Em Berlim, terra de Daniel Haaksman, há um bairro chamado African Quarter, onde os nomes de ruas são de colonizadores ou colônias que a Alemanha tinha na África. "Há anos existem campanhas para que esses nomes de assassinos, estupradores e outros criminosos sejam retirados das ruas, mas os políticos de Berlim ignoram as demandas, por medo de perder votos", conta. Com isso em mente, a primeira divulgação que Daniel fez de seu novo disco, African Fabrics, foi através do clipe "Rename the Streets", que toca justamente nessa questão.Segundo Daniel, ainda que a cultura africana ainda se faça presente na música ocidental, (como, para usar um exemplo próximo, pelo afrobeat globalizado do Bixiga 70) — a visão que temos dela é limitada e clichê. "Se você fala sobre música da África, as pessoas associam automaticamente ao afrobeat da Nigéria dos anos 1970. Não se sabe muito sobre as atuais tendências musicais africanas", conta o produtor.Daniel é italiano, atualmente radicado em Berlim mas já morou no Rio. Enquanto estava por aqui, o produtor fundou a Man Recordings, selo que ajudou na difusão do bass, um ritmo originalmente de periferia, pelo mundo todo.Em 2012, ele conheceu uma parte do mundo que ainda lhe era estranha: a África. Em Luganda, na Angola, a relação do produtor com a música africana se estreitou — e desafiou seu próprio olhar europeu sobre a mesma.
Publicidade
"Eles trabalham com os mesmos equipamentos que nós, mas têm uma percepção diferentes sobre estilos musicais de circulação global, como o reggaeton, o rap, o house e o techno", explica. Inspirado pelo que viu e ouviu em Luganda, o produtor começou a trabalhar no que, anos depois, resultaria em African Fabrics — sua tentativa de buscar o que há de novo na música africana e apresentar para o mundo.African Fabrics mostra uma nova interpretação sobre a música africana: ainda que ocidental, mais moderna, mais diversa. A própria lista de colaboradores no disco nos dá essa informação: as participações especiais incluem o cantor e compositor Spoek Mathambo, que ajuda Daniel a construir uma nova versão de "Akabongi", do grupo sul-africano The Soul Brothers, um verso da rapper moçambicana Dama do Bling e o inventor do kuduro Tony Amado, que canta em "Afrika". O disco é uma coleção de batidas alegres e dançantes, mas, segundo o produtor, também instrospectivas. "Acho que tem um toque de Berlim nele", disse. Ouça o disco abaixo:Leia mais: Há Dez Anos a Man Recordings Espalha o Funk Carioca pelo Mundo
Publicidade
Aproveite, também, pra escutar a mix que o produtor fez na semana passada para o Diplo + Friends, programa do líder do Major Lazer no BBC Radio 1, onde Daniel mostra que não deixou tudo que aprendeu no Rio pra trás: "O funk teve alguns momentos chatos, mas está começando a ficar muito empolgante de novo. Quis incluir alguns artistas como MC Bin Laden, MC João e MC Carol na mix porque acredito que eles mereçam mais exposição internacional", disse. Confira:
Tracklist:
- Ku Bo "The Tribe"
- Daniel Haaksman ft. Tony Amado + Alcindah Guerane "Afrika"
- King Doudou+Omulu "Vai" ft. MC Pedrinho
- J Pablo "Caçada"
- Kelela "Rewind" (MC Bin Laden Remix)"
- MC João "Baile De Favela"
- Ruxell x Atman "Digdin"
- Basenji ft. Scenic "Petals" (Kill The Bass + Int3pico Remix)
- Francis Dalva "Ovelha Desgarrada" (Maffalda Trap Mix)
- Felipe Unico "Capoeira De Angola"
- Vinî "Vai" (Kking Kong Remix)
- Shantel "Rayah" (Tropkillaz Remix)
- Hardhouse Banton "El General"
- Weird Together "No Compromise" (Daniel Haaksman Remix)
- Deejay Telio "Que Safoda"
- DJ Daycard "Afro Intrudor Sabi Ku"
- Spooky "Coolie Joyride" (Samename Remix)
- Daniel Haaksman "Xinguila" ft. Throes + The Shine x
- MC Pikachu "Tava No Fluxo (2 Pekes Afro Funk Remix)
- Ka Blon "Moriba Yassa" (Daniel Haaksman Edit)
- Poirier "Festival"
- Daniel Haaksman + Dre Skull "Split Screen
- So Cu Pe "So Cu Pe (Giijs Scheringa Remix)
- Chuckie "Latin Feeling" (Nick Mathon´s Trap Bootleg)