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Música

“Cansei de Ouvir Dance Music Superficial”, Diz George FitzGerald

Agora na Domino, o músico fala sobre a desilusão amorosa que é tema de 'Fading Love', seu novo álbum e ainda disponibilizou para nós a faixa "Call It Love (If You Want To)."
Alexandre Koch

São 7h da manhã em um after num loft de Bushwick, no Brooklyn nova-iorquino, cujo telhado parece que vai cair a qualquer momento. Drag queens despenteadas dançam ao redor de um DJ cuja testa, excepcionalmente grande, é banhada pela luz suave do amanhecer. George FitzGerald está na pista, vestindo um suéter escuro de lã e dançando ao lado das caixas com um entusiasmo elegante. Apesar de ter tocado em um clube em Williamsburg mais cedo, ele não demonstra nenhum sinal de exaustão. Tampouco revela sinais do cansaço emocional mais profundo que confessou andar sentindo quando nos encontramos mais cedo – um cansaço que impulsionou o seu último disco, Fading Love, que foi lançado nessa segunda-feira (27) via Domino Records.

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"É um disco de fim de relacionamento", ele anunciou enquanto comia iogurte com granola e tomava uma xícara de chá verde em um café no Brooklyn, alguns dias antes do seu show. Já dava para imaginar pelo título, que deixa claras as suas intenções de narrar a história de um relacionamento que está desmoronando por meio de um único verbo transitivo, fade – um amor que está se apagando, mas ainda não se extinguiu por completo. "É um disco muito pessoal sobre um relacionamento que está acabando por causa das dificuldades de se estar longe o tempo todo", ele continuou. "Mas não é só sobre isso. Também é sobre como perdi um pouco a paixão pelas pistas."

Fogo na Bomba, EDM e Trap: Conheça o Bazzilians

Fading Love, portanto, aborda duas esferas: a pessoal e a musical. Muitas das dez faixas do disco foram escritas depois de incidentes específicos que aconteceram ao longo de um período de dois anos, retratando feridas emocionais que viraram cicatrizes e, depois, memórias.

Em "Call It Love (If You Want To)", a frustração aparece disfarçada de leveza: "Se você quer desistir, pode desistir / Se você diz que não é o suficiente, então não é o suficiente", canta Lawrence Hart, um dos dois vocalistas que gravaram com FitzGerald. O outro, Oli Bayston, da banda de indie rock Boxed In, tem o mesmo talento de Hart para os gemidos lamentosos e engasgados.

Outras, como "Full Circle", "Knife to the Heart" e "Beginning at the End", são mais reflexivas – narram o sofrimento por meio de sonolentas pulsações de baixo e lindíssimas explosões de emoção. Na visão de FitzGerald de uma desilusão amorosa, a pílula amarga de um amor perdido ainda é doce. Mesmo em "Your Two Faces", mais techno e pesada, sintetizadores estroboscópicos trespassam um horizonte de resmungos sofridos, mas nunca mergulham fundo demais no desespero; em vez disso, quebram em ondas suaves de melodias tranquilizantes. Mesmo que não sejam sobre se apaixonar, as faixas de Fading Love ainda são uma coleção de canções de amor.

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São 7h da manhã em um after num loft de Bushwick, no Brooklyn nova-iorquino, cujo telhado parece que vai cair a qualquer momento. Drag queens despenteadas dançam ao redor de um DJ cuja testa, excepcionalmente grande, é banhada pela luz suave do amanhecer. George FitzGerald está na pista, vestindo um suéter escuro de lã e dançando ao lado das caixas com um entusiasmo elegante. Apesar de ter tocado em um clube em Williamsburg mais cedo, ele não demonstra nenhum sinal de exaustão. Tampouco revela sinais do cansaço emocional mais profundo que confessou andar sentindo quando nos encontramos mais cedo – um cansaço que impulsionou o seu último disco, Fading Love, que foi lançado nessa segunda-feira (27) via Domino Records.

"É um disco de fim de relacionamento", ele anunciou enquanto comia iogurte com granola e tomava uma xícara de chá verde em um café no Brooklyn, alguns dias antes do seu show. Já dava para imaginar pelo título, que deixa claras as suas intenções de narrar a história de um relacionamento que está desmoronando por meio de um único verbo transitivo, fade – um amor que está se apagando, mas ainda não se extinguiu por completo. "É um disco muito pessoal sobre um relacionamento que está acabando por causa das dificuldades de se estar longe o tempo todo", ele continuou. "Mas não é só sobre isso. Também é sobre como perdi um pouco a paixão pelas pistas."

Fogo na Bomba, EDM e Trap: Conheça o Bazzilians

Fading Love, portanto, aborda duas esferas: a pessoal e a musical. Muitas das dez faixas do disco foram escritas depois de incidentes específicos que aconteceram ao longo de um período de dois anos, retratando feridas emocionais que viraram cicatrizes e, depois, memórias.

Em "Call It Love (If You Want To)", a frustração aparece disfarçada de leveza: "Se você quer desistir, pode desistir / Se você diz que não é o suficiente, então não é o suficiente", canta Lawrence Hart, um dos dois vocalistas que gravaram com FitzGerald. O outro, Oli Bayston, da banda de indie rock Boxed In, tem o mesmo talento de Hart para os gemidos lamentosos e engasgados.

Outras, como "Full Circle", "Knife to the Heart" e "Beginning at the End", são mais reflexivas – narram o sofrimento por meio de sonolentas pulsações de baixo e lindíssimas explosões de emoção. Na visão de FitzGerald de uma desilusão amorosa, a pílula amarga de um amor perdido ainda é doce. Mesmo em "Your Two Faces", mais techno e pesada, sintetizadores estroboscópicos trespassam um horizonte de resmungos sofridos, mas nunca mergulham fundo demais no desespero; em vez disso, quebram em ondas suaves de melodias tranquilizantes. Mesmo que não sejam sobre se apaixonar, as faixas de Fading Love ainda são uma coleção de canções de amor.

Esse retrato profundamente íntimo do rompimento amoroso foi lançado pela Domino, que tem no seu catálogo artistas como Animal Collective, Blood Orange e Four Tet. A mudança para o selo mais focado no indie marca o rompimento de FitzGerald com seus trabalhos anteriores, mais voltados para as pistas e lançados por selos de techno e house, como o Hotflush, do Scuba, e o Hypercolour, do Will Saul.

O Vídeo de 'All I Think Is About Death' do Scuba É Tenebroso

"Cansei mesmo de ouvir dance music superficial", confessa FitzGerald. "Com tudo o que estava acontecendo na minha vida, não parecia apropriado que eu escrevesse música que é literalmente sobre se divertir. Queria fazer um disco que me lembrasse de um período da minha vida de uma maneira mais explícita."

Ainda assim, Fading Love foi escrito na língua das pistas. Apesar das suas tendências introspectivas, muitas faixas ainda são intrinsecamente dançantes, sugerindo que FitzGerald não abandonou totalmente o mundo da dance music. Em vez disso, o seu novo som ocupa a área cinzenta entre os fones de ouvido e os clubes, indies e eletrônicos – como acontece com muitos artistas no catálogo da Domino, como Hot Chip, John Hopkins e Four Tet. Quando assinou contrato com a gravadora, FitzGerald brincou que disseram a ele: "o último disco que lançamos foi Immunity, do Jon Hopkins – sem pressão!".

O Gênio Inesgotável de Jon Hopkins

"Foi um grande exercício para me superar", admitiu.

Para isso, ele se impôs regras rígidas enquanto fazia o disco – inclusive que não usaria vocais sampleados, só instrumentos de verdade ou hardware físico. As duas regras foram criadas com o objetivo de fazer o disco soar mais pessoal. "Quando você sampleia os vocais, ninguém sabe de onde você é", explicou. Quando Oli Bayston e Lawrence Hart cantam, "soa britânico, de um jeito meio Depeche Mode, meio Factory Records".

Sobre a "história do analógico", FitzGerald suspirou: "não tinha certeza se ia falar sobre isso, porque é o tipo de coisa que as pessoas falam para aparecer, como usar vinil. É besteira, basicamente". Mas o hardware tem a habilidade de fazer a música soar menos de pista, menos polida e mais humana. Os seus tons imperfeitos canalizam perfeitamente a decadência emocional que o disco busca capturar.

"Quando você usa máquinas analógicas, só aperta 'gravar' e acaba com todos esses erros lindos que acabam virando elementos da faixa. A verdade é que, se você quer um som um pouco menos limpo, precisa usar equipamento analógico."

Fading Love também foi mixado na mesma mesa que o Kraftwerk usou nos seus primeiros três discos. "Tem esse som caloroso, anos 70, que eu não conseguia alcançar quando só criava no meu laptop", acrescentou.

Forçado a escolher, FitzGerald elege "Beginning at the End" como a sua faixa mais pessoal, e talvez a sua favorita do disco. É digno de nota o fato de que ela não tem letra – apesar das suas ambições de abrir suas feridas e compartilhá-las com o mundo, FitzGerald, em última instância, permanece evasivo. A sua amada permanece anônima, e as causas do rompimento, indeterminadas. Isso sugere que, ao fim e ao cabo, ele ainda é um artista que se sente mais em casa no lado eletrônico do panorama musical, preferindo a emoção e o clima ao significado expresso de forma mais direta.

"Beginning at the End" foi criada no final de Fading Love. A sua jornada musical chegava ao fim ao mesmo tempo em que a sua relação se encaminhava para o término. Escrevendo a música, sozinho no estúdio, FitzGerald achou que ela acabou se tornando a representação mais próxima de como estava se sentindo. "Estava muito consciente de que seria a última faixa. Estava muito otimista, mas muito triste também."

Fading Love está disponível em CD e LP e também no iTunes.

Siga a Michelle Lhooq no Twitter

Tradução: Fernanda Botta

Esse retrato profundamente íntimo do rompimento amoroso foi lançado pela Domino, que tem no seu catálogo artistas como Animal Collective, Blood Orange e Four Tet. A mudança para o selo mais focado no indie marca o rompimento de FitzGerald com seus trabalhos anteriores, mais voltados para as pistas e lançados por selos de techno e house, como o Hotflush, do Scuba, e o Hypercolour, do Will Saul.

O Vídeo de 'All I Think Is About Death' do Scuba É Tenebroso

"Cansei mesmo de ouvir dance music superficial", confessa FitzGerald. "Com tudo o que estava acontecendo na minha vida, não parecia apropriado que eu escrevesse música que é literalmente sobre se divertir. Queria fazer um disco que me lembrasse de um período da minha vida de uma maneira mais explícita."

Ainda assim, Fading Love foi escrito na língua das pistas. Apesar das suas tendências introspectivas, muitas faixas ainda são intrinsecamente dançantes, sugerindo que FitzGerald não abandonou totalmente o mundo da dance music. Em vez disso, o seu novo som ocupa a área cinzenta entre os fones de ouvido e os clubes, indies e eletrônicos – como acontece com muitos artistas no catálogo da Domino, como Hot Chip, John Hopkins e Four Tet. Quando assinou contrato com a gravadora, FitzGerald brincou que disseram a ele: "o último disco que lançamos foi Immunity, do Jon Hopkins – sem pressão!".

O Gênio Inesgotável de Jon Hopkins

"Foi um grande exercício para me superar", admitiu.

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São 7h da manhã em um after num loft de Bushwick, no Brooklyn nova-iorquino, cujo telhado parece que vai cair a qualquer momento. Drag queens despenteadas dançam ao redor de um DJ cuja testa, excepcionalmente grande, é banhada pela luz suave do amanhecer. George FitzGerald está na pista, vestindo um suéter escuro de lã e dançando ao lado das caixas com um entusiasmo elegante. Apesar de ter tocado em um clube em Williamsburg mais cedo, ele não demonstra nenhum sinal de exaustão. Tampouco revela sinais do cansaço emocional mais profundo que confessou andar sentindo quando nos encontramos mais cedo – um cansaço que impulsionou o seu último disco, Fading Love, que foi lançado nessa segunda-feira (27) via Domino Records.

"É um disco de fim de relacionamento", ele anunciou enquanto comia iogurte com granola e tomava uma xícara de chá verde em um café no Brooklyn, alguns dias antes do seu show. Já dava para imaginar pelo título, que deixa claras as suas intenções de narrar a história de um relacionamento que está desmoronando por meio de um único verbo transitivo, fade – um amor que está se apagando, mas ainda não se extinguiu por completo. "É um disco muito pessoal sobre um relacionamento que está acabando por causa das dificuldades de se estar longe o tempo todo", ele continuou. "Mas não é só sobre isso. Também é sobre como perdi um pouco a paixão pelas pistas."

Fogo na Bomba, EDM e Trap: Conheça o Bazzilians

Fading Love, portanto, aborda duas esferas: a pessoal e a musical. Muitas das dez faixas do disco foram escritas depois de incidentes específicos que aconteceram ao longo de um período de dois anos, retratando feridas emocionais que viraram cicatrizes e, depois, memórias.

Em "Call It Love (If You Want To)", a frustração aparece disfarçada de leveza: "Se você quer desistir, pode desistir / Se você diz que não é o suficiente, então não é o suficiente", canta Lawrence Hart, um dos dois vocalistas que gravaram com FitzGerald. O outro, Oli Bayston, da banda de indie rock Boxed In, tem o mesmo talento de Hart para os gemidos lamentosos e engasgados.

Outras, como "Full Circle", "Knife to the Heart" e "Beginning at the End", são mais reflexivas – narram o sofrimento por meio de sonolentas pulsações de baixo e lindíssimas explosões de emoção. Na visão de FitzGerald de uma desilusão amorosa, a pílula amarga de um amor perdido ainda é doce. Mesmo em "Your Two Faces", mais techno e pesada, sintetizadores estroboscópicos trespassam um horizonte de resmungos sofridos, mas nunca mergulham fundo demais no desespero; em vez disso, quebram em ondas suaves de melodias tranquilizantes. Mesmo que não sejam sobre se apaixonar, as faixas de Fading Love ainda são uma coleção de canções de amor.

Esse retrato profundamente íntimo do rompimento amoroso foi lançado pela Domino, que tem no seu catálogo artistas como Animal Collective, Blood Orange e Four Tet. A mudança para o selo mais focado no indie marca o rompimento de FitzGerald com seus trabalhos anteriores, mais voltados para as pistas e lançados por selos de techno e house, como o Hotflush, do Scuba, e o Hypercolour, do Will Saul.

O Vídeo de 'All I Think Is About Death' do Scuba É Tenebroso

"Cansei mesmo de ouvir dance music superficial", confessa FitzGerald. "Com tudo o que estava acontecendo na minha vida, não parecia apropriado que eu escrevesse música que é literalmente sobre se divertir. Queria fazer um disco que me lembrasse de um período da minha vida de uma maneira mais explícita."

Ainda assim, Fading Love foi escrito na língua das pistas. Apesar das suas tendências introspectivas, muitas faixas ainda são intrinsecamente dançantes, sugerindo que FitzGerald não abandonou totalmente o mundo da dance music. Em vez disso, o seu novo som ocupa a área cinzenta entre os fones de ouvido e os clubes, indies e eletrônicos – como acontece com muitos artistas no catálogo da Domino, como Hot Chip, John Hopkins e Four Tet. Quando assinou contrato com a gravadora, FitzGerald brincou que disseram a ele: "o último disco que lançamos foi Immunity, do Jon Hopkins – sem pressão!".

O Gênio Inesgotável de Jon Hopkins

"Foi um grande exercício para me superar", admitiu.

Para isso, ele se impôs regras rígidas enquanto fazia o disco – inclusive que não usaria vocais sampleados, só instrumentos de verdade ou hardware físico. As duas regras foram criadas com o objetivo de fazer o disco soar mais pessoal. "Quando você sampleia os vocais, ninguém sabe de onde você é", explicou. Quando Oli Bayston e Lawrence Hart cantam, "soa britânico, de um jeito meio Depeche Mode, meio Factory Records".

Sobre a "história do analógico", FitzGerald suspirou: "não tinha certeza se ia falar sobre isso, porque é o tipo de coisa que as pessoas falam para aparecer, como usar vinil. É besteira, basicamente". Mas o hardware tem a habilidade de fazer a música soar menos de pista, menos polida e mais humana. Os seus tons imperfeitos canalizam perfeitamente a decadência emocional que o disco busca capturar.

"Quando você usa máquinas analógicas, só aperta 'gravar' e acaba com todos esses erros lindos que acabam virando elementos da faixa. A verdade é que, se você quer um som um pouco menos limpo, precisa usar equipamento analógico."

Fading Love também foi mixado na mesma mesa que o Kraftwerk usou nos seus primeiros três discos. "Tem esse som caloroso, anos 70, que eu não conseguia alcançar quando só criava no meu laptop", acrescentou.

Forçado a escolher, FitzGerald elege "Beginning at the End" como a sua faixa mais pessoal, e talvez a sua favorita do disco. É digno de nota o fato de que ela não tem letra – apesar das suas ambições de abrir suas feridas e compartilhá-las com o mundo, FitzGerald, em última instância, permanece evasivo. A sua amada permanece anônima, e as causas do rompimento, indeterminadas. Isso sugere que, ao fim e ao cabo, ele ainda é um artista que se sente mais em casa no lado eletrônico do panorama musical, preferindo a emoção e o clima ao significado expresso de forma mais direta.

"Beginning at the End" foi criada no final de Fading Love. A sua jornada musical chegava ao fim ao mesmo tempo em que a sua relação se encaminhava para o término. Escrevendo a música, sozinho no estúdio, FitzGerald achou que ela acabou se tornando a representação mais próxima de como estava se sentindo. "Estava muito consciente de que seria a última faixa. Estava muito otimista, mas muito triste também."

Fading Love está disponível em CD e LP e também no iTunes.

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Tradução: Fernanda Botta

Para isso, ele se impôs regras rígidas enquanto fazia o disco – inclusive que não usaria vocais sampleados, só instrumentos de verdade ou hardware físico. As duas regras foram criadas com o objetivo de fazer o disco soar mais pessoal. "Quando você sampleia os vocais, ninguém sabe de onde você é", explicou. Quando Oli Bayston e Lawrence Hart cantam, "soa britânico, de um jeito meio Depeche Mode, meio Factory Records".

Sobre a "história do analógico", FitzGerald suspirou: "não tinha certeza se ia falar sobre isso, porque é o tipo de coisa que as pessoas falam para aparecer, como usar vinil. É besteira, basicamente". Mas o hardware tem a habilidade de fazer a música soar menos de pista, menos polida e mais humana. Os seus tons imperfeitos canalizam perfeitamente a decadência emocional que o disco busca capturar.

"Quando você usa máquinas analógicas, só aperta 'gravar' e acaba com todos esses erros lindos que acabam virando elementos da faixa. A verdade é que, se você quer um som um pouco menos limpo, precisa usar equipamento analógico."

São 7h da manhã em um after num loft de Bushwick, no Brooklyn nova-iorquino, cujo telhado parece que vai cair a qualquer momento. Drag queens despenteadas dançam ao redor de um DJ cuja testa, excepcionalmente grande, é banhada pela luz suave do amanhecer. George FitzGerald está na pista, vestindo um suéter escuro de lã e dançando ao lado das caixas com um entusiasmo elegante. Apesar de ter tocado em um clube em Williamsburg mais cedo, ele não demonstra nenhum sinal de exaustão. Tampouco revela sinais do cansaço emocional mais profundo que confessou andar sentindo quando nos encontramos mais cedo – um cansaço que impulsionou o seu último disco, Fading Love, que foi lançado nessa segunda-feira (27) via Domino Records.

"É um disco de fim de relacionamento", ele anunciou enquanto comia iogurte com granola e tomava uma xícara de chá verde em um café no Brooklyn, alguns dias antes do seu show. Já dava para imaginar pelo título, que deixa claras as suas intenções de narrar a história de um relacionamento que está desmoronando por meio de um único verbo transitivo, fade – um amor que está se apagando, mas ainda não se extinguiu por completo. "É um disco muito pessoal sobre um relacionamento que está acabando por causa das dificuldades de se estar longe o tempo todo", ele continuou. "Mas não é só sobre isso. Também é sobre como perdi um pouco a paixão pelas pistas."

Fogo na Bomba, EDM e Trap: Conheça o Bazzilians

Fading Love, portanto, aborda duas esferas: a pessoal e a musical. Muitas das dez faixas do disco foram escritas depois de incidentes específicos que aconteceram ao longo de um período de dois anos, retratando feridas emocionais que viraram cicatrizes e, depois, memórias.

Em "Call It Love (If You Want To)", a frustração aparece disfarçada de leveza: "Se você quer desistir, pode desistir / Se você diz que não é o suficiente, então não é o suficiente", canta Lawrence Hart, um dos dois vocalistas que gravaram com FitzGerald. O outro, Oli Bayston, da banda de indie rock Boxed In, tem o mesmo talento de Hart para os gemidos lamentosos e engasgados.

Outras, como "Full Circle", "Knife to the Heart" e "Beginning at the End", são mais reflexivas – narram o sofrimento por meio de sonolentas pulsações de baixo e lindíssimas explosões de emoção. Na visão de FitzGerald de uma desilusão amorosa, a pílula amarga de um amor perdido ainda é doce. Mesmo em "Your Two Faces", mais techno e pesada, sintetizadores estroboscópicos trespassam um horizonte de resmungos sofridos, mas nunca mergulham fundo demais no desespero; em vez disso, quebram em ondas suaves de melodias tranquilizantes. Mesmo que não sejam sobre se apaixonar, as faixas de Fading Love ainda são uma coleção de canções de amor.

Esse retrato profundamente íntimo do rompimento amoroso foi lançado pela Domino, que tem no seu catálogo artistas como Animal Collective, Blood Orange e Four Tet. A mudança para o selo mais focado no indie marca o rompimento de FitzGerald com seus trabalhos anteriores, mais voltados para as pistas e lançados por selos de techno e house, como o Hotflush, do Scuba, e o Hypercolour, do Will Saul.

O Vídeo de 'All I Think Is About Death' do Scuba É Tenebroso

"Cansei mesmo de ouvir dance music superficial", confessa FitzGerald. "Com tudo o que estava acontecendo na minha vida, não parecia apropriado que eu escrevesse música que é literalmente sobre se divertir. Queria fazer um disco que me lembrasse de um período da minha vida de uma maneira mais explícita."

Ainda assim, Fading Love foi escrito na língua das pistas. Apesar das suas tendências introspectivas, muitas faixas ainda são intrinsecamente dançantes, sugerindo que FitzGerald não abandonou totalmente o mundo da dance music. Em vez disso, o seu novo som ocupa a área cinzenta entre os fones de ouvido e os clubes, indies e eletrônicos – como acontece com muitos artistas no catálogo da Domino, como Hot Chip, John Hopkins e Four Tet. Quando assinou contrato com a gravadora, FitzGerald brincou que disseram a ele: "o último disco que lançamos foi Immunity, do Jon Hopkins – sem pressão!".

O Gênio Inesgotável de Jon Hopkins

"Foi um grande exercício para me superar", admitiu.

Para isso, ele se impôs regras rígidas enquanto fazia o disco – inclusive que não usaria vocais sampleados, só instrumentos de verdade ou hardware físico. As duas regras foram criadas com o objetivo de fazer o disco soar mais pessoal. "Quando você sampleia os vocais, ninguém sabe de onde você é", explicou. Quando Oli Bayston e Lawrence Hart cantam, "soa britânico, de um jeito meio Depeche Mode, meio Factory Records".

Sobre a "história do analógico", FitzGerald suspirou: "não tinha certeza se ia falar sobre isso, porque é o tipo de coisa que as pessoas falam para aparecer, como usar vinil. É besteira, basicamente". Mas o hardware tem a habilidade de fazer a música soar menos de pista, menos polida e mais humana. Os seus tons imperfeitos canalizam perfeitamente a decadência emocional que o disco busca capturar.

"Quando você usa máquinas analógicas, só aperta 'gravar' e acaba com todos esses erros lindos que acabam virando elementos da faixa. A verdade é que, se você quer um som um pouco menos limpo, precisa usar equipamento analógico."

Fading Love também foi mixado na mesma mesa que o Kraftwerk usou nos seus primeiros três discos. "Tem esse som caloroso, anos 70, que eu não conseguia alcançar quando só criava no meu laptop", acrescentou.

Forçado a escolher, FitzGerald elege "Beginning at the End" como a sua faixa mais pessoal, e talvez a sua favorita do disco. É digno de nota o fato de que ela não tem letra – apesar das suas ambições de abrir suas feridas e compartilhá-las com o mundo, FitzGerald, em última instância, permanece evasivo. A sua amada permanece anônima, e as causas do rompimento, indeterminadas. Isso sugere que, ao fim e ao cabo, ele ainda é um artista que se sente mais em casa no lado eletrônico do panorama musical, preferindo a emoção e o clima ao significado expresso de forma mais direta.

"Beginning at the End" foi criada no final de Fading Love. A sua jornada musical chegava ao fim ao mesmo tempo em que a sua relação se encaminhava para o término. Escrevendo a música, sozinho no estúdio, FitzGerald achou que ela acabou se tornando a representação mais próxima de como estava se sentindo. "Estava muito consciente de que seria a última faixa. Estava muito otimista, mas muito triste também."

Fading Love está disponível em CD e LP e também no iTunes.

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Tradução: Fernanda Botta

Fading Love também foi mixado na mesma mesa que o Kraftwerk usou nos seus primeiros três discos. "Tem esse som caloroso, anos 70, que eu não conseguia alcançar quando só criava no meu laptop", acrescentou.

Forçado a escolher, FitzGerald elege "Beginning at the End" como a sua faixa mais pessoal, e talvez a sua favorita do disco. É digno de nota o fato de que ela não tem letra – apesar das suas ambições de abrir suas feridas e compartilhá-las com o mundo, FitzGerald, em última instância, permanece evasivo. A sua amada permanece anônima, e as causas do rompimento, indeterminadas. Isso sugere que, ao fim e ao cabo, ele ainda é um artista que se sente mais em casa no lado eletrônico do panorama musical, preferindo a emoção e o clima ao significado expresso de forma mais direta.

"Beginning at the End" foi criada no final de Fading Love. A sua jornada musical chegava ao fim ao mesmo tempo em que a sua relação se encaminhava para o término. Escrevendo a música, sozinho no estúdio, FitzGerald achou que ela acabou se tornando a representação mais próxima de como estava se sentindo. "Estava muito consciente de que seria a última faixa. Estava muito otimista, mas muito triste também."

Fading Love está disponível em CD e LP e também no iTunes.

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