovia até então. Mas a chuva você não controla. A partir do momento que você está fazendo um evento open air, é impossível tudo sair direitinho, sobretudo quando uma chuva muito forte chega. E um grande risco, e o público também o assume ao ir a um festival ao ar livre. Tem grandes festivais, como o Glastonbury e o Creamfields, na Inglaterra, que já são conhecidos por chuva. Os caras vão de bota, galocha, preparadões. O grande inimigo das open air é o tempo. Se fizer sol é lindo, se chover pode ser ruim.

Há boatos de que haverá uma edição do Tomorrowland no Brasil. O Ultra Music Festival fez algumas edições que não foram bem-sucedidas por aqui. Como você enxerga a vinda desses festivais internacionais?
Primeiro de tudo, eles precisam tomar cuidado, pois muitas marcas vieram e fracassaram. Não adianta contar só com o nome do festival e achar que vai bombar, pois não é assim que funciona. Vai tornar o mercado mais competitivo. Mas se vier para agregar, criar mais público, trazer mais informação e promover eventos de qualidade, eu acho que é importante para fomentar o mercado. Não adianta ter só a Tribe boa. Tem que ter a Tribe, a XXXperience, a Kaballah… quando o público vai a uma primeira, a uma segunda ou a uma terceira festa deste segmento e o cara tem uma experiência ruim, isso se espalha para as outras. Pode ser que o cara não volte. É importante que tenham eventos bons e de qualidade, sejam eles pequenos, médios ou grandes. Eu sempre falo: se estiver vindo para somar, acho que todo o mundo ganha. Mas a história diz que os eventos internacionais dão errado.

A Tribe #ORetorno acontece no dia 17 de maio, a partir das 18h, na Arena Maeda em Itú (rod. SP 75, km 18,5). Maiores informações e ingressos no site www.tribe.art.br.